MONTEIRO JG; OLIVEIRA SA de; SILVA JBC. Enraizamento de estacas de batata doce submetidas a diversas Enraizamento de estacas de batata doce submetidas a diversas concentrações de AIB em diferentes substratos. concentrações de AIB em diferentes substratos. 2010. Horticultura Brasileira 28: S1542-S1549. Enraizamento de estacas de batata doce submetidas a diversas concentrações de AIB em diferentes substratos. Juliana Geseíra Monteiro 1 ; Saulo Araújo de Oliveira 1 ; João Bosco C. da Silva 2 1 2 UEG Campus de Ipameri Rodovia GO 330, km 241 s/n, Ipameri GO;geseira@hotmail.com. Embrapa Hortaliças, C. postal 218, 70359-970 Brasília-DF; jbosco@cnph.embrapa.br. RESUMO Originária da América do Sul, a batata doce (Ipomoea batatas) é uma hortaliça tuberosa tipicamente tropical, preferindo clima quente para a sua produção. Este estudo teve como objetivo definir sistemas alternativos de propagação rápida da batata doce que possam ser utilizados na sua produção. Os experimentos foram conduzidos na Embrapa Hortaliças, Brasília, DF. Foram realizados quatro experimentos que eram compostos por cinco tratamentos, com quatro repetições cada. Cada repetição era composta por 10 estacas. O cultivar utilizado foi o Princesa. As variáveis observadas foram a média do comprimento das raízes emitidas e o índice de raiz. Todos os experimentos avaliaram as concentrações (0; 62,5; 125; 250; 500) ml de ácido indolbutírico (AIB) diluído em 1,0 L de água, no enraizamento de estacas de batata doce, aos sete dias após a estaquia. No primeiro experimento as estacas foram imersas por um minuto no fitorregulador, correspondente à concentração de cada tratamento e, posteriormente, postas para enraizar em terra de subsolo. Realizou-se a irrigação com água desde o primeiro dia até o sétimo, quando foram realizadas as avaliações. Nos outros três experimentos as estacas foram postas para enraizar em terra de subsolo e, logo após, foram regadas com 30 ml do fitorregulador correspondente à concentração de cada tratamento. A partir do segundo dia iniciou-se a rega periódica com água até o sétimo dia, quando realizou-se as avaliações. Observou-se que houve diferença positiva nos tratamentos sem fitorregulador, em todos os experimentos, para as duas variáveis observadas. Destacou-se positivamente, também, o uso de vermiculita, sem adição de AIB, com média de 8,1 cm de raiz quando comparado com o uso das concentrações 62,5; 125; 250 e 500 ml de AIB, com médias de comprimento de 0,17; 0,04; 0,05 e 0 cm, respectivamente. Palavras-chave: Ipomea batatas, estaquia, propagação, fitoregulador, AIB. ABSTRACT Rooting of sweet potato cuttings treated with concentrations of IBA on different substrates. Originally from South America, sweet potato (Ipomoea batatas) is a tuberous vegetable typically tropical. It prefers hot weather to produce them. The reason aimed to establish alternative systems for rapid propagation of sweet potato that can be used in their production. The experiments were conducted at Embrapa Vegetables, Brasília, DF. Four experiments were conducted that consisted of five treatments with four replicates. Each replication consisted of 10 cuttings. The cultivar used was the Princess. The variables were the mean root length and content sent from scratch. All experiments evaluated the concentrations (0, 62.5, 125, 250, 500) ml of butyric acid (IBA), diluted in 1.0 L of water in the rooting of cuttings of sweet potatoes to seven days after the cutting. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1542
In the first experiment, the cuttings were dipped for one minute in plant growth regulator, a concentration of each treatment and then placed into rooting subsoil. Held on irrigation water from the first day until the seventh, when evaluations were made. In the other three experiments the cuttings were put into rooting subsoil and, soon after, they were watered with 30 ml of phytoregulator corresponding to the concentration of each treatment. From the second day began with regular irrigation water until the seventh day, when the assessments took place. It was observed that there was positive difference in the treatments without plant growth regulator in all experiments for the two observed variables. Stood out positively, too, the use of vermiculite, without the addition of AIB, with a mean of 8.1 cm of root compared