Shutterstock Pé na tábua De olho em empreendimentos com potencial de crescimento rápido e ideias inovadoras, aceleradoras ganham espaço no cenário nacional POR CAMILA AUGUSTO Já existem dezenas delas nos Estados Unidos, mas no Brasil estão surgindo agora: aceleradoras de empresas e programas de aceleração ganham força no país. Esses novos atores de estímulo à inovação nascem com a promessa de aproximar empreendimentos com potencial de crescimento rápido de investidores e possíveis compradores. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife são algu- 66
mas das cidades que possuem iniciativas do gênero. O Armazém da Criatividade criado neste ano pelo parque tecnológico Porto Digital, do Recife (PE), em parceria com a Jereissati Participações e o Instituto Talento Brasil (ITB) receberá as primeiras start-ups a partir do primeiro semestre de 2013. O Porto Digital é um ambiente complexo. Já trabalhamos com a frente de formação de profissionais. Também temos duas incubadoras uma de base tecnológica e outra de Economia Criativa, além do C.E.S.A.R [Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife]. Precisávamos de um elemento que completasse isso um espaço que vai ser suprido pelo Armazém da Criatividade. Estamos sofisticando nossas estratégias de fomento ao empreendedorismo inovador, afirma o diretor-presidente do Parque, Francisco Saboya. De acordo com Saboya, o papel da aceleradora será o de fornecer aos empreendimentos um contato mais direto com o investidor, algo que as incubadoras não oferecem atualmente. Enquanto a incubadora tradicional está mais preocupada em capacitar um empreendimento em termos de gestão e qualidade técnica, disponibilizando suporte também de infraestrutura, a aceleradora trabalha com start-ups que já possuem projetos atrativos, oferecendo uma janela para o capital de risco ou para um possível comprador, explica. As empresas interessadas em fazer parte do programa terão que passar por um processo seletivo. Os projetos aprovados participarão de um ciclo de aceleração de cinco meses, que será concluído com um evento de apresentação a investidores. Os selecionados contarão, desde o início, com recursos de capital semente de até R$ 40 mil, para ajudar no início da operação do empreendimento. O financiamento será realizado pela Jereissati Participações. Incubadoras e aceleradoras possuem um objetivo em comum: ajudar empreendimentos nascentes. Apesar disso, são entidades que guardam muitas diferenças entre si e se complementam. As incubadoras geralmente estão associadas a instituições públicas e recebem recursos governamentais. Já as aceleradoras são privadas e, como forma de obter recursos, adquirem participações das empresas a serem aceleradas. Em Recife, por exemplo, apesar de o Armazém da Criatividade ter surgido como uma política pública do governo de Pernambuco, que cedeu um prédio para a aceleradora, o projeto está sendo financiado pela Jereissati Participações. Outra distinção está relacionada aos processos adotados por elas. A incubação dura em média três anos, enquanto a aceleração, em geral, dura seis meses, no máximo. Enquanto as incubadoras têm como principal proposta o valor do espaço físico, da infraestrutura e, algumas vezes, de certas consultorias, as aceleradoras oferecem principalmente know-how em gestão, acesso a mercados e relacionamento com mentores muito qualificados, geralmente Evento marcou a assinatura do convênio entre o Porto Digital e o governo do Estado de Pernambuco para a criação do Armazém da Criatividade Andreia Rego Barros 67
68 Fotos: Divulgação Aceleradora itinerante Startup Farm em evento em São Paulo (acima). Na edição de Belo Horizonte, Felipe Matos (à dir.), CEO da Startup Farm, e Alex Tabor, do Peixe Urbano, que apoia start-ups que se conectam ao seu negócio profissionais muito bem-sucedidos e renomados em suas áreas de atuação, explica Felipe Matos, CEO da Startup Farm, aceleradora itinerante de start-ups digitais, que oferece programas de 10 e 30 dias. A aceleradora já passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. O público-alvo também é diferenciado. Normalmente, as incubadoras buscam apoiar pequenas empresas de acordo com alguma diretiva governamental ou regional como, por exemplo, incentivar projetos de biotecnologia devido à proximidade de algum centro de pesquisa nessa área, explica Yuri Gitahy, que fundou, em 2008, a empresa Aceleradora, uma das primeiras do país. Aceleradoras, por sua vez, são focadas em empresas que tenham o potencial para crescer muito rápido não em uma necessidade prévia. Justamente por isso, aceleradoras buscam start-ups escaláveis, e não somente uma pequena empresa promissora, destaca. Essa é uma das razões que faz com que o processo de seleção de empreendimentos para aceleração priorize aspectos diferentes. As incubadoras pedirão seu plano de negócio. Aceleradoras estudarão seu modelo de negócio. A verba pública que normalmente apoia as incubadoras pede maior formalidade e transparência na avaliação de projetos, além da necessidade de mais critérios para avaliar um plano completo. Aceleradoras apostam somente em uma boa ideia, explica Gitahy. A aceleração seria uma etapa posterior à incubação. As aceleradoras atuam normalmente em um estágio pós-incubadora. Na incubadora, os empreendedores investem no início do desenvolvimento do produto e da própria equipe, ou seja, começam a ganhar alguma velocidade. É a partir desse momento que as aceleradoras podem ajudar a aumentar essa velocidade de crescimento, principalmente na busca por validar um modelo de negócios com potencial de ter escala, afirma Rafael Duton, um dos fundadores da 21212 Digital Accelerator, com escritórios no Rio de Janeiro e em Nova York, e foco em negócios digitais. Porém, algumas incubadoras já estão se aventurando a oferecer programas de aceleração, como a Fumsoft, de Belo Horizonte (MG). Este ano, ela passou a ofertar esse novo tipo de mecanismo a empreendimentos da área de Tecnologia da Informação. A principal novidade é que as empresas deverão seguir um projeto de aceleração, terão facilidade de acesso a investidores e receberão coaching para a elaboração do pitch (termo utilizado por investidores para definir uma apresentação curta sobre a start-up).
