TELEBRASPREV UMA CURIOSIDADE... Semana passada, no dia 22, estive reunido com participantes do plano de contribuição definida (CD) da Telebrás, a ex-empresa de telecomunicações do governo federal. O que importava para tais participantes daquela modalidade de plano misto ou híbrido, mas de CD era saber do atuário quanto poderiam receber sob a forma de distribuição de superávit do plano. Tal desejo, ou esperança advinha do fato de que a SISTEL, operadora do TelebrasPrev, estava apresentando - aos participantes do seu plano de benefícios definidos (BD), denominado PBS - proposta de distribuição do respectivo superávit, mas não oferecera nada aos participantes e assistidos do TelebrasPrev (plano de CD). Para garantir a respectiva participação na distribuição de superávit no plano de CD os representantes que compareceram à reunião em nosso escritório estavam dispostos a nos contratar por quantia que julgavam substancial. Munidos de DRAA s Demonstrativos de Resultados das Avaliações Atuariais, Demonstrativos de Investimentos e o que mais dispunham, inclusive, cálculos preliminares que haviam realizado e mos submetiam `à apreciação rápida durante nossa conversa com a certeza de receberem indicativo de que estavam certos em suas pretensões e talvez receber como resposta estimativas de números do patrimônio a lhes ser restituído, pelo plano de CD, superior às precárias simulações que haviam realizado.
Conhecedor da história da SISTEL e de seus planos de, ainda, antes da privataria do sistema de telecomunicações só conferi na internet a cartilha que fora distribuída na época da migração de participantes e assistidos do PBS, para o TelebrasPrev, e o respectivo regulamento do Plano de CD. A resposta a ser dada aos ansiosos aposentados era simples e óbvia, mas não para eles que já estavam aposentados recebendo benefício no plano de BD (PBS), quando aceitaram migrar para o TelebrasPrev (plano de CD). E já havia transcorrido praticamente sete (7) anos, uma vez que tal plano foi por eles aceito em 2000. Os cálculos de milhões que teriam direito de receber, segundo tratamento isonômico, em relação aos seus colegas que permaneceram no plano de benefícios definidos (BD), que esperavam receber da SISTEL lhes parecia devidamente fundamentado e de certa forma, até subavaliados. Por isso fui procurado, como atuário haveria de ajudálos a obter maior precisão nos valores e orientá-los quanto a forma de realizar suas expectativas. Ouvi os argumentos, atentei para os números que me apresentavam e não desejando fazê-los perder nosso precioso tempo o deles mais que o meu, porque como aposentados, e já idosos, digo, mais idosos que eu mesmo, o tempo, julgo que lhes seja de valor inestimável, pois é irrecuperável, e não seria justo o seu desperdício em conversa improdutiva, pelo menos para seus intentos. Logo que senti o ambiente propício para ser ouvido tratei de perguntar se me haviam trazido cópia do Regulamento do Plano TelebrasPrev, pois tal documento representava o contrato que estabelecia seus direitos e deveres da previdência complementar. A resposta foi negativa. Insisti que antes de voltarmos a falar em números e participação em distribuição de superávit se ativessem a estudar o que dispunha o contrato previdenciário, e que se necessário eu os ajudaria a interpretar adequadamente o que o Regulamento estabelecia.
