INTERAÇÃO ENTRE O JATO EM BAIXOS NÍVEIS E COMPLEXOS CONVECTIVOS DE MESOESCALA SOBRE A REGIÃO DO CONESUL

Documentos relacionados
Dezembro de 2012 Sumário

Dados Modelo ETA (INPE) Espaçamento de 40Km de 12 em 12 horas com 32 níveis na vertical. Corta-se a grade de estudo

Dezembro de 2012 Sumário

Dezembro de 2012 Sumário

Dezembro de 2012 Sumário

ANÁLISE SINÓTICA E DE MESOESCALA DE EVENTO CICLOGENÉTICO OCORRIDO NO DIA 07 DE JUNHO DE 2011

Novembro de 2012 Sumário

Tempestades severas, tornados e mortes em Buenos Aires. Um evento meteorológico sem precedentes?

Novembro de 2012 Sumário

Resumo. Abstract. Palavras chave: complexo convectivo de mesoescala, análises transversais, movimento vertical, células convectivas. 1.

Novembro de 2012 Sumário

Novembro de 2012 Sumário

ANÁLISE SINÓTICA DE UM CASO DE TEMPO SEVERO OCORRIDO NA CIDADE DE SÃO PAULO (SP) DURANTE O DIA 7 DE FEVEREIRO DE 2009

Dezembro de 2012 Sumário

Abril de 2011 Sumário

Abril de 2011 Sumário

Novembro de 2012 Sumário

Evento de Chuva Intensa e Granizo no Rio de Janeiro

Abril de 2011 Sumário

BOLETIM PROJETO CHUVA 24 DE JUNHO DE 2011

BOLETIM PROJETO CHUVA 14 DE JUNHO DE 2011

Novembro de 2012 Sumário

Temporais provocam prejuízos e mortes em Pelotas-RS

Novembro de 2012 Sumário

BOLETIM DIÁRIO DO TEMPO

Análise das Condições de Tempo Observadas no dia 10/11/2009.

1) Análise Sinótica e ambiente pré-convectivo

CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS SINÓTICOS QUE PRODUZEM CHUVAS INTENSAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ANÁLISE PRELIMINAR RESUMO

Abril de 2011 Sumário

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

Dezembro de 2012 Sumário

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL NO VERÃO E OUTONO DE 1998.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Novembro de 2012 Sumário

Dezembro de 2012 Sumário

SÍNTESE SINÓTICA DEZEMBRO DE Dr. Gustavo Carlos Juan Escobar Grupo de Previsão de Tempo CPTEC/INPE

Dezembro de 2012 Sumário

TERMODINÂMICA, DIVERGÊNCIA E VCAN PROVOCAM CHUVA INTENSA NO TOCANTINS

Novembro de 2012 Sumário

Docente da UFPA e Pós Graduação em Ciências Ambientas (PPGCA).

Dezembro de 2012 Sumário

Abril de 2011 Sumário

Avaliação da seca de 2013 a 2015

19 Novembro de Sumário

ESTUDO DE ALGUMAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS QUE AUXILIARAM NA PREVISÃO DE TEMPO PARA O DIA 18 DE JANEIRO DE 1998 PARA O ESTADO DE PERNAMBUCO.

BOLETIM DIÁRIO DO TEMPO

Chuva extrema causa impacto em no leste de Santa Catarina no dia 09 de março de 2013

Balanço das chuvas anômalas sobre estados de MG, RJ e ES no início da estação chuvosa 2011/2012

INFORMATIVO CLIMÁTICO

SÍNTESE SINÓTICA FEVEREIRO DE Dr. Gustavo Carlos Juan Escobar Grupo de Previsão de Tempo CPTEC/INPE

Novembro de 2012 Sumário

Variabilidade na velocidade do vento na região próxima a Alta da Bolívia e sua relação com a temperatura máxima e mínima no Sul do Brasil

ANÁLISE SINÓTICA DE UM EVENTO DE CHUVA INTENSA OCORRIDO NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL.

