PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 Certificado digitalmente por: LENICE BODSTEIN PODER JUDICIÁRIO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº , DE UMUARAMA - VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES, INFÂNCIA E JUVENTUDE, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL NÚMERO UNIFICADO: AGRAVANTE : CERDLAR EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA AGRAVADO : BMD - BAN ATIVOS FINANCEIROS S/A RELATORA: DESEMBARGADORA LENICE BODSTEIN AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE TERCEIRO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA C/C CANCELAMENTO DE REGISTRO DE IMÓVEL. AVERBAÇÃO DA AÇÃO NA MATRÍCULA DO IMÓVEL E DE BLOQUEIO DO BEM. CABIMENTO. PODER GERAL DE CAUTELA DO MAGISTRADO. ARTIGO 798, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. DISCUSSÃO SOBRE A POSSE E PROPRIEDADE DO BEM. INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. NECESSIDADE. MEDIDA QUE VISA EVITAR A CONTINUIDADE DE TRANSFERÊNCIA DO BEM E DANOS A TERCEIROS. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. VISTOS, examinados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , de Umuarama - Vara de Família e Sucessões, Infância Página 1 de 8

2 Agravo de Instrumento nº fls. 2 e Juventude, Acidentes do Trabalho, Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial, em que é Agravante CERDLAR EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA e Agravado BMD - BAN ATIVOS FINANCEIROS S/A. RELATÓRIO O Recurso tem origem em Embargos de Terceiro opostos em razão de Ação Declaratória de Nulidade de Escritura Pública c/c Cancelamento de Registro de Imóvel consubstanciada em Contrato de Compra e Venda de imóvel desmembrado de outro denominado Fazenda São Francisco, no Município e Comarca de Itararé, Estado de São Paulo, constituída pela Gleba B, e matricula nº , do livro nº 02, do Registro Geral da Comarca de Itararé. O Agravo de Instrumento foi interposto contra a r. decisão interlocutória de fls. 18/20-TJPR que indeferiu a medida liminar de expedição de mandado de desbloqueio do imóvel. Inconformada, alega a ora Agravante ser terceira de boafé, vez que adquiriu o imóvel de quem detinha sua propriedade e antes de averbada a restrição no registro do imóvel. Argumenta ter legitimidade passiva para propositura dos Embargos de Terceiro, vez que não é parte do processo, por estar sofrendo turbação e por ser legitima possuidora do bem. Defende estar provada a sua posse e, assim, deve ser deferida liminarmente a ordem de expedição de mandado de manutenção do bem, nos termos do artigo 1051, do Código de Processo Civil. Pugna pela concessão de efeito suspensivo ao Agravo de Instrumento. Página 2 de 8

3 Agravo de Instrumento nº fls. 3 A liminar foi indeferida às fls. 149/150-TJPR pelo e. Juiz Substituto em Segundo Grau Gil Francisco de P. X. F. Guerra. O Agravado apresentou contraminuta às fls. 156/160-TJPR pugnando pelo não provimento ao Recurso. O Magistrado a quo informou a manutenção da decisão agravada pelos seus próprios fundamentos às fls. 172-TJPR. A Douta Procuradoria Geral de Justiça não opinou face a ausência de submissão da matéria aventada nestes autos ao artigo 82, do Código de Processo Civil. É o relatório. VOTO Dos Pressupostos de Admissibilidade Presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, o Recurso merece conhecimento. Da Averbação na Matrícula do Imóvel. Pretende o Agravante a exclusão da averbação de bloqueio do bem em face da existência de Ação Declaratória de Nulidade de Escritura Pública c/c Cancelamento de Registro Não lhe assiste razão, por três são os fundamentos O primeiro está assentado na decisão de primeiro grau que pretende com a averbação da existência de ação anulatória envolvendo o imóvel e o bloqueio do mesmo evitar danos a terceiros em caso de procedência da ação anulatória. Página 3 de 8

