UTILIZAÇÃO DE AVALIAÇÕES FÍSICAS PARA DIAGNÓSTICO DE SAÚDE DOS SERVIDORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ RAFAEL DE PAIVA PEREIRA THIERS VIEIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ, ITAJUBÁ MINAS GERAIS RAFAVIEIRA@UNIFEI.EDU.BR VINICIUS RODRIGUES COSTA DE OLIVEIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ, ITAJUBÁ MINAS GERAIS VINICIUS@UNIFEI.EDU.BR INTRODUÇÃO A Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) é uma instituição centenária com campus em Itajubá e Itabira, ambos em Minas Gerais. Além dos pilares que constituem a universidade brasileira (ensino, pesquisa e extensão), a UNIFEI preza pela saúde e pela qualidade de vida de toda a comunidade. O Centro de Educação Física e Esportes (CEFE) é o setor da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) responsável pela gestão do esporte no campus de Itajubá, cuja missão é ofertar à comunidade UNIFEI (discentes e servidores) experiências e vivências relacionadas à Educação Física e Esportes, com foco na educação, na saúde e na qualidade de vida. Dentre as diversas atividades ofertadas pelo CEFE, há o projeto Avaliação Física para Servidor, no qual servidores que ocupam o cargo Técnico Desportivo percorrem o campus realizando atendimentos nos setores da universidade, buscando promover a saúde e a qualidade de vida por meio da conscientização do estado atual de saúde física dos participantes. Por meio de protocolos consolidados de coleta de dados antropométricos e de testes físicos, realiza-se um diagnóstico de saúde que possibilita conhecer o estado atual de saúde física em relação às capacidades força muscular, resistência muscular e flexibilidade, além de índices preditivos de risco de morte (desenvolvimento de doenças cardiovasculares, dentre outros agravos).
Assim, os resultados dos testes físicos encaminhados a cada participante servem como subsídio para início à prática físico-esportiva, embasando os parâmetros necessários à prescrição de treinamento. Este estudo tem como objetivo diagnosticar o estado de saúde física geral dos servidores da UNIFEI. Justifica-se pela possibilidade de que seu resultado embase políticas universitárias de promoção à saúde e à qualidade de vida dos servidores, além de alertar a população estudada sobre a necessidade da adoção de bons hábitos de vida. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caso de natureza descritiva sobre o estado de saúde física dos servidores da UNIFEI, cujo procedimento de coleta de dados foi a pesquisa documental. Analisou-se documentos armazenados no banco de dados do Centro de Educação Física e Esportes, referentes a avaliações físicas realizadas em 2015 com 66 servidores da UNIFEI (8 docentes e 58 técnicos-administrativos), sendo 43 homens e 23 mulheres. Servidores são todos os trabalhadores com vínculo institucional; ou seja, docentes e técnicos-administrativos. Dados de setembro de 2015 apontam 653 servidores no campus de Itajubá. Os dados utilizados nas avaliações físicas analisadas por este estudo foram: idade cronológica; estatura em metros (m); massa em quilogramas (Kg); dobras cutâneas com uso de adipômetro científico (homens: tríceps, supra-ilíaca e abdominal mulheres: subescapular, supra-ilíaca e coxa); circunferências abdominal, de cintura e de quadril com uso de fita métrica. Os protocolos/testes utilizados nas avaliações físicas analisadas neste estudo foram: - Índice de Massa Corporal (IMC), com as faixas de classificação Baixo Peso, Peso Normal, Sobrepeso, Obesidade grau I, Obesidade grau II e Obesidade grau III (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000);
- Circunferência Abdominal, com as faixas de classificação Ideal, Risco Aumentado e Risco Muito Aumentado (MARTINS; MARINHO, 2003); está associada ao risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares porque a gordura visceral geralmente está ligada a vários outros fatores de risco (colesterol aumentado, diabetes, síndrome metabólica, hipertensão, trombose, etc.); - Relação Cintura/Quadril, com as faixas de classificação Baixo Risco, Risco Moderado, Alto Risco e Muito Alto Risco; está associada à síndrome metabólica e ao risco de comorbidades (HEYWARD; STOLARCZYK, 1996); - Percentual de Gordura Corporal (GUEDES, 1994), com as faixas de classificação Excelente, Muito Bom, Bom, Média, Regular, Ruim e Muito Ruim; está associado ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares independentemente do peso; além disso, associa-se a doenças físicas e mentais em geral; - Teste de Resistência Abdominal (máximo número de execuções em 1 minuto), com as faixas de classificação Excelente, Bom, Média, Regular e Ruim (POLLOCK; WILMORE, 1993); - Teste de Resistência de Membros Superiores (máximo número de flexões de braço em 1 minuto), com as faixas de classificação Excelente, Bom, Média, Regular e Ruim (POLLOCK; WILMORE, 1993); - Teste de Flexibilidade (Banco de Wells), com as faixas de classificação Excelente, Bom, Média, Regular e Ruim (POLLOCK; WILMORE, 1993); RESULTADOS E DISCUSSÃO A idade mínima geral foi de 21 anos e a máxima de 63 anos, com média geral de 42 anos, coincidindo com os dados relativos à população masculina. Na população feminina, a idade mínima foi de 27 anos, máxima de 56 anos e média de 41,8 anos.