Onda frontal associada a instensa massa de ar frio causa temporais e derruba a temperatura no centro-sul do continente Sulamericano

Chuva intensa em parte do Nordeste do Brasil em Março de 2014

CONDIÇÕES SINÓTICAS ASSOCIADAS À OCORRÊNCIA DE CHUVA INTENSA EM PELOTAS-RS EM MAIO DE INTRODUÇÃO

Abril de 2011 Sumário

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

Novembro de 2012 Sumário

Abril de 2011 Sumário

Chuva de mais de 100 mm causa estragos em Lajedinho - BA em dezembro de 2013

BOLETIM DIÁRIO DO TEMPO

BOLETIM DIÁRIO DO TEMPO

Novembro de 2012 Sumário

Weather report 27 November 2017 Campinas/SP

AVALIAÇÃO DO MODELO DE KUO NA PREVISÃO DE CHUVAS NA REGIÃO DE PELOTAS COM A UTILIZAÇÃO DO MODELO BRAMS. José Francisco Dias da Fonseca 1

BOLETIM DIÁRIO DO TEMPO

BOLETIM PROJETO CHUVA - 22 DE JUNHO DE 2011

Abril de 2011 Sumário

Chuvas intensas atingem o Nordeste e causam mortes em Pernambuco e Paraíba em meados de julho de 2011

Complexos convectivos de mesoescala

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Tempestade de granizo atinge áreas de Curitiba-PR e do Vale do Paraíba-SP

Análise sinótica associada à ocorrência de temporais no Sul do Brasil entre os dias 07 e 09 de agosto de 2011

AVALIAÇÃO DO MODELO ETA EM SITUAÇÕES DE CHUVAS INTENSAS

Dezembro de 2012 Sumário

20 Novembro de Sumário

EVENTOS SEVEROS NA AMAZÔNIA: ESTUDO DE CASO DE 2 TEMPORAIS QUE ATINGIRAM A REGIÃO URBANA DE MANAUS NOS DIAS 27 E 29 DE ABRIL DE 2011

SÍNTESE SINÓTICA MENSAL NOVEMBRO DE 2012

BOLETIM CLIMÁTICO - NOVEMBRO 2015

Chuvas intensas e acumulados significativos causam prejuízos e mortes no Rio de Janeiro em abril de 2010

CLIMASUL ESTUDO DE MUDANÇAS CLIMATICAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Novembro de 2012 Sumário

A ocorrência de tempo severo sobre o Estado de São Paulo causado pelo vórtice ciclônico em altos níveis: um estudo de caso

Novembro de 2012 Sumário

Novembro de 2012 Sumário

Tempestade de granizo causa impactos significativos sobre áreas de SP, MG, RJ e do DF em dezembro de 2009.

Frente fria provoca deslizamentos e mais de 30 mortes na região serrana do RJ

21 Novembro de Sumário

Estudo de caso de chuva significativa no interior da Região Nordeste do Brasil ocorrida no mês de abril de 2009.

A ESTATÍSTICA DOS TRANSIENTES NA AMÉRICA DO SUL

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

Chuvas intensas em parte de Pernambuco e da Paraíba entre os dias 15 e 17/07/2011: análise sinótica do evento

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

ESTUDO OBSERVACIONAL DOS JATOS DE BAIXOS NÍVEIS NA REGIÃO DO LAGO DE ITAIPU

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Estudo de um evento convectivo intenso sobre o estado de Alagoas

Temporais na capital São Paulo e região metropolitana no dia 17/03/2009

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Transcrição:

