ESTUDOS DA EMBRAPA Atualidades sobre análise de resíduos químicos em aves O Brasil, sendo um importante ator no negócio internacional das carnes, ocupando a posição de maior exportador de carne de frango, deve estar atualizado quanto às técnicas analíticas de detecção de resíduos. Trata-se de um fator relevante para a manutenção e conquista de novos mercados, sendo fator decisivo para a competitividade internacional. Por Vivian Feddern 1 e Gerson Neudí Scheuermann 1 A demanda mundial por alimentos é uma realidade e o Brasil é protagonista na produção de alimentos e líder na exportação de proteína de origem animal. Um importante desafio está na segurança dos alimentos, ou seja, garantir a inocuidade e conformidade dos produtos consumidos pelo homem. Para isso, é fundamental a existência de políticas públicas e normas de controle e fiscalização rigorosos. Para evitar qualquer problema de saúde aos consumidores, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) regulamenta os limites máximos de resíduos (LMRs) para o uso de drogas veterinárias nas rações. Na prática, para atender a recomendação do Ministério quanto aos LMRs, é importante respeitar o período de retirada da droga da ração. Saliente-se que nem todas as drogas e compostos químicos aos quais os animais são expostos deixam resíduos com implicações à saúde humana e animal, e mesmo aqueles reconhecidos com potencial de risco, somente atingem tal condição quando ultrapassam o LMR que o alimento pode conter (Mapa, 1999). As preocupações com análise de resíduos começaram com as crises ou surtos de dioxina no final da década de 90 na Bélgica, seguido de notícias sobre adulteração de produtos, surto de nicarbazina no Japão, nitrofuranos na Europa, fluorquinolonas no Canadá, evermectina nos Estados Unidos e Clopidol na Europa. Enquanto que nos países desenvolvidos há informação parcial, nos países em desenvolvimento há desinformação. A partir daí os países importadores passaram a exigir análise de risco, rastreabilidade, uso obrigatório de rotulagem constando a origem dos componentes do alimento e definição dos LMRs (MENDES, 2012). Do mesmo modo, os consumidores domésticos se tornaram muito mais exigentes em relação à sua saúde e ingestão de alimentos, procurando por rótulos mais informativos. O Brasil, sendo um importante ator no negócio internacional das carnes, ocupando a posição de maior exportador de carne de frango, deve estar atualizado quanto às técnicas analíticas de detecção de resíduos assegurando ao cliente. Trata-se de um fator relevante para a manutenção e conquista de novos mercados, sendo fator decisivo para a competitividade internacional. Legislação O resíduo de uma droga veterinária é a fração da mesma, seus metabólitos, produtos de conversão ou reação e impurezas que permanecem no alimento originário de animais tratados - Codex Alimentarius FAO/WHO. O não cumprimento das metas anuais previstas para o controle de resíduos em carnes pode implicar em sérios problemas às exportações dos produtos cárneos brasileiros para os principais mercados, além do risco de expor o consumidor à nocividade de resíduos e contaminantes. As possíveis substâncias alvo são os antimicrobianos, antiparasitários, contaminantes inorgânicos (arsênio, chumbo, cádmio), tireostáticos, beta-agonistas, promotores de crescimento e poluen- 22 Avicultura Industrial nº 04 2013
Shutterstock/Imagem meramente ilustrativa tes ambientais. O monitoramento possibilitado pelos programas setoriais do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) é portanto exigências para os mercados. O JECFA é um grupo de especialistas convocados e selecionados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que se reúne periodicamente em Roma ou Genebra; ele discute e avalia o risco de medicamentos, determina valores de referência toxicológica e analisa perigos e exposição a determinado fármaco. Os membros do grupo recebem o tema ou o aditivo a ser discutido com seis meses de antecedência e então se reúnem com especialistas do mundo todo para discussão e conclusão sobre determinado fármaco. Já foram avaliados pelo comitê mais de 2600 aditivos alimentícios, 50 contaminantes e resíduos de aproximadamente 95 