QUANTIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS ARBÓREOS E DAS ESPÉCIES TOMBADAS PELO DECRETO DISTRITAL Nº /93 EM ÁREAS DE CERRADO SENSU STRICTO
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- Amália Neves Fraga
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1 QUANTIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS ARBÓREOS E DAS ESPÉCIES TOMBADAS PELO DECRETO DISTRITAL Nº /93 EM ÁREAS DE CERRADO SENSU STRICTO E CERRADÃO COMO SUBSÍDIO PARA A COMPENSAÇÃO AMBIENTAL NO DISTRITO FEDERAL: ESTUDO DE CASO DO CONDOMÍNIO SANTA MÔNICA. Rafael Serejo de Jesus 1, Suelen Jorge Felizatto 2 ( 1 Universidade Federal do Paraná, Avenida Lothário Meissner, Nº 632, Jardim Botânico, Campus III, , Curitiba, PR. rafaelsjesus@hotmail.com 2 Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Caixa Postal 04357, , Brasília, DF) Termos para indexação: flora, levantamento, diversidade, Distrito Federal, preservação Introdução O Bioma Cerrado vem sendo velozmente substituído por áreas agrícolas e de pastagens. Atualmente, estima-se que apenas 20% de sua cobertura vegetal original permanecem inalteradas (Alho, 2005) e que, mantendo a taxa anual de desmatamento, que varia em média, entre 1,1 % e 1,5 % de sua extensão territorial, no ano de 2030, somente as áreas protegidas por lei permanecerão existentes em sua região de domínio morfo-climático (Machado et al., 2004). O Cerrado caracteriza-se por ser um mosaico de formações vegetais que variam desde campos abertos até as formações densas de florestas que podem atingir os 30 metros de altura (Ribeiro & Walter, 1998). Sua flora é considerada a mais rica entre as formações savânicas do mundo (Felfili et al., 2005) e, segundo estimativas recentes, o número de espécies vasculares é superior a (Walter, 2006). No Distrito Federal, o parcelamento desordenado do solo é um fator que agrava as diversas fitofisionomias do Cerrado existentes em seu território. Segundo a Unesco (2002), entre 1954 e 2001, o Distrito Federal perdeu 54 % de sua cobertura vegetal original, sendo o cerrado sensu stricto a fitofisionomia que obteve a maior perda, restando atualmente, apenas 27 % de sua área cobertura original. O Cerrado sensu stricto é uma fitofisionomia savânica, divida em quatro subtipos fitofisinômicos: o Cerrado Ralo, o Cerrado Típico, o Cerrado Denso e o Cerrado Rupestre. Caracteriza-se por possuir os estratos arbóreo e arbustivo-herbáceo bem definidos, com as
2 espécies arbóreas ocorrendo aleatoriamente sobre o terreno, em diferentes densidades (Ribeiro & Walter, 1998). O Cerradão é uma fitofisionomia florestal, com aspectos xeromórficos, ocorrendo tanto em solos distróficos quanto mesotróficos e apresentando uma composição florística variável conforme a fertilidade do solo. No Distrito Federal, é rara a ocorrência de Cerradão, sendo presente em pontos isolados, como no Jardim Botânico de Brasília e nas baixadas das vertentes que drenam para a bacia hidrográfica do rio São Bartolomeu. O Governo do Distrito Federal, ciente do processo de expansão urbana na Capital Federal, bem como da peculiaridade e beleza da flora do bioma Cerrado, sancionou o Decreto Distrital Nº /93, que dispõe sobre o tombamento de espécies arbóreas-arbustivas e dá outras providências. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi quantificar e qualificar a flora arbustiva-arbórea encontrada nos fragmentos de Cerrado sensu stricto e Cerradão, nos limites do Condomínio Santa Mônica, a fim de gerar subsídios para a compensação ambiental quando da implementação dos lotes residenciais na área do condomínio, com base no Decreto Distrital Nº /93. Material e Métodos Foram alocadas sistematicamente, 11 parcelas nos fragmentos de Cerradão e 10 parcelas nos fragmentos de cerrado sensu strico, nas dimensões de 20m X 50m, totalizando 2,1 hectares de amostrados nos limites do Condomínio Santa Mônica, localizado na bacia hidrográfica do rio São Bartolomeu. Todos os indivíduos com diâmetros na base superior a cinco centímetros (DB 30 cm 5 cm) foram identificados e contabilizados. Foi aplicado o Decreto Distrital Nº /93 para quantificar o número de espécies nativas a serem replantadas quando da supressão da vegetação nativa para instalação dos lotes residenciais. A identificação do material botânico foi feita em campo e as espécies não identificadas tiveram seus ramos vegetativos e estruturas reprodutivas (estas quando disponíveis) coletadas para posterior identificação, com auxílio de especialistas e da literatura disponível.
