Análise do equilíbrio espinopélvico em pacientes com espondilolistese degenerativa L4-L5

Documentos relacionados
ASSOCIAÇÃO DOS PARÂMETROS ESPINOPÉLVICOS COM A LOCALIZAÇÃO DA HÉRNIA DISCAL LOMBAR

ata3d.com Paciente: PACIENTE TESTE Data de nasc.: X/Y/Z X º X º

Avaliação do equilíbrio espinopélvico em pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de hérnia de disco lombar

ASSOCIATION OF SPINOPELVIC PARAMETERS WITH THE LOCATION OF LUMBAR DISC HERNIATION

Diagnóstico por imagem nas alterações relacionadas ao envelhecimento e alterações degenerativas da coluna vertebral

ESPONDILOLISTESE TRAUMÁTICA DO AXIS FRATURA DO ENFORCADO

PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO DE PÓS- OPERATÓRIO INICIAL DE CIRURGIA LOMBAR. Local: Unidades de Internação

Médico Cirurgia de Coluna

Influência do alinhamento sagital espinopélvico na espondilolistese Lombar: Revisão Bibliográfica

Diagnóstico por imagem da coluna lombar

CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Estudo por imagem do trauma.

PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA DA SBOT-RJ ORTOCURSO SBOT-RJ/COLUNA CURSO PREPARATÓRIO PARA O TEOT 22 de Agosto de 2015 NOME:

Is it really necessary to restore radial anatomic parameters after distal radius fractures? Injury, Int. J. Care Injured 45S(2014) S21-S26

COLUNA LOMBAR 24/03/15 ANATOMIA VERTEBRAL

SOBRECARGA DO CUIDADOR DE DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL E DOENÇA DE ALZHEIMER.

Avaliação da migração do espaçador intersomático (cage) em pacientes submetidos à artrodese lombar pela técnica TLIF

3. RESULTADOS DA REVISÃO DE LITERATURA

Anatomia da Medula Vertebral

.. :

INFLUÊNCIA DO EQUILÍBRIO SAGITAL NO RESULTADO CLÍNICO DE ARTRODESE DA COLUNA VERTEBRAL

RETALHOS ÂNTERO-LATERAL DA COXA E RETO ABDOMINAL EM GRANDES RECONSTRUÇÕES TRIDIMENSIONAIS EM CABEÇA E PESCOÇO

COMPARAÇÃO ENTRE ALONGAMENTO E LIBERAÇÃO MIOFASCIAL EM PACIENTES COM HÉRNIA DE DISCO

Espondilose Lombar. Antônio Santos de Araújo Júnior. Neurocirurgião Hospital Sírio-Libanês. (Estenose de Canal Lombar)

Avaliação da lordose lombar em indivíduos assintomáticos Assesment of lumbar lordosis in assimptomatic individuals

Data: 20/08/2014. Resposta Técnica 01/2014. Medicamento Material Procedimento X Cobertura

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DE PACIENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA EM GOIÂNIA, GO, BRASIL.

Diagnostico e tratamento por exames de imagem Roteiro para hoje

Avaliação da qualidade de vida em pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de escoliose idiopática

Exame completo para envio de Densitometria Óssea Adulto

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

TRABALHO DO PROFESSOR ANDRÉ VIANA RESUMO DO ARTIGO A SYSTEEMATIC REVIEW ON THE EFFECTIVENESS OF NUCLEOPLASTY PROCEDURE FOR DISCOGENIC PAIN

RELAÇÃO ENTRE O NOVO ÍNDICE DE ADIPOSIDADE CORPORAL COM O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL EM CRIANÇAS. Ivair Danziger Araújo

CARACTERÍSTICAS ANTROPOMÉTRICAS E DE APTIDÃO FÍSICA DE ATLETAS DE FUTSAL FEMININO DA CIDADE DE MANAUS

OCORRÊNCIA DE ANTECEDENTES FAMILIARES EM PACIENTES COM DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS NO ESTADO DE GOIÁS

