Onda frontal associada a instensa massa de ar frio causa temporais e derruba a temperatura no centro-sul do continente Sulamericano

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1 Onda frontal associada a instensa massa de ar frio causa temporais e derruba a temperatura no centro-sul do continente Sulamericano Entre os dias 20 e 23 de julho de 2009, a formação de uma intensa onda frontal sobre a bacia do Prata provocou chuvas intensas e ventos fortes sobre parte do norte da Argentina, Paraguai, Uruguai e grande parte da Região Sul do Brasil. O ciclone extratropical associado a este sistema aprofundou-se rapidamente, deslocando-se para sudeste (Figura 1). Sua formação esteve associada a um significativo cavado que atravessou os Andes dando origem a um intenso episódio ciclogenético. A Figura 1 mostra o cavado em 250 hpa e a posição dos máximos de vento neste nível. Em superfície uma forte esteira quente estava associada a um ciclone térmico sobre o norte da Argentina (Figura 1b). O acoplamento do aprofundamento da área ciclônica em altitude (vorticidade ciclônica a sotavento do cavado) e a área de baixa pressão em superfície geraram o ciclone observado sobre a Bacia do Prata. E este sistema consequêntemente originou a onda frontal observada na Figura 1b. Esta situação sinótica climatologicamente esta associada a ondas frontais na Bacia do Prata. No entanto, o diferencial deste sistema foi a forte e rápida queda de pressão em superfície, formando um ciclone muito intenso de forma explosiva e a intensa pista de vento sul desde latitudes próximas ao pólo que trouxe ar de origem polar direto para o interior do continente. Isto pode ser visualizado na Figura 2b. Nesse dia (22/07/ Z) registrou neve moderada e intensa em parte do centro-sul da Província de Buenos Aires (Argentina). Esta pista de vento sul foi favorecida pela posição da Alta Subtropical do Pacífico Sul (ASPS) que estava bastante a sudeste, próximo do extremo sul do continente e fora de sua posição climatológica. Este padrão sinótico representa um dos modelos conceituais de circulação em superfície associado a incursões de ar frio sobre o continente sul-americano. a) 250 hpa, análise 21/07/2009, 18Z. b) Superfície, análise 21/07/2009, 12Z. Figura 1: a) Análise sinótica no nível de 250 hpa do dia 21/07/2009 às 18Z. Linha vermelha tracejada representa o eixo do Jato Subtropical; Linha laranja tracejada representa o eixo do Jato Polar Norte; e Linha branca tracejada representa eixo do Jato Polar Sul. Linha contínua branca indica linhas de geopotencial. E o campo de linhas contínuas em azul são linhas de corrente. b) Linhas contínuas amarelas são o Campo de pressão ao Nível Médio do Mar; Odesenho em azul indica frente fria e em vermelho frente quente; O B sobre a Bacia do Prata indica o centro do ciclone.

2 A massa de ar frio associada ao deslocamento do sistema frontal pelo interior do continente, a posição do ciclone extratropical sobre o Atlântico a sudeste de Buenos Aires (Figura 2a) e a conseqüente advecção de umidade para o continente causaram o desenvolvimento de nuvens e a queda de neve na Província de Buenos Aires (Figura 2b) no dia 22. Segundo o jornal gaúcho Zero Hora neste dia nevou em cidades como Olavarria, Bahia Blanca e Ezeiza (grande Buenos Aires). No dia 23 nevou nas Províncias de La Pampa, Mendoza e Córdoba, na Argentina. a) b) Figura 2: a) Análise sinótica de superfície 22/07/ Z. Linha azul mostra pista de vento sul; b) Imagem de satélite no canal visível do dia 22/07/ Z. Área circulada indica a nebulosidade associada à neve no momento. Antes do frio vieram os temporais no Sul do Brasil e em parte da Argentina e Paraguai, com rajadas de vento e chuva forte (instabilidade pré-frontal). Várias cidades do RS, de SC, do PR, MS e SP foram atingidas por temporais com ventos fortes e/ou chuva significativa entre os dias 22 e 24. As Figuras 3 a, b e c mostram as descargas elétricas acumuladas para o período que vai entre os dias 21 e 23. A distribuição temporal e espacial das descargas elétricas permite identificar tanto o deslocamento do ramo frio da onda frontal como a atividade convectiva pré-frontal. A Figura 4 mostra a evolução temporal do processo ciclogenético. Nota-se que, previamente à formação do ciclone, a Baixa do Noroeste da Argentina (BNOA) aparecia bem intensa e centrada aproximadamente entre o norte da Argentina, oeste do Paraguai e sudeste da Bolívia. Este sistema apresentava um forte gradiente de pressão o que favoreceu a intensificação dos ventos de quadrante norte sobre grande parte do Paraguai, nordeste da Argentina e o centro-oeste da Região Sul do Brasil. Em Santa Catarina registraram-se rajadas de vento que ultrapassaram os 100 Km/h durante o dia 22. A seguir se mostra alguns valores de ventos extremos: Urubici 154,8 km/h; Siderópolis 110 km/h, Laguna 104,4 km/h, Joaçaba 97,2 km/h, Xanxere 90 km/h, Novo Horizonte 86,4 km/h, Dionísio Cerqueira 80 km/h. O frio intenso, associado à massa de ar de origem polar chegou ao RS no dia 23 causando geadas na região de campanha.

