MORFOLOGIA URBANA DAS ÁREAS DE FUNDO DE VALE DO CÓRREGO DO VEADO EM PRESIDENTE PRUDENTE, SP



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Transcrição:

361 MORFOLOGIA URBANA DAS ÁREAS DE FUNDO DE VALE DO CÓRREGO DO VEADO EM PRESIDENTE PRUDENTE, SP Andressa Mastroldi Ferrarezi, Arlete Maria Francisco Curso de Arquitetura e Urbanismo; Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente; FCT-UNESP. andressafz@hotmail.com. Iniciação Científica FAPESP. RESUMO A realidade das margens de corpos d água das cidades brasileiras é, na maioria dos casos, de degradação, em conseqüência da ocupação irregular de habitações, de ruas e avenidas ou de outros elementos urbanos que impermeabilizam as terras adjacentes, ocasionando prejuízos à própria população e ao meio ambiente. Este trabalho apresenta o estudo morfológico das áreas de fundo de vale do córrego do Veado em Presidente e Prudente, no trecho delimitado pelo Parque do Povo. A partir dos autores LAMAS, PANERAI E DEL RIO, foi realizado estudo sobre o crescimento da cidade, do seu traçado e parcelamento, da tipologia das edificações e das articulações entre estes, tendo sido produzido, mapas temáticos, levantamento fotográfico e croquis sobre a área em estudo. Esta pesquisa foi apoiada pela FAPESP. Palavras-chave: Morfologia urbana. Fundos de Vales. Áreas de Preservação Permanente. Córrego do Veado. Presidente Prudente-SP. INTRODUÇÃO E OBJETIVO Morfologia Urbana é a ciência que estuda a forma, do ponto de vista urbanístico, e define-se como o estudo dos aspectos exteriores do meio urbano, por meio do qual se coloca em evidência a paisagem e sua estrutura. Segundo Del Rio (1990), é uma das formas de análise do Desenho Urbano, o qual é entendido como um processo que deveria ladear o planejamento urbano, o que garantiria a sua eficiência, gerando melhorias para a população. Na implantação e crescimento das cidades brasileiras, raramente houve a preocupação com a preservação das APPs. Para Francisco (2012, p.2), o modelo de produção e apropriação das áreas de fundo de vales é fundamentado em relações conflituosas entre o homem e a natureza e no desprezo às características específicas do sítio urbano. Assim, os espaços que deveriam ser preservados e enaltecidos como elementos paisagísticos e constituintes do meio urbano foram indevidamente ocupados ou se transformaram em vias de circulação, impermeabilizando as terras adjacentes, ocasionando prejuízos à própria população e ao meio ambiente. Este trabalho tem por objetivo identificar os diversos tipos de tecidos urbanos existentes nas áreas de fundo de vale do Córrego do Veado em Presidente Prudente, SP, verificando a forma de ocupação territorial das suas Áreas de Preservação Permanente.

362 METODOLOGIA Primeiramente, foi realizada revisão bibliográfica para entender e discutir sobre o tema da morfologia urbana, a partir dos autores: DEL RIO (1990), PANERAI (1999) e LAMAS (1992). Posteriormente, foi realizado um estudo sobre o crescimento da cidade de Presidente Prudente, para compreender a dinâmica da área estudada. O estudo morfológico se deu por meio das análises da imagem orbital retirado do Google Earth, dos mapas de Presidente Prudente (BASE 10 Prefeitura Municipal de Presidente Prudente - PMPP) e uma planta da cidade de 1977 (PMPP) e das plantas originais dos loteamentos obtidos pelo site da PMPP. Os dados foram sistematizados por meio de fichas de todos os dos loteamentos da área, os quais serviram para análise comparativa entre os traçados. As fichas se organizaram da seguinte maneira: Histórico do bairro retirado do texto Expansão Territorial Urbana de Presidente Prudente (SPOSITO, 1995); uma planta do bairro (site da PMPP) e dois cortes obtidos a partir do Google Earth, localizados sempre em lugares estratégicos (avenidas e ruas principais ou próximas ao córrego); análises tipológicas das quadras e lotes; e, por fim, observações fruto da analise feita a partir das informações descritas na ficha. Essas fichas têm o intuito de analisar e comparar os diferentes tipos de traçado da área de fundo de vale e identificar a lógica adotada no desenho urbano da área e sua relação com o córrego. Figura 01. Modelo da Ficha realizada para cada Loteamento que cerca a área estudada. Elaboração da autora.

363 RESULTADOS Analisando as fichas dos bairros podemos separá-los em 5 períodos, sendo o primeiro, a década de 40, quando nenhum dos bairros apresentam problemas graves decorrente do desenho urbano implantado. A Vila Formosa (Figura 02), a Vila Pinheiro e Vila Santa Helena, reproduziram o traçado regular semelhante ao "tabuleiro de xadrez" do núcleo central da cidade. Porém, à medida que se aproximam dos Córregos, os traçados simplesmente desviam dele, resultando em algumas quadras irregulares, além de transformar o córrego em área de fundo de lote, reafirmando a negação dele pela cidade. Já a Vila Gloria (Figura 03) têm seu traçado irregular por se estruturarem a partir da Avenida da Saudade, já existente na área, em direção ao Córrego. Figura 02. Planta do Loteamento Vila Formosa, destacado em amarelo o encontro do córrego com o loteamento. Fonte: PMPP, modificado pela autora. Figura 03. Planta do Loteamento Vila Glória. Fonte: PMPP, modificado pela autora Na década de 60, alguns bairros apresentaram grande problema de declividade, tendo o seu valor de declive muito próximo ou superior a 8,33% inclinação dos passeios permitido pela NBR 9050 e esses bairros são: o Jardim Caiçara, a Vila Liberdade e o Jardim Bongiovani (Figura 04).