FIEP BULLETIN - Volume 82 - Special Edition - ARTICLE I (

Avaliação da telelaringoscopia no diagnóstico das lesões benignas da laringe

AVALIAÇÃO DE ASSIMETRIA DAS CABEÇAS DA MANDÍBULA EM EXAMES DE TCFC

PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DO CONDICIONAMENTO FÍSICO E TREINAMENTO ORIENTADO À COMPETIÇÃO: PERFIL DO TIPO DE PÉ E PISADA EM CORREDORES DE RUA

MORFOLOGIA DAS CABEÇAS DA MANDÍBULA: COMPARAÇÃO ENTRE OS SEXOS E FAIXAS ETÁRIAS

Dr. Ricardo

Resiliência e burnout em trabalhadores de enfermagem

LINFOMA MULTICÊNTRICO EM CÃO DA RAÇA ROTTWEILER: RELATO DE CASO. Lucas Lopes Faraci¹, Eustáquio Luiz Paiva de Oliveira²

TÍTULO: ANÁLISE ANTROPOMÉTRICA DE SACROS DO SEXO MASCULINO E FEMININO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Título do Trabalho: Correlação entre dois instrumentos para avaliação do desenvolvimento motor de prematuros

Quais os indicadores para diagnóstico nutricional?

PROCESSO-CONSULTA CFM nº 4/2016 PARECER CFM nº 9/2017 INTERESSADO: Dr. A.D.C. ASSUNTO:

Experiência do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Braga no Tratamento de Diabéticos Tipo 1 com Bombas Infusoras de Insulina

PROBLEMAS DO QUADRIL NO ADULTO. Liszt Palmeira de Oliveira

RELAÇÃO ENTRE CIRCUNFÊRENCIA DE PESCOÇO E OUTRAS MEDIDAS INDICADORAS DE ADIPOSIDADE CORPORAL EM MULHERES COM SOBREPESO E OBESIDADE.

AVALIAÇÃO POR IMAGEM DA COLUNA LOMBAR: INDICAÇÕES E IMPLICAÇÕES CLINICAS

INTRODUÇÃO ANÁLISE CINEMÁTICA DA MOBILIDADE DO TORNOZELO NA ÓRTESE KAFO SOBRE A MARCHA: ESTUDO PILOTO

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL E CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS DE UM CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS DE BELO HORIZONTE-MG

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DE PACIENTES COM DISTURBIOS DO MOVIMENTO EM GOIÂNIA, GOIÁS, BRASIL.

HISTÓRICO Síndrome Facetária

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

LOMBALGIA E ACIDENTES DE TRABALHO

por apresentarem contração paradoxal do AP no primeiro atendimento fisioterapêutico; duas gestantes, por parto prematuro; duas, pela ocorrência

PERFIL DAS MÃES DE RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS DO HOSPITAL MATERNO INFANTIL DA CIDADE DE APUCARANA

Capacidade Funcional e Bomba Muscular Venosa na Doença Venosa Crónica

ANÁLISE DOS SINTOMAS MOTORES NA DOENÇA DE PARKINSON EM PACIENTES DE HOSPITAL TERCIÁRIO DO RIO DE JANEIRO

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS EM CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO

RELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA E ATIVIDADE FÍSICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA NACIONAL

Risco de quedas em idosos institucionalizados: um estudo descritivo correlacional

Incidência de lombalgia no setor de ortopedia da clínica de fisioterapia do Unisalesiano de Araçatuba-SP

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATENDIMENTO FONOAUDIOLÓGICO DE PACIENTES TRATADOS DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO

Espondilolistese do Desenvolvimento

Acta Ortopédica Brasileira ISSN: Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

TEMA: MONITORIZAÇÃO NEUROFISIOLÓGICA NA CIRURGIA CORRETORA DA ESCOLIOSE CONGÊNITA

Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

Deficiência mental Síndroma de Down Tipos ou classes de Síndroma de Down Etiologia 9

Determinação do tipo facial: cefalometria, antropometria e análise facial

ULTRACAVITAÇÃO NO TRATAMENTO DO FIBRO EDEMA GELÓIDE AVALIADO POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

FATORES ASSOCIADOS À DESISTÊNCIA DE PROGRAMAS MULTIPROFISSIONAIS DE TRATAMENTO DA OBESIDADE EM ADOLESCENTES

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE. SUBÁREA: Fisioterapia

Imagem 1: destacada em vermelho a redução do espaço articular.

