GÁS HILARIANTE: UM RECURSO PARA O CONTROLE DO SOFRIMENTO NA CADEIRA DO DENTISTA *

Documentos relacionados
USO DE SEDAÇÃO ORAL PARA O ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO NO NESO

PERFIL DO ATENDIMENTO REALIZADO NO NESO NO ANO DE 2011*

TRATAMENTO ODONTOLÓGICO SOB ANESTESIA GERAL NO PROGRAMA DE ATENÇÃO HUMANIZADA A PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

SEDAÇÃO CONSCIENTE COM ÓXIDO NITROSO E OXIGÊNIO (N 2 CONSCIOUS SEDATION WITH NITROUS OXIDE / OXIGEN (N 2 ): CLINICAL EVALUATION THROUGH OXIMETRY

Os efeitos do controle farmacológico no comportamento futuro de pacientes menores de três anos no consultório odontológico

Palavras-chave: Educação em Saúde, Acolhimento, Odontopediatria, Equipe interdisciplinar.

CONSENT FORM PARENT ON BEHALF OF CHILD

Entidades de Fiscalização do Exercício das Profissões Liberais Conselho Federal de Odontologia RESOLUÇÃO Nº 51, DE 30 DE ABRIL DE 2004

CURSO DE ATUALIZAÇÃO CLÍNICA EM ODONTOPEDIATRIA

PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO FACE A FACE FRENTE A ANSIEDADE E DOR EM JOVENS SUBMETIDOS À EXODONTIA DE TERCEIRO MOLAR SUPERIOR

O USO DO ÓXIDO NITROSO EM ODONTOPEDIATRIA

ANSIEDADE FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO EM PSFS DO MUNICÍPIO DE PONTE NOVA 1

Eficácia e segurança da sedação consciente com óxido nitroso no tratamento pediátrico odontológico: uma revisão de estudos clínicos

Estudo Compara Efeitos da Morfina Oral e do Ibuprofeno no Manejo da Dor Pós- Operatória

Anestesia. em cirurgia cardíaca pediátrica. por Bruno Araújo Silva

PALAVRAS-CHAVE: Escalas, Comportamento Infantil, Catastrofização, Estudos de Validação

O Uso do Óxido Nitroso como uma Opção no Controle de Comportamento em Odontopediatria

ATIVIDADES LÚDICAS DE SAÚDE BUCAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES HOSPITALIZADOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE. Cristiana Marinho de Jesus-França

I PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E ATUALIZAÇÃO EM ANESTESIOLOGIA E DOR DA SARGS ANESTESIA PEDIÁTRICA: PODEMOS REDUZIR A MORBIMORTALIDADE?

RESTAURAÇÃO DE MOLAR DECÍDUO COM RESINA COMPOSTA DE ÚNICO INCREMENTO RELATO DE UM CASO CLÍNICO

Nosso objetivo: Exposição de casos clínicos, compartilhar conhecimentos e ampliar as possibilidades de atendimentos no seu dia a dia profissional.

O USO DO ÓXIDO NITROSO/OXIGÊNIO NA CLÍNICA ODONTOLÓGICA

Avaliação da relação entre procedimentos odontológicos e comportamento infantil

Nome do Paciente: Data de nascimento: / / CPF: Procedimento Anestésico: I. O que é?

Anestesia fora do Centro Cirúrgico

Terapêutica Medicamentosa em Odontopediatria: ANSIOLÍTICOS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO COLEGIADO DO CURSO

The Use of Benzodiazepines and N 2

E S P E C I A L I Z A Ç Ã O EM O D O N T O P E D I A T R I A A P C D A R A Ç A T U B A

A musicoterapia como agente de controle da ansiedade durante procedimentos odontológicos: projeto piloto

REANIMAÇÃO DO RN 34 SEMANAS EM SALA DE PARTO - Direitos autorais SBP PRÉ E PÓS-TESTE. Local (Hospital e cidade)

CONTROLE COMPORTAMENTAL EM ODONTOPEDIATRIA COM O AUXÍLIO DE FÁRMACOS: QUANDO E COMO INDICAR.