tipos de drogas veterinárias (DUQUETTE, 2012). Muitas vezes são poucos os trabalhos científicos disponíveis para a tomada de decisão, o que gera divergências entre os membros de diversos países. Convém considerar que há especificidade quanto às exigências entre os diferentes países importadores. A Arábia Saudita, por exemplo, principal importador da carne brasileira, não possui uma lista de LMR ou uma lista de substâncias proibidas; o país segue o Codex desde 1968, sendo membro da Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, a Arábia Saudita permite a importação de aves dos EUA sem nenhuma restrição sobre o uso de medicamentos veterinários. A União Europeia (UE), atualmente composta por 27 países, geralmente segue o Codex, com algumas exceções; possui uma lista de LMR e de substâncias proibidas. O Japão geralmente segue o Codex; publicou uma lista de LMRs, uma lista de substâncias que não podem ser detectadas utilizando os métodos mais nº 04 2013 Avicultura Industrial 23
ESTUDOS DA EMBRAPA sensíveis e estabeleceu um limite único para resíduos de medicamentos de 0,01 ppm. De forma similar, Hong Kong publicou uma lista de LMR, porém não estabeleceu um limite único. Os Emirados Árabes não têm qualquer tipo de norma específica, geralmente seguem o Codex. A China possui uma lista de LMRs, de substâncias proibidas, as quais não podem ser detectadas utilizando os métodos mais sensíveis de detecção, porém não possui um limite único, geralmente segue o Codex, com algumas exceções. A África do Sul não tem uma lista de LMRs ou uma lista de substâncias proibidas, mas tem um limite único de 0,05 ppm de resíduos e geralmente segue o Codex. Os Estados Unidos publicaram LMRs, uma lista de substâncias proibidas e um limite uniforme de substâncias não detectáveis. Eles permitem o estabelecimento de limites de tolerâncias de resíduos de medicamentos não aprovados nos Estados Unidos. Geralmente seguem o Codex se nenhuma tolerância está definida por eles. No Brasil ainda não há LMRs estabelecidos para produtos veterinários, sendo utilizados os valores do Codex. Os países importadores devem aceitar os LMRs do Codex ou enfrentar as sanções impostas pela OMC. No entanto, LMRs mais rigorosos podem ser necessários, contanto que sejam cientificamente justificados para aumentar a segurança para os seres humanos, animais ou plantas. Em nenhum caso a OMC permite que um país importador determine quais aditivos ou medicamentos veterinários um país exportador pode utilizar. Salienta-se ainda a diferença quanto à abordagem entre países em relação aos medicamentos veterinários. Por exemplo, enquanto os Estados Unidos se baseiam nas restrições e comprovações científicas, outros países - principalmente da Comunidade Europeia - legislam por precaução. Embora o Brasil enquadre-se no primeiro grupo, necessário se faz atender mercados específicos cujas restrições quanto ao uso de aditivos na alimentação são peculiares. De qualquer forma, é fundamental que haja transparência na questão de resíduos, o que é regra no comércio internacional. De fato, a questão da confiança é fator decisivo na abertura ou fechamento de mercados. Assim, é primordial que o Brasil se antecipe com relação aos problemas e faça as necessárias prospecções para os próximos anos; garanta a qualidade; fortaleça mecanismos de controle e forneça informações para a tomada de decisão em toda cadeia produtiva. São necessárias ainda ações de educação sanitária. Os gargalos são a disponibilidade analítica, instrumentos sensíveis para detectar concentrações de interesse e o Figura 01. (a). Porcentagem de amostras não conformes nos últimos 5 anos de monitoramento do PNCRC apenas em aves. (b) Quantidade total de análises realizadas em tecidos de aves. Adaptado de DOU 2009-2013 (A) (B) 24 Avicultura Industrial nº 04 2013
