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Transcrição:

COORDENADOR ROGÉRIO SANCHES CUNHA Coleção RE ISAÇO Defensoria Pública Estadual Defensor Público 5ª edição revista, ampliada e atualizada 2017 00_Iniciais_Defensoria_Publica_Estadual.indd 3 16/08/2017 18:48:30

Criminologia Questões 2563 Criminologia TABELA DE INCIDÊNCIA DE QUESTÕES Distribuição das questões organizada por ordem didática de assuntos Questões Assunto Número de Questões 1. ESCOLAS E TEORIAS CRIMINOLÓGICAS 5 2. OUTROS ASPECTOS DA CRIMINOLOGIA 2 Total 7 Peso Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2563 16/08/2017 19:04:21

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Criminologia Questões 2565 Criminologia QUESTÕES 1. ESCOLAS E TEORIAS CRIMINOLÓGI- CAS 01. (FCC Defensor Público PR/2012) Com o surgimento das Teorias Sociológicas da Criminalidade (ou Teorias Macrossociológicas da Criminalidade), houve uma repartição marcante das pesquisas criminológicas em dois grupos principais. Essa divisão leva em consideração, principalmente, a forma como os sociólogos encaram a composição da sociedade: Consensual (Teorias do consenso, funcionalistas ou da integração) ou Conflitual (Teorias do conflito social). Neste contexto são consideradas Teorias Consensuais: a) Escola de Chicago, Teoria da Anomia e Teoria da Associação Diferencial. b) Teoria da Anomia, Teoria Crítica e Teoria do Etiquetamento. c) Teoria Crítica, Teoria da Anomia e Teoria da Subcultura Delinquente. d) Teoria do Etiquetamento, Teoria da Associação Diferencial e Escola de Chicago. e) Teoria da Subcultura Delinquente, Teoria da Rotulação e Teoria da Anomia. COMENTÁRIOS. Nota do autor: dentro da denominada macrossociologia, há, segundo Sérgio Salomão Shecaira, duas visões que influenciaram o pensamento criminológico. Uma, funcionalista, também chamada de Teorias de Integração, trouxe a corrente conhecida como Teorias do Consenso; outra, argumentativa, veio a ser denominada Teorias do Conflito. Ensina o mencionado autor: Para a perspectiva das teorias consensuais a finalidade da sociedade é atingida quando há um perfeito funcionamento das suas instituições de forma que os indivíduos compartilham as regras sociais dominantes. Para a teoria do conflito, no entanto, a coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição de outros; ignora-se a existência de acordos em torno de valores de que depende o próprio estabelecimento da força (Cri- minologia. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, pp. 123-124). Alternativa correta: letra A : são consideradas teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria da Associação Diferencial, a Teoria da Anomia e a teoria da Subcultura Delinquente. Alternativa B : as teorias Crítica e do Etiquetamento (labelling) são mais ligadas à visão das Teorias do Conflito. Alternativa C : vide alternativas anteriores. Alternativa D : vide alternativas anteriores. Alternativa E : vide alternativas anteriores. 02. (FCC Defensor Público PR/2012) São características principais da moderna Criminologia, EXCETO: a) Substitui o conceito tratamento (conotação clínica e individual) por intervenção (conotação dinâmica, complexa e pluridimensional). b) Parte da caracterização do crime como problema (face humana e dolorosa do delito). c) Amplia o âmbito tradicional da Criminologia ao adicionar o delinquente e o delito ao seu objeto de estudo. d) Acentua a orientação prevencionista do saber criminológico, diante da obsessão repressiva explícita de outros modelos convencionais. e) Destaca a análise e a avaliação dos modelos de reação ao delito como um dos objetos da Criminologia. COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra C : a Criminologia tradicional é que lançava seu foco sobre o delinquente. Basta verificar os postulados da denominada Escola Científica: a criminologia era estudada com a mesma metodologia das ciências naturais embora muitas vezes baseada na antropologia, sociologia e psicologia, tais como entendidas naquela época. Considerava-se o delito um fenômeno natural, fruto de causas biológicas ou de influência do meio sobre o indivíduo, negando-se, assim, o livre-arbítrio. A Sociologia Criminal, já no Século XX, procurou estudar o próprio delito, influenciada por algumas teorias sociológicas. Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2565 16/08/2017 19:04:21

