A assinatura do autor por LUCIANE DO ROCIO CUSTODIO LUDOVICO:8089 <lcl@tjpr.jus.br> é inválida Tribunal de Justiça do Estado do Paraná AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.358.447-7 VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES, INFÂNCIA E JUVENTUDE, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL DA COMARCA DE PARANAVAÍ - 11ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ APELANTE: ANTÔNIO GONÇALVES VICENTE APELADO: TÉRCIO BASTOS DE MELLO JUNIOR RELATORA: JUÍZA SUBST. 2º GRAU LUCIANE R.C. LUDOVICO (EM SUBSTITUIÇÃO À DESEMBARGADORA LENICE BODSTEIN) APELAÇÃO CÍVEL. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA. DÚVIDA ACERCA DA NECESSIDADE OU NÃO DE APRESENTAÇÃO DE CERTIDÕES DE FEITOS AJUIZADOS. INCORPORAÇÃO DE BENS IMÓVEIS À SOCIEDADE EMPRESÁRIA. INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL. DESNECESSIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA. MERO REGISTRO JUNTO AO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS. OFICIAL DO CARTÓRIO QUE AGIU COM PRUDÊNCIA AO SOLICITAR A DOCUMENTAÇÃO. SEGURANÇA JURÍDICA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1.358.447-7, da VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES, INFÂNCIA E JUVENTUDE, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL DA COMARCA DE PARANAVAÍ, em que é Apelante ANTÔNIO GONÇALVES VICENTE e Apelado TÉRCIO BASTOS DE MELLO JUNIOR. I RELATÓRIO. Trata-se de recurso de Apelação Cível interposto por ANTÔNIO GONÇALVES VICENTE, em face da r. sentença proferida nos autos de suscitação de dúvida n.º 0006536-19.2014.8.16.0130, pela qual o MM. Juiz a quo julgou procedente a pretensão inicial e considerou legítima a recusa do Oficial em lavrar o ato requerido enquanto as exigências não Página 1 de 5
forem cumpridas. Em suas razões, a apelante sustenta, em síntese: a) que não é caso de compra e venda e nem de escrituração pública, de modo que a documentação exigida é desnecessária; b) que a legislação vigente impõe a necessidade de apresentação das certidões solicitadas somente no caso de confecção de escrituras públicas; c) que é incontroversa a incorporação dos imóveis à sociedade empresária; d) que o Ofício Circular n.º 120/2008 da CGJ recomenda a necessidade das certidões de feitos ajuizados estaduais, federais e trabalhistas, da localização do imóvel e do alienante apenas quanto à lavratura de escrituras públicas de compra e venda; e) que a lei n.º 8.935/94 não traz qualquer obrigatoriedade de juntar tais documentos no caso de incorporação de imóvel. Pede, ao fim, o provimento do recurso. O apelado apresentou contrarrazões (mov. 47). É, em síntese, o relatório. II- FUNDAMENTAÇÃO E VOTO Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, o recurso de Apelação deve ser conhecido. A controvérsia diz respeito à necessidade de o apelante apresentar certidões de distribuição de feitos para perfectibilizar o registro de incorporação de imóveis a fim de compor a subscrição de capital social. Aduz o apelante que as certidões exigidas pelo Oficial são dispensáveis, uma vez que não se trata de escrituração pública, mas apenas uma operação de incorporação de imóveis a fim de integralizar suas cotas sociais. No caso de integralização do capital social por meio de bens imóveis, certo é que a transferência dispensa a escrituração pública para que os bens sejam incorporados à sociedade empresária, bastando apenas o registro do contrato social ou alteração junto ao Cartório de Registro de Imóveis. E no instrumento por meio do qual está representada a transferência, devem constar todas as especificações do imóvel. 2 Página 2 de 5
O art. 35, VII, alíneas a e b da Lei n.º 8.934/94 dispõe: Art. 35. Não podem ser arquivados: (...) VII - os contratos sociais ou suas alterações em que haja incorporação de imóveis à sociedade, por instrumento particular, quando do instrumento não constar: a) a descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como o número da matrícula no registro imobiliário; b) a outorga uxória ou marital, quando necessária; No presente caso, no contrato social foram descritos todos em bens imóveis a serem transferidos, além do que houve anuência do cônjuge, conforme pode se verificar no mov. 1.3. Não obstante o cumprimento dessas exigências, pode o Oficial solicitar documentos complementares que achar necessário, desde que respaldado em Lei. Assim, o art. 1º, 1º, da Lei n.