INTERAÇÃO ENTRE O JATO EM BAIXOS NÍVEIS E COMPLEXOS CONVECTIVOS DE MESOESCALA SOBRE A REGIÃO DO CONESUL Nuri O. de Calbete, nuri@cptec.inpe.br Julio Tóta, tota@cptec.inpe.br Adma Raia, adma@cptec.inpe.br Marcus Jorge Bottino, bottino@cptec.inpe.br Enver Ramirez, eramirez@cptec.inpe.br Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC/INPE Rod. Pres. Dutra km 40. Cep.: 12630-000. Cachoeira Paulista - SP - Brasil. RESUMO O objetivo deste trabalho é verificar uma possível interação entre a ocorrência de jato em baixos níveis e a formação de CCM's na região em estudo. Os jatos em baixos níveis (JBN) são classificados como um movimento de escala meso-β, com características espaciais entre 20 e 200 km (largura), que ocorrem dentro dos dois primeiros quilômetros da atmosfera, associados a uma forte oscilação diurna da magnitude do vento na camada limite planetária. Os jatos mais intensos tem direção predominante de NE e ocorrem pela atuação da alta do Atlântico Sul influenciado pela orografia. Um outro fator é o forte contraste térmico gerado pela heterogeneidade da superfície na região do CONESUL. A presença deste sistema sobre a região em estudo formam grandes áreas de instabilidade denominadas Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM), geralmente acompanhados de ventos fortes e chuvas intensas. Resultados preliminares mostram que há uma boa correlação associando a presença de JBN à intensificação e/ou formação de CCM's. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a comunidade científica tem dado grande atenção ao fenômeno atmosférico denominado Complexos Convectivos de Mesoescala - CCM. Algumas definições e conceitos desses sistemas foram feitas por vários pesquisadores (Maddox, 1980; Velasco e Fritsch, 1987). Os CCM s tem sido identificados em diversas épocas do ano sobre a América do Sul, especialmente no verão e primavera. Esse tipo de sistema convectivo desempenha um papel significativo na distribuição e frequência da precipitação sobre a região do CONESUL, a qual representa uma região ecônomica de grande importância para a América do Sul. O estudo dos CCM s inclui aspectos relacionados ao seu ciclo de vida e os mecanismos físicos que mantém sua evolução. Geralmente seu ciclo de vida varia de 6 a 15 horas e sua gênese tem início preferencialmente durante o período de máximo aquecimento da superfície. Alguns estudos mostram que esse sistema, em sua maioria, inicia sua trajetória a leste dos Andes em uma latitude média de 25ºS e sobre os vales dos rios Paraná e Paraguai, atingindo a região Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. A evolução e manutenção dos CCM s ainda é um campo de pesquisa em aberto, principalmente aqueles relacionados com aspectos dinâmicos da atmosfera. Dentre esses mecanismos dinâmicos destacam-se o Jato de Baixos Níveis (JBN) e os vórtices que atuam nesta região. Os JBN possuem uma intensidade modulada pelo ciclo diurno, aliada a fatores de mistura turbulenta e circulações do tipo vale/montanha. O presente trabalho visa mostrar alguns aspectos da ocorrência dos CCM s e sua interação com a corrente de Jato de Baixos Níveis (JBN). METODOLOGIA Foram utilizados os campos de análise do vento em 850 hpa do modelo CPTEC-COLA T062L28 das 12Z, visando a identificação do JBN e as imagens infravermelha do satélite do GOES-8, para detectar os eventos de CCM s na área de interesse. Foram confeccionados mapas e gráficos dos

campos de advecção meridional e convergência de umidade e também campos de vento na camada entre 1000 a 700 hpa. Foram também descritos os eventos de ocorrência de precipitação associados aos CCM s na região em estudo. Os meses escolhidos foram setembro a novembro de 2000, devido na estação da primavera, igualmente ao período de verão, observa-se bastante desenvolvimento destes sistemas na região. Durante este período foi observado a presença de grandes áreas de instabilidade nos dias 20 de setembro, 3 de outubro e 28 de novembro de 2000. Dentre esses casos, o dia 20 de setembro será aqui descrito. RESULTADOS A Figura 1, mostra uma seqüência de imagens evidenciando o caso de 20 de setembro de 2000, onde observa-se um CCM desenvolvido sobre o Uruguai e Rio Grande do Sul. Inicialmente, a região sofre a ação de uma corrente de jato em altos níveis, onde pequenas células convectivas são desenvolvidas. A partir daí, essas células são supridas de umidade através de uma corrente de jato em baixos níveis com escoamento de norte para sul estendendo-se desde a Bolívia até o sul do Uruguai (Figura 2). Fig. 1: Imagem de satélite do dia 20 de setembro de 2000. Na Figura 2, são mostrados campos de escoamento no nível de 850 e 250 hpa, para o dia 20 de setembro de 2000 as 12Z. Observa-se nesta Figura que, o efeito combinado de ambas as correntes de jato em 850 (JBN) e 250 hpa é extremamente importante para o desenvolvimento do CCM na região estudada (Silva Dias, 1987). Por um lado a corrente de jato em 250 hpa provoca um aumento da instabilidade através da aceleração do escoamento sobre a região, e por outro lado a corrente de jato de baixos níveis alimenta o sistema com ar quente e úmido oriundo dos trópicos, onde por continuidade de massa há um incremento da convecção formando aglomerados convectivos, gerando finalmente os CCM s (Silva Dias, 1996).

Fig. 2: Campos de escoamento em 850 e 250 hpa para o dia 20 de setembro de 2000. Na Figura 3, são mostrados campos de divergência de umidade sobreposta com o escoamento no nível de 850 hpa, para o dia 20 de setembro de 2000 as 12Z. Nesta Figura fica evidente o máximo de convergência de umidade sobre o a área de atuação do CCM, assim como, o canal de escoamento criado pelo jato de baixos níveis. Fig. 3: Divergência de umidade em 850 hpa para o dia 20 de setembro de 2000.

