ENFERMAGEM TRANSCULTURAL, CRENÇAS E PRÁTICAS: REFLEXÃO TEÓRICA

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Transcrição:

ENFERMAGEM TRANSCULTURAL, CRENÇAS E PRÁTICAS: REFLEXÃO TEÓRICA GOMES, Tais Falcão¹ Acad. Enfermagem -UFSM taissfg@gmail.com ROBAÍNA, Marianne Lopes² AcaD. Enfermagem - UFSM lesrobaina@yahoo.com.br BUDÓ, Maria de Lourdes Denardin³ Professora Adjunta do Dep. de Enfermagem- UFSM lourdesdenardin@gmail.com RESUMO Trata-se de um estudo realizado a partir de uma análise reflexiva sobre a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural da enfermeira e antropóloga Madeleine Leininger. O desenvolvimento dessa teoria remete a cultura, diversidade e a universalidade do cuidado cultural aplicada à enfermagem. Esse parâmetro busca dimensões que envolvem a estrutura cultural, social e ambiental além de variadas visões de mundo que vão tanger os sistemas de cuidado. Os principais conceitos abordados são a preservação do cuidado cultural, acomodação do cuidado cultural e repadronização do cuidado cultural que transformam a assistência em enfermagem em um cuidado culturalmente congruente. A análise de todos esses conceitos subsidia a base para o modelo Sunrise. Esse modelo tem invariavelmente como objetivo defender a importância, a consciência e a influência da dimensão cultural na interface do cuidado aplicado a enfermagem, cuidado esse que se faz essencial para uma assistência ampla que abriga eficiência e resolutividade. INTRODUÇÃO Vivemos em uma sociedade derivada de composições religiosas, culturais e de miscigenações variadas, que forma uma população de características multiculturais. Diante dessas diferenças nasce o etnocentrismo.

Segundo Rocha (2006, p.7) o Etnocentrismo é uma visão do mundo com a qual tomamos nosso próprio grupo como centro de tudo, e os demais grupos são pensados e sentidos pelos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. Partindo dessa compreensão, o etnocentrismo é a visão do outro a partir das nossas concepções, vivências e memórias como humanos constituídos por consciência e história. Esse conjunto de experiências confere a capacidade de fazer a análise do outro a partir de nós mesmos. Perceber o outro como ser cultural é reconhecê-lo nas suas diferenças. Essas distinções geralmente são encaradas de uma forma ameaçadora, pois a lógica para o grupo do eu é vista como natural, superior e certa, e para o grupo do outro a mesma lógica é vista como absurda, anormal e ininteligível. Além disso, os componentes de um mesmo grupo atingem níveis de significados e entendimentos semelhantes no modo de agir como reflexo de um estilo de vida igual, pois acreditam nos mesmos deuses, e comem, vestem e gostam de coisas parecidas. Nesse contexto, não compreendem como outras sociedades podem viver de uma maneira que não a sua (ROCHA, 2006). Destaca-se que essa não é uma discussão meramente restrita ao interacionismo simbólico, à fenomenologia, à sociologia e à antropologia. A enfermagem cotidianamente se depara com atitudes e situações etnocêntricas, por se tratar de uma área que trabalha com um público constituído pela globalização de relações complexas e multiculturais. Essa percepção foi feita por Madeleine Leininger na década de 50 enquanto trabalhava como enfermeira clínica e especialista com crianças. A partir das observações realizadas nesse período ela identificou diferenças culturais na recepção e percepção das crianças nos cuidados recebidos e a partir daí reconheceu a relevância que essa constatação possui para a enfermagem. A partir dessas constatações passou a desenvolver pesquisas integrando enfermagem e antropologia, criando um novo subcampo ou ramo da enfermagem, a enfermagem transcultural, que enfoca o estudo comparativo e a análise de culturas com respeito à enfermagem e às práticas de cuidado de saúde-doença, as crenças e aos valores, com a meta de proporcionar um serviço de atendimento a enfermagem significativo e eficaz as pessoas de acordo com os seus valores culturais e seu contexto de saúde-doença (LEININGER, 1979). Nesse sentido, este trabalho objetiva apresentar uma análise reflexiva sobre a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural aplicada à Enfermagem. A

