Avaliação dos resultados das emissões otoacústicas em hospital do sul de Santa Catarina

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Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL Avaliação dos resultados das emissões otoacústicas em hospital do sul de Santa Catarina Evaluation of otoacoustic emissions test results in a hospital in southern Santa Catarina Manuela Romagna Bongiolo, Ana Carolina Barreto da Silva, Ana Carolina Cancelier 2, Mayara Romagna Bongiolo 3, Maria Emilia Vieira de Souza, Vinícius de Oliveira Nitz 4 RESUMO Introdução: A audição é uma importante função sensorial, permitindo que a criança adquira conhecimentos e promova o desenvolvimento da linguagem oral. O Teste da Orelhinha é um exame de triagem onde se realiza uma avaliação rápida e eficaz para detectar as patologias da audição. Esse trabalho tem por objetivo avaliar os resultados dos testes da orelhinha realizados no HNSC no ano de 202, e ainda determinar o percentual de crianças que realizou o exame e o percentual de alterações no referido exame, relacionando com prematuridade. Métodos: Estudo transversal, observacional, analítico, incluídos todos os exames realizados no período estabelecido para o estudo e excluídos apenas os que não tiveram os dados disponíveis para coleta. A coleta foi realizada pela pesquisadora diretamente do arquivo de exames de Emissões Otoacústicas (EOA's), disponível no setor de neonatologia. Foram coletados: sexo, idade gestacional (prematuridade), resultado do teste, encaminhamento para novo teste. Resultados: No período do estudo foram realizados no Hospital Nossa Senhora da Conceição 2249 Testes da Orelhinha, tanto pelo Sistema Único de Saúde como por planos de saúde privados. Estes testes foram o resultado de ano de aplicação do teste nessa instituição. A distribuição por sexo não demonstrou diferença significativa com relação a alteração do teste. A população de prematuros apresentou mais alterações no Teste da Orelhinha que os bebês a termo. Conclusão: A triagem auditiva neonatal consiste em um método seguro e eficaz para distinguir as crianças em risco de perda auditiva. Os prematuros apresentaram uma maior alteração nos resultados dos testes. UNITERMOS: Audição, Triagem Neonatal, Neonato. ABSTRACT Introduction: Hearing is an important sensory function, allowing the child to acquire knowledge and promote the development of oral language. The Baby Hearing Test (BHT) is a screening tool used to make a quick and effective evaluation to detect hearing disorders in babies. This study aims to evaluate the results of the BHT test administered in the Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) in 202, and also to determine the percentage of children that were tested and the percentage change in that examination, relating it to prematurity. Methods: A cross-sectional, observational, analytical study, including all tests performed in the study period and excluding only those whose data were not available for collection. Data collection was conducted by the researcher directly from the otoacoustic emissions tests (OAET) records, available in the neonatology sector. The collected data were: gender, gestational age (prematurity), test result, and referral for retest. Results: During the study period 2,249 BHTs were performed at the HNSC, through both the public health system and private health plans. These tests were the result of one year of testing in that institution. The distribution by gender showed no signifi cant difference concerning test changes. The population of premature infants showed more changes in the hearing test than infants born to term. Conclusion: The neonate hearing screening is a safe and effective method to distinguish children at risk of hearing loss. Preterm babies showed greater change in test results. KEYWORDS: Hearing, Neonatal Screening, Neonate. Médica. Graduação Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). 2 Mestre em Ciências da Saúde. Médica especialista em Pediatria. Professora do Curso de Graduação em Medicina da UNISUL. 3 Médica. Cursando pós-graduação em Radiologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). 4 Estudante. Graduando da UNISUL.