3 a) b) c) Figura 3: a) Descargas elétricas acumuladas dia 21/07/2009; b) Descargas elétricas acumuladas dia 22/07/2009; c) Descargas elétricas acumuladas dia 23/07/2009. No dia 24 houve registro de geada ampla entre sul do PR, interior de SC e grande parte do interior do RS. Em São Joaquim-SC os termômetros marcaram 5,8C negativos. Neste dia o frio atingiu o Centro-Oeste e o sul do Sudeste. A temperatura máxima também foi muito baixa no centro sul de MS e não ultrapassou os 7,0 C na capital de MS, Campo Grande. Desde julho de 2005, quando a temperatura máxima foi de 9,8C, não era registrado um valor tão baixo. Dados fornecidos pela empresa de meteorologia MetSul mostram o frio intenso no Sul do Brasil no dia 24: O Rio Grande do Sul registrou nesta sexta-feira uma das menores temperaturas da década no Estado e a mais baixa entre as estações do INMET dos últimos cinco anos. Fez 5,8ºC abaixo de zero, o menor registro desde os 6,4ºC observados em 11 de julho de 2004 na localidade dos Campos de Cima da Serra. Do Sul ao Norte do Rio Grande do Sul, a temperatura foi negativa no amanhecer da sexta-feira. Em São José dos Ausentes, a temperatura abaixo de zero às sete da manhã de 4,5ºC combinada com rajadas de vento de 42 km/h provocou uma sensação térmica de 22,6ºC negativos. Em Canguçu, no Sul gaúcho, a combinação de temperatura de 2ºC negativos com vento de 43 km/h proporcionava uma sensação térmica de 19ºC abaixo de zero.

4 Figura 4: Evolução da ciclogênese explosiva que se formou sobre a Bacia do Prata. Sequência com intervalos de 06 horas começando às 00Z do dia 21/07/2009 e terminando às 00Z do dia 23/07/2009. Esta massa de ar frio também atuou no sul da Amazônia. As Figuras 5a, b e c mostram a evolução da frente fria a partir do dia 23, causando a pior onda de frio dos últimos 15 anos em Rondônia. No dia 25 a cidade de Vilhena (RO) a temperatura baixou para apenas 9,2 C de acordo com dados da estação meteorológica automática do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). Com ventos de 25km/h, a sensação térmica foi de apenas 3 C na cidade. Esta temperatura apenas foi superior a do dia 10 de julho de 1994, quando dados de METAR do aeroporto de Vilhena indicaram uma temperatura mínima de apenas 5,6 C. O recorde de frio em Vilhena é de 3,4 C registrados em 19 de julho de 1975, quando o Brasil teve a sua pior onda de frio, onde o fenômeno da geada foi registrado no sul de Rondônia (Fonte: No dia 25 a frente fria começou a enfraquecer no continente, e apenas um ramo estacionário atuava entre o sul do AM e o extremo sul do ES.

5 a) Análise sinótica de superfície 23/07/ Z b) Análise sinótica de superfície 24/07/ Z c) Análise sinótica de superfície 25/07/ Z Figura 5: Sequência do avanço do sistema frontal pelo interior do Brasil. Em relação às chuvas, a chegada do sistema frontal provocou anomalias significativas sobre parte do leste centro-norte do PR e no centro-leste e sul de SP. Este sistema frontal atuou no sul do Sudeste brasileiro até o dia 25, quando se deslocou para o oceano, mas deixou um canal de umidade sobre o norte do Sul e sul do Centro-Oeste e Sudeste Brasileiro. Isto associado a perturbações ciclônicas de onda curta em 500 hpa e ao tempo abafado causou temporais nesta área. A Figura 6 mostra a sequência de imagens de satélite do período de atuação do sistema frontal no continente.

6 a) do dia 21/07/2009 às 18Z. b) do dia 22/07/2009 às 12Z. c) do dia 23/07/2009 às 12Z. d) do dia 24/07/2009 às 12Z. e) do dia 25/07/2009 às 12Z. Figura 6: Imagem de satélite realçada no canal infravermelho.