PARECER CRM/MS N 16-2016 PARECER CRM/MS N 16/2016 PROCESSO CONSULTA CRM-MS 20/ 2016 INTERESSADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL ASSUNTO: QUESTIONAMENTO SOBRE ESCALADE MÉDICOS E DIRETORES CLINICOS PARECERISTA: Cons. Rosana Leite de Melo EMENTA: Todo Serviço Hospitalar deverá ter suas dimensões projetadas conforme a responsabilidade de cobertura populacional e especialidades que oferece na organização regional, reiterando que a segurança no atendimento do paciente deve nortear todas as regras também visando um trabalho salubre de toda a equipe assistencial. ; Palavras chave: Segurança do paciente; Plantão; Estabelecimento de Saúde Da Consulta O Promotor de Justiça, W.M.S.J., no uso de suas atribuições legais, envia ofício de solicitação de parecer a este egrégio Conselho com os seguintes questionamentos: 1- Qual a quantidade necessária de médicos para que um hospital público possa realizar o regime de escala? 2- O Diretor Clínico pode ou deve participar do regime de escala? 3- Quais os horários de folga necessários entre uma escala e outra, para que o médico possa desenvolver bem seu trabalho? 4- Se o Hospital Público de Paranhos/MS está obedecendo os atos normativos do CRMMS ( envia em anexo a tabela de escala de plantões e reitera que participam de escala de plantão três médicos)? Fundamentação 1
Plantão significa, conforme o dicionário Silveira Bueno, o serviço interrupto em redação, hospitais, etc. Dessa forma é evidente que há a necessidade de prestação de um serviço de forma contínua e ao se referir à área da assistência à saúde, não apenas o valor de continuidade temporal mas principalmente de qualidade deste atendimento pelo estabelecimento de saúde, ademais a Segurança do Paciente deve ser alcançada em todos os níveis de atendimento. A importância é tão premente que a Organização Mundial de Saúde (OMS) instou os Estados-Membros com vistas a chamar sua atenção para a Segurança do Paciente. No Brasil, o Programa Nacional de Segurança do Paciente foi instituído pelo Ministério da Saúde em abril de 2013, com o objetivo geral de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde, em todos os estabelecimentos de Saúde do território nacional, quer públicos, quer privados. A instituição do Programa reflete o movimento mundial na direção da assunção por parte dos Estados de sua obrigação de proteger os pacientes dos danos decorrentes dos cuidados em saúde e de prover o acesso a bens e serviços de saúde de qualidade. Na resolução CFM 2.077/2014 que dispõe sobre a normatização do funcionamento dos Serviços Hospitalares de Urgência e Emergência, bem como do dimensionamento da equipe médica e do sistema de trabalho, nos traz que: Todo Serviço Hospitalar de Urgência e Emergência deverá ter suas dimensões projetadas conforme a responsabilidade de cobertura populacional e especialidades que oferece na organização regional. Para fins de dimensionamento do número de profissionais médicos necessários para o adequado atendimento nos Serviços Hospitalares de Urgência e Emergência, recomenda-se o cálculo do volume anual de pacientes e sua posterior distribuição pelo número de profissionais médicos contratados e respectivas cargas horárias. Isto se refere aos médicos que prestam o primeiro atendimento, os emergencistas. Em relação a questão da duração do plantão médico há também que se considerar as questões trabalhistas e não há uma normatização pelo CFM sobre a duração do plantão médico, alguns conselhos regionais já se manifestaram a este respeito. Assim, o Parecer 07/2010 do CRM-PB tem em sua ementa: A carga horária do plantonista médico é aquela prevista no Regimento Interno da instituição de saúde que geralmente varia entre 06 a 12 horas, devendo ser respeitado o contrato de trabalho. Por outro 2