Fatores relacionados ao uso de diferentes métodos de contenção em pacientes portadores de necessidades especiais

Departamento de Clínica Infantil, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Araraquara, SP, Brasil 2

Técnicas de Controle do Comportamento do Paciente Infantil: Revisão de Literatura

CURSOS ICMDS Sedação Consciente Inalatória

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JAQUELINE DE OLIVEIRA SCHNEIDER ABORDAGEM DA ANSIEDADE EM ODONTOPEDIATRIA: REVISÃO DE LITERATURA

Um jeito simples e suave de Anestesiar

CURSOS ICMDS ODONTOPEDIATRIA

Comparação de insuflação com dióxido de carbono e ar em endoscopia e colonoscopia: ensaio clínico prospectivo, duplo cego, randomizado - julho 2017

PROTO COLO CLÍNICO ABORDAGEM INICIAL DAS TAQUICARDIAS EM SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA. Vinício Elia Soares Coordenador Executivo da Rede de Cardiologia

Associação entre dor e comportamento de crianças submetidas a tratamento odontológico sob sedação moderada ou estabilização protetora 1

GEOVANNA DE CASTRO MORAIS MACHADO ASSOCIAÇÃO DE FATORES INDIVIDUAIS E FAMILIARES COM O COMPORTAMENTO DA CRIANÇA NA SEDAÇÃO ODONTOPEDIÁTRICA

Cirurgiã-Dentista do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes Unidade Cérvico-Facial EBSERH UFAL Maceió, AL

ANEXO IV MOTIVOS DE GLOSAS

Centro de Especialidades Odontológicas - CEO 2009/2010 CISCOPAR

ESTUDO RETROSPETIVO: AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM DO UTENTE SUBMETIDO A PROCEDIMENTO ENDOSCÓPICO COM SEDAÇÃO/ANESTESIA GERAL

Nos últimos anos, vem sendo desenvolvidas novas tecnologias em materiais

FRANCISCO ALÍCIO MENDES. Análise qualitativa da sedação consciente em pacientes odontofóbicos

Hidroxizina é Nova Potencial Opção Terapêutica para Tratamento do Bruxismo do Sono Infantil. Segurança e Eficácia Comprovadas em

RESUMO. Palavras-chave: Criança; Midazolam; Odontologia. INTRODUÇÃO

Ter material e equipamentos em condições adequadas de uso para realização do procedimento anestésico em exames diagnósticos.

O USO DA CONTENÇÃO FÍSICA COMO TÉCNICA DE CONDICIONAMENTO NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE BEBÊS: REVISÃO DE LITERATURA.

Roberta Frasson Macarini

Nosso objetivo: Exposição de casos clínicos, compartilhar conhecimentos e ampliar as possibilidades de atendimentos no seu dia a dia profissional.

Atualmente, os conceitos de prevenção e de preservação das estruturas dentais sadias

REVISTA PERSPECTIVA: CIÊNCIA E SAÚDE

PACIENTE GRAVE IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO TREINAMENTO

Profa. Ana Carolina Schmidt de Oliveira Psicóloga CRP 06/99198 Especialista em Dependência Química (UNIFESP) Doutoranda (UNIFESP)

Efeito do Hidrato de Cloral e do Diazepam em Crianças Não Cooperativas ao Tratamento Odontológico

PROJETO RESGATANDO SORRISOS

Drogas que afetam o sistema nervoso. Disciplina Farmacologia Profª Janaína Santos Valente

saúde bucal no estado de São Paulo

Nosso objetivo: Exposição de casos clínicos, compartilhar conhecimentos e ampliar as possibilidades de atendimentos no seu dia a dia profissional.

Gelder M, Mayou R, Geddes J. Psiquiatria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999.

BIANCA CARNEIRO VASCONCELOS GABRIELLE MARIE MONTE BRAGA

Odontologia Bacharelado

Psicologia e Odontopediatria: contextualização da interdisciplinaridade no Brasil

SEDAÇÃO CONSCIENTE COM ÓXIDO NITROSO NA CLÍNICA ODONTOPEDIÁTRICA CONSCIOUS SEDATION WITH NITROUS OXIDE IN PEDIATRIC DENTAL CLINIC

Comparação e Avaliação da Concordância entre Pressão Arterial Periférica (Casual e Ambulatorial) em Idosas Fisicamente Ativas

PRÉ- NATAL ODONTOLÓGICO PROTOCOLO DE ATENDIMENTO GRUPO QS- RS MARÇO 2016

Percepção do estudante de Odontologia sobre os fatores estressores relacionados ao atendimento infantil

AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E PRÁTICAS EM SAÚDE BUCAL DE RESPONSÁVEIS POR CRIANÇAS ACOMPANHADAS NA FACULDADE DE ODONTOLOGIA PELOTAS\RS

PoliticaAssistencial. Política das Recuperações Anestésicas da SBIBAE

Autor: Ângela Bento Data:8/11/2017 ANALGESIA DE PARTO ANALGESIA ENDOVENOSA E BLOQUEIOS PERIFERICOS

ANEXO DA DECISÃO CFO-44/2014

1º Período ESTRUTURA CURRICULAR. Carga horária total C-H. Total. C-H. Prática. C-H Teórica. Prérequisitos

AUTORES RESUMO. Introdução

Nosso objetivo: Exposição de casos clínicos, compartilhar conhecimentos e ampliar as possibilidades de atendimentos no seu dia a dia profissional.