2566 Alternativas A, B, D e E : as demais alternativas trazem justamente as profundas alterações sofridas pela Criminologia desde Beccaria (Escola Clássica), Lombroso e Ferri (Escola Científica), com seus novos postulados e visões sobre o delito, o delinquente e, principalmente, sobre a própria sociedade, que não mais fica excluída dos estudos. 03. (FCC Defensor Público PR/2012) Paulo, executivo do mercado financeiro, após um dia estressante de trabalho, foi demitido. O mundo desabara sobre sua cabeça. Pegou seu carro e o que mais queria era chegar em casa. Mas o horário era de rush e o trânsito estava caótico, ainda chovia. No interior de seu carro sentiu o trauma da demissão e só pensava nas dívidas que já estavam para vencer, quando fora acometido de uma sensação terrível: uma mistura de fracasso, com frustração, impotência, medo e etc. Neste instante, sem quê nem por que, apenas querendo chegar em casa, jogou seu carro para o acostamento, onde atropelou um ciclista que por ali trafegava, subiu no passeio onde atropelou um casal que ali se encontrava, andou por mais de 200 metros até bater num poste, desceu do carro meio tonto e não hesitou, agrediu um motoqueiro e subtraiu a motocicleta, evadindo-se em desabalada carreira, rumo à sua casa. Naquele dia, Paulo, um pacato cidadão, pagador de impostos, bom pai de família, representante da classe média-alta daquela metrópole, transformou-se num criminoso perigoso, uma fera que ocupara as notícias dos principais telejornais. Diante do caso narrado, identifique dentre as Teorias abaixo, a que melhor analisa (estuda/explica) o caso. a) Escola de Chicago. b) Teoria da associação diferencial. c) Teoria da anomia. d) Teoria do labeling approach. e) Teoria crítica. COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra C : a teoria da Anomia é uma teoria etiológica, funcionalista, utilizando a metodologia positivista. Entende o crime como um fato normal em qualquer sociedade: o comportamento criminoso pode ser considerado um sintoma da dissociação social entre aspirações culturais e meios institucionais. Ou seja, a elevada criminalidade é produto de uma sociedade que exerce forte pressão sobre metas culturais sem a correspondente exigência do cumprimento das normas que ditam os procedimentos para conquistá-las (Ryanna Pala Veras, Nova criminologia e os crimes do colarinho branco. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p. 52). Note-se como o antes pacato cidadão, que vivia uma crise pessoal quando cometeu os delitos, passou automaticamente a ser tratado como um perigoso criminoso. Isso é típico de tal corrente criminológica. Ensina Shecaira que: Para esse pensamento, pois, a máquina social deve encontrar meios de autopreservação; toda vez que não encontrar, no entanto, estar-se-á diante de uma disfunção. Em face dessa disfunção, a sociedade deve reagir, para que a falha desse sistema seja corrigida e para que se possa voltar ao normal funcionamento da sociedade como um todo. O interessante dessa perspectiva é que o combate à disfunção far-se-á não pelo estudo de suas causas, mas sim pelo exame de suas consequências exteriores. Daí porque se pode afirmar serem as teorias funcionalistas conservadoras, já que não vão às raízes do problema, que é analisado pela sua superfície (op. cit., p. 188). Alternativa A : segundo Shecaira (op. cit., pp. 137 e 151-152): a escola de Chicago tem uma perspectiva transdisciplinar que discute múltiplos aspectos da vida humana, todos eles relacionados com a vida da cidade. (...) Segundo Shaw e Mckay algumas propostas preventivas podem ser elencadas. Em primeiro lugar, nenhuma redução da criminalidade é possível se não houver mudanças efetivas das condições econômicas e sociais das crianças. Isto é, há que se alterar o caminho que fornece condições para a existência para a existência das carreiras delinquentes. (...) O enfoque, como primeira grande teoria científica, na área sociológica, pressupõe uma macrointervenção na comunidade. Tratamento e prevenção, para terem sucesso, demandam amplos programas que envolvam recursos humanos junto à comunidade e que concentrem esforços dos cidadãos em torno das forças construtivas da sociedade. A unidade de operação é a vizinhança. Alternativa B : a teoria da associação diferencial parte da noção de que o crime não é exclusividade das classes menos favorecidas, por uma suposta inadaptação destas. Na verdade, é fundamental para a prática delitiva o processo de comunicação, ou seja, os valores dominantes no seio do grupo ensinam o delito (Shecaira, op. cit., p. 173). Alternativa D : a teoria do etiquetamento (ou labeling aproach) parte da constatação de que a