Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013, Belo Horizonte Trilhas Interpretativas Ecológicas: conhecimento e lazer Daniela Esteves Ferreira dos Reis Costa (1), Andréia Fonseca Silva (2), Mayara Magalhães Enoque (3), Morgana Flávia Rodrigues Rabelo (4), Maria Helena Tabim Mascarenhas (5), José Francisco Rabelo Lara (5) (1) Estagiária EPAMIG, dnlareis@gmail.com; (2) Pesquisadora/Bolsista BIP FAPEMIG/EPAMIG - Belo Horizonte, andreiasilva@epamig.br; (3) Bolsista PIBIC FAPEMIG/EPAMIG, mayaramagalhaes@gmail.com; (4) Biólogia, BGCT III FAPEMIG, morganafbio@gmail.com; (5) Pesquisadores EPAMIG - Prudente de Morais INTRODUÇÃO A Trilha Interpretativa Ecológica é um percurso em sítio natural capaz de promover contato mais estreito entre o homem e a natureza (ANDRADE; ROCHA, 2008). É um caminho que se diferencia dos demais, por ser rico em significados geográficos, históricos, culturais e ecológicos, incluindo atividades dinâmicas e participativas. Durante o percurso o público recebe informações sobre recursos naturais, exploração racional, conservação e preservação, aspectos culturais, históricos, econômicos e arqueológicos (PÁDUA; TABANEZ, 1997). As trilhas, como meio de interpretação ambiental, visam não somente a transmissão de conhecimentos, mas também propiciam atividades que revelam os significados e as características do ambiente por meio do uso dos elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos, sendo assim instrumento básico de programas de educação ao ar livre (PÁDUA; TABANEZ, 1997; POSSAS, 1999). Foi montada uma Trilha Interpretativa Ecológica num caminho preexistente da reserva da Fazenda Experimental de Santa Rita (FESR), da EPAMIG Centro-Oeste, visando disponibilizar para as comunidades vizinhas uma visão diferente do ambiente, promovendo o conhecimento da diversidade e a educação ambiental. MATERIAL E MÉTODO A Trilha foi montada em um caminho existente na área da reserva da (FESR), da EPAMIG Centro-Oeste, localizada, em Prudente de Morais, MG.
EPAMIG. Resumos expandidos 2 Possui área de 604 ha, desses, 120 ha constituem sua reserva biológica com vegetação caracterizada como Cerrado, que inclui espécies medicinais, frutíferas, fornecedoras de madeira e lenha. Além disso, a área é entrecortada por dois córregos e possui uma vereda e um ninhal de garças. Localiza-se entre as coordenadas geográficas definidas por: 19 26 20 S, 44 09 15 W e tem altitude média de 699 m. Para montagem da Trilha Interpretativa é preciso conhecer as espécies vegetais existentes na borda do caminho. Foram realizadas excursões para registro fotográfico e coleta de fragmentos das espécies arbóreo-arbustivas. O material coletado foi levado para o Herbário PAMG/EPAMIG, onde foi herborizado, identificado, registrado e incorporado ao acervo. Após a identificação das espécies, foram elaboradas fichas técnicas contendo nome científico, popular, descrição, ocorrência, distribuição e utilização das plantas. A partir dessas fichas, confeccionaram-se placas informativas que foram fixadas em plantas de importância medicinal, artesanal e/ou ecológica marcante. Estudantes do ensino fundamental e médio, de escolas das cidades de Prudente de Morais e Sete Lagoas, participaram de palestras para apresentação da Trilha Interpretativa Ecológica da FESR e, após a palestra, foram conduzidos a fazer o percurso. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na flora da Trilha foram identificadas 47 espécies pertencentes a 31 famílias. As famílias representativas foram Myrtaceae, com seis espécies (19%) e Fabaceae, com cinco espécies (16%). Segundo Giulietti et al. (2005), essas famílias são algumas das maiores em número de espécies, no Brasil. As plantas de ambas as famílias exercem importante função ecológica pela produção de frutos carnosos, no caso de todas as Myrtaceae e algumas Fabaceae, e fixação de nitrogênio no solo, ação exclusiva das Fabaceae. Segundo Matteucci et al. (1995), muitas das plantas do Cerrado são potencialmente comestíveis, medicinais, ornamentais, fornecedoras de madeira e outras matérias-primas para a indústria. Das 47 espécies identificadas, a grande maioria, ou seja 45, pode ser utilizada pelo homem. Dentre essas, 18 produzem frutos que são consumidos por animais e também pelo homem, sob
Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013, Belo Horizonte 3 a forma de sucos, sorvetes ou in natura, 14 são citadas como melíferas e muitas delas têm potencial ornamental, 26 espécies fornecem madeira empregada em construções civis, marcenaria, carpintaria, lenha ou em artesanatos e 33 espécies são utilizadas na medicina popular. Na Tabela 1 podem-se observar algumas espécies importantes encontradas na Trilha. Os estudantes foram guiados e receberam informações sobre os recursos naturais, exploração racional, conservação e preservação, aspectos culturais e econômicos do meio ambiente. A trajetória foi percorrida com intensa participação e interação entre os estudantes e o guia. A erva-de-passarinho, Phoradendron crassifolium (Pohl ex DC.) Eichler (Santalaceae), foi uma das plantas que mais despertou o interesse dos estudantes pode ser hemiparasita. As plantas encontradas na Trilha, com utilização na medicina tradicional, também chamaram a atenção, e suas indicações foram muito discutidas. AGRADECIMENTO À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo financiamento das pesquisas e pelas bolsas concedidas. REFERÊNCIAS ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA- CPAC, 1998. 464p. ANDRADE, W.J. de; ROCHA, R.F. da, Manejo de trilhas: um manual para gestores. IF. Série Registros, São Paulo, n.35, p.1-74, maio 2008. Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/publicacoes/serie_registros/revistas_ completas /IFSR35.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2010. GIULIETTI, A.M. et al. Biodiversidade e conservação das plantas no Brasil. Megadiversidade, Belo Horizonte, v.1, n.1, p.52-61, jul. 2005.
