BENS PÚBLICOS - PRIVATIZAÇÃO E DELEGAÇÂO Prof.MSc. José Ricardo Leal Lozano 1 A Privatização de Bens Públicos De forma abrangente o processo de privatização compreende a transferência da propriedade e do controle de uma empresa do Estado para o setor privado. Pode, também, ser conceituado como processo de privatização a simples venda de qualquer parcela de participação (mesmo inferior a 50%) do capital votante de uma empresa estatal a investidores privados (Lagemann, 1996). O movimento de privatização desenvolveu-se no mundo a partir do final da década de 70, tendo como principais razões (Lagemann, 1996, p.328-329): a. A mudança no pensamento econômico e na política econômica : uma das saídas encontradas para a crise vivida pelas economias no início da década de 1970 consistiu no aumento da eficiência produtiva. Portanto, nas condições de oferta dos bens e serviços. Como o Estado é tido como um produtor estruturalmente menos eficiente do que o setor privado, impõe-se a privatização para obter uma economia nacional mais eficiente e competitiva e, assim, em condições de retomar o crescimento. Encontrada b. A mudança do papel do Estado na economia : o Estado reduz sua participação no setor produtivo da economia e libera recursos humanos e financeiros a serem realocados em novas áreas prioritárias como a educação e a saúde, ou até deslocando-os de setores de produção tradicionais para os setores de pesquisa de tecnologia de ponta. c. A crise fiscal : praticamente, todos os governos dos países desenvolvidos e grande parte dos países em desenvolvimento se encontram endividados e gerando déficits. A privatização é uma alternativa de resolver parte da crise fiscal: a venda de empresas públicas rentáveis propicia-lhes uma receita extra e a venda de uma empresa com constantes prejuízos reduzem-lhes a despesa. Os recursos podem ser utilizados no reembolso de uma parte da dívida pública ou na constituição de um fundo para sua amortização. d. A necessidade de maior flexibilidade : as empresas públicas estão geralmente sujeitas a regramentos para controle, o que lhes retira a agilidade, e sujeita a critério políticos, como, por exemplo, privilegiar produtos nacionais ou regionais. Elas também tendem a ser utilizadas para realizar política de combate à inflação através do congelamento das tarifas, com efeitos nefastos sobre sua saúde financeira e sobre sua capacidade de realização de investimentos. e. A exigência de melhor qualidade dos bens e serviços produzidos pelas empresas públicas': a busca da qualidade total, a orientação do atendimento para o cliente, está mais adiantada em empresas do setor privado. f. O estímulo ao mercado de capitais e ao capitalismo popular : a disseminação das ações entre a população é caracterizada como uma democratização do controle das empresas estatais. g. O desenvolvimento tecnológico : o desenvolvimento tecnológico está a exigir investimentos nem sempre disponíveis no Estado sufocado na crise fiscal.