INTRODUÇÃO A audição é uma importante função sensorial, permitindo que a criança adquira conhecimentos e promova o desenvolvimento da linguagem oral (). Do ponto de vista intelectual, a audição é o sentido mais importante. Ao final do sexto mês gestacional, o aparelho auditivo está completamente formado e funcionando adequadamente, o que confirma sua importância para o desenvolvimento neuropsicomotor da criança (2). A atenção auditiva é considerada um importante processo para a aquisição de aspectos acústicos e fonéticos dos padrões linguísticos. A atenção refere-se à determinação de qual estímulo sonoro será processado e para qual será dada uma resposta. Faz parte da atenção auditiva a atenção sustentada, que é a capacidade do ouvinte deter-se em um estímulo específico durante um período de tempo, e a vigilância, habilidade de manter-se preparado para uma resposta a um estímulo intermitente (3). A deficiência auditiva é um sério problema de saúde pública e, muitas vezes, de difícil reconhecimento pelo fato de os recém-nascidos possuírem uma aparência saudável. Porém, por algumas vezes não ser evidente nos primeiros meses de vida, a mesma pode ser diagnosticada tardiamente e, assim, causar prejuízos ao desenvolvimento da linguagem, bem como ao desenvolvimento global da criança, o que, possivelmente, poderá tornar-se irreversível (4). Por esta razão, fazem-se necessários o diagnóstico e a intervenção precoce, para que os casos positivos de déficit de audição sejam encaminhados para intervenção médica e, caso necessário, programas de reabilitação. Nos neonatos em geral, a surdez sensorial severa ou profunda varia de quatro a seis para cada 000 nascidos vivos (2), ou de um a três em 000, conforme o Comitê Brasileiro Sobre Perdas Auditivas (3,4). A surdez congênita se caracteriza pela diminuição da percepção auditiva ao nascimento e ocorre em aproximadamente para cada 000 nascimentos. Vários são os fatores de risco para perda auditiva, dentre os quais destacam-se: história familiar de perda auditiva permanente na infância; infecção congênita (citomegalovírus, rubéola, herpes, toxoplasmose, sífilis, Human Immunodefi ciency Virus (HIV)); malformações da cabeça e pescoço; peso ao nascer abaixo de 500g ou 2500g; hiperbilirrubinemia, com exsanguíneo transfusão; meningite bacteriana; asfixia severa, incluindo índices de Apgar de 0 a 4 no º minuto ou de 0 a 6 no 5º minuto; uso de medicamentos ototóxicos (aminoglicosídeos, tobramicina, diuréticos como furosemida, gentamicina, amicacina, vancomicina, indometacina) utilizados por mais de 5 dias; estigma ou outro achado associado à síndrome que inclua perda auditiva sensório-neural; permanência em Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) por mais de 48 horas; preocupação do cuidador em relação à audição, fala, linguagem ou atrasos no desenvolvimento; síndromes associadas à perda de audição progressiva ou tardia; desordens; infecções pós-natais, associadas à perda de audição sensório-neural, incluindo confirmação de meningite bacteriana ou viral (especialmente vírus de herpes e varicela); traumatismo craniano, incluindo a região do osso temporal; quimioterapia; fatores perinatais, como anóxia, icterícia, prematuridade e baixo peso; consanguinidade; alcoolismo materno; uso de drogas psicotrópicas na gestação; convulsões neonatais; suporte ventilatório por mais de 5 dias; Síndrome do Desconforto Respiratório; fibroplasia; aspiração de mecônio; anormalidades cromossômicas; diabetes materna; gestações múltiplas; ausência de cuidados pré-natais; episódios de apneia; hipocalcemia; pequeno para a idade gestacional (5). Os programas de triagem auditiva neonatal (TAN) são importantes, já que visam à detecção precoce da deficiência auditiva e são viáveis em função do seu baixo custo e facilidade (). O Teste da