RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA N. 001/2014
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- Benedito Avelar Zagalo
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1 RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA N. 001/2014 OBJETO: ADEQUADA E REGULAR PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE PERANTE O HOSPITAL SANTA TEREZA/INSTITUTO VIRMOND DE GUARAPUAVA (PR) CONSIDERANDO as informações recebidas nesta Promotoria de Justiça a respeito das dificuldades dos pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde em conseguir atendimento e internamento, em casos de urgência e emergência, no Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond, deste município de Guarapuava/PR; CONSIDERANDO que a situação clínica de urgência é definida como uma ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata, conforme prescreve o art. 1º, 1º, da Resolução nº 1451/95 do Conselho Federal de Medicina; CONSIDERANDO que a situação clínica de emergência implica em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo portanto, tratamento médico imediato (Artigo 1º, 2º, da Resolução nº 1451/95 do Conselho Federal de Medicina); CONSIDERANDO que, conforme determinação do art. 1º, caput, da Resolução nº 1451/95 do Conselho Federal de Medicina: os estabelecimentos de Prontos Socorros Públicos e Privados deverão ser estruturados para prestar atendimento a situações de urgência-emergência, devendo garantir todas as manobras de sustentação da vida e com condições de dar continuidade à assistência no local ou em outro nível de atendimento referenciado ; CONSIDERANDO que a demora ou recusa no atendimento de situações de urgência e emergência em qualquer hospital (independentemente de ser ou não contratado ou conveniado ao SUS) podem acarretar a prisão em flagrante e a responsabilização criminal dos médicos plantonistas e diretores dos Hospitais, por crime de omissão de
2 socorro (art. 135 do Código Penal), crime de lesões corporais (art. 129 do Código Penal) ou ainda, eventual crime de homicídio (art. 121 do Código Penal); CONSIDERANDO que a falta de vaga para internação do paciente (inclusive por eventualmente não ser o estabelecimento vinculado ao SUS), não justificam a omissão do médico responsável em prestar pronto atendimento nos casos de urgência e emergência, conforme dispõe o artigo 7º, do Código de Ética Médica, segundo o qual é vedado ao médico Deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo respaldado por decisão majoritária da categoria; CONSIDERANDO ainda mais, que nem mesmo a ausência do profissional especializado em determinada área justifica a omissão do médico responsável em prestar pronto atendimento nos casos de urgência e emergência, conforme dispõe o artigo 7º, do Código de Ética Médica, segundo o qual é vedado ao médico Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência, quando não haja outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo. CONSIDERANDO que eventual ausência de médico plantonista para prestar atendimento aos casos de urgência e emergência é de responsabilidade direta do Diretor Clínico do Hospital (conforme previsão do artigo 3º da Resolução nº 1342/91 do Conselho Federal de Medicina), acarretando sua responsabilidade pelas condutas criminosas acima referidas; CONSIDERANDO, portanto, que o não atendimento integral da urgência/emergência, quer seja por falta de profissionais médicos, quer seja por estarem os eventuais leitos do SUS de determinado hospital ocupados, ou não ser o estabelecimento contratado/conveniado com o SUS, não são pretextos para negativa de atendimento de qualquer pessoa em urgência ou emergência, sendo certo que, nesses casos, os
3 custos da assistência terapêutica integral a usuário do SUS deverão ser cobrados do SUS por parte do hospital, posteriormente, utilizando todos os meios legais lícitos para ressarcimento, quer seja na via administrativa ou judicial; CONSIDERANDO que a Lei Federal n.º 8080/90, em seu artigo 2.º, preconiza que a saúde é um direito fundamental do ser humano ; CONSIDERANDO, também, o artigo 22, da LOS, que aponta que na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às condições para seu funcionamento ; CONSIDERANDO a Lei Estadual n.º 14254/03, que em seu artigo 2.º, incisos I, V e X, expressa que: são direitos dos usuários dos serviços de saúde no Estado do Paraná: I- ter um atendimento humano, digno, atencioso e respeitoso, por parte de todos os profissionais de saúde; (...) V- receber do funcionário adequado, presente no local, auxílio imediato e oportuno para a melhoria de seu conforto, bem-estar e saúde; (...) ; CONSIDERANDO o inciso XXVIII, da mesma norma estadual, também é direito dos usuários dos serviços de saúde no Estado do Paraná a assistência adequada, mesmo em períodos noturnos, festivos, feriados ou durante greves profissionais ; CONSIDERANDO, da mesma forma, que o artigo 2.º, da Portaria GM/MS n.º1820/2009, aponta que toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços ordenados e organizados para garantia da promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saúde, e o artigo 3.º, que toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no tempo certo para resolver seu problema de saúde ; CONSIDERANDO a recente dicção do art. 2º da Lei Federal n , de 28 de maio de 2012: O estabelecimento de saúde que realize atendimento médicohospitalar emergencial fica obrigado a afixar, em local visível, cartaz ou equivalente, com a seguinte informação: Constitui crime a
