ASPECTOS HISTOQUÍMICOS DO PLEXO MIENTÉRICO NA DOENÇA DE CHAGAS EXPERIMENTAL

Documentos relacionados
SUDORESE EM PACIENTES COM MOLÉSTIA DE CHAGAS CRÔNICA

LUIZ CLAUDIO FERREIRA

Despopulação neuronal cardíaca em hamsters (Mesocricetus auratus) cronicamente infectados com o Trypanosoma cruzi

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DO PLEXO MIOENTÉRICO DO ESTÔMAGO DE RATOS SUBMETIDOS A LESÃO TÉRMICA CORPORAL

ESTUDO ANATOMO-PATOLOGICO DO ENCEFALO NA CARDIOMEGALIA IDIOPATICA

Revista de Saúde Pública

MOLÉSTIA DE CHAGAS AGUDA EXPERIMENTAL: PARASITISMO DO HIPOTÁLAMO

MANUAL DE RECEBIMENTO E REJEIÇÃO DE AMOSTRAS

Introdução à Histologia e Técnicas Histológicas. Prof. Cristiane Oliveira

ata Emissão:10/05/2016 Data Aprovação: 11/05/2017 Página 01 de 05

Acta Scientiarum. Health Sciences ISSN: Universidade Estadual de Maringá Brasil

INCRUSTAÇÃO FERRUGINOSA DE NEURÔNIOS NOS INFARTOS CEREBRAIS

Rev. Pat. Trop. (4): ENCEFALOAAIELITE CHAGÁSICA EXPERIMENTAL EM CÃES* ARISTIDES CHETO DE QUEIROZ**

DIAGNÓSTICO PATOLÓGICO DA MICOPLASMOSE RESPIRATÓRIA MURINA EM RATOS WISTAR

Estudo morfológico e quantitativo dos neurônios do plexo mientérico do corpo do estômago de Rattus norvegicus

PS 31 PROFISSIONAL ASSISTENCIAL III (Profissional de Histologia) Pág. 1

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA IN VIVO DA (-)-HINOQUININA, OBTIDA PELA OXIDAÇÃO CATALÍTICA DE (-)-CUBEBINA

Embriologia e Histologia Animal I

Arquivos de Neuro-Psiquiatria

PROCESSOS PATOLÓGICOS GERAIS. Prof. Archangelo P. Fernandes

EXTRATOS VEGETAIS DE PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO NO ALTO PARANAÍBA - MG

UNIPAC. Universidade Presidente Antônio Carlos. Faculdade de Medicina de Juiz de Fora PATOLOGIA GERAL. Prof. Dr. Pietro Mainenti

AULA PRÁTICA 3-02/06/2015. Roteiro de aula prática. Infecção de macrófagos por Leishmania (Leishmania) amazonensis

Estudo da estabilidade do sistema Paratest usado para diagnóstico das parasitoses intestinais Rev.00 10/01/2011

RESUMOS DE PROJETOS

A. J. A. BARBOSA (1), H. GOBBI (1), B. T. UNO (1), E. LAGES-SILVA (2), L. E. RAMIREZ (3), V. P. A. TEIXEIRA (4) e H. O. ALMEIDA (4) RESUMO

MANUAL DE ORIENTAÇÃO COLETA, ACONDICIONAMENTO E PRESERVAÇÃO DE AMOSTRAS BIOLÓGICAS

PROTEINOGRAMA DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO NA LEPRA

Demonstração de efeito citopático induzido por alguns vírus em células cultivadas "in vitro" e de corpúsculos de inclusão em tecido infectado

DISTRIBUIÇÃO E ÍNDICE DE INFECÇÃO NATURAL DE TRIATOMÍNEOS CAPTURADOS NA REGIÃO DE CAMPINAS, SÃO PAULO, BRASIL

VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA CISTERNA MAGNA

MANUAL DE RECEBIMENTO E REJEIÇÃO DE AMOSTRAS

MANUAL DE PROCEDIMENTOS

ASPECTOS NEUROLÓGICOS DA MOLÉSTIA DE CHAGAS

RESULTADOS. A análise da dupla marcação imuno-histoquímica apresentada no item

Trypanosoma cruzi Doença de Chagas

ENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NA CISTICERCOSE

POLINEUROPATIA PERIFÉRICA INDUZIDA POR BENZONIDAZOL N O T R A T A M E N T O D A D O E N Ç A D E C H A G A S

Aluna: Bianca Doimo Sousa Orientador: Prof. Dr. Jaques Waisberg. Hospital do Servidor Público Estadual

HAMMERSMITH: UMA ALTERNATIVA NO PROCESSAMENTO DE BIÓPSIAS OSTEOMEDULARES

João Roberto da Mata, Sara Dayane Santos; Fabiana Ribeiro da Mata..