Tabela I: Idade. Geral Homens Mulheres Média 42,04 42,13 41,86 Mínima 21 21 27 Máxima 63 63 56 O Índice de Massa Corporal (IMC) é um índice que permite classificar dentre diversas faixas de peso. No entanto, isoladamente é parâmetro impreciso, porque não permite discriminar se o excesso de peso está ligado à exuberância do tecido gorduroso ou à hipertrofia dos músculos. Tabela II: Índice de Massa Corporal. Baixo Peso IMC < 18,5 Peso Normal IMC 18,5-25 Sobrepeso IMC 25-30 Obesidade Grau I Grau II Grau III IMC 30- IMC 35- IMC 40-35 40 45 Geral 0% 39,39% 36,36% 19,69 4,54% 0% Homens 0% 27,90% 39,53% 25,58% 6,97% 0% Mulheres 0% 60,86% 30,43% 8,69% 0% 0% Em relação ao IMC, observa-se que a população feminina está majoritariamente em peso normal (60,86%). Já a maioria da população masculina (72%) se encontra acima do peso normal: 39,53% sobrepeso e 32,55% obesidade (25,58% obesidade grau I e 6,97% obesidade grau II). Circunferência abdominal é uma medida que afere o acúmulo de gordura na região abdominal, o qual não envolve apenas questões estéticas, pois guarda relação direta com a deposição de tecido adiposo no interior da cavidade abdominal, característica associada ao aumento da mortalidade geral (decorrente principalmente de agravos cardiovasculares).
Tabela III: Circunferência Abdominal. Ideal Risco Aumentado Risco Muito Aumentado Geral 33,33% 30,30% 36,36% Homens 39,53% 27,90% 32,55% Mulheres 21,73% 34,78% 43,47% A maioria da população estudada (quase 70%) está acima do ideal em relação à medida de circunferência abdominal. Chama atenção o elevado percentual do sexo feminino na faixa de risco muito aumentado (43,47%). Relação cintura/quadril (RCQ) é um índice que afere o risco que um indivíduo possui de vir a sofrer de doenças cardiovasculares, pois quanto maior a concentração da gordura abdominal (próxima ao coração), maior o risco para o desenvolvimento de doenças do cardiovasculares. Tabela IV: Relação Cintura/Quadril. Baixo Risco Risco Moderado Alto Risco Muito Alto Risco Geral 18,18% 56,06% 19,69% 6,06% Homens 20,93% 55,81% 13,95% 9,30% Mulheres 13,04% 56,52% 30,43% 0% Quase 80% dos homens e 90% das mulheres estão em alguma faixa de risco aumentado de acordo com a relação cintura/quadril. Percentual de gordura corporal é a porcentagem de gordura que o corpo de determinado indivíduo tem. O peso corporal total inclui os valores da gordura corporal e da massa magra (músculos, órgãos, sangue, etc.). Uma certa quantidade de gordura é essencial para o organismo desempenhar funções vitais; no entanto, percentuais acima do ideal podem representar risco à saúde.
Tabela V: Percentual de Gordura Corporal. Excelente Muito Bom Bom Média Regular Ruim Muito Ruim Geral 3,03% 7,57% 12,12% 30,30% 15,15% 27,27% 4,54% Homens 4,65% 9,30% 9,30% 32,55% 13,95% 25,58% 4,65% Mulheres 0% 4,34% 17,39% 26,08% 17,39% 30,43% 4,34% Se considerarmos que aqueles que se encontram em faixas de percentual de gordura corporal de média a excelente como bons índices e maus índices estando abaixo da média; temos que 44,18% dos homens e 52,16% das mulheres em maus índices, sendo que 25,58% dos homens e 30,43% das mulheres estão na classificação ruim. O teste de resistência abdominal permite mensurar a capacidade da musculatura abdominal desempenhar atividade até a fadiga, possibilitando classificar o resultado entre índices de nível físico. Tabela VI: Resistência Abdominal. Excelente Bom Média Regular Ruim Geral 18,18% 24,24% 18,18% 19,69% 18,18% Homens 20,93% 20,93% 13,95% 18,60% 23,25% Mulheres 13,04% 30,43% 26,08% 21,73% 8,69% Comparando-se a resistência abdominal entre gêneros, mais homens (41,85%) estão nas faixas de maus índices (mulheres 30,42%). O teste de resistência de membros superiores (teste de flexão de braços) permite mensurar a capacidade das musculaturas peitoral e tricipital desempenhar atividade até a fadiga, possibilitando classificar o resultado entre índices de nível físico.