lado, a resolução do CREMESP 90/2000 proíbe a prestação de plantões com carga horária superior a 24 horas. As características da atividade do plantão pressupõem a presença do plantonista, ainda mais considerando as peculiaridades da atividade médica e principalmente as situações de urgência e/ou emergência. Na busca a pareceres sobre fracionamento de plantão não encontramos manifestação sobre o assunto, ainda que na CLT a questão de carga horária e descanso seja abordada. No sentido de se preservar a Segurança do Paciente, recomenda-se que sejam instituídas horas de descanso da equipe médica de plantão nas emergências, principalmente após seis horas do inicio do mesmo. Conforme o Parecer 4/2012/PA em relação à periodicidade e tempo de repouso de médico plantonista, há a recomendação: a) Não havendo legislação específica sobre o assunto, sendo certo que cada estabelecimento de saúde deve regulamentar a forma e condições de trabalho de seus plantonistas; b) Deve ser levado em conta que a Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que em qualquer trabalho continuo, cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso e alimentação. c) Para os médicos plantonistas não celetistas (quando não existe contrato de trabalho) não há lei que disponha sobre o assunto, podendo eles, no entanto, repousar, desde que não tenham pacientes para serem atendidos, em instalações adequadas de acordo com as normas internas do hospital; d) a obrigação do plantonista é realizar atos médicos durante o período de trabalho correspondente ao plantão, podendo, no entanto, quando não existir atendimento, repousar em local adequado e de acordo com as normas do hospital. Conforme a resolução CFM nº 2.147/2016 que estabelece normas sobre a responsabilidade, atribuições e direitos de diretores técnicos, diretores clínicos e chefias de serviço em ambientes médicos. no seu Art. 4º O diretor clínico é o representante do corpo clínico do estabelecimento assistencial perante o corpo diretivo da instituição, notificando ao diretor técnico sempre que for necessário ao fiel cumprimento de suas atribuições. É um membro do corpo clínico eleito por ele. 3
De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)- http://cnes2.datasus.gov.br/, o Hospital Maternidade Nossa Senhora da Conceição, Hospital Municipal de Paranhos, possui atendimento ambulatorial, internação, urgência e emergência, sendo o fluxo por demanda espontânea ou referenciada, abrangendo atendimento de baixa e média complexidade. Possui 10 leitos assim distribuídos: Cirurgia Geral (01), Clínica Geral (04), Obstetrícia Clínica (2) e Pediatria Clínica(3). Há cadastrados 6 médicos e 18 outros profissionais. Do Parecer: Diante do exposto, passamos a responder aos questionamentos: 1- Qual a quantidade necessária de médicos para que um hospital público possa realizar o regime de escala? Conforme fundamentado tal número dependerá das características locais e poderá se utilizar a fórmula citada na Urgência e Emergência, reiterando que a Segurança do Paciente deve nortear tais determinações. 2- O Diretor Clínico pode ou deve participar do regime de escala? O Diretor Clínico é membro do Corpo Clínico não havendo vedação de sua participação nas escalas de plantão Não há obrigatoriedade, salvo quando há falta a plantão por médico da escala, o mesmo deverá ser acionado para realizá-lo quando acumula as funções de Diretor Técnico, tornando-se uma obrigação fazê-lo. 3- Quais os horários de folga necessários entre uma escala e outra, para que o médico possa desenvolver bem seu trabalho? Conforme fundamentado anteriormente, reiterando sempre a Segurança do Paciente. 4- Se o Hospital Público de Paranhos/MS está obedecendo os atos normativos do CRMMS 4
( envia em anexo a tabela de escala de plantões e reitera que participam de escala de plantão três médicos)? Conforme citado o Hospital de Paranhos é um Hospital de pequeno porte, possuidor de seis médicos cadastrados, porém a escala apresentada evidencia que três médicos se revezam na escala de plantões (24h/dia/7 dias/semana). Há que se considerar as características locais, o número de atendimentos, a disponibilidade destes profissionais, visando sempre o melhor atendimento à população de acordo com as normas técnicas e éticas. Caso haja alguma situação concreta em que não esteja sendo conseguido a melhor assistência a população que seja encaminhado a este Conselho denuncia a qual seguirá os trâmites legais. Conselheira Rosana Leite de Melo Campo Grande, 30 de outubro de 2016 Parecer Aprovado na Sessão Extraordinária do dia 31.10.2016 Dra. Rosana Leite de Melo Presidente 5