ESTUDO DE NEOPLASMAS MAMÁRIOS EM CÃES 1

Despopulação neuronal pancreática em chagásicos crônicos

ESTUDO DA FREQÜÊNCIA DE PARASITAS E DE OVOS NAS CAVIDADES APENDICULARES DAS APENDICITES AGUDAS *

TÉCNICAS DE ESTUDO EM PATOLOGIA

ROTINA DO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA DA FOA / UNESP

TÉCNICA EM LABORATÓRIO / ANATOMIA PATOLÓGICA

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA V - 1º 2015

Resultados. Grupo SK/aids

Doença dos Eritrócitos

PROJETO DE PESQUISA ASPECTOS ANÁTOMO-PATOLÓGICOS DE DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO E TUMORES MÚSCULO-ESQUELÉTICOS

¹Laboratório de Doença de Chagas do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências

1 INTRODUÇÃO DAOIZ MENDOZA* CÁCIO RICARDO WIETZYCOSKI**

Departamento de Anatomia Patológica Laboratório de Multiusuário em Pesquisa UNIFESP

Introdução à Histologia Humana

Elementos do córtex cerebral

COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO DA REFORMA CURRICULAR

EMPREGO DO ANTfGENO TRÍPLICE, EM FIXAÇÃO DO COMPLEMENTO EM PLACA PARA EXCLUSÃO SOROLÓGICA DA MOLÉSTIA DE CHAGAS, SIFILIS E BRUCELOSE.

Capítulo COLORAÇÃO DAS GRANULAÇÕES DE SCHÜFFNER

Heterologous antibodies to evaluate the kinetics of the humoral immune response in dogs experimentally infected with Toxoplasma gondii RH strain

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA V 2º 2018

NOTA PRELIMINAR SOBRE TRYPANOSOMA VARIEDADE hastatus ISOLADO DE PHYLLOSTOMUS hastatus DA CAVERNA DE FERCAL - DF. BRASIL

Efeito do medicamento Canova sobre a infecção experimental em camundongos pela cepa Y de Trypanosoma cruzi

Fisiologia do sistema nervoso

MANUAL DE ORIENTAÇÃO DE CONTROLE DE QUALIDADE

Chá verde retarda envelhecimento cerebral

Introdução à Histologia

MANUAL. Contexto do Processo: Macroprocesso Geral. Fase Pré Analítica Geral. RRA s ; Responsável: Disponibilização:

Leia estas instruções:

BENEFIT e CHAGASICS TRIAL

PLANEJAMENTO DAS AULAS PRÁTICAS DO CURSO DE FARMÁCIA - 1 SEMESTRE/2019

Kitnos (etofamida) Kitnos 500 mg em embalagem contendo 6 comprimidos. Cada comprimido de Kitnos contém 500 mg de etofamida.

MICROSCOPIA E O ESTUDO DA CÉLULA

CARACTERIZAÇÃO DE UM MODELO DE PARALISIA CEREBRAL EM RATOS: COGNIÇÃO E ESTRUTURA DO HIPOCAMPO E AMÍGDALA

HISTOLOGIA. Introdução ao Estudo dos Tecidos

MANUAL DE COLETA, ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO, RECEBIMENTO E REJEIÇÃO DE AMOSTRAS.

PESQUISA DE ENDOPARASITAS EM CÃES DE COMPANHIA NA REGIÃO DE ÁGUAS CLARAS-DF

Introdução a Histologia. Profa. Dra. Constance Oliver Profa. Dra. Maria Célia Jamur

PROTEINOGRAMA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA LEPRA LEPROMATOSA

A importância do processamento histológico para o patologista: da fixação à montagem. Jorge Alberto Thomé

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE HANSENÍASE NA CIDADE DE SOBRAL 2010

DIVISÃO FUNCIONAL DO TRATO DIGESTÓRIO HUMANO

PROGRAMA FINAL Hotel Ouro Minas

Doenças Infecciosas e Transmissão de Doenças: Conceitos Básicos

CONSIDERAÇÕES SÔBRE A EPIDEMIOLOGÍA DOS PRIMEIROS CASOS AUTÓCTONES DE DOENÇA DE CHAGAS REGISTRADOS EM BELÉM, PARÁ, BRASIL (1)

HISTOLOGIA E SEUS MÉTODOS DE ESTUDO

UNITERMOS: Trypanosoma cruzi. Camundongos, infecção experimental. Macrófagos, parasitologia, infecções subcutâneas. Injeções intraperitoneais.