Insistiram na tese de que a SISTEL estaria lhes negando um direito à superávit decorrente de excesso de rentabilidade do plano de CD, tal qual ocorria com o plano de BD, uma vez que não havia tratamento distinto na aplicação dos recursos de um e outro plano quanto aos investimentos de seus patrimônios, e mais que tal afirmação haviam recebido de empregados da área atuarial da operadora. Diante de afirmação tão incisiva quanto grave só me restou informá-los que não poderia ajudá-los, por dinheiro algum, porque a nada tinham direito, enquanto aposentados do plano de CD era o que dispunha o contrato que firmaram na migração, era o que estava inscrito e descrito no Regulamento do Plano TelebrasPrev. Mesmo tendo-se passado sete anos da migração aqueles participantes, originariamente aposentados no plano de BD, estavam satisfeitos no plano de CD que lhes proporcionara reajustes de benefícios anuais, desde 2000, superiores aos do plano PBS (BD) do qual saíram, mas não sabiam, ou não quiseram saber, sobre o mecanismo financeiro a que se sujeitaram ao aceitar a migração. Daí ainda raciocinarem, em parte como membros do antigo plano no que lhes poderia ser vantajoso, e também sob o aspecto positivo no que o plano de CD lhes havia proporcionado em termos de majoração de benefícios. Inicialmente, lhes expus a diferença características entre os planos de BD e CD. Descobriram assim que haviam trocado a segurança do plano de BD pela insegurança e riscos financeiros do plano de CD. Que no plano de BD o superávit existe e pode ser distribuído entre participantes e assistidos, e a respectiva patrocinadora, porque o plano é coletivista e há solidariedade e mutualismo entre seus integrantes a distribuição do superávit só ocorre depois de formada a respectiva reserva de contingência. Descobriram que no plano de CD não há déficit nem superávit há variação das quotas dos saldos de conta individual e que tal saldo é utilizado para o recálculo de seus benefícios a cada final de ano se houver ganhos nas aplicações o resultado positivo é incorporado ao benefício do próximo ano, se houver prejuízo ele também afetará o benefício reduzindo-o nos próximos 13 pagamentos (12 meses mais o décimo terceiro benefício).
O curioso é que se recordavam de três vantagens oferecidas para os que migrassem do plano de BD para o TelebrasPrev (hibrido, mistos, ou CD). Uma, a desvinculação do benefício do plano CD do benefício assemelhado pago pela previdência oficial; duas, a rentabilidade do plano poderia ser incorporada ao benefício, anualmente; três o benefício inicial dos aposentados que migrassem seria majorado em x% (se não me engano 20%) em relação ao que vinha sendo pago no PBS (plano BD). Nenhuma das vantagens era efetivamente do participante, todas beneficiavam somente a patrocinadora e a própria SISTEL enquanto operadora. Assim constata-se que a desvinculação do benefício de aposentadoria dos valores pagos pelo INSS implica no fim da complementaridade entre esses benefícios, e dessa forma desobriga patrocinadoras de cobertura de déficits, bem como de manutenção do valor real do benefício, nos termos do regulamento do plano de BD; duas, o risco financeiro das aplicações, faltou frisar, podem ser positivos e negativos quando positivos, os ganhos líquidos computados após a dedução das parcelas garantidoras dos benefícios de risco, inclusive os juros atuariais reais (6%a.a. mais inflação) poderão aumentar ou diminuir o benefício que vinha sendo pago porque lucros ou perdas serão transferidos integralmente às quotas individuais de cada participante ou assistido; três o aumento imediato do benefício foi realizado com reservas garantidoras do benefício do próprio participante e que integrava patrimônio o PBS, irregularmente, apropriado pelo novo plano, o TelebrasPrev. Mas ainda havia um detalhe que perturbava o grupo. Ficaram reticentes até que alguém criou coragem e falou que a SISTEL havia admitido ter incorrido em erro no cálculo da incorporação ao benefício, da lucratividade anual obtida, e que comunicara que estava corrigindo seu erro descontando os juros atuariais dos percentuais anualmente apurados. Isso quer dizer que a SISTEL passaria a descontar 6% do percentual de rentabilidade dos investimentos e aplicações do patrimônio do Plano TelebrasPrev antes de corrigir os benefícios das aposentadorias.
Entretanto a leitura mais detalhada do dispositivo que a SISTEL não vinha aplicando quando do repasse da rentabilidade anual, aos benefícios do plano TelebrasPrev, revela que aquela operadora ainda permanece em erro na operação do regulamento, ou contrato, do plano de CD em referência. Senão vejamos a referência ao final do artigo do regulamento, e que trata do reajustamento dos benefícios, a seguir reproduzido: No reajuste anual, de dezembro, será descontada a remuneração atuarial real, isso para o atuário significa dizer que da rentabilidade obtida pela variação percentual entre os valores das quotas consideradas haverão de ser deduzidos os valores da taxa de juros atuarial utilizada cujo máximo admitido pelas normas é de 6% ao ano acrescida da correspondente taxa de inflação do período, avaliada segundo o indexador admitido no Regulamento do plano de benefícios que pode ser o INPC, IPCA, ou outro claramente identificado no texto contratual. Levados à interpretação atuarial aquela redação do regulamento não exige que da rentabilidade anual do plano seja descontados os juros atuariais, mas também a inflação, ou seja, o reajuste anual só contemplará os valores positivos se a rentabilidade obtida for, em percentual, superior à inflação mais 6% no ano. Caso a rentabilidade das aplicações e investimentos seja inferior aquele percentual, o benefício será reduzido, ao invés de sofrer majoração. E a SISTEL, se está descontando somente os juros atuariais de 6% a.a. da rentabilidade apurada para o plano Telebrasprev, ainda assim, continua a operar aquele plano em desacordo com o respectivo regulamento, que exige, também, seja descontada cumulativamente da rendibilidade do plano a variação inflacionária anual.
