Utilização de Membrana de Fibras Ocas na Destoxificação de Hidrolisado Hemicelulósico de Bagaço de Cana-de açúcar visando à Produção de Etanol

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Utilização de Membrana de Fibras Ocas na Destoxificação de Hidrolisado Hemicelulósico de Bagaço de Cana-de açúcar visando à Produção de Etanol Eugenia Abiricha Montesi, Larissa Canilha, Maria das Graças de Almeida Felipe, Silvio Silvério da Silva Escola de Engenharia de Lorena EEL/USP Departamento de Biotecnologia Estrada Municipal do Campinho, s/n CEP 12.602-810, Lorena, São Paulo E-mail: eugeniamontesi@alunos.eel.usp.br RESUMO Foi avaliado o desempenho fermentativo da levedura Sheffersomyces stipitis em hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar (HHBCA), tratado com membrana de fibras ocas. A fase orgânica foi composta por uma mistura dos solventes alamina 336 TM e octanol em diferentes proporções. Foi empregada a levedura S. stipitis como inóculo, obtido do cultivo em meio semi sintético enquanto as fermentações ocorreram em frascos Erlenmeyer com HHBCA tratado por membrana de fibras ocas e suplementado com nutrientes. A máxima remoção de ácido acético, furfural, hidroximetilfurfural e fenóis foi de 56,90; 83,33; 50; 22,78 (%), respectivamente. Apesar dos ótimos resultados quanto à destoxificação, não verificou-se a produção de etanol pela levedura durante a fermentação de HHBCA destoxificado com membrana de fibras ocas, nas condições operacionais empregadas. Palavras-chave: hidrolisado hemicelulósico, bagaço de cana-de-açúcar, destoxificação, membrana de fibras ocas, etanol, Sheffersomyces stipitis INTRODUÇÃO A energia em geral tem um papel vital no dia a dia de qualquer sociedade. As fontes de energia podem ser classificadas em três grupos: fóssil, renovável e nuclear 1. É de conhecimento que a maior fonte atual de energia é proveniente do petróleo, o qual é uma fonte fóssil, não renovável, e que causa danos ao meio ambiente, como poluição e emissão de gases de efeito estufa. Como forma de evitar essa degradação e prover a sociedade com um tipo de combustível mais sustentável, diversos tipos de biocombustíveis vêm sendo estudados, dentre eles o etanol. Este trabalho teve por objetivo estudar a utilização de membrana de fibras ocas na etapa de destoxificação para tentar contornar um dos gargalos da produção de etanol proveniente de biomassas vegetais como bagaço de cana-de-açúcar: a remoção de compostos tóxicos resultantes da hidrolise ácida do bagaço. Tais compostos influenciam negativamente o metabolismo microbiano, dificultando a transformação de açúcares fermentescíveis em etanol. MATERIAL E MÉTODOS Obtenção do hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar O bagaço de cana-de-açúcar foi hidrolisado em reator de aço inoxidável com capacidade de 50 L, a 121 ºC por 20 min, com 1% m/v de H 2 SO 4 e relação sólido-líquido de 1kg de bagaço para 29

