IDENTIDADE E CULTURA DOS SUJEITOS DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL-PR

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Transcrição:

A IDENTIDADE DOS SUJEITOS DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL E O RE (PENSAR) DOS PROCESSOS EDUCATIVOS NA COLETIVIDADE Rosana Aparecida da Cruz UTP Agência Financiadora: CAPES INTRODUÇÃO A presente pesquisa problematiza a Educação do campo no re (pensar) coletivo diante das discussões e reflexões acerca da identidade dos sujeitos nos processos educativos das escolas do campo do Município de Tijucas do Sul-PR. As técnicas utilizadas no processamento dos dados são: análise documental, observações, entrevistas e encontros com a comunidade escolar. O objeto central da pesquisa a identidade dos sujeitos do campo e o vínculo dos processos educativos escolares. Intenciona-se verificar se as práticas educativas estão relacionadas à valorização da cultura, memória, costumes e o trabalho dos povos do campo. A primeira parte do trabalho trata da educação do campo no município de Tijucas do Sul, com ênfase na identidade e cultura, a segunda traz reflexões sobre a pesquisa colaborativa nas escolas do campo. IDENTIDADE E CULTURA DOS SUJEITOS DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS DO SUL-PR É perceptível a necessidade de valorização da cultura dos povos do campo, ressignificando o reconhecimento da identidade sociocultural. Nesse sentido, compreende-se que valorizar a cultura dos sujeitos do campo segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo do estado do Paraná (2006, p. 38) significa criar vínculos com a comunidade e gerar um sentimento de pertença ao lugar e ao grupo social [...] possibilitando criar uma identidade sociocultural que leva o aluno a compreender o mundo e a transformá-lo. A partir do momento que os sujeitos começam interagir como integrantes de um grupo reconhecendo a sua identidade há um envolvimento na própria comunidade em busca de transformação, agindo e posicionando-se frente a inúmeras mudanças, buscando desta forma um sentimento que move os sujeitos a defender as suas ideias,

2 recriar formas de convivência e transmitir valores de geração a geração. (BRASIL, 2004, p. 36). Percebe-se que após a integração dos professores, coordenadores e diretores com um projeto de pesquisa vinculado à CAPES/Observatório da Educação, manifestam-se os interesses dos sujeitos da escola pela busca do reconhecimento da identidade dos sujeitos do campo, tendo um novo olhar diante de aspectos relevantes da cultura e da memória a serem valorizados. A identidade dos povos do campo, em Tijucas do Sul, está vinculada ao trabalho com a terra, mas também com atividades não agrícolas e, mesmo com o trabalho assalariado nas cidades, ainda que o lugar de moradia seja o campo. Conforme aponta Arroyo (2004, p. 74) a escola e os saberes são direitos do homem e da mulher do campo, porém esses saberes escolares têm que estar em sintonia com os valores, a cultura e a formação que acontecem fora da escola. Neste estudo, defende-se uma educação que valorize a identidade dos sujeitos do campo, adentrando nos processos educativos os aspectos socioculturais ressignificando o cotidiano da realidade concreta dos povos do campo. A educação do campo busca atender as especificidades dos sujeitos do campo, valorizando as diversas culturas, as memórias, os saberes construídos socialmente que segundo Caldart (2004, p. 26) uma educação que seja no e do campo; no: O povo tem direito a ser educado no lugar onde vive; do: O povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com sua participação vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais. Segundo os dados de IBGE (2010), Tijucas do Sul apresenta um total de 14.537 habitantes. Atende 10 escolas do Ensino Fundamental sendo que 8 são localizadas na zona rural, e 2 na sede, mas que têm características do campo. No município existem 3 escolas multisseriadas. Entre as principais atividades econômicas do Município de Tijucas do Sul se destacam: a plantação de milho, feijão, batata-inglesa, soja, fumo, cultivo de cogumelos. Também temos o trabalho na agricultura familiar que cultivam produtos orgânicos favorecendo uma alimentação saudável para as crianças e sem uso de agrotóxicos. As atividades não-agrícolas existem e são marcadas pelo trabalho realizado pelos picadores de lenha, o artesanato, o pesque pague e o turismo rural. Existem pontos turísticos variados como hotéis fazendas, pousadas e recantos oferecendo empregos e renda para a população. Também fazem parte às agroindústrias, a extração mineral de