criminalidade advinda das estatísticas é pura construção das instâncias de controle, que selecionam condutas e as definem como crimes. Ou seja, o crime não é um fenômeno natural, mas cultural. Assim, tal teoria estuda o processo de interação, através do qual uma pessoa é estigmatizada como delinquente pelas instâncias de controle social. Alternativa E : a criminologia crítica procura afastar-se totalmente dos entendimentos positivistas, entre os quais está o estudo do indivíduo que delinque. Ao contrário, tal corrente procura descrever a realidade e desconstruir o discurso oficial do direito penal, mostrando que este não é neutro, mas na verdade reproduz as desigualdades sociais e busca manter o status quo vigente. Adota os postulados da reação social e da sociologia do conflito, aprofundando-os. A criminologia crítica contesta a existência de uma noção ontológica de delito e denuncia a ideia de que o direito penal protege interesses comuns a toda a sociedade, acusando-a de mera ficção, que busca apenas legitimar o exercício do poder político. Na verdade, segundo a criminologia crítica, nossa sociedade não possui propriamente consenso a respeito de valores e, portanto, sobre quais bens jurídicos devem ser protegidos. Mas, entre tais criminólogos, surge a ideia de que bens jurídicos como o meio ambiente, o sistema econômico-financeiro, a saúde e os direitos fundamentais de modo geral devem ser tutelados pelo direito penal, enquanto que os crimes patrimoniais e aqueles de menor potencial ofensivo devem receber a proteção de outras áreas do direito (descriminalização). Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2566 16/08/2017 19:04:21

Criminologia Questões 2567 04. (FCC Defensor Público DPE ES/2016) Sobre a escola positivista da criminologia, é correto afirmar: a) A escola positivista ainda não chega a considerar a concepção da pena como meio de defesa social, que é própria de escolas mais modernas da criminologia. b) Sua recepção no Brasil recebeu contornos racistas, notadamente no trabalho antropológico de Nina Rodrigues. c) É uma escola criminológica ultrapassada e que já influenciou a legislação penal brasileira, mas que após a Constituição Federal de 1988 não conta mais com institutos penais influenciados por esta corrente. d) Por ter enveredado pela sociologia criminal, Enrico Ferri não é considerado um autor da escola positivista, que possui viés médico e antropológico. e) O método positivista negava a importância da pesquisa empírica, que possivelmente a levaria a resultados diversos daqueles encontrados pelos seus autores. COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra B : a alternativa menciona a obra do maranhense Raimundo Nina Rodrigues. Médico, procurou estudar, no final do século XIX, a relação entre raça e criminalidade, razão pela qual, por focar nos afrodescententes, é considerado racista e eugenista. Considerava os negros, os índios e os mestiços indivíduos inferiores e, com base em Garófalo, pregava um direito penal diferenciado para tais pessoas. Alternativa A : ao contrário, a Escola Positiva entendia que a pena tinha justamente a finalidade de afastar o delinquente da sociedade, ou seja, tinha a finalidade de defender a sociedade do criminoso (defesa social). Alternativa C : resquícios da Escola Positiva, inclusive no que tange à pena, permanecem no direito penal brasileiro, bastando verificar a evidente seletividade de nossa política criminal e das punições aplicadas, ainda que o discurso seja de assegurar as garantias fundamentais e a igualdade de tratamento. Alternativa D : ao contrário, Ferri é um dos grandes nomes da Escola Positiva, tendo adotado um viés mais sociológico para explicar as razões da criminalidade, ao contrário de Lombroso, médico, que adotou um caminho mais voltado a questões de natureza biológica. Alternativa E : o método do positivismo era justamente o estudo empírico, o que muito motivou os estudos de Lombroso e, no Brasil, como visto acima, de Nina Rodrigues. 05. (FCC Defensor Público DPE ES/2016) Na história da administração penal, várias épocas podem ser destacadas, durante as quais vigoraram sistemas de punição completamente diferentes. Indenização (penance) e fiança foram os métodos de punição preferidos na Idade Média. Eles foram sendo gradativamente substituídos por um duro sistema de punição corporal e capital que, por sua vez, abriu caminho para o aprisionamento, em torno do século xvii. (RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2.ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004, p. 23) De acordo com o clássico trabalho de Rusche e de Kirchheimer de 1939, é correto afirmar: a) A pena de prisão foi tida pelos autores como uma forma positiva de adaptação dos trabalhadores ao sistema produtivo, trazendo a ressocialização ao centro do sistema punitivo. b) O surgimento da prisão como forma hegemônica de punição da modernidade foi uma conquista iluminista de humanização das penas frente à barbárie da Idade Média. c) Os autores podem ser classificados como membros da Escola de Chicago, dominante no período de publicação da obra. d) As relações entre mercado de trabalho, sistema punitivo e cárcere são próprios da criminologia crítica, que surgiu na década de 1960 e foi a principal escola de oposição a Rusche e Kirchheimer. e) A pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequente necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos. COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra E : os autores citados na questão realmente viam uma estreita relação da pena de prisão e o surgimento do capitalismo mercantil, pelos motivos expostos na alternativa. Por sinal, os autores veem sempre uma relação entre a estrutura punitiva e o momento econômico de dada sociedade. Assim, defenderam a ideia de que o trabalho dos presos nas galés se devia à ausência de trabalhadores livres que aceitassem realizar tal tipo de atividade insalubre. Do mesmo modo, a necessidade de mão de obra é o que justificou a punição da mendicância e da vadiagem, por exemplo. Tal obra foi resgatada pela Criminologia Crítica ao final da década de 60 do século XX. Alternativa A : não havia a preocupação da ressocialização no surgimento da pena de prisão. Alternativa B : a pena de prisão foi influenciada pelo Iluminismo, mas também, e principalmente, segundo os citados autores, pelo mercantilismo, como visto na alternativa A. Alternativa C : a obra foi publicada no final dos anos 30, mas somente valorizada no final dos anos 60, ambos do século XX, pela Escola Crítica, como visto acima. Alternativa D : ao contrário, a Escola Crítica abraçou muito do que os autores citados expuseram três décadas antes. 2. OUTROS ASPECTOS DA CRIMINO- LOGIA 06. (FCC Defensor Público PR/2012) Considere os acontecimentos abaixo. I. No dia 16 de outubro, após um dia exaustivo de trabalho, quando chegava em sua casa, às 23:00 horas, em um bairro afastado da cidade, Maria foi estuprada. Naquela mesma data, fora acionada a polícia, quando então foi lavrado boletim de ocor- Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2567 16/08/2017 19:04:21

2568 rência e tomadas as providências médico-legais, que constatou as lesões sofridas. II. Após o fato, Maria passou a perceber que seus vizinhos, que já sabiam do ocorrido, a olhavam de forma sarcástica, como se ela tivesse dado causa ao fato e até tomou conhecimento de comentários maldosos, tais como: também com as roupas que usa (...), também como anda, rebolando para cima e para baixo e etc., o que a deixou profundamente magoada, humilhada e indignada. III. Em novembro, fora à Delegacia de Polícia prestar informações, quando relatou o ocorrido, relembrando todo o drama vivido. Em dezembro fora ao fórum da Comarca, onde mais uma vez, Maria foi questionada sobre os fatos, revivendo mais uma vez o trauma do ocorrido. Os acontecimentos I, II e III relatam, respectivamente processos de vitimização: a) primária, secundária e terciária. b) primária, terciária e secundária. c) secundária, primária e terciária. d) terciária, primária e secundária. e) secundária, terciária e primária. COMENTÁRIOS. Nota do autor: a vítima é uma das figuras mais menosprezadas no sistema penal, vindo a ser resgatada pela Criminologia apenas recentemente, depois de um longo esquecimento. Mesmo nas leis, tomando-se como exemplo o sistema criminal brasileiro, a vítima começou a ser resgatada com o advento da Lei 9.099/1995, tendência que aumentou nos últimos anos com edição de leis como a Lei Maria da Penha e o Estatuto do Idoso. Aponte-se, ainda, que o CPP também sofreu modificações que mostram preocupação com a vítima, tal como se dá com as regras sobre a obrigatoriedade de comunicá-la sobre a decisão judicial final, saída do réu da cadeia etc. Além disso, o CPP hoje permite que o próprio juiz criminal fixe um valor mínimo de indenização pelo crime. Alternativa correta (responde todas as demais alternativas): letra B : a doutrina criminológica diferencia a vitimização primária, secundária e terciária. A