h. O efeito-demonstração : as experiências de privatização bem-sucedidas em determinados países servem de estímulo ao processo em outros. 2 Privatização e Delegação É de fundamental importância conceitual estabelecer as diferenças entre privatização e delegação. Privatização, conforme já evidenciado, implica na transferência de patrimônio do setor público para o setor privado. A propriedade do bem passa definitivamente para o âmbito privado. A delegação, de outra parte, constitui transferência da prestação de serviço do setor público para o setor privado. Em síntese, bens públicos podem ser privatizados ou ter delegado a particular sua utilização. Serviços públicos podem ser tão-somente delegados. 3 Bens Públicos Bens públicos em sentido amplo são todas as coisas corpóreas ou incorpóreas, imóveis, móveis ou semoventes, créditos, direitos e ações, que pertencem a qualquer título, às entidades estatais, autárquicas e paraestatais (Meirelles, 1989). São características dos bens e serviços públicos: a) uso simultâneo e não excludente; b) CMg = 0 (Custo marginal = 0 )para o usuário, e demanda crescente, tendente ao infinito. 4. Classificação dos Bens Públicos Quanto à sua propriedade os bens públicos são classificados em: federais, estaduais e municipais. A totalidade dos bens públicos, entretanto, nacionais haja vista que integrantes do patrimônio da Nação (Art. 20, CF). Quanto à sua destinação os bens públicos podem ser classificados em três categorias: a) de uso comum (domínio público); b) de uso especial (administrativo); c) dominiais (patrimônio disponível). 5. Categorias de Bens Públicos a) de uso comum (domínio público); Constituem todos os locais de uso coletivo, sem discriminação de usuários ou ordem especial para sua fruição. Sua utilização não requer qualquer autorização ou consentimento especial, tampouco admite freqüência limitada ou remunerada. Para esse uso são admitidas somente regulamentações gerais de ordem pública, com o intuito de preservar a ordem, segurança, saúde, moral, etc. Qualquer restrição à utilização de bem público (cobrança de pedágio, p. ex.) acarreta a especialização do uso, e quando se tratar de bem efetivamente necessário à coletividade, pode ser feita somente em caráter opcional. b) de uso especial (patrimônio administrativo) É aquele que, por um título individual, a Administração atribui a determinada pessoa para fruir de um bem público com
exclusividade, nas condições convencionadas. c) dominiais (patrimônio disponível) Constituem o patrimônio disponível, como objeto de direito pessoal ou real. São aqueles que, embora integrado ao patrimônio público como os demais, deles diferem pela possibilidade de serem utilizados em qualquer fim, ou mesmo alienados pela Administração (Meirelles, 1993). Além desses bens originariamente integrantes do patrimônio disponível da Administração, por não terem destinação pública determinada nem um fim administrativo específico, outros poderão ser transferidos, por lei, para esta categoria ficando desafetados de sua primitiva finalidade pública. A desafetação da área é realizada mediante edição de lei específica. Constituem exemplos de bens dominiais: imóveis em geral não utilizados para fins administrativos ou uso comum, bens e direitos em geral, etc. 6. Formas Administrativas de Uso dos Bens Públicos a) Autorização de Uso: É ato unilateral, discricionário e precário mediante o qual a Administração consente a prática de determinada atividade individual incidente sobre determinado bem público. Visa apenas a atividades transitórias e irrelevantes para o Poder Público. b) Permissão de Uso: Ato unilateral, discricionário e precário, pelo qual a Administração faculta ao particular a utilização individual de determinado bem público. Independe de lei autorizadora, e licitação; mas nada impede sua utilização. A permissão não confere exclusividade de uso, que é característica da concessão, mas excepcionalmente pode ser conferida com privatividade. Caso não haja interesse para a coletividade, mas somente para o particular, o uso especial de bem público não deve ser permitido, tampouco concedido, mas sim somente autorizado, em caráter precaríssimo. c) Cessão de Uso: Dá-se de uma entidade ou órgão para outro. É ato de colaboração entre repartições públicas, onde aquela que detém bens desnecessários aos seus serviços cede seu uso a outra que o está precisando. d) Concessão de Uso: Processa-se por contrato administrativo. Atribui utilização exclusiva de um bem de domínio público a particular para que o explore segundo sua destinação específica. É precedida de autorização legislativa. Exige processo licitatório específico. Exemplo: hotel municipal, áreas em mercado, restaurantes em edifícios públicos, extração de areia às margens e nos leitos de rios, pedágios explorados por empresas privadas, etc. O Patrimônio Público