ABORDAGEM ANESTÉSICA DE EXODONTIA DE INCISIVOS INFERIORES EM COELHO - RELATO DE CASO

Nosso objetivo: Exposição de casos clínicos, compartilhar conhecimentos e ampliar as possibilidades de atendimentos no seu dia a dia profissional.

Guia de Cuidados Imediatos para Traumatismos em Dentes de Leite

PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS PELO PROJETO DE EXTENSÃO: CIRURGIA BUCO-MAXILO-FACIAL VOLTADA PARA PACIENTES PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS.

MANUAL DO USUÁRIO DENTAL CARE

Leia estas instruções:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE LARISSA DA SILVA MOURA

CAPÍTULO II DAS ATRIBUIÇÕES DO BIOBANCO

Odontopediatras e Médicos Pediatras: os benefícios dessa Integração

Plano Odontológico OMINT Manual do Beneficiário Versão Dez-2011

PERFIL DO MEDO APRESENTADO POR CRIANÇAS FRENTE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO

O futuro está nas suas mãos

curso dentes inclusos 4ª edição learning Dárcio Fonseca André Macedo 2-4 dezembro

Tripla Associação Nutracêutica. Eficaz na Prevenção e Tratamento da Migrânea

Módulo Opcional de Aprendizagem

Efeitos do Controle Aversivo no Contexto de Tratamento Odontopediátrico

RESUMO. Palavras-chave: Criança, Cárie Dentária, Qualidade de vida. INTRODUÇÃO

PERFIL DE USUÁRIOS DE PSICOFÁRMACOS ENTRE ACADÊMICOS DO CURSO DE FARMÁCIA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO DO SUL DO BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA GEOVANNA DE CASTRO MORAIS MACHADO

Transcrição:

GÁS HILARIANTE: UM RECURSO PARA O CONTROLE DO SOFRIMENTO NA CADEIRA DO DENTISTA * MOURA, Larissa da Silva 1 ; CASTRO, Anelise Daher Vaz 2 ; GOULART, Cairenne Silveira Bessa 3 ; BRASILEIRO, Sarah Vieira 4 ; COSTA, Luciane Ribeiro de Rezende Sucasas da 5 Palavras-chave: Sedação. Óxido nitroso. Comportamento infantil. Introdução A ansiedade e o medo, associados a dor, são os principais fatores responsáveis pelo comportamento inadequado do paciente frente ao tratamento odontológico ou até mesmo a recusa em procurar atendimento odontológico. Os principais fatores geradores de ansiedade e fobia são o medo da aplicação de anestesia local e o uso de instrumentos rotatórios (BARE; DUNDES, 2004). Os estresses físico e psicológico relacionados à anestesia local podem complicar o tratamento odontológico (NICHOLSON et al, 2001). O óxido nitroso foi utilizado pela primeira vez como uma droga de abuso para descontração dos usuários e ficou conhecido como gás do riso ou gás hilariante. Somente em 1844, o óxido nitroso foi utilizado em pacientes (MALAMED; CLARCK, 2003). Atualmente é amplamente utilizado nos Estados Unidos e Europa como técnica de manejo comportamental em Odontologia, sobretudo em pacientes pediátricos (WILSON; ALCAINO, 2011). A sedação inalatória com a mistura de óxido nitroso/oxigênio (N 2 O/O 2 ) é considerada uma técnica segura e eficaz para reduzir ansiedade e melhorar a comunicação entre paciente e profissional (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC DENTISTRY, 2011-2012; KLATCHOIAN et al, 2010). A inalação da mistura gasosa em concentrações clínicas (até 70% de N 2 O/O 2 ) produz um estado de relaxamento, sonolência e sensação de bem-estar (COSTA et al., 2007). * Resumo revisado por Luciane Ribeiro de Rezende Sucasas da Costa. Coordenadora da Ação de Extensão NESO Núcleo de Estudos em Sedação Odontológica, código FO-47. 1 Clínica privada larissa.pediatria@gmail.com 2 Universidade Federal de Goiás anelisedaher@gmail.com 3 Clínica privada cairenne@gmail.com 4 Clínica privada sarah.brasileiro@gmail.com 5 Universidade Federal de Goiás lsucasas@odonto.ufg.br