3 Para confirmação da grafia e autoria dos nomes científicos, utilizou-se da plataforma on-line do Missouri Botanical Garden ( além do portal do projeto Flora Brasiliensis ( e da Rede de Sementes do Cerrado ( Resultados e Discussão Para a amostragem em Cerradão, foram registradas 126 espécies, 89 gêneros e 42 famílias botânicas. Quatro espécies não foram identificadas, sendo que para duas destas não foi possível realizar a coleta de material botânico. Duas espécies foram classificadas ao nível de família e foram denominadas como Myrtaceae I e Myrtaceae II. Para a amostragem em Cerrado sensu stricto, foram encontradas 81 espécies, 66 gêneros e 37 famílias botânicas. A grande quantidade de espécies encontradas no Cerradão foi atribuída ao mosaico das formações vegetais do cerrado, já que não foi possível alocar todas as parcelas em locais exclusivamente homogêneos, sob o ponto de vista fitofisionômico, em função dos distúrbios provocados pela instalação da malha viária do condomínio, que contribuíram para a fragmentação e descaracterização dessa formação vegetal. A Tabela 1 apresenta uma estimativa de densidade populacional por hectare, para as espécies tombadas como Patrimônio Ecológico do Distrito Federal, segundo o Decreto Distrital Nº /93. Tabela 1. Estimativa de densidade (ind.ha) para as espécies tombadas como Patrimônio Ecológico do Distrito Federal, imunes ao corte em áreas urbanas, segundo o Decreto Distrital Nº /93, existentes nas formações vegetais de Cerrado sensu stricto (Cs.s) e Cerradão do Condomínio Santa Mônica DF. Espécie Nome comum Ind.ha Ind.ha Cs.s Cerradão Aspidosperma spp. Perobas Astronium urundeuva (Allemão) Engl. Aroeira 0 0 Caryocar brasiliense Cambess. Pequi 38 0 Copaifera langsdorffii Desf. Copaíba 1 29 Dalbergia spp. Jacarandás 9 15 Eugenia dysenterica DC. Cagaita 0 0 Mauritia flexuosa L. f. Buriti 0 0 Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A. Embiruçu 0 3
4 Robyns Pterodon pubescens (Benth.) Benth. Sucupira-branca 42 2 Tabebuia spp. Ipês 9 1 Vochysia thyrsoidea Pohl Gomeira 0 0 Vochysia tucanorum Mart. Pau-doce 0 12 Total de indivíduos arbóreos tombados por hectare A densidade estimada para as fitofisionomias de Cerradão e Cerrado sensu stricto foi de 1599 e 1667 indivíduos por hectare, respectivamente, excluindo as árvores mortas. Aplicando o Decreto Distrital Nº /93, estima-se que para cada hectare suprimido, devem ser plantadas e mudas nativas, para as áreas de Cerradão e Cerrado sensu stricto, respectivamente, quando da instalação dos lotes residenciais. As espécies imunes ao corte representaram 6,72% e 9,13% do número total de indivíduos estimados por hectare, para o Cerrado sensu stricto e Cerradão, respectivamente. As espécies Pterodon pubescens e Caryocar brasiliense representaram 71,43% dos indivíduos tombados estimados por hectare de Cerrado sensu stricto. Para o cerradão, as espécies tombadas representaram 9,13% do número total de indivíduos estimados por hectare, sendo que as espécies do gênero Aspidosperma spp. representaram 57,53% e Copaifera langsdorffii 19,86%, da estimativa total de espécies tombadas por hectare. A tabela 2 faz uma estimativa do número total de mudas nativas a serem plantadas na forma de compensação ambiental, segundo a estimativa de área total a ser suprimida, para as fitofisionomias de Cerrado sensu stricto e Cerradão. Tabela 2. Resumo do número de mudas nativas a serem plantadas na forma de compensação ambiental, relativas à supressão total da flora nativa por lotes residenciais, nas formações vegetais de Cerrado sensu stricto e Cerradão, existentes no Condomínio Santa Mônica DF. Fitofisionomia Cerrado sensu stricto Densidade da comunidade arbórea (ind.ha) Área total a ser suprimida Número de mudas nativas , Cerradão , Total de mudas nativas a serem plantadas na forma de compensação ambiental