tempo de resposta adequado à demanda (MENDES, 2012; PALERMO-NETO, 2012). Mais estudos sobre o tempo de persistência dos fármacos tanto no organismo animal quanto no meio ambiente, propriedades farmacocinéticas e rotas de biotransformação dos compostos são necessários. O Brasil, no geral, deixa a desejar em relação a estes estudos quando comparado aos países desenvolvidos, necessitando expertise, treinamento e investimento constante na equipe para sua capacitação. É fundamental termos dados de pesquisa internos, pois algumas resistências aos medicamentos, por exemplo, podem ocorrer em outros países e talvez não se apliquem ao Brasil. Divulgação dos resultados do PNCRC 2012 No dia 03 de abril de 2013 o Ministério da Agricultura divulgou os resultados do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC). Das 14956 análises laboratoriais, 99,54% mostraram conformidades, ou seja, os resíduos encontrados não foram detectados ou estavam abaixo do LMR permitido. Somente estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF), os quais somam atualmente 3575 estabelecimentos no Brasil, participam de sorteios semanais para coleta de amostras que são examinadas no âmbito do PNCRC. O programa é uma ferramenta de Gerenciamento de Risco com o objetivo de promover a garantia de qualidade do sistema de produção de alimentos de origem animal ao longo das cadeias produtivas, tanto consumidos no Brasil, como os destinados para exportação. O PNCRC/Animal é composto pelos seus programas setoriais para o monitoramento em carnes (PNCRC/ Bovinos, PNCRC/Aves, PNCRC/Suínos, PNCRC/Equinos e PNCRC/Avestruz) e demais produtos de origem animal (PNCRC/Leite, PNCRC/Mel, PNCRC/Ovos e PNCRC/Pescado). Para o ano de 2012 foi publicada a Instrução Normativa SDA N.º 11, de 22 de maio de 2012, que aprovou o escopo analítico para o monitoramento dos produtos de origem animal nesse ano. Geralmente no mês de abril em cada ano são publicados no Diário Oficial da União os resultados do ano anterior. As análises são feitas em carnes bovina, suína, equina, de aves e de avestruz, além de leite, mel, ovos e pescado. Segundo o coordenador do PNCRC/Animal, nº 04 2013 Avicultura Industrial 25
ESTUDOS DA EMBRAPA Quadro 01. Resíduos e contaminantes monitorados em músculo, fígado e rins de aves através do PNCRC 2012 Grupo de análise Analito Matriz Número de análises realizadas Clorados Contaminantes inorgânicos Anticoccidianos Antimicrobianos Antiparasitários Betagonistas Dioxinas e Furanos Substâncias de ação anabolizante Micotoxinas Piretroides TOTAL A) Arsênio Cádmio Chumbo Mercúrio Semduramicina # Toltrazuril # Trimetoprim Lasalocida Maduramicina Monensina Narasina Salinomicina Nicarbazina Amprólio Clopidol Diaveridina Diclazuril Robenidina Etopabato B) Oxacilina # ** C) D) E) Danofloxacina #/## *** Cloranfenicol Abamectina Doramectina Eprinomectina Ivermectina Moxidectina Dimetridazol ## Flubendazol Levamisol Clembuterol Salbutamol F) Des (diethylstilbestrol) Zeranol Aflatoxina B 1 Ocratoxina A G) 123 Gordura Rim Rim Rim Rim Gordura Gordura 31 468 ## 31 28 513 75 493 512 923 116 76 116 75 ## 62 32 60 32 ## 33 26 3702 A) Aldrin; Alfa-HCH; Cis Clordane; Dieldrin; Dodecacloro; HCB (Hexaclorobenzeno); Heptaclorepoxido; Heptacloro; Mirex; OP-DDT; PCB 101; PCB 118; PCB 138; PCB 153; PCB 180; PP-DDD; PP; DDE; PP-DDT; Trans clordane B) Amicacina; Ampicilina; Apramicina; Cefazolina; Clindamicina; Clortetraciclina; Dihidroestreptomicina; oxiciclina; Eritromicina; Espectinomicina;Estreptomicina; Gentamicina; Higromicina; Kanamicina; Lincomicina;Neomicina; Oxaciclina; Oxitetraciclina; Penicilina G; Penicilina V;Tetraciclina; Tilmicosina; Tilosina; Tobramicina C) Sulfaclorpiridazina; Sulfadiazina; Sulfadimetoxina; Sulfadoxina; Sulfamerazina; Sulfametazina; Sulfametoxazol; Sulfaquinoxalina e Sulfatiazol D) Furaltadona/AMOZ; Furazolidona/AOZ; Nitrofurantoina/AHD e Nitrofurazona/SEM E) Ácido Nalidixico##; Acido Oxolinico; Ciprofloxacina; Difloxacino; Enrofloxacina; Flumequina e Sarafloxacina## F) ## 1,2,3,4,6,7,8-Heptaclorodibenzofurano (HPCDF1); 1,2,3,4,6,7,8-Heptaclorodibenzo-P-Dioxina (HPCDD1); 1,2,3,4,7,8,9-Heptaclorodibenzofurano (HPCDF2); 1,2,3,4,7,8-Hexaclorodibenzofurano (HXCDF1); 1,2,3,4,7,8-Hexaclorodibenzo-P-Dioxina (HXCDD1); 1,2,3,6,7,8-Hexaclorodibenzofurano (HXCDF2); 1,2,3,6,7,8-Hexaclorodibenzo-P-Dioxina (HXCDD2); 1,2,3,7,8- Pentaclorodibenzofurano (PECDF); 1,2,3,7,8,9-Hexaclorodibenzofurano (HXCDF3); 1,2,3,7,8,9-Hexaclorodibenzo-P-Dioxina (HXCDD3); 1,2,3,7,8-Pentaclorodibenzo-P-Dioxina (PECDD); 2,3,4,6,7,8-Hexaclorodibenzofurano (HXCDF4); 2,3,4,7,8-Pentaclorodibenzofurano (PECDF2); 2,3,7,8 -Tetraclorodibenzofurano (TCDF); 2,3,7,8-Tetraclorodibenzo-P-Dioxina (TCDD); Octaclorodibenzofurano (OCDF) e Octaclorodibenzo-P-Dioxina (OCDD) G) Ciflutrina; Deltametrina; Fenvarelato; Gama cialotrina; Lambda cialotrina; Permetrina # Analito inserido no grupo de análise no decorrer do ano de 2012, possuindo total de análises realizada ou resultado final diferente do restante do grupo. 26 Avicultura Industrial nº 04 2013