As aceleradoras são instituições novas e ainda têm um longo caminho pela frente para demonstrar sua eficiência. Na opinião de Yuri Gitahy, da Aceleradora, os principais desafios enfrentados por elas são a falta de histórico de operação, a dificuldade de captar investimentos suficientes já que investidores e fundos preferem eles mesmos aplicar seu capital e a falta de liquidez das start-ups. Um dos pontos mais importantes, segundo Gitahy, é o financiamento das aceleradoras, que precisam ter capital próprio suficiente ou captar aportes de investidores para manterem suas operações. A pergunta importante é: quem manterá uma operação competitiva e trará resultados de médio e longo prazo?, avalia. Para Francisco Saboya, do Porto Digital, a base do sucesso de uma aceleradora está em dois fatores: conexão com o mundo empresarial, para a formação de uma rede de mentores, e acesso ao capital de risco. Se esses dois aspectos não são Yuri Gitahy, da Aceleradora: seleção leva em conta start-ups com boas ideias e potencial para crescimento rápido Divulgação _INCUBADORA OU ACELERADORA? Como o empreendedor pode saber se é melhor ingressar em uma incubadora ou participar de um processo de aceleração? Não existe uma resposta pronta, mas uma das palavras-chave é escalabilidade ou seja, o negócio precisa ter capacidade de crescer rápido sem ter que aumentar de maneira excessiva suas despesas e equipes, por exemplo. Se sua start-up está em busca de uma inovação radical ou de um modelo de negócios escalável e repetível, procure uma aceleradora. Se o seu modelo de negócios é baseado na economia tradicional, procure uma incubadora, orienta Yuri Gitahy, da Aceleradora. Incubadora Tempo médio de três anos, dependendo da área É baseada no modelo de consultoria Seu foco é capacitar empreendimentos em termos de gestão e qualidade técnica, além de oferecer infraestrutura Em geral tem como base recursos públicos Aceleradora Dura de um a seis meses Possui como base uma rede de mentores O objetivo é possibilitar crescimento rápido do empreendimento e aproximá-lo de investidores ou compradores São baseadas em capital privado. Adquirem participações das empresas aceleradas 69
_CONHEÇA ALGUMAS DAS ACELERADORAS BRASILEIRAS Belo Horizonte (MG) > Aceleradora - Foi fundada em 2008, por Yuri Gitahy, com o objetivo de apoiar start-ups com gestão e capital semente. Já apoiou mais 200 start-ups com mentoring. Rio de Janeiro (RJ) > 21212 Digital Accelerator - Combinando no seu nome os códigos de área de telefonia do Rio e de Nova York, a 21212 criada no ano passado oferece um processo de aceleração de seis meses voltado para negócios digitais. Os selecionados ganham R$ 200 mil em serviços e, em troca, a aceleradora recebe 20% do capital do empreendimento. Recife (PE) > Armazém da Criatividade - O projeto do Porto Digital e da Jereissati Participações teve sua criação anunciada neste ano. O processo de aceleração das primeiras start-ups vai começar no primeiro semestre de 2013 e terá duração de cinco meses. São Paulo (SP) > Wayra - projeto da Telefônica implantado no Brasil desde o ano passado. Seleciona 30 start-ups para aceleração de uma semana e, depois, escolhe 10 empreendimentos para se instalar por um período inicial de seis meses em um prédio chamado Academia Wayra, em São Paulo. > Tree Labs Inaugurada neste ano, realiza atualmente a aceleração de seus primeiros seis empreendimentos. O processo possui duração de quatro meses. No próximo ano, receberá duas novas turmas de empresas. Nacional > Startup Farm Essa aceleradora possui uma proposta diferente. É itinerante e realiza programas de aceleração em várias cidades do país com duração de 10 ou 30 dias. Já passou por cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. contemplados, não é um processo de aceleração apropriado. Nós esperamos que a nossa parceria com a Jereissati Participações possa contribuir com a rede de mentores. Aqui no Nordeste já temos alguns fundos atuantes, além de uma empresa de participações no Porto Digital. Não é o suficiente, gostaríamos que fossem dezenas, mas já é uma quantidade relevante, afirma. Na opinião de Felipe Matos, do Startup Farm, os principais desafios são selecionar bons projetos e, principalmente, empreendedores. É preciso encontrar times que consigam absorver bem o processo de aceleração e responder aos feedbacks recebidos com velocidade e coerência. Para esse processo ser efetivo, precisam contar com excelentes mentores, conteúdo e ferramentas metodológicas. Enfrenta-se também um desafio na saída, que é conseguir vender suas participações acionárias nestas empresas, realizando o lucro sobre o investimento inicial, explica. Além disso, há os ricos inerentes aos próprios empreendimentos. É um problema que não é específico do Brasil. A mortalidade das start-ups é grande no mundo todo. Mas já está comprovado que é possível reduzir essa mortalidade através de mentoria e de fornecimento de estrutura, afirma Anthony Eigier, um dos fundadores da recém-inaugurada Tree Labs, que começou a operar neste ano em São Paulo e acelera, atualmente, seis empreendimentos. O número de aceleradoras deve aumentar no Brasil nos próximos anos. Além das já existentes, há diversos projetos semelhantes pelo país. É provável que o número aumente, principalmente por meio da expansão para outras áreas que não apenas o mercado digital. Nos Estados Unidos o modelo começou em 2005 e, atualmente, já são mais de 100 aceleradoras lá, afirma Rafael Duton, da 21212. L 70