cada 10 L de solução ácida (1:10). Posteriormente, o hidrolisado foi concentrado em evaporador a vácuo, a 70 C, com a finalidade de aumentar o seu teor inicial de xilose. Destoxificação do hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar O tratamento escolhido foi a extração líquido-líquido com interface imobilizada em membrana de fibras ocas (hollow fiber). O módulo de membrana Liquicel Minimodule Membrane Contactors 1 x 5.5 (Charlote, NC USA) foi utilizado. O HHBCA (fase aquosa) foi centrifugado a 2000 x g por 20 minutos e filtrado em membranas de poros 14, 0,45 e 0,22 µm, respectivamente para evitar o posterior entupimento da membrana de fibras ocas. A fase orgânica foi composta por uma combinação em três proporções diferentes de alamina 336 TM e octanol (Tabela 1). Ambas as fases foram bombeadas por duas bombas peristálticas. A fase aquosa foi bombeada pelo interior e a fase orgânica pelo exterior da membrana. O tratamento foi realizado em bateladas descontínuas e um phmetro monitorou a variação de ph durante todo o procedimento. A Tabela 1 mostra os parâmetros utilizados na destoxificação: Tabela 1 Parâmetros utilizados na destoxificação por membrana de fibras ocas Tratamentos Fase aquosa:fase orgânica (volume) Fase orgânica Alamina:octanol (%v/v) Volume fase orgânica (ml) A 1:1 50-50% 400 B 1:1 50-50% 600 C 1:1 25-75% 600 D 1:1 75-25% 600 Fermentação dos hidrolisados destoxificados O inóculo da levedura Sheffersomyces stipitis foi obtido em frascos Erlenmeyer de 500 ml contendo 200 ml de meio composto de (g/l) xilose (30,0), extrato de levedura (3,0), extrato de malte (3,0) e peptona (5,0) em incubadora de movimento circular a 200 rpm, 30 C, por 24 h. As células foram recolhidas por centrifugação a 2000 g por 30 min e lavadas com água esterilizada, para o preparo da suspensão utilizada como inóculo da fermentação. As fermentações foram realizadas em frascos Erlenmeyer de 250 ml contendo 100 ml de meio incubados a 30 C e 200 rpm por 96 h. A concentração celular inicial foi de 3,0 g/l. O meio de fermentação foi composto de hidrolisado de bagaço de cana tratado e suplementado com os mesmos nutrientes descritos acima, exceto xilose. O desempenho fermentativo da levedura foi avaliado pela retirada periódica de amostras para a determinação das concentrações de açúcares, etanol e células. Métodos analíticos A determinação das concentrações dos açúcares, etanol, ácido acético, furfural e hidroximetilfurfural foi feita por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) nas condições descritas por Canilha et al. 2. Os compostos fenólicos foram determinados por espectrofotometria a 280nm, conforme metodologia descrita por Rocha 3. Sólidos totais e cinzas foram determinados segundo metodologia descrita por Gouveia et al. 4. 30

RESULTADOS E DISCUSSÃO As concentrações de açúcares, ácido acético, furfural, hidroximetilfurfural, sólidos totais e cinzas presentes nos HHBCA antes e após as destoxificações são apresentadas na Tabela 2. Em geral, as destoxificações pela extração com solventes orgânicos apresentaram comportamentos semelhantes quanto à perda de açúcares e remoção de inibidores, independente do volume ou composição da fase orgânica utilizada. De acordo com a Tabela 2 houve poucas perdas de glicose (A-2,04%, B-1,53%, C-0%, D-3,07%) e de xilose (A-1,64%, B-0,71%, C-0,02%, D- 2,25%) após a destoxificação, ao se comparar com o hidrolisado concentrado. Em relação aos compostos tóxicos, boas remoções de ácido acético (A-56,90%, B-48,03%, C-48,03%, D- 43,73%), furfural (A 50%, B-50,00%, C-66,67%, D-83,33%), hidroximetilfurfural (A-50%, B- 7,5%, C-37,5%, D-37,5%) e fenóis totais (A-22,27%, B-22,78%, C-19,60%, D-21,55%) também foram observadas. A etapa de destoxificação é de extrema importância uma vez que quanto menor o teor destes compostos, maiores as chances de ocorrer uma boa fermentação, já que esses são inibidores do metabolismo microbiano, prejudicando a conversão dos açúcares presentes no hidrolisado em produtos de interesse como o etanol 5,6. Tabela 2 Composição dos hidrolisados original, concentrado e destoxificados com membrana de fibras ocas. GLI glicose, XIL xilose, ARA arabinose, ACET ácido acético, FURF furfural, HMF hidroximetilfurfural, FT fenóis totais, CIN cinzas, ph potencial hidrogeniônico Hidrolisados GLI XIL ARA ACET FURF HMF FT ST CIN ph (g/l) (g/l) (g/l) (g/l) (g/l) (g/l) (g/l) (g/l) (g/l) original 1,44 13,95 1,23 1,53 0,33 0,02 3,89 24,98 3,81 1,00 concentrado 5,87 63,59 4,38 2,79 0,06 0,08 13,83 114,55 10,63 0,71 A 5,75 62,55 3,86 1,20 0,03 0,04 10,75 93,30 5,42 1,30 B 5,78 63,14 3,91 1,45 0,03 0,05 10,68 105,43 3,41 0,97 C 5,93 63,58 4,02 1,45 0,02 0,05 11,12 101,53 3,37 0,87 D 5,69 62,16 3,84 1,57 0,01 0,05 10,85 100,08 3,90 0,97 Na Tabela 3 são apresentados os parâmetros fermentativos obtidos após a fermentação dos hidrolisados destoxificados e do hidrolisado não destoxificado. Tabela 3 - Parâmetros fermentativos obtidos nas fermentações utilizando os hidrolisado de bagaço de cana tratados e não tratado. Hidrolisados Tempo(h) Etanol(g/L) Células (g/l) Y P/S (g/g) Y X/S (g/g) Q p (g/l.h) Não destoxificado 48 0,99 3,71 0,19 0,02 0,02 A 48 0,00 0,30 0,00 0,10 0,00 B 48 0,00 0,19 0,00 0,11 0,00 C 48 0,00 0,19 0,00 0,07 0,00 D 48 0,00 0,44 0,00 0,15 0,00 31

