MICROCLIMAS URBANOS NO CENTRO DE JOÃO PESSOA-PB Caio Américo de Almeida 1,2, Larissa Fernandes de Lavôr 1, Vinicius Ferreira de Lima 1, Marcelo de Oliveira Moura 1 Universidade Federal da Paraíba- Departamento de Geociências Campus I 1 caioamerico@gmail.com 2 RESUMO: A pesquisa verificou o comportamento dos microclimas urbanos sob o enfoque do conforto térmico em dois pontos de natureza urbana e geoecológica distintas no bairro do Centro de João Pessoa/PB (Parque Sólon de Lucena/ e de Integração). Foram realizadas duas campanhas de campo em episódios representativos da sazonalidade climática da região em perfis de 12 horas, numa dimensão linear com leituras horárias e simultâneas. O trabalho identificou que todas as anomalias térmicas positivas foram presentes para o ponto do com intensidade de até 3ºC e, por conseguinte foi nesse mesmo ponto que se obteve os menores valores de saturação do ar. Essas condições provocaram uma maior frequência de desconforto térmico neste espaço da cidade. Palavras-chave: Microclimas, conforto térmico, João Pessoa. ABSTRACT: The survey showed the behavior of urban microclimates from the standpoint of thermal comfort at two points of distinct urban and geoecology nature in downtown João Pessoa / PB (Parque Solon de Lucena / and de Integração). There were realized two field campaigns in representative episodes of seasonal climate profiles of the region in 12 hours, with a linear dimension and simultaneous readings hourly. The study showed that all the positive temperature anomalies were present in the point with an intensity of up to 3º C and therefore was at this point that we obtained the lowest values of air saturation. These conditions caused a higher frequency of thermal discomfort in this area of the city. Keywords: Microclimate, Thermal Comfort, João Pessoa. 1. INTRODUÇÃO A cidade de João Pessoa, localizada na faixa central da zona litorânea do Estado da Paraíba, Região Nordeste do Brasil, apresenta uma série de problemas de ordem socioambiental o que vem comprometendo a qualidade de vida urbana dos seus habitantes. A subtração das áreas verdes associadas ao crescimento da massa edificada são processos cada vez mais presentes na cidade e isso se configura como um dos fatores responsáveis pelas alterações climáticas locais e, por conseguinte um maior acréscimo de situações de risco ao desconforto térmico nos espaços
públicos da cidade. Valores elevados de desconforto térmico geram condições de estresse ao calor o que influencia no bem estar das populações que circulam no ambiente urbano a pé ou das populações que trabalham em ambientes externos onde não há possibilidade do uso de refrigeração artificial, como os trabalhadores da construção civil. Estudos na área da medicina do trabalho mostram que trabalhadores de ambientes com estresse térmico positivo, a exemplo dos vendedores ambulantes, dentre outros, apresentam um índice nove vezes maior de contrair pedra nos rins (NERY, ANDRADE & MOURA, 2006). Sabe-se que mesmo as condições menos extremas de desconforto térmico também interferem na saúde, bem-estar e produtividade dos indivíduos. 2.OBJETIVOS O trabalho propõe verificar o comportamento microclimático na perspectiva do conforto térmico em duas áreas com aspectos geoecológicos e urbanos distintos no bairro do Centro de João Pessoa (Parque Sólon de Lucena/ e o de Integração), visto que, esses espaços da cidade são as áreas públicas de maior circulação da população pessoense. 3. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia empregada seguiu as orientações teóricas e técnicas de (MENDONÇA, 1994, MONTEIRO, 2003; FERREIRA, 2004; MOURA, 2008; MOURA & SALES, 2011). A pesquisa realizou dois experimentos de campo em episódios representativos da sazonalidade climática da região, primavera (Experimento I /10/2010) e outono (Experimento II 18/05/20110). Foram mensuradas quatro variáveis com leituras horárias e simultâneas em perfis de 12 horas. São elas: temperatura e umidade relativa do ar, nebulosidade e conforto térmico. Esse último elemento foi obtido por meio da aplicação da escala Te (Temperatura Efetiva) elaborado por Thom na década de 1950 (AYOADE, 1996): Te = 0.4 x (Td + Tw) +4,8 onde, Td e Tw são as temperaturas do bulbo seco e do bulbo úmido medidos em ºC, respectivamente. A faixa de conforto dessa escala está no intervalo de 18,9ºC e,6ºc, sendo que os valores abaixo de 18,9ºC e acima de,6ºc são considerados, de modo respectivo, faixas de estresse ao frio e ao calor. Apesar de estabelecida essa faixa de conforto, esta pesquisa considerou a zona de Malhotra (AYOADE, 1996: 66), onde a Te varia de 21ºC a ºC, modificação essa aplicada na Índia. Com intuito de identificar os sistemas produtores dos diferentes tipos de tempo nos dias dos episódios foi obtido cartas de pressão ao nível do mar do DHN do Ministério da Marinha do Brasil no horário 12 e 00 GMT (9 e 21 horas local) e imagens do satélite meteorológico de órbita geostacionária GOES, no canal infravermelho fornecidas pelo CPTEC/INPE.