Na esfera Federal, compete ao Ministério do Planejamento e Gestão administrar o patrimônio da União. O patrimônio, de natureza tão diversificada, está composto por imóveis próprios nacionais e terrenos de marinha, áreas de preservação permanente, terras indígenas, florestas nacionais, terras devolutas, áreas de fronteira e bens de uso comum. Por intermédio da Secretaria do Patrimônio da União, o Ministério tem condições de contribuir para amenizar os problemas sociais existentes no País, influindo diretamente em questões relacionadas com a geração de emprego e renda. Programa de ocupação da orla brasileira e implantação de projetos turísticos, em parceria com outros Órgãos das esferas federal, estadual e municipal, prestigiando a conservação ambiental, tendo como diretriz a valorização dos imóveis da União, também é prioridade da Secretaria do Patrimônio da União. Há que se considerar, ainda, a busca pela regularização e utilização racional dos imóveis de uso do Governo Federal. 7. Bens da União São bens da União (art. 20 da CF): - "os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no art. 26, II ; - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; - o mar territorial; - os terrenos de marinha e seus acrescidos; - os potenciais de energia hidráulica; - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; - as terras tradicionalmente ocupadas por índios". (MEIRELLES, 1993) "As terras públicas compõem-se de terras devolutas, plataforma continental, terras ocupadas pelos silvícolas, terrenos de marinha, terrenos acrescidos, ilhas dos rios públicos e oceânicos, álveos abandonados, além das vias e logradouros públicos e áreas ocupadas com as fortificações e edifícios públicos". (MEIRELLES, 1993, p.442) 1. Terras Devolutas "Terras devolutas são todas aquelas que, pertencentes ao domínio público de qualquer das entidades estatais, não se acham utilizadas pelo Poder Público, nem destinadas a fins administrativos específicos. São bens públicos patrimoniais ainda não utilizados pelos
respectivos proprietários". (MEIRELLES, 1993) 2. Plataforma Continental Plataforma continental ou plataforma submarina é o prolongamento das terras continentais sob o mar, até a profundidade aproximada de duzentos metros a partir da qual o solo submarino descende abruptamente para as regiões pelágicas e abissais". (MEIRELLES, 1993) 3. Terras Tradicionalmente Ocupadas pelos Índios As terras ocupadas pelos índios são as porções do território nacional necessárias à sobrevivência física e cultural das populações indígenas que as habitam, assegurando aos índios a posse permanente das terras por eles habitadas e o usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades nelas existentes." (MEIRELLES, 1993) 4. Terrenos de Marinha "Terrenos de marinha são todos os que, banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, em sua foz, vão até a distância de 33 metros para a parte das terras, contados desde o ponto em que chega a preamar média.(meirelles, 1993) 5. Terrenos Acrescidos Terrenos acrescidos são todos aqueles que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha. 6. Ilhas As ilhas dos rios e lagos públicos interiores pertencem aos Estados membros e as dos rios e lagos limítrofes com Estados estrangeiros são do domínio da União. As ilhas marítimas classificam-se em costeiras e oceânicas. Ilhas costeiras são as que resultam do relevo continental ou da plataforma submarina; ilhas oceânicas são as que se encontram afastadas da costa e nada têm a ver com o relevo continental ou com a plataforma submarina. As ilhas costeiras, por se encontrarem no mar territorial, sempre foram consideradas domínio da União, porque este mar e tudo o que nele se encontra é bem federal. As ilhas oceânicas sujeitas à Soberania Nacional, ou sobre as quais o Brasil manifeste interesse de ocupação, foram oficialmente integradas no patrimônio da União com a Constituição de 1967 (art. 4o, II), conquanto seu domínio sobre elas jamais tenha sido contestado pelos Estados-membros. (MEIRELLES, 1993) 7. Álveos Abandonados "Álveo é a faixa de terra ocupada pelas águas de um rio ou lago; é o leito das águas perenes. Enquanto coberto pelas águas, o álveo segue a condição das mesmas; abandonado, acede aos terrenos marginais, ou passa a pertencer ao Poder Público, conforme o caso. (MEIRELLES, 1993) 8. Faixa de Fronteira A faixa de fronteira, destinada à defesa nacional, é de cento e cinqüenta
ADM PUBLICA III -LOZANO quilômetros de largura, paralela à linha divisória do território brasileiro." (MEIRELLES, 1993) 9. Vias e Logradouros Públicos "As terras ocupadas com as vias e logradouros públicos pertencem às Administrações que os construíram. Tais áreas podem constituir bens de uso comum do povo ou bens de uso especial." (MEIRELLES, 1993)