4 6015/73: Agravo de Instrumento nº fls. 4 A averbação tem previsão no artigo 97 e 246 da Lei Art. 97. A averbação será feita pelo oficial do cartório em que constar o assento à vista da carta de sentença, de mandado ou de petição acompanhada de certidão ou documento legal e autêntico, com audiência do Ministério Público. (...) Art Além dos casos expressamente indicados no item II do artigo 167, serão averbados na matrícula as subrogações e outras ocorrências que, por qualquer modo, alterem o registro. Admite-se a possibilidade de averbação na matricula do imóvel em que pende de Ação sobre os mesmos, em face do poder geral de cautela do juiz. Leciona a doutrina sobre o tema: 1 -- Uma grande inovação trazida pelo CPC é a possibilidade de concessão não apenas de tutelas cautelares especificamente previstas em lei, mas de outras que, conquanto não previstas, possam afastar uma situação de perigo. (...) Não há um rol taxativo, predeterminado, de tutelas cautelares possíveis. O juiz tem liberdade para conceder a que lhe pareça mais adequada, esteja prevista ou não. A esse poder que a lei atribuiu ao Judiciário dá-se o nome de poder geral de cautela, que pressupõe a impossibilidade de a lei antever todas as situações de urgência no caso concreto Página 4 de 8

5 Agravo de Instrumento nº fls. 5 sentido: A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é neste A averbação, no Cartório de Registro de Imóveis, de protesto contra alienação de bem, está dentro do poder geral de cautela do juiz (art. 798, CPC) e se justifica pela necessidade de dar conhecimento do protesto a terceiros, prevenindo litígios e prejuízos para eventuais adquirentes. (...) (STJ, REsp nº /SP, Relator Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ: ) Assim, reconhece-se a possibilidade da averbação na matrícula de que pende litigio sobre o imóvel, conforme determinado na decisão agravada. Ademais a averbação da pendência de Ação na matrícula dos imóveis observa o Princípio da Boa-Fé, a fim de assegurar o direito a terceiros sobre a existência de relação jurídica envolvendo o bem. A segunda foi objetivado na decisão liminar em segundo grau que verbera ausência de prova de dano para que o bloqueio se instale até decisão da ação anulatória. Confira-se: (fls. 150/151-TJPR) Desta forma, para se evitar tumulto processual ainda maior, não há como deferir a liminar pleiteada, ainda que -- GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil. São Paulo: Editora Saraiva, P Página 5 de 8

6 Agravo de Instrumento nº fls. 6 tenha sido prestada caução pelo agravante. Ademais, o recorrente não demonstra qual de fato seria o dano irreparável que poderia vir a sofrer com a manutenção da decisão até julgamento final da demanda, se limitando a alegar que o indeferimento da liminar contrariaria a legislação atual e que necessitaria do imóvel para seu livre comércio sem demonstrar o real dano da manutenção do bloqueio da matrícula do imóvel até julgamento final dos embargos. A terceiro, que ora acrescenta releva a sucessão histórica das transações a partir da matricula decorrente de desmembramento de área maior denominada Fazenda São Carlos. Confira-se. A área foi registrada no Registro de Imóveis e Anexos da Comarca de Itararé/SP sob matrícula nº , em 26 de Fevereiro de 1998 e sendo proprietário BANCO BMD S/A. Em data de 30 de Junho de 2008 foi registrado contrato de compra e venda do bem firmado entre BANCO BMD S/A e ABDO NASSER SMIDI. Em 05 de Outubro de 2011 foi registrado novo contrato de compra e venda do bem firmado entre ABDO NASSER SMIDI e CREDLAR EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. Nesta trajetória tem-se que a compra e venda realizada em é posterior a citação do devedor ABDO NASSER SMIDI em (fls. 166) na ação anulatória e consta da escritura de fls. 60-TJPR que não havia ações ajuizadas como se vê: Página 6 de 8

7 Agravo de Instrumento nº fls. 7 Disto se conclui que a lide está permeada de duvidas a serem sanadas em sede instrutória sobre a higidez das operações de transferência de posse e propriedade. A cadeia sucessiva deve ser bloqueada evitando-se Página 7 de 8

8 Agravo de Instrumento nº fls. 8 prejuízos a terceiros que venham a ser alcançadas bem como o próprio adquirente que poderá gravar ônus no mesmo bem deixando à deriva econômica o proprietário que for legitimamente reconhecido na ação ordinária. O perigo de dano revela-se inverso posto que há plausibilidade de que a venda tenha se calcado em declaração inidônea de existência de feitos judiciais à época da escritura. Neste pensar, mantém-se a decisão agravada. Isto Posto: A decisão é para conhecer e negar provimento ao Recurso. DISPOSIÇÃO ACORDAM os integrantes da Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do, por unanimidade de votos, em conhecer e negar provimento ao Recurso. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargador Ruy Muggiati, Presidente sem voto, Desembargador Dalla Vecchia e Desembargador Sigurd Roberto Bengtsson. Curitiba, 17 de Fevereiro de LENICE BODSTEIN Desembargadora Relatora Página 8 de 8