Observa-se que houve um baixo consumo dos açúcares e também baixa produção de etanol(0,99 g/l) pela levedura ao se utilizar o hidrolisado não destoxificado. Tal resultado revela a necessidade da destoxificação do hidrolisado antes de ser utilizado como meio de fermentação, visando reduzir a concentração dos compostos inibitórios presentes, aumentando a fermentabilidade. Por outro lado o consumo dos açúcares também foi baixo nos ensaios onde o hidrolisado foi previamente destoxificado pela extração com solventes orgânicos, resultando na ausência de produção de etanol, indicando assim, uma possível inibição no metabolismo da levedura S. stipitis pelos solventes utilizados na etapa de destoxificação. Tal fato já foi constatado por Ferraz 7, utilizando hidrolisado de bagaço de cana-de açúcar e a mesma levedura utilizada neste trabalho (Sheffersomyces stipitis) para a fermentação. Grzenia et al. 8 também obtiveram resultados semelhantes utilizando hidrolisado de palha de milho e a bactéria Zymomonas mobilis 8b para a bioconversão de açúcares a etanol. Segundo estes autores, os resultados sugerem que o octanol é muito tóxico para o microorganismo utilizado. CONCLUSÕES No presente trabalho foi possível obter bons resultados quanto à destoxificação de hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana-de-açúcar pela extração em membranas de fibras ocas. Porém, a presença de alamina e octanol no hidrolisado inibiu o metabolismo microbiano, impossibilitando a produção de etanol. Os próximos estudos relacionados ao assunto devem priorizar a procura de formas eficientes de diminuir a transferência desses compostos inibitórios para o hidrolisado durante a extração, de modo a aumentar as chances de fermentabilidade. REFERÊNCIAS (1) DEMIRBAS, A. Biofuels: Securing the Planet s Future Energy Needs, Editora Springer, Londres, 2009. (2) CANILHA, L; CARVALHO, W.; FELIPE, M.G.A.; ALMEIDA E SILVA, J.B.; GIULIETTI, M. Ethanol production from sugarcane bagasse hydrolysate using Pichia stipitis. Applied Biochemistry and Biotechnology, v.161, p.84-92, 2010. (3) ROCHA, G.J.M. Deslignificação de bagaço de cana-de-açúcar assistida por oxigênio. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo (IQSC), São Carlos, 2010. (4) GOUVEIA, E.R.; NASCIMENTO, R.T.; SOUTO-MAIOR, A.M.; ROCHA, G.J.M. Validação de metodologia para a caracterização química do bagaço de cana-de-açúcar. Química Nova, v.32, p.1500-1503, 2009. (5) PALMQVIST, E.; HAHN-HÄGERDAL, B. Fermentation of lignocellulosic hydrolysates II: Inhibitors and mechanisms of inhibition. Bioresource Technology, v.74, p.25-33, 2000. (6) RODRIGUES, R.C.L.B.; FELIPE, M.G.A.; ALMEIDA e SILVA, J.B.; VITOLO, M.; GÓMEZ, P.V. The influence of ph, temperature and hydrolysate concentration on the removal of volatile and nonvolatile compounds from sugarcane bagasse hemicellulosic hydrolysate treated with activated charcoal before or after vacuum evaporation. Brazilian Journal of Chemical Engineering, v.18, n.3, p.299-311, 2001. (7) FERRAZ, F.O. Influência de diferentes métodos de destoxificação sobre a composição e fermentabilidade do hidrolisado de bagaço de cana-de-açúcar à xilitol e etanol. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo (EEL), Lorena, 2010. 32

(8) GRZENIA, D.L.; WICKRAMASINGHE, S.R.; SCHELL, D.J. Fermentation of Reactive-Membrane- Extracted and Ammonium-Hydroxide-Conditioned Dilute-Acid-Pretreated Corn Stover. Applied Biochemistry and Biotechnology, v.166, p.470-478, 2012. 33