vitimização primária ocorre quando o indivíduo é atingido diretamente pelo crime; a vitimização secundária é a que atinge a vítima na sua relação com o Estado e o sistema repressivo penal; e a vitimização terciária é a que atinge a vítima no seu próprio meio social, tornando-a estigmatizada por ter se envolvido ainda que no papel de ofendido com determinado tipo de crime. Note-se que a doutrina inclui até mesmo o autor do delito como passível de vitimização terciária, na medida em que pode suportar sofrimento além do previsto na forma de cumprimento da pena (cumprimento de pena em celas abarrotadas e infectas; acusado torturado pelos órgãos policiais ou sujeito a sevícias dos próprios presos etc.). No item I, temos a vitimização primária de Maria, ao ser atingida diretamente pela conduta do delinquente, ou seja, pelo crime em si. No item II, temos a estigmatização da vítima por ter sofrido as consequências do crime de tal natureza, a ponto de ser ela própria apontada como culpada pelo ataque sofrido. Ou seja, é a vitimização terciária. No item III, temos a vitimização secundária, ou seja, aquela trazida pela relação da vítima com o aparato repressivo criminal. 07. (FCC Defensor Público DPE ES/2016) Considerando a atual conjuntura da política criminal brasileira, é correto afirmar que a) a eficiência do trabalho policial pode ser verificado pelo baixo índice de letalidade e o alto índice de prisões efetuadas. b) o processo de encarceramento em massa no Brasil alavancou-se no período de vigência da Constituição Federal de 1988, apesar desta ter como seus fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana. c) a construção de presídios tem sido uma política eficaz de redução do encarceramento em massa. d) o crescimento da população prisional é isonômico no aspecto de gênero. e) a proteção de direitos humanos tem sido o principal resultado da política criminal brasileira, uma vez que o aumento da população prisional demonstra que os bens jurídicos estão sendo cada vez mais protegidos por meio do direito penal. COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra B : essa é uma realidade inegável e o mais grave é que a maioria dos presos no Brasil é composta de detentos provisórios, sem pena definitiva fixada. É verdade, por outro lado, que houve uma explosão de crimes a partir dos anos 1980, embora tal tendência parece começar a se reverter, embora não haja qualquer homogeneidade nos índices de violência nas diferentes regiões do país. Alternativa A : a letalidade da polícia brasileira é muito elevada para os padrões internacionais e o índice de solução de crimes é baixíssimo. Em resumo, falta, infelizmente, eficiência no trabalho policial de modo geral, havendo, naturalmente, exceções que confirmam a regra. Alternativa C : ao contrário, o encarceramento em massa somente se agrava no Brasil, pois temos uma das maiores populações carcerárias do planeta e ainda assim, caso fossem cumpridos todos os mandados de prisão expedidos no momento, não teríamos vagas para colocar os novos presos. Alternativa D : a maior parte da população carcerária é composta de pessoas de classes menos favorecidas, homens e jovens. Alternativa E : basta uma verificação do sistema prisional brasileiro para se constatar, com muita facilidade, que ele próprio constitui uma permanente violação aos direitos humanos. Encarceramento e proteção a direitos humanos não são duas coisas que guardam relação direta, como podem pensar, erroneamente, alguns. Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2568 16/08/2017 19:04:21

Criminologia DICAS (RESUMO) 1. PRINCIPAIS ESCOLAS E TEORIAS CRIMINOLÓGICAS Escola Clássica: teve como precursor Beccaria (século XVIII) e foi bastante influenciada pelo Iluminismo. outros autores influentes: Carrara, Feuerbach e Bentham, dentro outros; a questão principal era: por que o ser humano delinque? entendia que o ser humano é racional e tem livre -arbítrio e, portanto, comete delitos porque assim deseja, sendo uma opção racional; Criminologia científica: surge juntamente com a Escola Positiva (século XIX). segundo parte da doutrina, surge com a publicação da obra O Homem Delinquente, de Lombroso; principais nomes: Ferri e Garofolo; o problema principal a ser estudado era o criminoso; a crimonologia era estudada com a mesma metodologia das ciências naturais embora muitas vezes baseada na antropologia, sociologia e psicologia, tais como entendidas naquela época; o delito é um fenômeno natural, fruto de causas biológicas ou de influência do meio sobre o indivíduo; negava-se o livre-arbítrio. Sociologia criminal: procurava explicar o crime. a primeira manifestação, segundo Ryanna Pala Veras (Nova criminologia e os crimes do colarinho branco. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p. 09) é apontada como sendo a teoria ecológica (Escola de Chicago), já no século XX; principais nomes: Ernest Burgess, Clifford R. Shaw e Henry D. McKay; em que área se dava uma maior concentração da criminalidade; procuravam mostrar a relação entre a criminalidade e o grau de organização social, estrutura familiar etc. Segundo Shecaira (op. cit., pp. 137 e 151-152): a escola de Chicago tem uma perspectiva transdisciplinar que discute múltiplos aspectos da vida humana, todos eles relacionados com a vida da cidade. (...) Segundo Shaw e Mckay algumas propostas preventivas podem ser elencadas. Em primeiro lugar, nenhuma redução da criminalidade é possível se não houver mudanças efetivas das condições econômicas e sociais das crianças. Isto é, há que se alterar o caminho que fornece condições para a existência para a existência das carreiras deliquentes. (...) O enfoque, como primeira grande teoria científica, na área sociológica, pressupõe uma macrointervenção na comunidade. Tratamento e prevenção, para terem sucesso, demandam amplos programas que envolvam recursos humanos junto à comunidade e que concentrem esforços dos cidadãos em torno das forças construtivas da sociedade. A unidade de operação é a vizinhança. Escolas psicológicas (microssociologia): surge depois da Escola de Chigado. segundo Ryanna Pala Veras (op. cit,. p. 12), estudam o problema do crime sobre a perspectiva do indivíduo em interação com o meio social; entendem que a sociedade cria as condições para o desvio de comportamento, entre os quais está o delito e procuram estudar como tais condições atuam sobre a pessoa; verificam que existe a predeterminação do crime no próprio sujeito. São teorias que abandonaram a variante puramente individualista (biológica) e consideram importante a influência da sociedade sobre o homem, enfatizando a formação, os valores e os contatos sociais. A linha de pesquissa microssociológica é a predominante nos Estados Unidos (VERAS, op. cit., p. 12); Teorias do aprendizado: entendem que um indivíduo torna-se um criminoso porque assim apreende na própria sociedade em que inserido; passaram a estudar o desenvolvimento urbano e utilizaram de elementos estatísticos para verificar Teoria da associação diferencial (Sutherland): o delito é aprendido através da interação entre as Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2569 16/08/2017 19:04:21

2570 pessoas, seja na própria família, seja entre amigos. Resume Shecaira (op. cit., pp. 173-174): As seguintes assertivas se referem ao processo pelo qual um indivíduo se inclina a praticar um ato criminoso, segudo o pensamento da associação diferencial: 1. o comporamento criminal é um comportamento aprendido. Isto significa que ele não é produto de uma carga hereditária. Aprende-se a delinquir como se aprende também o comportamento virtuoso ou qualquer outra atividade. (...) 2. o comportamento criminal é aprendido mediante a interação com outras pessoas, resultante de um processo de comunicação. Trata-se de um processo de imitação que se inicia no âmbito familiar, incluindo até mesmo a aprendizagem do gestual. (...) 3. a parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou com pessoas do seu meio. (...) 4. quando se aprende um comportamento criminal, o aprendizado inclui: a técnica de cometimento do delito (...) e também a orientação específica das correspondentes motivações, impulsos, atitudes, além da própria racionalização (justificação) da conduta delitiva. (...) 5. a direção específica dos motivos e dos impulsos se aprende com as definições favoráveis ou desfavoráveis aos códigos legais. (...) 6. uma pessoa se converte em delinquente quando as definições favoráveis à violação da norma superam as definições desfavoráveis. Este é o princípio da associação diferencial. (...) 7. as associações diferenciais podem variar em frequência, duração, prioridade e intensidade. (...) 8. o conflito cultural é a causa fundamental da associação diferencial e, portanto, do comportamento criminosos sistemático. (...) 