º 7.433/85 prevê: Na lavratura de atos notariais, inclusive os relativos a imóveis, além dos documentos de identificação das partes, somente serão apresentados os documentos expressamente determinados nesta Lei. 1º - O disposto nesta Lei se estende, onde couber, ao instrumento particular a que se refere o art. 61, da Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, modificada pela Lei nº 5.049, de 29 de Junho de 1966. (...) Ainda, o Ofício Circular n.º 120/2008 da Corregedoria-Geral da Justiça encaminhado aos agentes delegados, orienta acerca da necessidade de apresentação de certidões de feitos estaduais, federais e trabalhistas da localização do imóvel e do alienante (mov. 1.2). Merece destaque o art. 1º do Decreto n.º 93.240/86, que prevê: Para a lavratura de atos notariais, relativos a imóveis, serão apresentados os seguintes documentos e certidões: I - os documentos de identificação das partes e das demais pessoas que comparecerem na 3 Página 3 de 5
escritura pública, quando julgados necessários pelo Tabelião; II - o comprovante do pagamento do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos a eles relativos, quando incidente sobre o ato, ressalvadas as hipóteses em que a lei autorize a efetivação do pagamento após a sua lavratura; III - as certidões fiscais, assim entendidas: a) em relação aos imóveis urbanos, as certidões referentes aos tributos que incidam sobre o imóvel, observado o disposto no 2º, deste artigo; b) em relação aos imóveis rurais, o Certificado de Cadastro emitido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, com a prova de quitação do último Imposto Territorial Rural lançado ou, quando o prazo para o seu pagamento ainda não tenha vencido, do Imposto Territorial Rural correspondente ao exercício imediatamente anterior; IV - a certidão de ações reais e pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e a de ônus reais, expedidas pelo Registro de Imóveis competente, cujo prazo de validade, para este fim, será de 30 (trinta) dias; V - os demais documentos e certidões, cuja apresentação seja exigida por lei. (...) 2º As certidões referidas na letra a, do inciso III, deste artigo, somente serão exigidas para a lavratura das escrituras públicas que impliquem a transferência de domínio e a sua apresentação poderá ser dispensada pelo adquirente que, neste caso, responderá, nos termos da lei, pelo pagamento dos débitos fiscais existentes. Embora seja desnecessária a escritura pública, certo é que agiu com prudência o serventuário a fim de conferir segurança jurídica ao ato realizado, conforme até mesmo foi salientado no próprio ofício expedido pela CGJ haja vista que, não obstante se trate de instrumento particular, será registrado junto ao Cartório de Registro de Imóveis e os atos realizados pelos serventuários gozam de fé pública, logo, a fim de evitar eventual responsabilização, o registrador exigiu a documentação, dando mais segurança para o próprio cartorário, como para as partes. Por se tratar de instrumento particular, não significa que ele está isento de quaisquer formalidades. Ele se diferencia da escritura pública por ser um procedimento mais célere e ter um custo reduzido, todavia, exige algumas formalidades. Vale aqui mencionar trecho da sentença proferida (mov. 37.1): (...) O ato registral que traduz a tradição de bens imóveis reveste-se, com necessária razão, de 4 Página 4 de 5
uma série de solenidades e exigências de ordem jurídica, administrativa e tributária, tudo em nome da segurança jurídica oferecida pelo sistema. E assim sendo, a incorporação imobiliária não se escusa de tais exigências. O ato a ser praticado, se registro ou averbação, quando ocorre a transmissão de propriedade em decorrência de incorporação, é um fator importante e pode ser determinante de tal questão, em vista da consequência e dos efeitos que o direito outorga a tais atos no Registro Imobiliário. (...) E justamente por isso se faz necessária a juntada dos documentos solicitados pelo registrador, uma vez que o ato (embora dispensável a escrituração pública) deve se revestir de maior rigor, a fim de resguardar a segurança jurídica e evitar eventuais prejuízos futuros que possam gerar caso realizado de maneira menos formal. Diante do exposto, o voto é pelo desprovimento do recurso interposto pelo apelante, nos termos da fundamentação. III DECISÃO ACORDAM os Magistrados integrantes da do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso interposto, nos termos do voto da Relatora. A Sessão foi Presidida pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Ruy Muggiati (sem voto), e acompanharam o voto da Relatora os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Fábio Haick Dalla Vecchia e Sigurd Roberto Bengtsson. Curitiba, 25 de novembro de 2015. Juíza Subst. 2º G. LUCIANE R.C.LUDOVICO Relatora 5 Página 5 de 5