EPAMIG. Resumos expandidos 4 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 5.ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2010, v.1, 384p. MATTEUCCI, M.B.A. et al. A flora do cerrado e suas formas de aproveitamento. Anais da Escola de Agronomia e Veterinária, Goiânia, v.25, n.1, p.13-30, 1995. MENDONÇA, R.C. et al. Flora vascular do cerrado. In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. (Ed.) Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p.289-539. PÁDUA, S.M.; TABANEZ, M.F. (Org.). Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília: Ipê, 1997. 283p. PIO CORRÊA, M. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1984. 6v. POSSAS, I.M.M. Programa Gunma: integrando parque ecológico e comunidade no município de Santa Bárbara do Pará, Pará. 1999. 73f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, 1999. RODRIGUES, V.E.G.; CARVALHO, D.A. de Plantas medicinais no domínio dos cerrados. Lavras: UFLA, 2001. 180p. SILVA JÚNIOR, M.C. da. 100 árvores do cerrado: guia de campo. Brasília: Redes de Semente do Cerrado, 2005. 278p.
Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013, Belo Horizonte 5 Tabela 1 - Relação das espécies da Trilha Ecológica Interpretativa da Fazenda Experimental Santa Rita (FESR), e suas formas de aproveitamento - Prudente de Morais, MG Espécie/Família Nome popular Aproveitamento (continua) Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Arecaceae Annona crassiflora Mart. Annonaceae Brosimum gaudichaudii Trecúl Moraceae Byrsonima verbascifolia (L.) DC. Malpighiaceae Caryocar brasiliense Cambess. Caryocaraceae Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. Sapotaceae Connarus suberosus Planch. Connaraceae Croton urucurana Baill. Euphorbiaceae Doliocarpus dentatus (Aubl.) Standl Dilleniaceae Eugenia dysenterica DC Myrtaceae Erythroxylum deciduum A.St Hil. Erythroxylaceae Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn. Fabaceae Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc. Clusiaceae Machaerium villosum Vogel Facabeae Myracrodruon urundeuva Allemão Anacardiaceae Macaúba Araticum Mama-cadela Murici Pequi Aguaí Araruta docampo Sangra d água Cipó vermelho Cagaiteira Fruta-de-pombo Ingá do brejo Pau santo Jacarandá docampo Aroeira Ornamental; construções rurais; artesanatos; biocombustível; alimentício; Fornece madeira; alimentício; Marcenaria; construção civil; alimentício; potencial forrageiro; RAD; Marcenaria; lenha; carvão; alimentício; potencial forrageiro; tingimento de tecidos; Ornamental; xilografia; construção naval; alimentício; Carpintaria; lenha; carvão; RAD. Carpintaria; marcenaria; lenha; potencial forrageiro; artesanato; Carpintaria; marcenaria; RAD; Ornamental; alimentício; Construção civil, lenha; carvão; alimentício; ornamental; Construção civil, marcenaria; RAD Ornamental; caixotaria; alimentício. Caixotaria; lenha; paisagismo; RAD; artesanato; medicinal Construção civil; ornamental; RAD; Ornamental; construção civil; curtume;
EPAMIG. Resumos expandidos 6 Espécie/Família Nome popular Aproveitamento (conclusão) Myrcia laruotteana Cambess. Myrtaceae Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker Asteraceae Qualea grandiflora Mart. Vochysiaceae Smilax brasiliensis Spreng Smilacaceae Solanum lycocarpum A. St. Hil. Solanaceae Solanum scuticum M.Nee Solanaceae Tapirira obtusa (Benth.) J.D. Mitch. Anacardiaceae Vernonanthura phosphorica (Vell.) H.Rob. Asteraceae Cambuí Cambará docampo Pau terra Japecanga Lobeira Jurubeba Pau pombo Assa peixe Lenha; alimentício; medicinal Marcenaria; carpintaria; lenha; artesanato; RAD; Caixotaria; marcenaria; ornamental; artesanato; RAD; Medicinal Caixotaria; lenha; carvão; alimentício; potencial forrageiro; RAD; Alimentício; RAD; Construção naval; marcenaria; carpintaria; ornamental; RAD. Lenha; Zeyheria montana Mart. Bignoniaceae Bolsa de pastor Ornamental; lenha; medicinal FONTE: PIO Corrêa (1984), Matteucci et al. (1995), Almeida et al. (1998), Rodrigues e Carvalho (2001), Silva Júnior (2005) e Lorenzi (2010). NOTA: RAD - Reflorestamento de áreas degradadas.