busca por este campo do conhecimento surgiu a partir de uma percepção de acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sobre a necessidade de compreender as diferenças culturais e diferentes formas de cuidado, existentes nos locais de aulas práticas e campos de estágios, realizados tanto no meio hospitalar e como nas unidades básicas de saúde e unidades de estratégia de saúde da família do município de Santa Maria/RS. Salienta-se que essas diferenças interferem na relação enfermeiro-paciente, no processo do cuidado terapêutico, e no modo como cada ser humano a partir de sua cultural experencia o processo de saúde-doença e o interagir com o profissional enfermeiro. METODOLOGIA Trata-se de uma reflexão teórica que visa apresentar e compreender a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural aplicado à saúde, da enfermeira e antropóloga Madeleine Leininger que, no decorrer dos seus estudos, compara comportamentos e defende a importância, a consciência e a influência da dimensão cultural na interface do cuidado. Essa reflexão foi embasada nos materiais e discussões da disciplina de Saúde Coletiva II durante o 2º semestre do curso de Graduação em Enfermagem da UFSM, e também pelas discussões no Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM na linha de pesquisa Cuidado a adultos, idosos e famílias nos diferentes cenários de atenção. RESULTADOS E DISCUSSÃO A organização das rotinas dos serviços de enfermagem apresenta um cenário de atenção complexo e multipanorâmico que está diretamente conectada ao envolvimento de competências e aptidões do profissional de enfermagem. Esses fatores além de estarem ligados a outros conceitos como prevenção, diagnóstico, assistência, tratamento e a reabilitação devem estar invariavelmente centrados na fundamentação do cuidado cultural de forma a abranger valores, crenças e padrões de comportamento relacionados ao binômio saúde e doença. Nesse sentindo a cultura é definida por Leininger (1991) como valores, crenças e modos de vida de um determinado grupo aprendidos, compartilhados e transmitidos que orientam seus pensamentos e ações de maneira padronizada. Assim o objetivo da enfermagem transcultural transcende uma simples análise de culturas diferentes, pois

torna a prática e o conhecimento profissional culturalmente embasada, conceituada, projetada e operacionalizada. Um estudo revela que se os enfermeiros não analisam os aspectos culturais da necessidade humana, seus atos poderão ser ineficazes e inoperantes gerando consequências desfavoráveis para aqueles que estão sendo cuidados (MOURA et al, 2005). A enfermagem como profissão, disciplina e ciência tem sua essência baseada no cuidado humano. Leininger, tendo reconhecido o cuidado como primordial nessa profissão, trouxe do contexto da antropologia o componente cultural, e da enfermagem o componente do cuidado, utilizando desse modo os termos diversidade e a universalidade para compor essa teoria. A diversidade do cuidado cultural, segundo Leininger representa: [...] as variações e as diferenças nos significados, padrões, valores, modos de vida ou símbolos de cuidado dentro ou entre os coletivos que são relacionados às expressões assistenciais, apoiadoras ou capacitadoras do cuidado. (1991, p. 47). sendo: Já a universalidade do cuidado cultural, a autora supracitada caracteriza como [...] os significados, padrões, valores, modo de vida ou símbolos comuns, similares ou dominantemente uniformes de cuidados, que se manifestam em muitas culturas e refletem as formas assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras de auxiliar as pessoas (LEININGER, 1991, p. 47). Além dessa conceituação dos constituintes formadores da Teoria sobre a Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, se tem os padrões de cuidado saúde, e bem-estar, de indivíduos, famílias e instituições, os quais são influenciados por fatores que constituem a sociedade tais como: os tecnológicos, os religiosos e filosóficos, os políticos e legais, os econômicos, os educacionais, as relações sociais e os valores culturais e de modo de vida. (GEORGE, 2000) Assim, as dimensões culturais que englobam as visões de mundo, saberes, experimentações e experiências que cada ser, particularmente ou coletivamente, construiu durante as suas vivências, vão determinar as suas escolhas e os significados durante a sua existência. Esses fatores dão subsídios aos dois sistemas de cuidado: o popular e o profissional. O sistema popular ou conhecimento popular diz respeito às habilidades culturalmente aprendidas e transmitidas por gerações, usadas para proporcionar cuidado, melhorar as condições de vida ou auxiliar no enfrentamento de situações que