## Analito monitorado no âmbito de um Subprograma Exploratório, sem tomada de ação regulatória. * Análise multiresíduos ajustada ao longo do ano de 2012 dos anticoccidianos, com a inclusão da análise de Semduramicina#, Toltrazuril#, Trimetoprim, Lasalocida, Maduramicina, Monensina, Narasina, Salinomicina, Amprolio, Clopidol, Diaveridina, Diclazuril e Robenidina ao método analítico para pesquisa de Nicarbazina em músculo de aves. Portanto, o número de análises realizadas difere para cada analito, tendo sido realizadas 28 análises conformes de Semduramicina#, Toltrazuril#, Trimetoprim, 135 Análises Conformes de Lasalocida, Maduramicina, Monensina, Narasina, 135 análises conformes de Salinomicina, Amprolio, Clopidol, Diaveridina, Diclazuril e Robenidina, e 513 de análises realizadas para pesquisa de Nicarbazina ** Análise multiresíduos ajustada ao longo do ano de 2012, com a inclusão da análise de Oxacilina# ao método analítico para pesquisa de Amicacina; Ampicilina; Apramicina; Cefazolina; Clindamicina; Clortetraciclina; Dihidroestreptomicina; Doxiciclina; Eritromicina; Espectinomicina; Estreptomicina; Gentamicina; Higromicina; Kanamicina; Lincomicina; Neomicina; Oxaciclina; Oxitetraciclina; Penicilina G; Penicilina V; Tetraciclina; Tilmicosina; Tilosina e Tobramicina em rim de aves. Portanto, o número de análises realizadas para Oxacilina# difere do restante do grupo, tendo sido realizadas 218 análises conformes para Oxacilina# *** Análise multiresíduos ajustada ao longo do ano de 2012, com a inclusão da análise de Danofloxacina# / ## ao método analítico para pesquisa de Acido Nalidixico##; Acido Oxolinico; Ciprofloxacina; Difloxacino; Enrofloxacina; Flumequina e Sarafloxacina## em músculo de aves. Portanto, o número de análises realizadas para Danofloxacina# / ## difere do restante do grupo, tendo sido realizadas 59 análises conformes para Danofloxacina# / ##. Leandro Feijó, a publicação desses resultados é uma forma de comunicação de risco às cadeias produtivas envolvidas, visando prover o conhecimento dos principais problemas para que possam ser adotadas medidas de mitigação destes riscos. Quando não conformidades são verificadas, o Mapa analisa as possíveis causas e solicita às indústrias a adoção de medidas de qualificação de produtores rurais e educação sanitária para atendimento às boas práticas de utilização de medicamentos veterinários na produção animal. De um total de 3702 amostras de tecidos de aves analisadas em 2012, contemplando 123 diferentes fármacos, apenas uma estava acima dos LMRs estabelecidos. Os resíduos monitorados podem ser encontrados no Quadro 01, sendo que a não conformidade foi devido à presença de sulfametoxazol no fígado das aves, o qual apresentava concentrações quatro vezes superiores ao permitido (100 ppb), possivelmente proveniente do uso do antimicrobiano sem considerar o período de retirada necessário. Através do monitoramento realizado nos últimos cinco anos (DOU 2009-2013) sempre foi observado a presença de resíduos de algum antimicrobiano no fígado, mostrando ser este um órgão alvo deste tipo de composto. Para sulfas, foram encontradas concentrações até 100 vezes superiores ao LMR. Violações foram observadas nº 04 2013 Avicultura Industrial 27
ESTUDOS DA EMBRAPA também para doxiciclina (três vezes superior ao LMR - DOU, 2012), além de metabólitos de nitrofurano, que são encontrados com certa frequência (DOU 2009-2013). Além dos produtos de origem animal observados pelo Plano, existem ainda cerca de 30 metodologias validadas e mais algumas em processo de validação como arsênio, dioxinas e furanos em rações (BRESSLAU, 2012). Os laboratórios de análise de resíduos que colaboram com o Mapa devem ser acreditados na ISO 17025 pelo Inmetro (CISCATO, 