Para melhor descrever a interação entre o JBN e os CCM s sobre a região de estudo, na Figura 4 é apresentado o campo de advecção de umidade no nivel de 850 hpa no horário das 12Z. Neste campo observa-se um máximo de umidade advectado associado à formação do CCM. Além disso podemos destacar um canal de vento máximo acima de 20 m/s atuando dede a Bolívia até a área de atuação do CCM. Isso reforça uma interação positiva entre os mecanismos dinâmicos envolvidos na geração e manutenção do CCM. Fig. 4: Advecção meridional de umidade em 850 hpa para o dia 20 de setembro de 2000. A Figura 5, mostra uma série temporal do mês de setembro da advecção e da divergência de umidade de uma parcela (-58W ±0.5/ -37S ±0.5 1000-850hPa). Observa-se no dia 20 deste mês às 12Z, uma advecção positiva de umidade coincidindo com ventos do quadrante nordeste com uma velocidade de 15 a 20 m/s, indicando a presença do jato em baixos níveis, associado a uma convergência de umidade.

Para comprovar a contribuição dos CCM s na distribuição de precipitação na região do CONESUL durante os eventos estudados (dias 20 de setembro, 3 de outubro e 28 de novembro de 2000), foram feitas Tabelas contendo os totais de precipitação acumulada nos dias em estes ocorreram. Entretanto, apenas os dias 03/10 e 28/11/2000 foram confeccionados. Assim, apesar de serem mostradas as análises para o caso de 03/10/2000 e 28/11/2000, em função de falta de imagens e saídas de modelo, a Tabela 1 e 2 mostram a precipitação acumulada em algumas estações dentro da área de estudo quando da ocorrência de um CCM. Os totais de precipitação mostrados nesta Tabela são bastante superiores aos observados sem a ocorrência de CCM s. Isso, de certa forma, evidencia a importância desse tipo de fenômeno para a região. Vale salientar que, neste mesmo dia houve a ocorrência de uma corrente de jato com intensidade de 20 m/s, reforçando sua interação com os CCM s. TABELA 1: Precipitação acumulada no dia 03/10/2000. Cidade Nº Estação Lat Lon Precipitação M. Juarez Aero- Argentina 87467 62.16 32.70 68 mm P. Pehuajo Aero-Argentina 87548 60.92 34.54 72 mm P. Ezeiza Aero-Argentina 87576 58.42 34.81 54 mm P. S.Rosa Aero-Argentina 87623 64.27-36.56 61 mm P. Tres Arroyos Argentina 87688 60.25 38.33 118 mm Durazno Uruguai 86530 56.50 33.34 75 mm TABELA 2: Precipitação acumulada no dia 28/11/2000. Cidades Nº Estação Lat Lon Precipitação Rosário do Sul-RS/Brasil 32757-54.90-30.20 124 mm Uruguaiana-RS/Brasil 83927-57.09-29.75 063 mm Salto- Uruguai 86360-57.96-31.38 042 mm P.Ceres Argentina 87257-61.96-29.88 094 mm P. Cordoba Aero- Argentina 87344-64.22-31.31 069 mm P. Sauce Viejo Aero-Argentina 87371-60.82-31.70 162 mm

CONCLUSÃO As análises aqui realizadas, apesar de serem válidas para alguns casos, nos fornece uma evidência da interação entre a corrente de jato em baixos níveis e a formação dos Complexos Convectivos de Mesoescala. Fica evidenciado também que, este estudo foi apenas uma abertura para discussão a respeito deste assunto, o qual ainda persiste em aberto para futuras pesquisas neste campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Maddox, R. A., 1980: Mesoscale convective complexes. Bull. Am. Meteorol. Soc. 61, 1374-1387. Silva Dias, M.A.F., Sistemas de Mesoescala e previsão de tempo a curto prazo. Revista Brasileira de Meteorologia, 2:133-150, 1987. Silva Dias, M.A.F., Sistemas de Mesoescala e previsão de tempo a curto prazo. Revista Brasileira de Meteorologia, 2:133-150, 1987. Velasco, I. e J.M. Fritsch, 1987: Mesoscale convective complexes in the Americas. J. Geophys. Res., 92, D8, 9591-9613.