Orelhinha é um exame de triagem no qual se realiza uma avaliação rápida e eficaz para detectar as patologias da audição, e tem como objetivo não somente detectar precocemente problemas auditivos, como também a realização do tratamento o quanto antes e ainda obter dados estatísticos que contribuirão para um melhor aprimoramento das patologias e desenvolvimento de técnicas e equipamentos mais sensíveis e específicos para seu diagnóstico. O teste é feito, inicialmente, no segundo ou terceiro dia de vida preferencialmente, podendo ser realizado até os três meses, através de Emissões Otoacústicas (EOA s) durante 5 a 0 minutos. O bebê deverá estar em sono natural, não há contraindicações, não incomodando e nem acordando a criança (7). O registro das EOA s é um exame que visa avaliar a integridade da cóclea. Consiste em um método simples, objetivo, rápido e não invasivo. As EOA s são sons gerados na cóclea da maioria das orelhas normais, por um processo de ativação biomecânica dos cílios cocleares, em que se utiliza um som para estimular a cóclea (8). O referido exame deve ser realizado nas maternidades, e, desde 2 de agosto de 200, a Lei federal 2.303/0 determinou sua obrigatoriedade em todos os hospitais públicos e privados do país que atendam recém-nascidos (9). Este trabalho tem por objetivo avaliar os resultados dos testes da orelhinha realizados no HNSC no ano de 202, e, ainda, determinar o percentual de crianças que realizou o exame e o percentual de alterações no referido exame, relacionando com prematuridade. MÉTODOS Estudo transversal, observacional, analítico, incluídos todos os exames realizados no período estabelecido para o estudo e excluídos apenas os que não tiverem os dados disponíveis para coleta. A coleta foi realizada pela pesquisadora diretamente do arquivo de exames de EOA, disponível no setor de neonatologia iniciada após a aprovação pelo Comitê de Ética em pesquisa. Foram coletados: sexo, idade gestacional, resultado do teste, encaminhamento para novo teste. Os dados foram tabulados e analisados através do programa estatístico SPSS 6.0. Para análise das associações, 2

foi utilizado o teste Chi-quadrado, com nível de significância de 95%. Os resultados foram apresentados em números absolutos e percentuais. Pesquisa aprovada pelo comitê de ética e pesquisa pela Resolução CNS 466/2, código 2.494.4.0.III. RESULTADOS No período do estudo, foram realizados no Hospital Nossa Senhora da Conceição 2249 Testes da Orelhinha, tanto pelo Sistema Único de Saúde como por planos de saúde privados. Estes testes foram o resultado de ano de aplicação do teste nessa instituição, no ano de 202. A distribuição por sexo reflete os nascimentos ocorridos no período, sendo 44,9% do sexo masculino, 47,3% do feminino e em 7,8% doas casos não foi anotado o sexo da criança. Tabela Resultados dos Testes da Orelhinha realizados no HNSC no período de 202. Resultado Frequência Percentual Válido Normal 933 85,9 Alterado OE 76 3,4 Alterado OD 2 7 3,2 Alteradas 2 orelhas 69 7,5 Total 2249 00,0 Orelha Esquerda; 2 Orelha Direita Tabela 2 Resultados do segundo Teste da Orelhinha. Resultado Frequência Percentual Válido Normal 239 0,7 Alterada OE 4,2 Alterada OD 2 7,3 Alteradas 2 orelhas 5,2 Não precisou realizar 930 86,0 Não compareceu ao reteste 3,4 Encaminhado ao otorrino 23,0 Reteste em janeiro de 203 4 2 Orelha Esquerda; 2 Orelha Direita A prematuridade apresentou uma prevalência no período de 3,9% dos nascimentos, visto que os testes foram realizados em todos os bebês nascidos na instituição. O Gráfico mostra esta distribuição. Com relação aos resultados dos testes, a Tabela mostra que 85,9% dos testes foram normais, e os demais dados podem ser nela observados. Do total de testes realizados, 36 foram encaminhados para novo teste. A Tabela 2 mostra os resultados desse