Segundo recomendações nacionais (KLATCHOIAN et al, 2010) e diretrizes internacionais (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC DENSTISTRY, 2011-2012; HALLONSTEN et al, 2012) os objetivos da sedação inalatória N 2 O/O 2 incluem a redução ou eliminação da ansiedade. Para o Conselho Federal de Odontologia (Conselho Federal de Odontologia, 2004), Resolução 51/2004, de 30 de abril de 2004, o cirurgião-dentista está apto a realizar a sedação inalatória quando habilitado após realização de curso específico com carga horaria mínima de 96 horas. O objetivo deste trabalho é apresentar a técnica de sedação inalatória com N 2 O/O 2 como um método seguro e viável no controle da ansiedade no tratamento odontológico ambulatorial, através da descrição de sessões clínicas de atendimento odontológico de criança submetida à sedação inalatória. Metodologia Para descrição da técnica, foi selecionado um caso clínico realizado no Núcleo de Estudos de Sedação em Odontologia (NESO) do Programa de Extensão de Atenção Humanizada de Pacientes com Necessidades Especiais (PAHPE) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Para seleção do caso clínico, buscou-se um caso de um indivíduo que apresentasse ansiedade e medo odontológico e que tivesse sido submetido a mais de uma sessão clínica de sedação inalatória com N 2 O/O 2, sob constante monitorização do comportamento e desconforto. Foi selecionado o caso clínico de uma criança de 9 anos e 11 meses de idade, sexo feminino, com história de não aceitação de tratamento odontológico anterior, seguido de desmaio, por transtorno de ansiedade grave e medo de agulha, que foi submetida a 3 sessões de sedação inalatória com N 2 O/O 2 para procedimento cirúrgico e restaurador (descrição detalhada do caso na sessão Resultados e Discussão). A avaliação do comportamento e desconforto foi realizada através da monitorização da criança durante a sedação inalatória em três momentos: durante o briefing (momento para fornecer informações sobre o procedimento com demonstração e experimentação do paciente), na 1ª sessão e na 2ª sessão. Em cada um desses momentos, anotava-se os seguintes dados em cada fase do atendimento: a concentração de óxido nitroso fornecida, a saturação de oxigênio, a frequência cardíaca da criança e o escore de comportamento.

A concentração de óxido nitroso foi checada no próprio equipamento misturador utilizado (Matrix Parker, MDM); a saturação de oxigênio (SpO2) e a frequência cardíaca (batimentos por minuto bpm) foram mensuradas através de oxímetro de pulso digital (NewTech Fingertip Oximeter) instalado na criança; e o escore de comportamento baseou-se na classificação da escala Ohio State University Behavioral Rating Scale (OSUBRS), que envolve quatro categorias através da observação dos movimentos da cabeça e extremidades, do choro e da resistência física: escore 1 comportamento sem choro e sem movimentos, escore 2 comportamento apresentando choro e sem apresentar movimento, escore 3 comportamento apresentando movimentos, sem apresentar choro, escore 4 comportamento apresentando choro e movimentos (TORRES-PÉREZ et al., 2007). Os escores da escala OSURBS e a frequência cardíaca foram os parâmetros considerados para avaliação do comportamento e desconforto da criança. Os atendimentos odontológicos foram realizados por dois cirurgiões-dentistas especialistas em Odontopediatria e os registros foram anotados por um observador independente. Os atendimentos sob sedação inalatória foram realizados após concordância do responsável legal para realização da técnica e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados e Discussão A criança selecionada para descrição da técnica de sedação inalatória, compareceu ao NESO - UFG acompanhada pela mãe, através de encaminhamento do neuropediatra. A queixa principal relatada pela mãe foi um desmaio sofrido na última vez que a criança havia ido ao dentista, não deixando completar o tratamento. A história médica revelou que a criança teve crises convulsivas, e fazia uso de medicamento anticonvulsivante (Gardenal 35 mg por dia) desde 1 ano de idade, justificadas como consequência de transtorno de ansiedade. Episódios de desmaio frente a procedimentos envolvendo agulhas, como exames laboratoriais, foram relatados como frequentes. Na primeira sessão realizou-se o briefing e realização de exame odontológico completo (profilaxia e exame clínico). As outras duas sessões de tratamento odontológico foram realizadas com intervalo de uma semana entre cada sessão.