Serviço de Patologia. Hospital Universitário ufjf Serviço de Anatomia Patológica e Citopatologia Prof. Paulo Torres

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE BARRETOS DR. PAULO PRATA

Técnicas histológicas

LUCIANA PATRICIA ROLDI PIZZOLI

Após a administração da dose de 2000 mg/kg do MTZ-Ms em ratas, não ocorreu morte

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA

CHRISTIANE TEIXEIRA CARTELLE. PROLIFERAÇÃO EPITELIAL GÁSTRICA EM CRIANÇAS INFECTADAS POR Helicobacter pylori

Determinação da expressão de proteínas no sítio epitélio-mesênquima do Tumor Queratocístico Odontogênico: importância no comportamento tumoral

AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DO EFEITO NEFROTÓXICO EM RATOS DIABÉTICOS SUBMETIDOS À INGESTÃO DO EXTRATO DE BACCHARIS DRANCUNCULIFOLIA (ALECRIM-DO-CAMPO)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COORDENADORIA DE CONCURSOS CCV

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Dos escolares com reação de Mitsuda negativa, foram localizados 600, entre os quais 489 concordaram e compareceram para a realização dos testes.

Cursos de Enfermagem e Obstetrícia, Medicina e Nutrição. Disciplina Mecanismos Básicos de Saúde e Doença MCW 240. Aula Prática 3 Módulo Microbiologia

Transcrição:

ASPECTOS HISTOQUÍMICOS DO PLEXO MIENTÉRICO NA DOENÇA DE CHAGAS EXPERIMENTAL PLÍNIO GARCEZ DE SENA*; MOYSÉS TELES FILHO** As alterações do sistema nervoso na moléstia de Chagas experimental têm sido objeto de varias publicações, sendo particularizada a descrição de quadros histológicos (Kõberle 6 > 7-8 > 9 e Brandão 10 ). Brandão avaliou quantitativamente os neurônios simpáticos e parassimpáticos no mal de Chagas experimental em sua fase crônica, observando haver "diminuição estatisticamente não significativa dos neurônios simpáticos dos ratos chagásicos, em confronto com uma redução numérica estatisticamente significante dos parassimpáticos". Kõberle pensa que tais alterações, verificadas na fase crônica da doença experimental, se instalam durante o período agudo, quando se decide o destino do paciente chagásico. Sabendo-se que o parasitismo antecede às alterações neuronals, nos propusemos analisar, em fase aguda, os plexos mientéricos do ponto de vista enzimático. MATERIAL E MÉTODOS De um lote de 20 ratos albinos, pesando entre 25 e 30 g, inoculamos 10 com a cepa Y do Trypanosoma cruzi, na dose de 0,10 ml por via intraperitoneal, sendo os animais examinados cada 48 horas. O exame parasitêmico foi feito a fresco, entre lâmina e lamínula, com sangue retirado da cauda do animal. A parasitemia foi verificada a partir do 3' dia de inoculação, sendo encontrados 35 a 40 tripanosomas, em média, por campo microscópico. Os ratos infectados morreram na fase aguda da doença entre o 8" e 13' dias após a inoculação. Secções representativas do aparelho gastrintestinal (intestino delgado e cólon) foram fixadas em acetona a 4 C e formol tamponado à mesma temperatura: os espécimes fixados em formol foram impregnados pela prata, segundo variante do método de Gross-Bielschowsky, em cortes por congelação; segmentos intestinais fixados em acetona gelada foram utilizados para demonstração da atividade esterásica. Também foram feitas inclusões em parafina de material proveniente tanto dos arrimáis parasitados como dos animais controle, sendo as inclusões cortadas com espessura de 8 micra, em séries de 25 cortes sucessivos, totalizando uma espessura de 200 micra. Estes cortes foram corados pela hematoxilina-eosina e usados para estudo comparativo das possíveis alterações morfológicas entre os dois lotes. * Professor Adjunto de Clínica Neurológica na Universidade da Bahia; **Serviço de Neuropatologia da Universidade da Bahia.