9. a desorganização social é a causa básica do comportamento criminoso sistemático. Técnicas de neutralização (Sykes e Matza): concordam com a teoria da associação diferencial quanto à aprendizagem, mas afirmam que o criminoso não aprova seu comportamento, mas cria mecanismos para justificar suas atitudes. São as técnicas de neutralização; Teorias do controle: desenvolvidas por Reckless e Hirschi. Reckless entendia que o lugar onde o indivíduo reside pode expô-lo a condições favoráveis ao comentimento de crimes. Se ele irá ou não cometê -los dependerá do controle exercido naquele lugar, seja interno, ou seja, o auto-controle (self-control), seja por parte da comunidade. Dá grande importância à educação infantil; Hirschi entendia que o ser humano sempre quer levar vantagem, sendo o delito uma forma de obtê -la. Para ele, não há necessidade de explicar o crime, mas, sim, o motivo que leva alguns a delinquir e outros, não. Mais uma vez, a questão está na forma de controle exercido pela comunidade sobre os indivíduos. A falta de freios sociais acabam fazendo com que, diante de oportunidades e estímulos do meio em que o indivíduo vive, este, se tiver baixo auto-controle, irá delinquir. Macrossociologia criminal: também surge depois da Escola de Chicago. seu foco é a estrutura social e não o indivíduo; o crime é um fato social e a sociedade é criminógena; o crime é um fato puramente social, produto da atuação das estruturas sociais, sem referência a condições individuais. Assim, o objeto de estudo da macrossociologia não é o indivíduo, mas o funcionamento da sociedade por si só (VERAS, op. cit., p. 12); se subdivide em duas vertentes: Macrossociologia etiológica: voltada à compreensão das causas da delinquência visto ontologicamente como resultante das estruturas sociais; Macrossociologia da reação social: analisa o próprio processo de criminalização realizado pelos órgõas de persecução criminal. Entende o crime como uma realidade construída pelo homem (e não ontológica), que é criada e recriada por um processo de e interpretação e seleção de condutas (VERAS, op. cit., p. 12). Teve mais influência na Europa. suas principais teorias são: Anomia: principais nomes: Robert Merton, Durkheim, Cloward e Ohlin. é uma teoria etiológica, funcionalista, utilizando a metodologia positivista; entende o crime como um fato normal em qualquer sociedade; o comportamento criminoso pode ser considerado um sintoma da dissociação social entre aspirações culturais e meios institucionais. Ou seja, a elevada criminalidade é produto de uma sociedade que exerce forte pressão sobre metas culturais sem a correspondente exigência do cumprimento das normas que ditam os procedimentos para conquistá-las (VERAS, op. cit., p. 52). Seus postulados de maior transcendência criminológica são dois: a normalidade e a funcionalidade do crime. Este seria normal porque não teria sua origem em nenhuma patologia individual nem social, senão no normal e regular funcionamento de toda ordem social. Apareceria inevitavelmente unido ao Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2570 16/08/2017 19:04:22

Dicas 2571 desenvolvimento do sistema social e a fenômenos normais da vida cotidiana. O delito seria funcional no sentido de que tampouco seria um fato necessariamente nocivo, prejudicial para a sociedade, senão todo o contrário, é dizer, funcional, para a estabilidade e a mudança social (Antonio García -Pablos de Molina e Luiz Fávio Gomes. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 252). Labeling approach: um dos principais nomes foi Howard Saul Becker; a teoria do etiquetamento (ou labeling aproach) parte da constatação de que a criminalidade advinda das estatíticas é pura construção das instâncias de controle, que selecionam condutas e as definem como crimes; ou seja, o crime não é um fenômeno natural, mas cultural; assim, tal teoria estuda o processo de interação, através do qual uma pessoa é estigmatizada como delinquente pelas instâncias de controle social. Estas, portanto, passam a ser o principal objeto de estudo. Criminologia do conflito: relacionou algumas teorias sociológicas com o próprio funcionamento do sistema penal, tendo grande desenvolvimento nos EUA, a partir do pensamento do sociólogo alemão Ralf Dahrendorf; tal sociólogo entendia que toda sociedade possui conflitos e vive em permanente transformação, baseando-se na coerção de alguns de seus membros sobre os demais; a partir de tais ideias, derivam algumas teorias criminológicas; Criminologia de George Vold: o conflito existe muito antes da lei penal e o delito surge do conflito entre grupos. Aquele dominante acaba por criar as leis penais, criminalizando as condutas do grupo mais fraco. Logo, o direito penal é um instrumento