reteste. A análise dos dados referentes aos resultados dos testes associados ao sexo não mostrou diferenças em relação ao sexo masculino e feminino (p=0,074). No entanto, em prematuros houve mais testes alterados, conforme pode ser observado no Gráfico. O segundo teste realizado também apresentou resultados mais alterados em prematuros, conforme pode ser observado na Tabela 3. DISCUSSÃO Os programas de TAN são importantes e eficientes, já que buscam a detecção precoce da deficiência auditiva (). Há vários métodos objetivos e subjetivos para avaliar a integridade do sistema auditivo em recém-nascidos, todos contendo vantagens e desvantagens clínicas (7). Idealmente, 00 90 80 70 60 50 40 30 20 0 0 72,8 88, Normal 6, 6, 2,9 2,7 2,5 Alternado OE Alternado OD Alternadas 2 orelhas Prematuros A termo Gráfico Distribuição percentual dos resultados dos testes entre neonatos prematuros e a termo (p<0,0). 5 Tabela 3 Distribuição percentual dos resultados dos Retestes da Orelhinha em neonatos prematuros e a termo Normal Alterada OE Alterada OD Alteradas 2 orelhas Não compareceu ao reteste Encaminhado ao otorrino Reteste em janeiro de 203 Prematuros 65,9% 2,4% 7,3%,2% 3,4% 7,3% 2,4% A Termo 8,% 0,9% 0,4% 0,9% 8,3% 7,5% 0,9% Valor de p<0,0. 3

todos os neonatos e lactentes deveriam realizar a TAN. Entretanto, quando isso não é possível, recomenda-se realizar a TAN nos neonatos e lactentes que possuíram algum fator de risco para perda auditiva. A identificação dos fatores de risco é fundamental para que haja acompanhamento audiológico dos neonatos e lactentes e para a escolha dos protocolos de cada programa de TAN (5). Verificou-se que, no ano de 202, foram analisados 2249 recém-nascidos e, destes, 85,9% apresentaram Testes da Orelhinha normais. Apresentaram alteração na orelha esquerda 3,4% dos pacientes, 3,2% na orelha direita e 7,5% alterados nas duas orelhas. A análise dos resultados com relação ao sexo não demonstrou diferença significativa, visto que 44,9% foram do sexo masculino e 47,3%, do sexo feminino e em 7,8% dos recém-nascidos, o sexo não estava relatado. Como o teste foi realizado em todos os recém-nascidos na instituição, avaliou-se a prevalência de nascimentos prematuros no período, que foram de 3,9% do total de nascimentos. Esta taxa de prevalência de prematuridade encontra-se dentro da taxa encontrada por estudo realizado em 2008, que registrou, no sul e sudeste do país, taxas variando de 3,5 a 5% de prematuridade (0). A população de prematuros apresentou mais alterações no Teste da Orelhinha do que os bebês a termo. Este dado está de acordo com o estudo de Lima et al, no qual a prevalência de alterações do Teste da Orelhinha demonstrou-se maior em pacientes prematuros, que são os que mais permanecem em unidades de terapia intensiva (), e os que possuem alterações pulmonares, cardíacas, infecciosas e neurológicas. A prematuridade é a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal, responsável por 75% das mortes neonatais (). Ainda consideradas como uma das causas de prematuridade, as infecções congênitas como rubéola, sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus, herpes e AIDS, mesmo quando assintomáticas, podem causar deficiência auditiva no neonato e podem estar associadas ao aparecimento tardio da perda auditiva ou ainda a progressão dessa perda (2). Prematuros também são alvos dos antibióticos para tratamento de infecções, como a gentamicina e amicacina, que podem ser medicamentos ototóxicos que, lesando a cóclea, prejudicam o funcionamento coclear e podem levar à deficiência auditiva (2). A alteração do resultado é comum e pode estar ligada à presença de líquido na orelha média, vernix caseoso no conduto auditivo, excessivo colabamento da pele do meato acústico externo, cerúmen, e até mesmo falhas do próprio aparelho