RELAÇÃO ENTRE MOBILIDADE CERVICAL, SENSIBILIDADE LOMBAR E O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO EM INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS: UM ESTUDO TRANSVERSAL.

Baixa Estatura no Serviço de Endocrinologia Pediátrica na UFRN. Short Stature in Pediatric Endocrinology Service at UFRN.

Estimativa da frequência de realização de densitometria óssea a partir da calculadora da International Society for Clinical Densitometry (ISCD).

SEMINÁRIO TRANSDISCIPLINAR DA SAÚDE - nº 04 - ano 2016 ISSN:

EFEITOS DE DOIS PROTOCOLOS DE TREINAMENTO FÍSICO SOBRE O PESO CORPORAL E A COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES OBESAS

Técnicas em Ortopedia Tratamento cirúrgico da escoliose idiopática com instrumentação de terceira geração e manobra de desrotação

4 RESULTADOS. Resultados 63

Escoliose degenerativa

RESUMO. Mariana de Melo Vaz, Flávia Martins Gervásio, Acácia Gonçalves Ferreira Leal, Darlan Martins Ribeiro, João Alírio Teixeira Silva Júnior

UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS CAMPUS ERECHIM LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DANIÊ REGINA MIKOLAICZIK

Trabalho realizado no Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Instituto Santa Lydia de Ribeirão Preto Ribeirão Preto (SP), Brasil.

ANÁLISE DO EQUILÍBRIO POSTURAL EM IDOSOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE CAPACIDADE COGNITIVA

PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA PRINCIPAL MÓDULO JOELHO

TÍTULO: AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE GLICOSE EM INDIVÍDUOS COM DIABETES MELLITUS E CREATININA E UREIA EM INDIVÍDUOS NEFROPATAS.

Acta Ortopédica Brasileira Print version ISSN

A UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS ESTATÍSTICOS NO PLANEJAMENTO E ANÁLISE DE ESTUDOS EXPERIMENTAIS EM ENGENHARIA DE SOFTWARE (FONTE:

Estudo morfométrico do pedículo das vértebras torácicas e lombares *

Estado da arte da radiocirurgia na

Licenciada em Matemática. Mestre e Educação nas Ciências pela UNIJUI. Docente DCEEng

Deformidades Angulares dos Membros Inferiores I - Joelhos - Prof André Montillo

Transcrição:

Análise do equilíbrio espinopélvico em pacientes com espondilolistese degenerativa L-L5 Elton Luiz Batista Cavalcante 1, Lucas Almeida Campagnaro 1, José Lucas Batista Junior, Charbel Jacob Júnior, Igor Machado Cardoso Arq Bras Neurocir 33(): 95-9, 1 Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Vitória, ES, Brasil. RESUMO Objetivos: Avaliar o equilíbrio espinopélvico em pacientes portadores de espondilolistese degenerativa L-L5. Métodos: Analisamos as radiografias pré-operatórias lombopélvicas, em perfil, de 33 pacientes portadores de espondilolistese degenerativa L-L5 para a mensuração dos parâmetros envolvidos no equilíbrio espinopélvico. Resultados: Dos 33 pacientes, pertencem ao sexo feminino, com média de idade de 59 anos. A média da incidência pélvica (IP), inclinação pélvica (TILT) e inclinação sacral (SLOP) foi 1, ;,1º e 3,3º, respectivamente, havendo correlação positiva entre IP e TILT e correlação negativa entre SLOP e TILT, ambas com significância estatística. Conclusão: Na espondilolistese degenerativa L-L5, a IP, TILT e SLOP tiveram suas médias iguais a 1,, 3,3 e,1, respectivamente, revelando alteração na conformação pélvica que culminou em um desequilíbrio espinopélvico nesses pacientes. PALAVRAS-CHAVE Espondilolistese, osteoartrose, vértebras lombares. ABSTRACT Analysis of spinopelvic balance in patients with L-L5 degenerative spondylolisthesis Objectives: To evaluate and analyze the spinopelvic balance in patients with L-L5 degenerative spondylolisthesis. Methods: We analyzed the lumbopelvic preoperative radiographs in profile, 33 patients with L-L5 degenerative spondylolisthesis to measure the parameters involved in spinopelvic balance as pelvic incidence (PI), pelvic tilt (TILT pelvic) and sacral slope (SLOP sacral). Results: Of the 33 patients with degenerative spondylolisthesis, were female and the mean age was 59 years. The average IP, TILT and SLOP was 1.,.1 and 3.3, respectively, with a positive correlation between IP and TILT and a negative correlation between SLOP and TILT, both with statistical significance. Conclusion: Patients with L-L5 DS, IP, TILT and SLOP had their means equal to 1., 3.3 and.1, respectively, demonstrated that possibility the pelvic imbalance in these patients. KEYWORDS Spondylolisthesis, osteoarthritis, lumbar vertebrae. 1 Graduando do Curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Vitória, ES, Brasil. Ortopedista e cirurgião da coluna, médico-assistente do Grupo de Coluna Vertebral do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Vitória, ES, Brasil.