Continua, insistimos em dizer, a SISTEL aplicando os percentuais incorretos ao reajuste de benefícios para os aposentados do Telebrasprev, majorando-os acima do pactuado na forma da redação regulamentar, ou contratual, adequadamente interpretada. E se justificam tais procedimentos e cautelas da redação inserida no dispositivo em tela pelo fato de ser o Telebrasprev um plano híbrido ou misto o qual tem por característica técnica a estruturação e o tratamento dos benefícios de risco (pensão e aposentadorias por invalidez, principalmente) na modalidade de plano de benefícios definidos (BD), e os benefícios de aposentadorias normais, antecipada e especial são tipicamente tratados como integrantes de um plano de contribuição definida. Nesse formato BD + CD a preferência do destino da lucratividade do plano misto é a parcela de BD, inclusive garantindo-lhe remuneração atuarial real (6% a.a. + inflação) em detrimento da incorporação da rentabilidade bruta aos saldos de contas, ou quotas da outra parte do plano misto: a parcela plano CD. Primeiro, nos planos mistos, trata-se de garantir os benefícios de risco e os seus fundos garantidores, e somente depois, se houver sobras na rentabilidade uma parte desta, chamada rentabilidade líquida, será distribuída entre as contas individuais segundo o critério de rateio proporcional aos respectivos saldo iniciais das aplicações ou investimentos. Depois de quase três horas de conversas a decepção daqueles aposentados era deprimente, pois já não se vislumbra procedimento técnico ou operacional que desfaça o erro já consolidado desde 2000. Provavelmente, do ponto de vista jurídico muito pode ser buscado, mas dificilmente haverá atuário que coloque a mão nesta cumbuca. Lamentar é o que lhes resta, além de permanecerem alertas quanto à administração do plano orando ao deus do dinheiro que lhes continue a sorrir com rentabilidades suficientes para que incorporem reajustamentos positivos em seus benefícios.
Além de tomarem conhecimento de que não tem direito à distribuição de superávit, porque plano de CD não gera déficit ou superávit atuarial, mas tão somente ganhos e perdas financeiras as quais são anualmente incorporadas às quotas individuais, os aposentados do Telebrasprev ficaram sabendo que seus reajustes poderão ser menores daqueles que até então vinham recebendo e, que se a SISTEL aplicar o Regulamento do Plano corretamente, eles não tem a quem ou do quê recorrer. Outra certeza que levaram consigo foi a de que a migração, no médio e longo prazos se revela não ter sido um bom negócio para si e seus familiares. E, essa experiência não é única, volta e meia aparecem situações semelhantes. São grupos que foram desamparados pelas suas associações e sindicatos durante os processos de migração e privatização do Sistema Telebrás, e que resumiram o abandono em que se encontram com a frase: está tudo dominado. E, essa afirmação calou fundo porque a justificaram: os sindicalistas hoje são governo, nas estatais ainda são patrão e sindicato a negociar entre eles próprios; e nos fundos de pensão são os administradores e conselheiros indicados pelas patrocinadoras, além de serem os representantes eleitos dos participantes e assistidos. O caminho da reorganização sindical e associativa é uma das alternativas a considerar, no curto e médio prazos, e a justiça é um instrumento de amparo que não deve ser desprezado ou negligenciado, apesar de todas as mazelas que lhe imputamos e, olha que algumas são verdadeiramente verdadeiras. De verdade! Clóvis Luís Marcolin - atuário marcolin@atuário.com.br Brasília, 27-01-2008