Tabela VII: Resistência de Membros Superiores. Excelente Bom Média Regular Ruim Geral 4,54% 12,12% 33,33% 24,24% 24,24% Homens 6,97% 2,32% 23,25% 30,23% 34,88% Mulheres 0% 30,43% 52,17% 13,04% 4,34% Enquanto apenas 17,38% das mulheres estão nas faixas regular e ruim de resistência de membros superiores, nos homens essa taxa é de 65,11%, sendo que a maioria destes (34,88%) está na pior classificação possível. O teste de sentar e alcançar (banco de Wells) permite avaliar a flexibilidade da articulação coxofemoral, possibilitando classificar o avaliado entre índices de flexibilidade geral. Tabela VIII: Flexibilidade. Excelente Bom Média Regular Ruim Geral 42,42% 10,60% 19,69% 3,03% 24,24% Homens 32,55% 6,97% 25,58% 4,65% 30,23% Mulheres 60,86% 17,39% 8,69% 0% 13,04% Enquanto 78,25% das mulheres estão nas classificações de flexibilidade excelente e bom, nos homens essa taxa é de apenas 39,52%. Além disso, enquanto apenas 13,04% das mulheres estão nas classificações regular e ruim, nos homens essa taxa é de 34,88%. Baixa resistência muscular e flexibilidade reduzida estão associadas ao sedentarismo e a dificuldades de execução das atividades de vida diária (atividades comuns ao dia-a-dia, tais como: subir escadas, calçar meias, levantar da cadeira, entre outras).
Observa-se que a maioria dos homens está com índices fora do ideal em quatro dos sete atributos analisados; já a maioria das mulheres está fora do índice ideal em três dos sete. Comparando-se homens com mulheres, nota-se que os homens apresentam índices piores em quatro dos sete testes. CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível inferir que a maioria dos sujeitos do estudo trabalha desempenhando serviços administrativos, passando períodos prolongados na posição sentada, o que caracteriza baixa demanda metabólica. Além disso, pelos resultados encontrados, grande parte da amostra estudada apresenta hábitos de vida sedentária. Os resultados demonstram que a população estudada está em condições de saúde física abaixo do desejável. Relacionando-se todos os testes analisados, há sinais claros de que existe risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras complicações decorrentes, as quais podem limitar a independência física dos indivíduos, prejudicandoos em termos de saúde e qualidade de vida. A permanência no estilo de vida atual dos sujeitos que tiveram resultados abaixo do ideal acarretará em piora progressiva com o passar do tempo, resultando em más condições de saúde e de qualidade de vida. Sabe-se que um programa de exercícios físico-esportivos, aliado a um programa de reeducação alimentar, ambos orientados por profissionais, podem alterar o quadro atual de saúde dos servidores da UNIFEI. Para isso, faz-se necessário que cada servidor procure aderir ao programa de atividades que mais goste, inserindo-o em sua rotina. Vale lembrar que o Centro de Educação Física e Esportes da UNIFEI oferta diversos projetos físico-esportivos semestralmente, gratuitos, abertos a alunos e servidores, todos coordenados pelos Técnicos Desportivos. É possível acessar dados relativos às atividades, dias e horários na página do CEFE no endereço eletrônico http://www.unifei.edu.br/gestao_de_pessoas/cefe/servicos.
REFERÊNCIAS GUEDES, D.P. Composição: Princípios, técnicas e aplicações. Londrina: Apef, 1994. HEYWARD, V. H.; STOLARCZYK, L. M. Applied body composition assessment. Human Kinetics, 1996. MARTINS, I. S.; MARINHO, S. P. O potencial diagnóstico dos indicadores da obesidade centralizada. Rev. Saúde Pública, v. 37, n. 6, p. 760-767, dez. 2003. POLLOCK, M. L.; WILMORE, J. H.; FOX, S. M. Exercícios na saúde e na doença. Rio de Janeiro: Medsi, p. 231-605, 1993. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the global epidemic. World Health Organization, 2000.