Introdução A espondilolistese consiste no deslocamento anterior de uma vértebra sobre a subjacente, ocorre em função de um defeito ósseo na pars interarticularis ou na faceta vertebral e essas alterações facetárias podem ser de origem traumática, congênitas ou degenerativas. 1- Dentre as diversas espondilolisteses, a do tipo III da classificação de Wiltse et al. 5 consiste na espondilolistese degenerativa (ED), que ocorre devido a uma degeneração discal e facetária com arco vertebral íntegro,,5 e acomete frequentemente o sexo feminino, na idade adulta -9 e no nível de L-L5. 1,11 Esse tipo está comumente associado a graus variados de estenose do canal vertebral, sendo tida como causa frequente de lombalgia associada ou não a radiculopatia e claudicação intermitente. 3,1 O balanço sagital e o equilíbrio espinopélvico vêm sendo cada vez mais estudados por ortopedistas, pois, por meio deles, podemos quantificar a origem de diversas patologias musculoesqueléticas. Normalmente eles atuam em conjunto levando a uma interação entre morfologia óssea (pélvica e vertebral), mecânica discal, resistência muscular e ligamentar, agindo como forças de atuação mútuas capazes de fornecer mecanismos compensatórios para manter a estabilidade corporal. 13 Quando esse conjunto trabalha harmoniosamente e em equilíbrio, encontramos o ponto ideal para a marcha e consequentemente para o bem-estar das pessoas. Apesar de existirem diversos trabalhos para análise do equilíbrio espinopélvico nas patologias ortopédicas, encontramos poucos estudos que analisassem a relação entre a ED e o equilíbrio espinopélvico. Julgamos que, por meio de uma melhor definição do equilíbrio espinopélvico nesses pacientes, poderemos realizar medidas preventivas para o não desenvolvimento ou progressão das listeses, bem como auxiliar no tratamento cirúrgico dos pacientes que não responderam positivamente ao tratamento conservador. Wiltse et al., 5 de ambos os sexos, de qualquer idade, em período pré-operatório de descompressão medular e artrodese L-L5, que fizeram acompanhamento ambulatorial no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória. Foram excluídos os pacientes portadores de ED sem indicação cirúrgica, bem como pacientes que eventualmente apresentaram algum processo patológico associado à ED que dificulta a mensuração e avaliação do equilíbrio espinopélvico. A mensuração dos parâmetros utilizados nesta pesquisa foi a incidência pélvica (IP), inclinação pélvica (TILT pélvico) e inclinação sacral (SLOP pélvico), sendo realizada rotineiramente em todos os pacientes com indicação cirúrgica de ED, a partir das radiografias pré-operatórias panorâmica da coluna vertebral e lombopélvicas em perfil. Para a realização da mensuração angular utilizamos radiografia panorâmica da coluna vertebral no plano sagital, constituindo os chamados parâmetros pélvicos de Duval-Beaupère. A IP é um parâmetro morfológico- -anatômico fixo, descrito como um ângulo subtendido por uma linha traçada a partir do centro das cabeças femorais para o ponto médio da placa terminal sacral (S1) e uma linha perpendicular ao ponto médio da placa sacral (S1) (Figura 1). O TILT pélvico é um parâmetro posicional, formado pelo ângulo traçado entre a linha que liga o ponto médio da placa terminal do sacro (S1) ao eixo central da cabeça femoral e a linha de referência num plano vertical (Figura ). Casuística e métodos Estudo retrospectivo, de caráter descritivo, a partir do levantamento de dados obtidos por meio de radiografias lombopélvicas em ortostase no período pré-operatório, realizado na Santa Casa de Misericórdia de Vitória/ES após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa sob N 31.13. Foram avaliados 33 pacientes, dos quais eram do sexo feminino, com a média de idade de 59,1 anos, variando entre 3 e anos. Foram incluídos neste trabalho pacientes portadores de ED L-L5, classificados segundo os critérios de b: linha perpendicular ao ponto médio da placa sacral; c: linha entre o centro da cabeça femoral e o ponto médio sacral; IP: incidência pélvica. Figura 1 Mensuração da incidência pélvica (IP). 9