acarretam sofrimento ao indivíduo. Já o sistema de cuidado profissional é entendido como os cuidados aprendidos e ensinados, além das habilidades práticas transmitidas por instituições de ensino profissionalizante com o objetivo de atender as necessidades de saúde do paciente (LEININGER, 1991). Desse modo, durante as práticas vivenciadas durante as aulas e estágios percebeu-se que é fundamental para desenvolver um cuidado de enfermagem adequado e que atenda as necessidades dos pacientes em sua totalidade, a aproximação entre os sistemas, popular e o profissional. Esses saberes geram a base para o desenvolvimento de três modelos e ações de atendimento de enfermagem, que vão exigir do profissional e do paciente uma participação e envolvimento intenso. Assim, os itens a serem considerados são a preservação ou manutenção do cuidado cultural: cultural: [...] ações e decisões profissionais assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras que ajudam as pessoas de uma determinada cultura a reter e preservar valores relevantes de cuidados, de forma que possam manter seu bem-estar, recuperar-se da doença ou encarar as deficiências e a morte (LEININGER, 1991, p.48). Outro conceito trazido pela autora é o de ajustamento ou negociação do cuidado [...] as ações e decisões profissionais criativas assistenciais, apoiadoras, facilitadora ou capacitadoras que ajudam as pessoas de uma determinada cultura a adaptar-se ou a negociar com as outras. (LEININGER, 1991, p.48). E o último item é a repadronização ou reestruturação do cuidado cultural: [...] ações e decisões profissionais assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras que ajudam o cliente a reorganizar, trocar ou modificar grandemente sua forma de vida para um padrão de atendimento de saúde novo, diferente e benéfico enquanto são respeitados os seus valores culturais crenças. (LEININGER, 1991, p.49). Para elucidar e descrever essas ações diversificadas e universais, Leininger sistematiza esse processo por meio da criação do Modelo Sunrise, que é representado pelo nascer do sol e tem objetivo de esclarecer, ilustrar, interpretar o conhecimento do cuidado de enfermagem em um paradigma cultural. De acordo com Budó (2002), essa ideia de sol nascente possibilita aos profissionais da enfermagem uma melhor interpretação da teoria, para auxiliar esses a desenvolver uma assistência embasada no reconhecimento das diversas culturas existentes.

Portanto, esse modelo além de melhorar a visualização da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural mostrando suas múltiplas influências no cuidado cultural oferece subsídios para a adequada preparação da enfermagem em uma perspectiva transcultural. Figura 1 Modelo Sunrise de Leininger descreve as dimensões da Diversidade e Universalidade do Cuidado. CONCLUSÕES A teoria de Madeleine Leininger ressalta a existência da diversidade cultural como fator influenciador no comportamento dos indivíduos, o que afeta diretamente no cuidado de enfermagem. Essa enfermeira e antropóloga, por meio de sua teoria possibilitou um novo panorama tanto no desenvolvimento de novas pesquisas como no (re)pensar da assistência de enfermagem.

Essa teoria representa um emaranhado complexo e profundo nas inter-relações de enfermagem, pois exige do profissional ou estudante uma visão ampla e transcendental que valorize o (re)conhecimento da cultura que é essencial para empregar um cuidado coerente, com as individualidades e necessidades de cada indivíduo, família e sociedade. Além disso, esse conceito é necessário para o desenvolvimento e reflexão da prática assistencial de enfermagem desprovida de préconceitos culturais a partir de um eixo teórico que proporcione apoio ao enfermeiro na formulação e implementação de ações dinâmicas e de resolutividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUDÓ, Maria de Lourdes Denardin. A prática de cuidados em comunidades rurais e o preparo da enfermeira. Florianópolis, SC: UFSC/PEN, 2002. GEORGE, Julia B. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000. LEININGER, Madeleine. Culture Care Diversity and Universality: a theory of nursing. Nursing. New York: National League for Nursing Press, 1991.. Trancultural nursing: concepts, theories, research & practices. New York: McGraw-Hill, 1995. Transcultural nursing. New York: Masson, 1979. MOURA, Maria Aparecida Vasconcelos. et.al. A teoria transcultural e sua aplicação em algumas pesquisas de enfermagem: uma reflexão. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 9 (3): 434 40, dez, 2005. ROCHA, Everardo P.Guimarrães. O que é Etnocentrismo. São Paulo, Brasiliense, 2006, Coleção Primeiros Passos, 20ª reimpr. da 1.ed de 1984.