RESULTADOS Na sua quase totalidade, quando examinados comparativamente espécimes d'j animais parasitados e controle, as células nervosas do plexo de Auerbach mostraram algumas alterações provavelmente devidas à fixação, exibindo certo grau de hipercromatismo em determinadas áreas e descoloramento em outras, o que ntio dificultou a comparação quantitativa, muito embora não fosse esse o nosso interesse no presente trabalho. Nas secções impregnadas pela prata, tanto o lote dos animais parasitados quanto os animais do grupo controle mostraram neurônios bem conservados, com seus prolongamentos axiais e dendríticos bastante visíveis. As células gliais envolvendo esses neurônios se apresentavam, quando comparadas às dos animais não parasitados, dentro dos limites normais. Os espécimes fixados em acetona gelada foram utilizados para a evidenciação da atividade esterásica. As secções foram deixadas no meio da incubação durante 15', 30' e 60', passando-se a comparar as secções obtidas de animais infectados com as do lote testemunho; para estes últimos animais a atividade esterásica se mostrou fracamente positiva aos 15 minutos e fortemente positiva aos 60 minutos; em relação aos animais parasitados, a reação mostrou-se negativa aos 15 e 30 minutos, e fracamente positiva aos 60 minutos. Em conclusão, na fase aguda da doença de Chagas as alterações morfológicas dos plexos mientéricos e a redução do número de neurônios foram pouco significativas; a atividade esterásica nos animais parasitados se mostrou diminuída, sendo presente nos animais do grupo controle. Assim, parece haver, no estado agudo da doença, diminuição da atividade esterásica antes mesmo da aparição de alterações morfológicas. RESUMO Foi comparada, na doença de Chagas experimental em ratos brancos, a atividade esterásica entre animais infectados e animais de um grupo controle. Do ponto de vista histológico ocorreram poucas alterações no plexo de Auerbach. Entretanto, a evidente diminuição da atividade esterásica parece demonstrar que os animais infectados perdem, mesmo antes da ocorrência de lesões histológicas, a citada atividade enzimática. SUMMARY Histochemical aspects of the myenteric plexus in experimental Chagas disease In experimental Chagas disease of white rats the esterase activity was compared between the infected and the control animals. Few histologic changes were found at the Auerbach plexus. The marked decrease of the esterase activity, however, seems to show that in the infected animals this activity decreases even before hystologic lesions are evident. REFERÊNCIAS 1. KÖBERLE, F. Fisiopatologia da moléstia de Chagas. Anais da IV Reunião da Associação Latino-Americana de Ciências Fisiológicas, Ribeirão Preto, julho, 1962.

2. KÖBERLE, F. Chagas's disease: its pathogenesis and significance as an epidemic. Z. Tropenmed. Parasit. 10:236, 1959. 3. KÖBERLE, F. Patogenia da moléstia de Chagas. Estudo dos órgãos musculares ocos. Rev. Goiana Med. 3:155, 1957. 4. KÖBERLE, F. Cardiopatia chagásica. O Hospital (Rio de Janeiro) 53:9, 1958. 5. KÖBERLE, F. Patofisiologia da moléstia de Chagas. II Congresso Latino- Americano de Anatomia Patológica, São Paulo, 1958. 6. KÖBERLE, F. Aperistalsis chagásica do intestino grosso: estudo quantitativo dos neurônios do plexo de Auerbach. Congresso Internacional sobre a Doença de Chagas, Rio de Janeiro, 1959. 7. KÖBERLE, F. Bronquiectasia chagásica: estudo quantitativo dos neurônios da árvore brônquica. Congresso Internacional sobre a Doença de Chagas, Rio de Janeiro, 1959. 8. KÖBERLE, F. Cardiopathia parasympathicopriva. Münchn. Med. Wschr. 101:1308, 1959. 9. KÖBERLE, F. & ALCÂNTARA, F. G. Mecanismo da destruição neuronal do sistema nervoso periférico na moléstia de Chagas. O Hospital (Rio de Janeiro) 57:1057, 1960. 10. BRANDÃO, H. J. S. Moléstia de Chagas experimental: estudo quantitativo dos neurônios simpáticos e parassimpáticos. O Hospital (Rio de Janeiro) 61: 137, 1962. Clínica Neurológica Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia Salvador, BA Brasil.