de dominação; Criminologia de Austin Turk: aceita a ideia de que na sociedade há os que definem o crime e, portanto, quem será o criminoso. Então, busca estudar o que influi em tal processo de definição das condutas criminosas, a que ele chama de ilegitimação; Criminologia de Willian Chambliss e Robert Seidman: aceitam que a justiça penal realmente não é neutra, pois revela o conflito existente entre grupos na sociedade. Assim, a lei não expressa um consenso, mas os valores de determinados grupos (classes média e alta), que utilizam o aparelho do Estado como instrumento de dominação; Criminologia de Richard Quinney: um dos mais influentes, chegando, ao final de seus estudos, aderido à sociologia marxista. Entende que a coesão social é alcançada pela coerção, já que há um conflito permanente entre grupos e a consequente luta pelo poder. Quando ao crime, adota a mesma perspectiva do labeling aproach e afirma que os delitos descrevem condutas que conflitam com os detentores do poder criminologia crítica (radical): tem base em análise sociológica marxista, surgindo, nos anos 1960, na Inglaterra e nos EUA (na Universidade de Berkeley) e na Inglaterra; Possui diversas vertentes, havendo quem a divida entre criminologia radical (EUA) e nova criminologia (Inglaterra); no Brasil, tal corrente ficou muito conhecida graças às obras do italiano Alessandro Baratta, dos ingleses Walton, Taylor e Young e do argentino Eugenio Raúl Zaffaroni. Três nomes relevantes no Brasil são Nilo Batista, Roberto Lyra Filho e Juarez Cirino dos Santos; a criminologia crítica procura afastar-se totalmente dos entendimentos positivistas, entre os quais está o estudo do indivíduo que delinque. Ao contrário, tal corrente procura descrever a realidade e desconstruir o discurso oficial do direito penal, mostrando que este não é neutro, mas na verdade reproduz as desigualdades sociais e busca manter o status quo vigente. Adota os postulados da reação social e da sociologia do conflito, aprofundando-os; os primeiros autores da criminologia crítica sofriam influência muito grande do marxismo e como solução para tal decadência apontavam a queda do próprio capitalismo, por uma revolução socialista. Contudo, a análise do denominado socialismo real, isto é, daqueles países onde os dogmas marxistas teriam sido aplicados, bem como a derrocada de tal sistema no final da década de 1980, foram fatores que acabaram por mitigar o discurso revolucionário dos criminólogos críticos. No entanto, dentro da ideia matriz de tal corrente, passou-se a considerar a criminalidade dentro do contexto da globalização e da relação entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento; a criminologia crítica contesta a existência de uma noção ontológica de delito e denuncia a ideia de que o direito penal protege interesses comuns a toda a sociedade, acusando-a de mera ficção, que busca apenas legitimar o exercício do poder político. Na verdade, segundo a criminologia crítica, nossa sociedade não possui propriamente consenso a respeito de valores e, portanto, sobre quais Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2571 16/08/2017 19:04:22

2572 bens jurídicos devem ser protegidos. Mas, entre tais criminológos, surge a ideia de que bens jurídicos como o meio ambiente, o sistema econômicofinanceiro, a saúde e os direitos fundamentais de modo geral devem ser tutelados pelo direito penal, enquanto que os crimes patrimoniais e aqueles de menor potencial ofensivo devem receber a proteção de outras áreas do direito (descriminalização); a criminologia crítica mostra como a prisão e suas condições concretas impedem a ressocialização do indivíduo. Ademais, o recurso às penas privativas de liberdade fracassou também como meio de controle da criminalidade e, ao contrário, apenas amplia a marginalização das pessoas a elas submetidas. Prega-se, portanto, maior utilização das penas alternativas e outras medidas despenalizantes; os criminólogos de tal corrente lembram que o princípio da culpabilidade já havia sido questionado pela teoria microssociológica das subculturas criminais (Albert Cohen, sociólogo americano). Segundo este entendimento, algumas pessoas vivem à margem da sociedade e não encontram oportunidades nesta, ou seja, não conseguem a esta se integrar. Consequentemente, passam a viver em outros grupos (subculturas), que adotam comportamentos diversos do modelo oficial, transmitindo, então, tais valores a outros do mesmo grupo. Defensoria_Publica_Estadual_Livro.indb 2572 16/08/2017 19:04:22