avaliar a viabilidade e utilização do teste t de student para análise estatística. Utilizamos também o teste de correlação de Pearson. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando os softwares Microsoft Office/Excel 1 e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Os resultados foram numericamente representados por meio de valores da média ± desvio-padrão, além de alguns dados expressos também em porcentagem. Valores de p <,5 foram considerados estatisticamente significantes. Resultados b: linha entre o centro da cabeça femoral e o ponto médio sacral; c: linha de referência no plano vertical; TILT/PT: inclinação pélvica. Figura Mensuração da inclinação pélvica (TILT). O SLOP sacral, também considerado um parâmetro posicional, é o ângulo entre a placa terminal do sacro (S1) e uma linha de referência num plano horizontal 1-1 (Figura 3). Utilizamos o teste Kolmogorov-Smirnov de normalidade dos dados para as variáveis, com a finalidade de No que diz respeito aos parâmetros do equilíbrio espinopélvico, o SLOP sacral e o TILT pélvico tiveram seus extremos de valores variando de a 7 e de 1 a, respectivamente. Já a IP pélvica variou de a (Figura ). A 1 5 3 35 5 5 B 1 SLOP C 1 5 7 9 IP b: linha de referência no plano horizontal; SLOP/SS: inclinação sacral. Figura 3 Mensuração da inclinação sacral (SLOP). 1 3 5 TILT Figura Distribuição dos parâmetros pélvicos na população em estudos. 97