3 argila, a extração de erva-mate, o plantio de reflorestamento de pinus e eucalipto e as indústrias madeireiras. Schneider e Blume (2003) ressaltam que não devemos reduzir o rural à agricultura, pois as pessoas que residem no campo nos dias atuais sobrevivem com atividades diversificadas tanto no trabalho das atividades agrícolas, como as nãoagrícolas. A cultura dos tijucanos prevalece à tradição das festas religiosas em várias comunidades, aniversário da cidade, a festa de Reis, dança de São Gonçalo, procissão do Senhor Morto na sexta-feira santa e recentemente foi criada a Nossa Senhora dos Motoqueiros. Também fazem parte da cultura as cavalgadas, a festa de inverno, a festa gastronômica do pinhão, os jogos de futebol, o festival de música popular e sertaneja, os pesque-pagues, o Saltinho Park. Percebe-se a luta dos povos do campo em busca de sobrevivência, há mudanças no meio rural ligadas às transformações sociais, culturais, econômicas e políticas, no entanto as pessoas que vivem no campo buscam novos meios de sobrevivência, mesmo convivendo com a exploração de um mundo desigual e capitalista. De acordo com Oliveira (2001) a agricultura no Brasil no século XX passou por transformações que revelaram as contradições na expansão do capitalismo, o que deu início às lutas por um espaço digno de viver, a luta pela reforma agrária, pela conquista da democracia, da terra e da identidade do campesinato. Willians (1979, p. 113) afirma que cultura é todo conjunto de práticas e expectativas, sobre a totalidade da vida: nossos sentidos e distribuição de energia, nossa percepção de nós mesmos e do mundo. Souza (2006, p. 83) aponta o campo tanto como o lugar de vida, trabalho como a cultura, sendo essencial valorizar a produção dos saberes constituídos. Destaca que a educação da escola do campo exige o reconhecimento dos saberes sociais elaborados no espaço da produção e no espaço e luta da prática política. Nesse sentido busca-se uma reflexão e valorização dos aspectos da identidade, cultura e trabalho dos sujeitos do campo nos processos educativos. (RE) PENSANDO OS PROCESSOS EDUCATIVOS DAS ESCOLAS DO CAMPO VALORIZANDO A IDENTIDADE DOS SUJEITOS NO MUNICÍPIO

4 O município de Tijucas do Sul pouco aborda a identidade dos sujeitos do campo. A prática educativa da maioria das escolas do campo é distante do contexto social. O cotidiano de sala de aula é marcado por atividades fragmentadas e descontextualizadas. Constata-se que os Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) apresentam fragilidades no que se refere à identidade dos sujeitos do campo, sendo elaborados sem a participação coletiva da comunidade escolar. Nota-se que, ao longo da nossa pesquisa que visa ao mobilizar os professores, coordenadores, diretores, pais e funcionários para as reflexões dos processos educativos e a valorização da diversidade e da identidade dos povos do campo, que começam a surgir interesse do próprio grupo na busca do reconhecimento e caracterização da comunidade. Iniciam-se os encontros, numa perspectiva colaborativa de investigação, debates sobre as práticas educativas e a reestruturação dos PPPs com toda a comunidade escolar. Observa-se uma grande fragilidade nos processos educativos, porém há um grande interesse e desejo dos pais, professores, coordenadores e diretores de efetivar mudanças no PPP dando ênfase a identidade, a cultura e o trabalho dos sujeitos do campo. A comunidade passa a se envolver nesse processo, não sendo meros expectadores. Há um re (pensar) coletivo das práticas educativas. As escolas, no município, ainda são marcadas por uma educação rural, que privilegia um currículo baseado nas relações urbanocêntricas, sem valorizar a identidade e cultura dos povos do campo. Entretanto, verifica-se ao longo da pesquisa colaborativa que temos feito no município, que há um despertar do interesse da comunidade escolar, mobilizando-os para a discussão e reflexões acerca da educação do campo buscando a melhoria no processo de ensino aprendizagem e partindo do contexto social. Nota-se, enfim, que a comunidade escolar necessita de processos educativos que os instiguem a pensar a rotina escolar e o lugar da escola na comunidade local. Conforme Paulo Freire (1979, p. 14) cita Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim pode transformá-la e com seu trabalho pode criar um mundo próprio: seu eu e suas circunstâncias. REFERÊNCIAS

5 ARROYO, M. G. Por um tratamento público da educação do campo. In: MOLINA, M. C. JESUS, S. M. A. de (Orgs.). Contribuições para a construção de um projeto de Educação do Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional Por Uma Educação do Campo, 2004. Coleção Por Uma Educação do Campo, nº 5. BRASIL, Ministério da Educação. Grupo permanente de Trabalho de Educação do campo. Referências para uma política nacional de educação do campo - GPETC: Caderno de subsídios. RAMOS, M. N. M. S. TELMA, M. C. A. dos. (Coord.). Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2004. CALDART, R. S. Por uma educação do campo: Traços de uma identidade em construção. In: ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (Org.). Por uma educação do campo. Petropólis: Vozes, 2004. P. 147-158. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12 ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. Censo Demográfico de 2010. Brasília, DF: IBGE, 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br/censo2010>. Acesso em: 28 mar. 2012. OLIVEIRA, A. U. de. A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, conflitos e Reforma Agrária. São Paulo, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142001000300015&script=sci_arttext. Estudos Avançados. São Paulo, vol.15 n. 43 set./dez. 2001. Acesso em 14 de abril de 2013. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Curitiba: SEED, 2006. SOUZA, M. A. de. Educação do campo: Proposta e práticas pedagógicas do MST. Petrópolis: Vozes, 2006. SCHNEIDER. S.; BLUME. R. Ensaio para uma abordagem territorial da ruralidade: em busca de uma metodologia. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n.107, p.109-135, jul./dez. 2004. WILLIANS, R. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.