72 Ivan Nunes Ferreira Luciano Vianna Araújo Ronaldo Cramer Raphael Schettino Duarte Cristiane Carvalho D Almeida Mia Reis Schneider Bruna Kamarov Benisti Virgílio Mathias Gustavo Mizrahi Jacqueline Tardelli A D V O G A D O S Gustavo Klein Soares Maria Eduarda Lemgruber Daniel Niemeyer Lucas Gonzalez Carolina Saiago João Manoel Pereira de Assis Sarah Coelho Machado Ana Carolina Velmovitsky Bruno Elias de Freitas Chacur Pedro Ferro Hannah Dias Rabe Fábio Ferrari Tolmasquim E S T A G I Á R I O S EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 25ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO Proc. nº: 0008879-36.2014.4.02.5101 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AGENTES DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, nos autos da AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, promovida contra o INPI INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, vem, por meio de seus advogados expor e requerer o seguinte, sobre a petição de fls. 40/51. A CAUSA DA ILEGALIDADE DO RÉU: CONFESSOU QUE DETÉM MÁ GESTÃO 1. A petição apresentada pelo INPI não demonstra como já era esperado um fundamento sequer que lhe permita legislar, revogando dispositivo de Lei Federal. Rio de Janeiro Av. Rio Branco 311, 7º andar, Centro RJ 20040-903 Tel. 21 2220-6150 Fax 21 2220-6458 São Paulo Alameda Santos, 2224, cj. 11, Cerqueira César SP 01418-200 Tel./Fax 11 3814-6994 www.nfvacd.adv.br escritorio@nfvacd.adv.br
73 2. Muito ao contrário. Para justificar o insustentável, o INPI confessou que modificou o ordenamento jurídico, passando por cima do art. 87 da Lei de Propriedade Intelectual, porque nos últimos anos, o réu não exerceu um controle eficiente de pagamento das anuidades de patentes. (fl. 45). 3. Assim, como o INPI não exerceu o controle dos pagamentos conforme deveria, resolveu, então, extinguir centenas de patentes (?!), respaldando-se, assim, na sua ilegal Resolução 113/2013. 4. Ora, cuida-se de conduta inaceitável que viola, indiscutivelmente, o direito patentário. 5. O INPI não pode transferir a sua desorganização para o titular da patente. Pior que isso: está cometendo essa conduta, sob a falsa alegação de que estaria, dessa forma, ajudando a sociedade ao extinguir patentes de titulares inadimplentes, quando, na verdade, quer resolver somente sua desorganização. 6. A desorganização interna no INPI não lhe outorga o direito de, a manu militari, modificar o ordenamento jurídico, sob a justificativa de existir um suposto número de inadimplementos dos depositantes. 7. Evidentemente, nem a Lei e nem a associação autora prestigiam o inadimplemento. 8. Mas, a Lei (art. 87 da LPI), a qual a associação autora quer o seu rigoroso cumprimento, determina que o INPI notifique o titular da patente ou o depositante, que se encontra inadimplente, a fim de que estes tenham a oportunidade de sanar a dívida, em vez de sofrer automaticamente uma sanção, sem qualquer comunicado. Confirase o dispositivo:
Art. 87. O pedido de patente e a patente poderão ser restaurados, se o depositante ou o titular assim o requerer, dentro de 3 (três) meses, contados da notificação do arquivamento do pedido ou da extinção da patente, mediante pagamento de retribuição específica. (grifouse). 74 9. A possibilidade de sanar a dívida, após ser notificado, é sepultada pelo INPI, por meio da Resolução 113/2013: Art. 13. Os pedidos de patente ou as patentes que estiverem inadimplentes em mais de uma retribuição anual serão arquivados ou extintos definitivamente, não se aplicando a esses casos a hipótese de restauração prevista no art. 87 da LPI. 10. O INPI, simplesmente, quer extinguir patentes e arquivar pedidos sem notificar o titular inadimplente, em lamentável afronta ao que determina a Lei Federal, o que não pode ser tolerado pelo Poder Judiciário. 11. A referida notificação não se cuida de mero aviso de cobrança, como tenta fazer crer o INPI, mas sim uma segunda oportunidade, prevista em Lei, para se realizar o pagamento da anuidade atrasada. 12. Se há o inadimplemento costumeiro, isso ocorre, exclusivamente, por culpa da desorganização do INPI. 13. Se o INPI notificasse o titular inadimplente, na primeira oportunidade prevista no art. 87 da LPI, o titular não teria espaço para inadimplir outras anuidades, porquanto, segundo aquele dispositivo, terá apenas o prazo de três meses para regularizar a sua situação.
14. Claramente, o INPI, que não exerceu um controle eficiente de pagamento das anuidades de patentes, não notifica quando deve o inadimplente e, respaldado na sua ilegal Resolução, simplesmente cancela as patentes. 75 15. Hoje, para sanar suas próprias dificuldades, o INPI resolveu modificar o art. 87 da LPI, qual será, então, o seu próximo passo, caso verifique que tem a liberdade de alterar Lei Federal? LIMINAR IMPOSITIVA 16. Sobre o fumus boni iuris, infere-se que a Resolução do INPI não só é contrária à Lei de Propriedade Industrial, mas também viola o princípio da proteção da legítima confiança, o que basta para demonstrar a sua franca ilegalidade. 17. Acima de tudo, ilustre julgador, a liminar, no caso dos autos, constitui uma medida de prudência, pois, além de evitar prejuízos graves aos titulares de patentes, impedirá a continuidade do clima de insegurança jurídica existente hoje no meio da propriedade industrial. Afinal, o conflito do art. 13 da Resolução nº 113/2013 com a o art. 87 da LPI faz com que ninguém saiba, atualmente, se uma patente deve ser extinta mesmo ou não. 18. No tocante ao periculum, os danos afiguram-se gravíssimos. Enquanto viger o ilegal art. 13 da Resolução nº 113/2013, os titulares de patentes estarão sujeitos ao arquivamento definitivo ou à extinção definitiva de seus pedidos e de suas patentes tão somente pelo não pagamento da retribuição anual, sem nenhuma possibilidade de restabelecimento desses atos, o que lhes acarreta óbvios e notórios prejuízos. Tudo isso, porque a Lei não está sendo cumprida. 19. A desorganização do INPI não pode servir de desculpa para permitir essa absurda realidade.
76 20. Se a contrafação de uma patente já se consubstancia em ato de dificílima reparação integral, impositivo, neste passo, concluir que a indevida extinção de uma patente poderá causar prejuízos ainda mais abrangentes, caso terceiros de máfé queiram se locupletar desse embaraço criado pelo INPI. CONCLUSÃO 21. À vista das considerações expostas, a autora reitera o pedido de concessão da medida liminar para suspender os efeitos do art. 13 da Resolução nº 113/2013 do INPI, até o julgamento final do processo, sob pena de multa diária a ser fixada por esse MM. Juízo. Nestes termos, Pede deferimento. Rio de Janeiro, 24 de julho de 2014. RONALDO CRAMER OAB/RJ 94.401 VIRGÍLIO MATHIAS OAB/RJ 134.983 BRUNA KAMAROV BENISTI OAB/RJ 159.069