A média da IP foi 1,, do SLOP foi 3,3 e a do TILT,,1. A análise do desvio-padrão foi mais expressiva na variável TILT, quando comparados com a IP e o SLOP, demonstrando haver maior variabilidade angular nessa variável, conforme a tabela 1. Consideramos os resultados das amostras independentes e de variâncias comuns, por indicação do teste preliminar de Levene s de comparação de variâncias, o que permitiu a utilização do teste t de Student. Ao analisarmos e compararmos as médias da IP, TILT e SLOP, verificamos que há uma correlação positiva entre IP e TILT, ou seja, quanto maior a IP maior será o TILT e uma correlação negativa entre SLOP e TILT, mostrando que quanto maior o SLOP menor será o TILT, ambos com significância estatística conforme a tabela. Nº pacientes (N) Tabela 1 Média dos parâmetros envolvidos no equilíbrio espinopélvico IP SLOP TILT 33 1, 3,3,1 Desvio-padrão 7,7 5, 7, IP: incidência pélvica; SLOP: inclinação sacral; TILT: inclinação pélvica. Tipo de variável Tabela Correlação entre as variáveis do equilíbrio espinopélvico Correlação de Pearson Grau de significância (-tailed) IP X TILT,1**, SLOP x TILT -,*,1 SLOP x IP,1,31 * A correlação é significativa no nível de,5 (-tailed). ** A correlação é significativa no nível de,1 (-tailed). Discussão No que diz respeito a ED, diversas variáveis anatômicas estão relacionadas ao seu desenvolvimento e progressão, como os parâmetros do equilíbrio espinopélvico (SLOP, TILT e IP) e os fatores individuais de cada paciente como sexo, índice de massa corpórea (IMC), fatores hormonais, hiperfrouxidão ligamentar, artrose lombar, dentre outros. 17,1 Embora esses fatores sejam conhecidos e relatados em diversos estudos, no que concerne a análise do equilíbrio espinopélvico, o desenvolvimento da ED vem sendo associado a alguns tipos pélvicos específicos que são estudados por meio da IP, TILT e SLOP. 17 Dentre as variáveis do equilíbrio espinopélvico, a IP é um parâmetro morfológico invariável para cada indivíduo, estando, no entanto, fortemente relacionada com as demais variáveis (SLOP e TILT). 17,1 A IP é um parâmetro que se mantém estável, independente da posição do paciente durante a realização da radio- grafia. Já o TILT e SLOP são parâmetros que mudam pela posição dos pacientes, sendo o somatório desses equivalentes a IP. No presente estudo, assim como na literatura, verificamos maior prevalência de ED no sexo feminino, -9,17,1 embora não se tenha uma comparação desta com um grupo controle para avaliar a prevalência global nessa população. No que tange a IP, Schuller et al., 1 Barrey et al. 19 e Morel et al. demonstraram que pacientes com ED apresentam IP acima dos valores considerados normais para a população, resultados esses semelhantes ao nosso estudo, que encontrou uma média de IP de 1,. Quanto ao SLOP sacral, existem divergências da literatura, uma vez que encontramos uma média de 3,3º, sendo esta inferior às encontradas nos estudos de Barrey et al. 19 (,1º) e Schuller et al. 1 (,3º), mas superior as de Morel et al. (37,º) e Funao et al. 17 (3,º). Os trabalhos de Schuller et al. 1 e Funao et al. 17 avaliaram os parâmetros supracitados comparando as médias encontradas nos portadores de ED com um grupo controle e verificaram que estas são maiores nos grupos de ED, relacionando-as como possíveis fatores de risco para progressão desta, corroborando com o trabalho de Aono et al., 1 em que sugere que o desenvolvimento e a progressão da ED podem estar relacionados a valores crescentes da IP. Em relação ao TILT pélvico, o trabalho de Funao et al. 17 não demonstrou significância estatística quando comparado com o grupo controle. Em contrapartida, Schuller et al. 1 evidenciaram aumento significativo do TILT em relação ao grupo controle, e no presente trabalho a média geral do TILT foi menor que a dos autores citados anteriormente. Acreditamos que a variabilidade dos parâmetros TILT e SLOP encontrados nos diversos trabalhos avaliados se deve por uma não padronização e acompanhamento na realização dos exames, feitos em diferentes centros diagnósticos e por diferentes avaliadores. Para Schuller et al. 1 e Funao et al., 17 o aumento progressivo do TILT pélvico nos pacientes com altos valores de IP pode ser considerado um mecanismo compensatório na tentativa de restabelecer o equilíbrio espinopélvico, o que vem confirmar a correlação positiva encontrada entre IP e TILT em nosso trabalho, uma vez que essa maior inclinação ocorre com o intuito de se diminuir a pressão intradiscal e consequentemente a dor lombar. Conclusão Nos portadores de ED L-L5, os parâmetros da IP, TILT e SLOP tiveram suas médias iguais a 1,,,1 9