5 Conclusões As áreas de Cerradão e Cerrado sensu stricto existentes nos limites do Condomínio Santa Mônica apresentam grande riqueza florística, sendo fragmentos importantes sob o ponto de vista da conservação dessas formações vegetais para o Distrito Federal. O número de mudas estimado na forma de compensação ambiental demanda a criação de um programa ambiental de produção de mudas sério, de longo prazo, bem como uma fiscalização rigorosa por parte do poder público, para que o Decreto Distrital Nº /93 possa ser rigorosamente cumprido. A supressão das espécies do gênero Aspidosperma spp., bem como das espécies: Copaifera langsdorffii, Caryocar brasiliense e Pterodon pubescens, por serem espécies tombadas, frondosas e de rara beleza, com potencial alimentar como é o caso do Pequi e medicinal, como a Sucupira-branca e a Copaíba, deve ser desestimulada, e ao contrário, deve ser incentivada a permanência destas nos lotes residenciais, através de auxílio técnico de um Engenheiro Florestal ou Biólogo, potencializando o uso sustentável destas. Sugere-se a criação de um programa de educação ambiental, por parte do Condomínio Santa Mônica, com o objetivo de mostrar a importância e uso racional das espécies do Cerrado, incentivando modelos de construções mais sustentáveis e harmônicos com a natureza, diminuindo assim, o impacto de sua implantação na flora e fauna local, servindo de exemplo para outras áreas de vegetação nativa do Distrito Federal, também ameaçadas pela expansão urbana. Recomenda-se que o plantio das mudas da compensação ambiental seja feito nos limites do Condomínio, e posteriormente, na microbacia hidrográfica em que este é localizado. Por fim, sugere-se a criação de dois parques nos limites do Condomínio, como forma de conservar parte dos fragmentos vegetais e resguardar as características da flora e fauna local, no caso, para as fitofisionomias Cerrado sensu stricto e Cerradão, bem como proporcionar um maior contato dos condôminos com o bioma Cerrado, através da criação de trilhas ecológicas nessas áreas e um refúgio para a fauna local. Referências Bibliográficas
6 ALHO, J.R.C. Desafios para a conservação do Cerrado, em face das atuais tendências de uso e ocupação. In: SCARIOT, A.; SOUSA-SILVA, J.C.; FELFILI, J.M. (Orgs.) Cerrado: Ecologia, Biodiversidade e Conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, p FELFILI, J. M., SOUSA-SILVA, J. C. & SCARIOT, A. Biodiversidade, ecologia e conservação do Cerrado: avanços no conhecimento. In: SCARIOT, A.; SOUSA-SILVA, J.C.; FELFILI, J.M. (Orgs.) Cerrado: Ecologia, Biodiversidade e Conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, p MACHADO, R.B.;RAMOS NETO, M.B.; PEREIRA, P.G.P.; CALDAS, E.F.; GONÇALVES, D.A.; SANTOS, N.S.; TABOR, K.; STEININGER, M. Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro. Relatório técnico não publicado. Conservação Internacional, Brasília, DF RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M.T. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. (Orgs.) Cerrado ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998.p UNESCO. Vegetação do Distrito Federal : tempo e espaço. 2.ed. Brasília p. WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado: síntese terminológica e relações florísticas p. Tese (Doutorado). Universidade de Brasília, Brasília.
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