PROCEDIMENTO A criança apresentou-se com comportamento tranquilo (escore 1) em quase todas as fases dos atendimentos, incluindo a anestesia local (Tabela 1), o que é esperado no controle da ansiedade de crianças submetidas a sedação inalatória (McCANN et al., 1996; TORRES-PÉREZ et al., 2007). O uso da frequência cardíaca pode ser um parâmetro fisiológico para mensuração de dor/estresse e ansiedade (HOWARD et al., 2008; LOUW et al, 2011). A frequência cardíaca da criança atendida apresentou-se quase sempre em níveis basais (62 a 108 bpm) (COSTA et al., 2007) durante as duas sessões de tratamento. Na fase de exame clínico, a frequência cardíaca apresentou reduzida nas sessões de tratamento comparadas ao briefing, sugerindo um relativo conforto da paciente com o uso da técnica ao longo dos atendimentos (Tabela 1). Tabela 1 Monitorização da criança durante as sessões clínicas de atendimento sob sedação inalatória N2O 2/O 2 (%) FC (bpm) SpO 2 Comportamento (OSURBS) SESSÃO 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª Baseline 0 0 0 86 98 80 99 99 99 1 1 1 Adaptação da máscara 0 - - 110 - - 99 - - 1 - - Início sedação 0 0-111 93-99 99-1 1 - Monitorização 40 - - 82 - - 99 - - 1 - - Exame clínico 40 60 20 120 86 75 99 99 99 3 1 1 Profilaxia 50 - - 77 - - 99 - - 1 - - Anestesia - 60 60-77 82-99 99-1 1 Inicio alta rotação - 60 60-71 83-99 99-1 1 Restauração - 50 60-57 67-99 99-1 1 Exodontia - 60 60-71 56-99 99-3 3 Conclusão As sessões clínicas do caso descrito mostraram significante benefício para criança que apresentava transtorno de ansiedade e medo de agulha, possibilitando um tratamento odontológico satisfatório, sem desconforto e comportamento tranquilo, inclusive para procedimentos invasivos (restauração e extração dentária). A sedação inalatória N2O/O2 para controle de medo e ansiedade para tratamento odontológico pode ser um método seguro e viável.

Referências bibliográficas AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC DENTISTRY. Guideline on use of nitrous oxide for pediatric dental patient. Pediatr Dent, v.33, n.6, p.181-184, 2011-2012. BARE, L.C; DUNDES, L. Strategies for combating dental anxiety. J Dent Educ, v.68, n.11, p.1172-7, Nov. 2004 CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Resolução 51/2004. Normas para habilitação do cirurgião-dentista na aplicação da analgesia relativa ou sedação consciente com óxido nitroso. 54p. Disponível em: http://cfo.tempsite.ws/2009/09/serviços-e-consultas/atonormativo/?id=902. Acesso em: 07/01/2012 COSTA, P.P.S.; COSTA, L.R.R.S. Farmacologia clínica aplicada à sedação. In: COSTA, L.R.R.S. et al. Sedação em odontologia: desmistificando a sua prática. São Paulo: Artes médicas, 2007. p. 53-71. HALLONSTEN, A.L.; et al. EAPD Guidelines on Sedation in Paediatric Dentistry. Disponível em: <http://www.eapd.gr/dat/5cf03741/file.pdf>. Acesso em 08 jan 2012. HOWARD, R; CARTER, B.; CURRY,J. et al. Pain assessment. Paediatr Anaesth, v.18, n.1, p.14-18, may, 2008. KLATCHOIAN, D.A.; NORONHA, J.C.; TOLEDO, O.A. Adaptação comportamental do paciente odontopediátrico. In: MASSARA, M.L.A.; RÉDUA, P.C.B. Manual de referência para procedimentos clínicos em odontopediatria. São Paulo: Santos, 2010. p. 49-71. LOUW, Q.; GRIMMER-SOMERS, K.; SCHRIKK, A. Measuring children's distress during burns dressing changes: literature search for measures appropriate for indigenous children in South Africa. J Pain Res, v.4, p.263-277, 2011. NICHOLSON, J. W. Pain perception and utility: a comparison of the syringe and computerized local injection techniques. General Dentistry, v. 49, n. 2, p. 167-73, Mar-Abr. 2001. MALAMED,S.F.; CLARK, M.S. Nitrous oxide-oxygen: a new look at a very old technique. J Calif Dent Assoc, v.31, n.5, p.397-403, 2003. McCANN, W.; WILSON, S.; LARSEN, P.; et al. The effects of nitrous oxide on behavior and physiological parameters during conscious sedation with a moderate dose of chloral hydrate and hydroxyzine. Pediatr Dent, v.18, n.1, p.35-41, jan,-fev., 1996. TORRES-PÉREZ, J. et al. Comparison of three consious sedation regimens for pediatric dental patients. J Clin Pediatr Dent v.31, p.183-186, 2007 WILSON, S.; ALCAINO, E. Survey on sedation in paediatric dentistry: a global perspective. Int J Paediatr Dent, oxford, v. 21, n. 5, p. 321-332, 2011.