utilizado para o teste podem levar a um resultado positivo, sendo assim a importância do reteste. Se persistir o resultado anormal, a criança é encaminhada para um novo reteste e, se ainda anormal, será encaminhada a testes mais específicos, os quais avaliarão o mecanismo de transmissão do som, como a Impedancimetria. Se este exame resultar normal, a criança passa ao exame de Audiometria de Respostas Elétricas (BERA), que mede o grau de perda auditiva neurossensorial e orienta sobre a necessidade de assistência precoce com o uso de aparelho de amplificação sonora e acompanhamento fonoaudiológico. Se, por outro lado, a Impedancimetria mostrar comprometimento do mecanismo de transmissão do som, a criança é encaminhada ao Otorrinolaringologista (3). No hospital estudado, após reteste alterado, o paciente já é encaminhado ao Otorrinolaringologista para realização de testes mais específicos. Segundo Maia et al, de 88 recém-nascidos triados, 35% dos resultados demonstraram-se alterados e, nesse estudo, dos 2449 dos pacientes que realizaram o teste, 4,% foram alterados. Com relação à prematuridade, 22,86% nasceram de 30 a 37 semanas no estudo citado, e 3,9% eram prematuros no estudo atual (3). No estudo de Faistauer et al, 2.65 recém-nascidos foram submetidos ao Teste da Orelhinha. Do total, 7% falharam no primeiro teste de EOA s, visto que 4,% foram alterados em nosso estudo. Entre as que falharam, 68% apresentaram falha bilateral, enquanto que 32%, unilateral, e no presente estudo, 53,9%, bilateral e 46,80%, unilateral considerando os testes alterados. Na fase de reteste, ou seja, da execução do novo teste de EOA s após o primeiro, ocorreu uma perda de 24% dos pacientes e, no presente estudo, de,6%. Dos 279 reavaliados, 4% falharam novamente e, no presente estudo, 0,7% (4). Dos prematuros que realizaram reteste, 65,9% foram normais, 2,4% com alteração na OE, 7,3% na OD,,2% nas duas orelhas, 3,4% não compareceram ao reteste, 7,3% foram encaminhados ao Otorrinolaringologista e ainda 2,4% dos retestes foram marcados para janeiro de 203. Já os recém-nascidos a termo, os quais realizaram reteste, um total de 8,% foi normal, sendo que 0,9% foi alterado na OE, 0,4% na OD, 0,9% nas duas orelhas, 8,3% não compareceram ao reteste, 7,5% foram encaminhados ao especialista e 0,9% dos retestes remarcado para janeiro de 203. Podemos observar, assim, que a triagem realizada no serviço estudado está adequada aos objetivos preconizados, uma vez que o índice de falha correspondeu a 0,7%. Em um ensaio efetuado em um hospital do interior de São Paulo, o qual realizou o programa de TAN por um período de dois anos, 6,6% dos recém-nascidos avaliados falharam. O reteste foi feito em 98,7% dos casos que falharam, e 7,8% destes necessitaram de encaminhamento para diagnóstico audiológico e otológico (4). É importante esclarecer ainda que os testes compatíveis com audição normal não descartam que, no decorrer da infância, perdas auditivas não possam ser adquiridas através de infecções, otites, medicamentos ototóxicos, trauma ou causas genéticas que poderão gerar causas permanentes de déficit auditivo. A deficiência auditiva neonatal não deve ser considerada definitiva, visto que algumas alterações podem melhorar com a idade ou serem adquiridas (). O teste de triagem se faz importante para antecipar o processo de intervenção logo no início de vida da criança, garantindo a estimulação necessária em todos os aspectos 4