with the use of concentrations 62.5, 125, 250 and 500 ml of IBA, with average length 0.17, 0.04, 0.05 and 0 cm, respectively. Keywords: Ipomea batatas, cuttings, propagation, phytoregulators, IBA A batata doce (Ipomoea batatas) pertence à família Convolvulaceae. Trata-se de uma hortaliça tropical muito rústica, que encontra boas condições para seu cultivo nas mais variadas regiões brasileiras. Originária da América do Sul, a batata-doce é uma tuberosa que prefere clima quente para a sua produção, com temperaturas diurnas e noturnas superiores a 20ºC. Essa exigência em temperaturas elevadas é mais crítica durante o período vegetativo, especialmente na fase de formação de raízes tuberosas de reserva e na fase final do amadurecimento e colheita das raízes (Filgueira, 1981). Segundo Hozyo citado por Folquer (1978), quanto maior a atividade fotossintética, maior o crescimento das batatas. Isto explica a escassa tuberização quando as plantas estão em ambientes pouco iluminados. A implantação da cultura da batata doce se dá com o uso de material vegetativo. Entretanto, quando não se utiliza segmentos de ramas enraizadas pode ocasionar estande final inadequado, sendo necessário o replantio quando não houver, no mínimo, 85% de ramas brotadas. Assim, torna-se interessante a produção de mini estacas enraizadas em bandejas de isopor que proporcionam estandes mais uniformes e possibilitam a produção de maior quantidade de mudas quando há escassez de ramas. O fato desse método exigir menor quantidade de ramas permite selecionar materiais com maior sanidade e, com isso, produzir plantas mais sadias e produtivas (Embrapa, 1995). Segundo Folquer (1978), a temperatura ótima para o desenvolvimento do sistema radicular da batata doce oscila entre 24 C e 27 C. Dependendo das características do cultivar a temperatura mínima é de 10ºC. O cultivar Princesa é do tipo dispersa (rasteira com ramas longas, de grossura mediana (6,0 mm a 8,0 mm de diâmetro), de cor verde-arroxeada e sem pubescência. Os entrenós são, normalmente, curtos (3,0 cm a 5,0 cm). As folhas são grandes e de cor verde-escuro. O limbo foliar é recortado, com cinco lóbulos bem característicos e com maior dimensão sempre superior a 14 cm. A inserção pecíolo-limbo foliar é pigmentada (roxa). As nervuras na parte inferior da folha são arroxeadas. Apresenta boa resistência ao mal do pé, doença causada pelo fungo Plenodomus destruens Harter e resistência intermediária aos nematóides Meloidogyne javanica e M. incognita. Esse cultivar apresenta, também, boa tolerância ao herbicida metribuzin (MIRANDA et al., 1987). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1543
Nachtigal & Fachinello (1995), trabalhando com araçazeiro, observaram que o aumento de concentrações de AIB proporcionou aumento no percentual de enraizamento, até a concentração de 4000 mg.l -1, a partir de 6000 mg.l -1 de AIB diminuiu este percentual. Para esta espécie foram observados percentuais de enraizamento superiores a 50%. Segundo Alvarenga & Carvalho (1983), o estímulo ao enraizamento se dá até uma determinada concentração de regulador, diferente para cada espécie, a partir da qual o efeito passa a ser inibitório. Isso poderia explicar a diminuição na sobrevivência de estacas observada a partir de 4000 mg.l -1. Franzon (2004) observou, em seu experimento avaliando o efeito de diferentes concentrações de AIB (0, 2000, 4000 e 8000 mg.l -1 ) sobre estacas de diferentes tamanhos (12 cm e 18 cm) que não ocorreu formação de raízes em estacas de goiabeira-serrana em nenhum dos tratamentos. A sobrevivência de estacas lenhosas tendeu a ser maior naquelas retiradas da porção basal dos ramos, e em estacas herbáceas, com 12 cm de comprimento, sendo superior daquelas com 18 cm. Já Scarpare Filho et al. (1999) verificaram o efeito de diferentes concentrações de AIB (0, 1000, 2000, 4000 e 8000 mg.l -1 ), em imersão rápida (cinco segundos), no enraizamento de estacas herbáceas de jabuticabeira (Myrciaria jabuticaba Berg.). Foram observadas percentagens de enraizamento de 0%, 8,96%, 12,88%, 23,16% e 37,98% para as respectivas concentrações de AIB, porém as estacas apresentaram, em média, apenas a formação de uma única raiz. Monteiro (2009) realizou estudo com diferentes concentrações (0, 4, 8, 12, 16 e 20 ml.l -1 ) de AIB no enraizamento de estacas de batata doce dos cultivares, Brazlândia Roxa, 1219 e 1007. Neste experimento as estacas foram imersas em sacos plásticos com 50mL da solução contendo AIB nas concentrações de cada tratamento, permanecendo por sete dias. Verificou-se que o uso do fitorregulador inibiu o crescimento das raízes de todos os cultivares de batata doce avaliados. Concluiu-se, ainda, que quanto maior a quantidade de AIB menor o comprimento das raízes. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo definir o meio de propagação mais rápido, a partir de estacas enraizadas com o uso de AIB em ramas de batata doce em diferentes substratos. Este estudo pretende ajudar os produtores comerciais a definir sistemas alternativos de propagação rápida de batata doce. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos na Embrapa Hortaliças, Brasília, DF, Caixa postal 218, 70359-970. Foram realizados quatro experimentos que eram compostos por cinco tratamentos, com quatro repetições cada. Cada repetição era composta por 10 estacas. O cultivar utilizado foi o Princesa. As variáveis observadas foram a média do comprimento das raízes emitidas e o índice de raiz. O comprimento das raízes foi avaliada com paquímetro, considerando a média das repetições das raízes médias de cada planta por repetição. Para o índice de raiz foi estabelecido um padrão de quantidade de raízes por rama e atribuída uma nota (Figura 1), correspondente à esta quantidade. Quanto maior a quantidade de raiz maior seria a nota, variando de 1 a 4. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1544
Monteiro (2009), trabalhando com batata doce, observou que não houve diferença no enraizamento com o uso de AIB entre os cultivares analisados (Brazlândia Roxa, 1219 e 1007). Portanto, este trabalho optou por trabalhar com apenas um cultivar (Princesa) analisando o desenvolvimento de raízes em diferentes substratos e com diferentes concentrações de AIB. Todos os experimentos avaliaram as concentrações (0; 62,5; 125; 250; 500) ml de ácido indolbutírico (AIB) diluído em 1,0 L de água, no enraizamento de estacas de batata doce, aos sete dias após a estaquia. No primeiro experimento as estacas foram imersas por um minuto no fitorregulador, correspondente à concentração de cada tratamento e, posteriormente, postas para enraizar em terra de subsolo. Realizou-se a irrigação com água desde o primeiro dia até o sétimo, quando foram realizadas as avaliações. Nos outros três experimentos as estacas foram postas para enraizar em terra de subsolo e, logo após, foram regadas com 30 ml do fitorregulador correspondente à concentração de cada tratamento. A partir do segundo dia iniciou-se a rega periódica com água até o sétimo dia, quando realizou-se as avaliações. RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro experimento, utilizando terra de subsolo e imersão por um minuto, o índice de raiz não foi significativo (Tabela1), pois a menor concentração de AIB (0 ml.l -1 ) apresentou uma média 8,45 e a maior concentração de AIB (500 ml.l -1 ) apresentou média 7,60. O comprimento da média das raízes também não apresentou diferença significativa, pois a menor concentração de AIB apresentou médias 4,15 cm e a maior concentração apresentou média 3,30 cm não apresentando grande significância. No segundo experimento, utilizando terra de subsolo e 30 ml de AIB após o plantio, os resultados para índice de raiz e comprimento de raiz também não foram significantes (Tabela1). No terceiro experimento, em que as ramas foram plantadas em vermiculita e, também, molhadas com 30 ml de solução de AIB, a análise estatística dos resultados apresentaram diferença significativa (Figura 2 e 3). Para o índice de raiz a soma das médias das notas atribuídas ao tratamento para a menor concentração de AIB foi 11,1 e para as demais concentrações foi 5,0. Para a variável comprimento de raiz observou-se a mesma distribuição, sendo a média do tratamento de menor concentração de AIB igual a 8,1 cm e os demais tratamentos foram inferiores a 0,17 cm. No quarto experimento, em que utilizou-se espuma fenólica e 30 ml de solução de AIB, a análise estatística do índice de raiz não apresentou significância; mas a análise do tamanho da raiz em relação a concentração de ácido indolbutírico foi significativa (Figura 4). Sendo 23,1 cm para a média do comprimento das raízes emitidas no tratamento de menor concentração do fitorregulador. Os outros tratamentos tiveram média inferior a 0,15 cm, também seguindo o mesmo padrão de dispersão das demais análises. De uma forma geral, observou-se que houve diferença positiva nos tratamentos sem fitorregulador, em todos os experimentos, para as duas variáveis observadas. Destacou-se positivamente, também, o uso de vermiculita, sem adição de AIB, com média de 8,1 cm de raiz quando comparado com o uso das concentrações 62,5; 125; 250 e 500 ml de AIB, com médias de comprimento de 0,17; 0,04; 0,05 e 0 cm, respectivamente. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1545