364 Os traçados acima identificados, também seguem a regra citada anteriormente, as quadras semelhantes ao tabuleiro xadrez, com exceção de uma pequena parte do Jardim Bongiovani, já que seu desenho foi realizado considerando o Córrego e o relevo. Contudo, esta pequena parte foi implantada separadamente, pois foi fruto de um programa habitacional do BNH, o que justifica a sua diferenciação. Os outros bairros desse período também seguem a mesma linha que esses, porém não apresentam problemas graves em relação ao traçado. Figura 04. Planta e corte do Loteamento Jardim Bongiovani. Fonte: PMPP e Google Earth. Os três bairros implantados nas décadas de 70, 80 e 90 apresentam índices graves de declividade, superando o limite imposto pela NBR, a Vila Ocidental e o Jardim Bela Dariam (Figura 05), apresenta o mesmo padrão citado a cima. Já o Jardim João Paulo II apresenta seu traçado irregular, porém ele segue o traçado já existente, de avenidas e os limites da UNESP, não considerando de forma alguma o relevo. Talvez o seu traçado pouco regular seja fruto de um apelo mercadológico, visto que este é um loteamento fechado. O Jardim Bela Daria apresenta parte das suas quadras irregulares, por se estruturar por duas avenidas, a Av. Brasil e a Av. São Paulo, essa ligando a Av. Brasil ao Parque do Povo.

365 Figura 05. Planta e corte do Loteamento Jardim Bela Dária. Fonte: PMPP e Google Earth. DISCUSSÃO A partir das análises das fichas dos loteamentos e suas sínteses (Fig. 06 e 07), observa-se como ocorreu o crescimento de Presidente Prudente, ignorando a presença do Córrego do Veado, cujo traçado deu costas a este. Observa-se que, nas proximidades das grandes avenidas, o traçado é regular, semelhante ao "tabuleiro de xadrez" do núcleo central da cidade e, quando algum obstáculo se aproxima, tais como o córrego ou relevo acentuado, o traçado passa a ser irregular. Porém, não foram identificadas características comuns entre eles, isto é, alguma coerência, além disso, o desenho não tira o melhor proveito da topografia. Observa-se, também, que o traçado do Parque do Povo (Fig. 06) foi muito influenciado pelos vazios do entorno do córrego. A maioria das áreas que não foram ocupadas pelo parque ainda se encontra vazias. Figura 06. Estudo do crescimento da cidade. Fonte: PMPP, modificado pela autora

366 Figura 07. Estudo do traçado realizado sob uma planta de 1977. Fonte: PMPP, modificado pela autora A situação atual do córrego, de negação, é disfarçada pelo fato de no local estar implantado o Parque do Povo, identificado na Figura 08 - sistema de lazer muito aproveitado pela população local e, para eles, dessa maneira, o córrego estaria protegido da poluição. Isso nos mostra o despreparo e a falta de informação da população, na medida em que ela apóia a situação de negação do córrego mesmo com os problemas identificados. Figura 08. Área demarcada com APP e Córrego. Fonte: Base 10 - FCT UNESP. Editado pela Autora. O grande problema da área são as enchentes, já que a área de inundação do córrego foi minimizada. A última grande enchente foi em 2009, quando choveu 38 milímetros em aproximadamente 40 minutos e, segundo dados da estação meteorológica da UNESP, a cidade teve grandes prejuízos, como mostra a Figura 09. Após essa enchente, a Secretaria Municipal de Obras providenciou a recuperação de calçadas, ruas, avenidas e reforçando a caixa de captação de águas pluviais localizada no cruzamento da Avenida Manoel Goulart com o Parque do Povo, área mais atingida pelas chuvas, o que levou a construção de uma praça nesse último ponto (Figura 10).

367 Figura 09. Estragos causados pela chuva de 2009. Fonte: PMPP Figura 10. Praça construída a partir das obras de capitação de águas pluviais. Fonte: Tirada pela autora. Depois dessas obras as intensidades das enchentes diminuíram, porém não foram sanadas. Em dias de chuvas intensas, só o Parque do Povo inunda principalmente pelo fato do Córrego estar tamponado, o que diminui a vazão da água de superfície. CONCLUSÃO Concluímos que os córregos tornam- se um obstáculo para cidade. O descaso com as áreas de fundo de vale ocasiona problemas ambientais e de desenho urbano. Porém, no caso do

368 córrego em estudo, tais problemas são ofuscados pela presença do Parque do Povo, com exceção dos dias de chuvas torrenciais, quando algumas áreas são inundadas. REFERÊNCIAS ABNT NBR 9050, Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, 2004. DEL RIO, V. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini, 1990. FRANCISCO, A. M. Os desafios do planejamento urbano em áreas de fundo de vale consolidadas: o caso da microbacia do Córrego do Veado em Presidente Prudente, SP. In: II Seminário Nacional sobe Áreas de Preservação Permanente em Meio Urbano: abordagens, conflitos e perspectivas nas cidades brasileiras, 2012, Natal. Anais... Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2012. LAMAS, J. M. R. G.. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Lisboa: Ed. Fundação Gulbenkian, 1993. PANERAI, P. Análise Urbana. Brasília. Ed.UNB, 1999. SPOSITO, M. E, B. Expansão Territorial Urbana de Presidente Prudente. Recorte, Presidente Prudente, Nº4, Pág. 05 40, 1995.