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO Episódio Primavera- Experimento I- /10/2010. A análise sinótica revelou atuação do sistema TA (Tropical Atlântico), o qual promoveu instabilidade atmosférica na região e resultou a partir de processos físicos em escala de grandeza inferior elevadas taxas de nebulosidade e precipitação para área de estudo. A figura1 revela que as diferenças térmicas entre os pontos alcançam até 3ºC, sendo que o ponto de maior urbanização, ou seja, o de Integração apresentou o maior número de anomalias térmicas positivas do episódio. Os menores registros térmicos ocorreram entre as 11 e 13 horas, isso se deu por conta da ocorrência de chuva nesses horários, já as maiores temperaturas do episódio ocorreram antes da precipitação que iniciou às 10h. A umidade relativa do ar apresentou elevadas taxas para todo episódio (75 a 100%), chegando à saturação às 11h, nos dois pontos investigados. Apesar disso, observou-se que esta variável é um pouco superior na área da. A temperatura efetiva, variável que estabelece o zoneamento do conforto térmico, exibiu registros entre ºC a ºC, valores esses que se enquadram dentro da zona de conforto. A nebulosidade nos dois pontos apresentou elevadas taxas com cobertura de 7/8 e 8/8 em todo experimento. Episódio de outono- Experimento II: 18/05/2011 A análise sinótica apontou a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) como sistema atuante na região, o qual promoveu instabilidade atmosférica, com formação de nuvens do tipo cumulunimbus e stratocumulus sobre a área de estudo. A figura 2 mostra que a diferença da temperatura do ar entre os dois pontos alcança até 2ºC, com anomalias térmicas positivas presentes para o. Os menores valores térmicos do episódio foram registrados as 07 e 19 horas, já os maiores foram detectados entre 12 e 14 horas. Com relação à umidade relativa do ar os maiores percentuais de saturação ocorreram as 07 e 19 horas, sendo 92% na, isso nos dois horários e 89% no de Integração ás 07h. O menor índice de saturação registrado foi de 61% às 12h na e as 13 às 14 horas no de Integração. As condições higro-térmicas registradas no experimento, juntamente com as taxas de nebulosidade (entre 3/8 a 8/8) foram limitantes na produção da temperatura do conforto, variável que apresentou valores entre ºC e ºC, correspondente a zonas de conforto e desconforto térmico. Foi detectado condições de desconforto entre 9 e 14 horas, com registros mais elevados para o ponto do. 5.CONCLUSÕES Observou-se um maior número de registros de conforto térmico no episódio da primavera, fato esse que pode ser explicado pela a ocorrência de precipitação na área de estudo no dia do experimento. A pesquisa identificou que todas as anomalias térmicas positivas foram presentes
para o ponto do com intensidade de até 3ºC e, por conseguinte foi nesse mesmo ponto que se obteve os menores valores de saturação do ar. Essas condições provocaram uma maior frequência de desconforto térmico neste espaço da cidade. Ficou claro a influencia da vegetação e das superfícies hídricas na amenização do calor nos ambientes externos da cidade, nesse sentido, medidas de controle térmico devem ser aplicadas no de Integração, visto que, esse equipamento urbano é um dos espaços públicos mais utilizados pela população local. 6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYOADE, Introdução à climatologia para os trópicos. São Paulo: DIFEL, 1996. 332p. FERREIRA, A.G. Meteorologia Prática. São Paulo: Oficina de Texto, 2006. 188p. MENDONÇA, F.A. O clima e o planejamento urbano de cidades de porte médio e pequeno: proposição metodológica para o estudo e sua aplicação à cidade de Londrina/PR..(Tese de Doutorado). São Paulo: FFLCH/USP- Programa de Pós-Graduação em Geografia, 1994. 300p MOURA, M.O. O clima urbano de Fortaleza sob o nível do campo térmico. (Dissertação de Mestrado). Fortaleza: Programa de Pós- Graduação em Geografia/UFC, 2008. 318p. MOURA, M. O, SALES, M. C. L. Microclimas urbanos em Fortaleza: ritmos sazonais episódicos em duas áreas representativas da metrópole. In: XIV Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, 2011, Dourados/MS. CD-ROM. MONTEIRO, C. A. F. Clima urbano. São Paulo: Contexo, 2003. 192p NERY, J; ANDRADE, T.; MOURA, T. Conforto térmico em Salvador: o índice PET e sua abordagem projetual. RUA (Revista de Arquitetura e Urbanismo- UFBA), vol.7, n.1, Salvador, p.70-77, 2006.
B- Umidade Efetiva (ºC) relativa do ar (%) A- Temperatura D- Nebulosidade (8/8) Efetiva (ºC) B- Umidade relativa do ar (%) A- Temperatura do ar (ºC) (8/8) do ar (ºC) 29 22 100 95 90 85 80 75 70 C- Temperatura 22 D- Nebulosidade 8 7 6 5 4 3 Figura 1- Síntese dos atributos climáticos- Episódio primavera (Experimento I-/10/2010) 34 32 30 100 90 80 70 C- Temperatura 60 29 8 7 6 5 4 3 2 Figura 2- Síntese dos atributos climáticos- Episódio outono (Experimento II-18/05/2011)