REFERÊNCIAS ALVARENGA, L.R.; CARVALHO, V.D. Uso de substâncias promotoras de enraizamento de estacas de frutíferas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.9, n.101, p.47-55. 1983. Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa Agroopecuária. Cultivo da batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam). Brasília: Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária. 10p. 1995. (Instruções técnicas 7). FILGUEIRA, F.A.R. Manual de olericultura: cultura e comercialização de hortaliças. 1.ed. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1981. 338p. FILGUEIRA, F.A.R. Novo Manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 2.ed. Viçosa: Ed. UFV, 2003. 412p. FOLQUER, F. LA BATATA (CAMOTE): Estúdio de la planta y su produccion comercial. Instituto interamericano de ciências agrícolas. San José, Costa Rica, 1978. 145p. FRANZON, Rodrigo C.; ANTUNES, Luis E. C; RASEIRA, Maria do C. B. Efeito do aib e de diferentes tipos de estaca na propagação vegetativa da goiabeira-serrana (Acca sellowiana berg). Revista Brasileira de Agrociência, v.10, n. 4, p. 515-518, out-dez, 2004 MIRANDA, J.E.C. et al. Batata doce. Embrapa: CNPH: Brasília, DF. 1987. 14p. (Circular técnica). MONTEIRO, Juliana, G.; WISINTAINER, Carolina; REY, Maristela, dos S. Enraizamento de estacas de batata-doce. In: VII Seminário de Iniciação Cientifica da Universidade Estadual de Goiás. Anais... Anápolis, GO. Outubro 2009. CD Room. NACHTIGAL, J.C.; FACHINELLO, J.C. Efeito de substratos e do ácido indolbutírico no enraizamento de estacas de araçazeiro (Psidium cattleyanum Sabine). Revista Brasileira de Agrociência, Pelotas, v.1, n.1, p.34-39. 1995. REGHIN, M.Y.; OTTO, R.F.; OLINIK, J.R.; JACOBY, C.F.S. Viabilidade do sistema de produção de mudas em bandejas em três cultivares de cebola. Ciência e Agrotecnologia, v.31, p.1075-1084, 2007. SCARPARE, F.V.; KLUGE, R.A.; SCARPARE FILHO, J.A.; et al. Propagação da jabuticabeira Sabará (Myrciaria jabuticaba Berg.) através de estacas caulinares. CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA 18., Anais... Belém, PA. Novembro 2002. CD Room. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1546
Tabela 1. Índice de raíz e comprimento de raiz (cm) em diferentes substratos nas diferentes concentrações de ácido indolbutírico (AIB) nas estacas de batata doce. UEG/Embrapa Hortaliças, Brasília, 2009. Concentração Ti Ti EF EF Tr Tr Tv Tv de AIB IR CR IR CR IR CR IR CR 0 8,45 4,15 7,65 23,1 9,25 3,85 11,1 8,1 15,6 8,05 3,86 5,5 0,15 4,55 6,83 5 0,17 31,5 7,35 3,92 5 0,01 7,6 4,2 5 0,04 62,5 6,55 4,47 5 0 6 3,15 5 0,05 125 7,6 3,3 5 0 6,75 3,21 5 0 Ti. Substrato de terra de subsolo com estaca imersa na solução de AIB; Tr. Substrato de terra de subsolo com estacas irrigadas com 30 ml da solução de AIB; EF. Espuma fenólica; IR. Índice de raiz; CR. Comprimento de raiz (cm). Figura 1. Parâmetro utilizado como padrão para avaliação do índice de raiz no experimento de estaquia de batata doce. Atribuindo notas referentes à quantidade de raízes emitidas, sendo estas crescentes de 1 a 4. UEG/Embrapa Hortaliças, Brasília, 2009. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1547
Figura 2. Média das notas, para índice de raiz, das estacas de batata doce postas para enraizar em vermiculita. UEG/Embrapa Hortaliças, Brasília, 2009. Figura 3. Média dos comprimentos das raízes emitidas das estacas de batata doce postas para enraizar em vermiculita. UEG/Embrapa Hortaliças, Brasília, 2009. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1548
Figura 4. Média dos comprimentos das raízes emitidas das estacas de batata doce postas para enraizar em terra de subsolo. UEG/Embrapa Hortaliças, Brasília, 2009. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S1549