fundamentais para seu desenvolvimento e, assim, maximizar a competência linguística e comunicativa, bem como o desenvolvimento de linguagem, da cognição e do aspecto socioemocional de crianças com perda auditiva (6). É recomendável a realização da triagem auditiva em todos os recém-nascidos apresentando risco ou não para surdez, tendo como método de avaliação o uso de técnica objetiva (8). A TAN permite a detecção de possíveis alterações auditivas em neonatos e lactentes, o que possibilita o diagnóstico da perda auditiva antes do terceiro mês de vida e a intervenção antes dos seis meses (5). Cerca de 50% das perdas auditivas poderiam ser evitadas ou até mesmo suas sequelas diminuídas, se ocorressem precocemente medidas de detecção, diagnóstico e reabilitação (2). CONCLUSÃO Conclui-se que a triagem auditiva neonatal consiste em um método seguro e eficaz para distinguir as crianças em risco de perda auditiva. Essa questão é de grande relevância, tendo em vista que, uma vez firmado o diagnóstico precoce, a devida investigação pode ser iniciada, minimizando futuras dificuldades na aquisição da linguagem. Dos 2249 pacientes avaliados, 85,9% tiveram os resultados do Teste da Orelhinha normais, e 4,% necessitaram de reteste. A prevalência de nascimentos prematuros no período foi de 3,9% do total de nascimentos, totalizando 65,9% dos testes normais e 34,% alterados conforme discussão, apresentando maior alteração dos resultados dos testes do que os bebês a termo. REFERÊNCIAS. Lima MCMP, Rossi TR de F, Françozo MF de C, Marba ST, Lima GML, Santos MFC et al. Detecção de perdas auditivas em neonatos de um hospital público.revsocbrasfonoaudiol. 200;5():-6. 2. Hilú MRPB, Zeigelboim BS. O conhecimento, a valorização da triagem auditiva neonatal e a intervenção precoce da perda auditiva. Rev CEFAC. 2007;9(4):563-570. 3. Fernandes FDM. A habilidade de atenção auditiva sustentada em crianças com fissura labiopalatina e transtorno fonológico. RevSoc- BrasFonoaudiol.20; 6(4):436-440. 4. Marques TR, Mendes PC, Bochnia CFP, Jacob LCB, Roggia SM; Marques JM. Triagem auditiva neonatal: relação entre banho e índice de reteste. RevBrasOtorrinolaringol. 2008; 74(3):375-38. 5. Griz SMS, Silva AR de A, Barbosa, CP, Menezes DC, Curado NRPV, Silveira AK daet al. Indicadores de risco para perda auditiva em neonatos e lactentes atendidos em um programa de triagem auditiva neonatal. Rev CEFAC. 20;3(2):79-83. 6. Lima MCMP, Barbarini GC, Gagheggi H, Gagliardo RG, Arnais MAO, Gonçalves VMG. Observação do desenvolvimento de linguagem e funções auditiva e visual em lactentes. Rev Saúde Pública. 2004; 38():06-2. 7. Rodrigues PAL, Carvalho TSF, Lauris JRP, Schochat E. Resultados de um programa de triagem auditiva neonatal em Cuiabá - Mato Grosso. RevSocBrasFonoaudiol. 20; 6(4): 454-458. 8. Silva DM. Implantação do teste da orelhinha no município de quatro barras - PR. Curitiba: UFP: 20. 9. Brasil. Lei nº 2.303, de 2 de agosto de 200. Dispõe sobre a obrigatoriedade de realização do exame denominado Emissões Otoacústicas Evocadas. Diário Oficial da União, Brasília, ago. 200. 0. Silveira MF, Santos IS, Barros AJD, Matijasevich A, Barros FC, Victora CG. Aumento da prematuridade no Brasil: revisão de estudos de base populacional. Rev. Saúde Pública. 2008; 42(5):957-964.. Rades É, Bittar RE, Zugaib M. Determinantes diretos do parto prematuro eletivo e os resultados neonatais. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2004; 26(8):655-662. 2. Buriti AKL. HIV/AIDS e suas repercussões na audição em crianças. Dissertação de Mestrado (202). Paraíba, UFP. 3. Maia RM, Silva MAM, Tavares PMB. Saúde auditiva dos recém-nascidos: atuação da fonoaudiologia na Estratégia Saúde da Família. Rev CEFAC. 202; 4(2):206-24. 4. Faistauer M, Marquezan TA, Floriano AM, Tabajara CC, Martini CM, Schmidt VB et al. Implementação do programa de triagem auditiva neonatal universal em hospital universitário de município da região Sul do Brasil: resultados preliminares. Rev. da AMRIGS. 202; 56 ():22-25. Endereço para correspondência Manuela Romagna Bongiolo Rua Felipe Schmidt, 203/0 88.70-80 Tubarão, SC Brasil (48) 3626-69 manubongiolo@hotmail.com Recebido: 9//204 Aprovado: 29/0/205 5