e 3,3, respectivamente, revelando uma alteração na conformação pélvica que culminou em um desequilíbrio espinopélvico nesses pacientes. Conflitos de interesse Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Referências 1. Junghanns H. Spondylolisthesis ohn spalt in zwischengelenstuck. Arch Orthop Unfallchir. 193; 9:11-7.. Syrmou E, Tsitsopoulos PP, Marinopoulos D, Tsonidis C, Anagnostopoulos I, Tsitsopoulos PD. Spondylolysis: a review and reappraisal. Hippokratia. 1;1(1):17-1. 3. Kleinstueck FS, Fekete TF, Mannion AF, Grob D, Porchet F, Mutter U, et al. To fuse or not to fuse in lumbar degenerative spondylolistesis: do baseline symptoms help provide the answer?. Eur Spine J. 1;1():-75.. Denard PJ, Holton KF, Miller J, Fink HA, Kado DM, Yoo JU, et al. Lumbar spondylolisthesis among elderly men: prevalence, correlates, and progression. Spine (Phila Pa 197). 1;35(1):17-. 5. Wiltse LL, Newman PH, Macnab I. Classification of spondylolisis and spondylolisthesis. Clin Orthop Relat Res. 197;(117):3-9.. Rosenberg NJ. Degenerative spondylolisthesis. Predisposing factors. J Bone Joint Surg Am. 1975;57():7-7. 7. Fitzgerald JA, Newman PH. Degenerative spondylolisthesis. J Bone Joint Surg Br. 197;5():1-9.. Ha KY, Chang CH, Kim KW, Kim YS, Na KH, Lee JS. Expression of estrogen receptors of the facet joints in degenerative spondylolisthesis. Spine (Phila Pa 197). 5;3(5):5-. 9. Devine JG, Schenk-Kisser JM, Skelly AC. Risk factors for degenerative spondylolisthesis: a systematic review. Evid Based Spine Care J. 1;3():5-3. 1. Kong CG, Park JS, Park JB. Sacralization of L5 in radiological studies of degenerative spondylolisthesis at L-L5. Asian Spine J. ;(1):3-7. 11. Cho BY, Murovic JA, Park J. Imaging correlation of the degree of degenerative L-5 spondylolisthesis with the corresponding amount of facet fluid. J Neurosurg Spine. 9;11(5):1-9. 1. Watters WC 3rd, Bono CM, Gilbert TJ, Kreiner DS, Mazanec DJ, Shaffer WO, et al. An evidence-based clinical guideline for the diagnosis and treatment of degenerative lumbar spondylolisthesis. Spine J. 9;9(7):9-1. 13. Lamartina C, Berjano P, Petruzzi M, Sinigaglia A, Casero G, Cecchinato R, et al. Criteria to restore the sagittal balance in deformity and degenerative spondylolisthesis. Eur Spine J. 1;1(Suppl 1):S7-31. 1. Mehta VA, Amin A, Omeis I, Gokaslan ZL, Gottfried ON. Implications of spinopelvic alignment for the spine surgeon. Department of Neurosurgery. 1;7(3):77-1. 15. Kim MK, Lee SH, Kim ES, Eoh W, Chung SS, Lee CS. The impact of sagittal balance on clinical results after posterior interbody fusion for patients with degenerative spondylolisthesis: a pilot study. BMC Musculoskelet Disord. 11;1-9. 1. Vaz G, Roussouly P, Berthonnaud E, Dimnet J. Sagital morphology and equilibrium of pelvis and spine. Eur Spine J. ;11(1):-7. 17. Funao H, Tsuji T, Hosogane N, Watanabe K, Ishii K, Nakamura M, et al. Comparative study of spinopelvic sagittal alignment between patients with and without degenerative spondylolisthesis. Eur Spine J. 1;1(11):11-7. 1. Schuller S, Charles YP, Steib J-P. Sagittal spinopelvic alignment and body mass index in patients with degenerative spondylolisthesis. Eur Spine J. 11;(5):713-9. 19. Barrey C, Jund J, Perrin G, Roussouly P. Spinopelvic alignment of patients with degenerative spondylolisthesis. Neurosurgery. 7;1(5):91-.. Morel E, Ilharreborde B, Lenoir T, Hoffmann E, Vialle R, Rillardon L, et al. Sagittal balance of the spine and degenerative spondylolihtesis. Rev Chir Orthop Reparatrice Appart Mot. 5;91(5):15-. 1. Aono K, Kobayashi T, Jimbo S, Atsuta Y, Matsuno T. Radiographic analysis of newly developed degenerative spondylolisthesis in a mean twelve-year prospective study. Spine (Phila Pa 197). 1;35():7-91. Endereço para correspondência Charbel Jacob Júnior Serviço de Coluna Vertebral, Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória Rua Doutor João Santos Neves, 13, Vila Rubim 91-1 Vitória, ES, Brasil E-mail: jcharbel@gmail.com 99