4 exigência de cheque-caução, de nota promissória ou de qualquer garantia, bem como do preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial, nos termos do art. 135-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de Código Penal. CONSIDERANDO o disposto nos artigos 1º, incisos II e III; e 3º, inciso IV, ambos da Constituição Federal, que impõem, respectivamente, como fundamentos da República Federativa do Brasil, "a cidadania" e a "dignidade da pessoa humana" e como seu objetivo primeiro, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer formas de discriminação"; CONSIDERANDO que ao Ministério Público compete zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia, conforme previsão do artigo 129, inciso II, da Constituição Federal; CONSIDERNADO que o Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond é credenciado ao SUS e, segundo cadastro do CNES, possui 156 (cento e cinquenta e seis) leitos do SUS, dentre os quais 19 (dezenove) para UTI s Adulto, Pediátrica e Neonatal, 21 (vinte e um) obstétricos e 19 (dezenove) pediátricos; CONSIDERANDO que o Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond, segundo cadastro do CNES, tem em seus quadros, ativos e credenciados pelo SUS, vários médicos, dentre eles nas áreas de obstetrícia e pediatria, bem como em outras especialidades; CONSIDERANDO que foi pactuado entre o Estado do Paraná e o Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond o contrato nº /2013, no valor de R$ ,72 anual e que o atraso no repasse das verbas não é justificativa par ao não cumprimento do contrato já assinado e publicado; CONSIDERANDO, ainda, o artigo 27, parágrafo único, inciso IV, da Lei Federal n.º 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, o qual faculta ao Ministério Público expedir
5 Recomendação Administrativa aos órgãos da Administração Pública direta e indireta, bem como às entidades que executem serviços de relevância pública, requisitando ao destinatário adequada e imediata divulgação, assim como resposta por escrito; RECOMENDA ADMINISTRATIVAMENTE, O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, pela 8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GUARAPUAVA, com atribuição na defesa da saúde pública, no exercício das suas funções institucionais, aos senhores Diretores, Provedores ou responsáveis pelo Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond, à 5ª Regional de Saúde e ao Secretário de Estado de Saúde do Paraná, bem como quem lhes venha a suceder ou substituir no seu cargo, para que adotem todas as providências necessárias para: 1. promoção imediata de atendimento a todos e quaisquer pacientes nas situações de URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MÉDICAS, informando aos profissionais que atuam no respectivo nosocômio sobre as consequências criminosas da demora ou recusa no atendimento nesses casos, que pode acarretar a prisão em flagrante e a responsabilização criminal de quem (Diretores, médicos, enfermeiros, recepcionistas, etc) obstar o imediato tratamento médico da pessoa em risco iminente de vida ou sofrimento intenso; 2. Obtenção de ressarcimento de todos os respectivos custos suportados pelo Hospital nessa assistência terapêutica integral a pacientes usuários do SUS, pelas vias legalmente disponíveis, administrativas ou judiciais, em face das gestões municipal (Secretaria Municipal de Saúde) e estadual (Secretaria de Estado da Saúde) do Sistema Único de Saúde; 3. Que, em eventual negativa de atendimento por parte do referido nosocômio, em absoluto descumprimento ao contrato ora firmado, bem como em descumprimento as regras de credenciamento junto ao SUS, a 5ª Regional de Saúde, bem como a Secretaria de
6 Estado de Saúde tomem as providências necessárias, administrativas, civis e criminais, que lhe são competentes, haja vista os princípios da continuidade e eficiência do serviço público, de modo que os serviço público essencial de saúde não pode ser interrompido e deve ser garantido pelo Estado, na figura de seu ente federativo Estado do Paraná; 4. Em cumprimento do art. 2º da Lei Federal n , de 28 de maio de 2012, mediante afixação de cartaz ou equivalente, em local visível, com a seguinte informação: Constitui crime a exigência de cheque-caução, de nota promissória ou de qualquer garantia, bem como do preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial, nos termos do art. 135-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de Código Penal. REQUISITA-SE que as autoridades destinatárias da presente recomendação, nos limites de suas atribuições, PROVIDENCIEM empréstimo de publicidade e divulgação adequada e imediata dos seus termos em local visível no âmbito de todas as repartições do Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond, 5ª Regional de Saúde e Secretaria de Estado de Saúde do Paraná, assim como encaminhem resposta por escrito ao representante do Ministério Público local, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro horas), informando sobre o cumprimento de tal determinação, providência respaldada na previsão legal do artigo 27, parágrafo único, inciso IV, da Lei 8.625/93, sob pena de adoção das providências extrajudiciais e judiciais aplicáveis à espécie; REQUISITA-SE que as autoridades destinatárias da presente recomendação, nos limites de suas atribuições, encaminhem resposta por escrito ao representante do Ministério Público local, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, haja vista a urgência que o caso requer, informando sobre o acolhimento ou não da presente recomendação, providência respaldada na previsão legal do artigo 27, parágrafo único,
7 inciso IV, da Lei 8.625/93, sob pena de adoção das providências extrajudiciais e judiciais aplicáveis à espécie. Assevere-se que o não atendimento à presente obrigará esta Promotoria de Justiça à adoção das providências para persecução criminal por infração, em tese, aos artigos 132, 135, 121 ou 129, todos do Código Penal, em relação a cada atendimento médico de urgência ou emergência deixar de ser realizado exclusivamente pela falta de atendimento médico, sobretudo quando levar à morte ou a lesão corporal no paciente, e também comunicação ao Conselho Regional de Medicina para apuração de possíveis infrações éticas, sem prejuízo de interposição das respectivas ações de indenização por danos materiais e/ou morais cabíveis, sobretudo contra o respectivo nosocômio. São os termos da recomendação administrativa do Ministério Público do Estado do Paraná. Dê-se ciência, por ofício, ao Secretário Municipal de Saúde, à Regional de Saúde da SESA, ao Conselho Municipal de Saúde e ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná, à Secretaria de Estado de Saúde, mediante encaminhamento via fax, com posterior remessa física e ao Hospital Santa Tereza/Instituto Virmond. Guarapuava/PR, 08 de janeiro de CAROLINE CHIAMULERA Promotora de Justiça
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