2012). É importante considerar que, no geral, a análise anual das não conformidades mostra tendência à redução nos últimos cinco anos (Figura 1a). Trata-se de um grande feito, uma vez que o desenvolvimento de metodologias e equipamentos mais modernos possibilita detectar concentrações traço antes não detectáveis. O PNCRC está em constante readequação e ampliação devido a estes avanços de novos métodos analíticos, inclusive análises multiresíduos, além de equipamentos mais sofisticados com baixos limites de detecção. Como consequência, o número de análises diminuiu (Figura 1b), pois em uma mesma amostra é possível detectar dezenas de fármacos. Assim, em 2008, mais de 8000 análises foram realizadas para quantificar resíduos em tecidos de aves, enquanto que atualmente este número gira em torno de 3700. O desenvolvimento da RENARA Está em fase de articulação a Rede Nacional para Análise de Riscos Químicos em Alimentos (Renara), a qual envolve mais de 60 instituições (nacionais e internacionais), incluindo a Embrapa. Neste sentido, foi sugerida a criação de um portfólio corporativo de pesquisa que objetiva: Atuar como referência para a governança corporativa em relação à gestão de projetos relacionados à análise de risco químico em alimentos, por dirigir, promover e monitorar o alcance de resultados finalísticos; Mapear os esforços em curso, direcionando estratégias para harmonizar os resultados disponíveis e resolução de gargalos, promovendo parcerias eficazes dentro da Embrapa e também com outras instituições no Brasil e no exterior; Definir as lacunas, sugerindo iniciativas para a sua correção; Monitorar projetos em andamento com interface com a análise de risco químico em alimentos; Apresentar ao Conselho de críticas da Embrapa periódicas e sugestões para ações de correção sempre que necessário. Perpetuar no Brasil um grupo de especialistas em análise de riscos químicos em alimentos; Perpetuar uma rede nacional em análise de riscos químicos em alimentos, fornecendo mecanismos eficazes para melhorar a segurança alimentar da população e apoiar à competitividade qualitativa no mercado internacional. O portfólio permeia as subdisciplinas de avaliação, gerenciamento a comunicação de risco, colaborando para o desenvolvimento científico-tecnológico do País, induzindo avanços Shutterstock/Imagem meramente ilustrativa De um total de 3702 amostras de tecidos de aves analisadas em 2012 pelo PNCRC, contemplando 123 diferentes fármacos, apenas uma estava acima dos LMRs estabelecidos 28 Avicultura Industrial nº 04 2013
para menor dependência estrangeira. A Análise de Risco tem sido fortemente preconizada nos últimos anos pelos principais fóruns internacionais de impacto, notadamente o Codex Alimentarius-FAO-WHO, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a International Plant Protection Convention (CIPV, na sigla em português), dos quais o Brasil é signatário. A Embrapa Suínos e Aves vem aprimorando sua infraestrutura, investindo na adequação de seus laboratórios e, principalmente, na capacitação de pessoal. Vislumbra-se que precisamos estar capacitados para cientificamente argumentar em casos de acusações do mercado internacional. A atuação inicial no portfólio visa conhecer o potencial risco químico dos principais insumos utilizados na ração, sendo que já estão em andamento projetos que envolvem a determinação de anticoccidianos (lasalocida, monensina e narasina) e beta-agonistas (ractopamina), em carnes, urina, e rações (farinhas). Considerações finais Os resultados observados no Plano Nacional de Monitoramento de Resíduos e Contaminantes dos últimos anos indicam a preocupação do setor produtivo com a qualidade final dos produtos, uma vez que o número de violações é baixo e, no geral, decrescente anualmente. De qualquer forma, avanços são necessários. Entende-se que este Plano deve ser constantemente atualizado e incentivado pelo governo, uma vez que a segurança alimentar é fundamental para a população e também para a manutenção e conquista de novos mercados. É necessária a capacitação dos profissionais de Universidades e Institutos de Pesquisa para auxiliar o Ministério da Agricultura no contínuo aperfeiçoamento do Plano, fornecendo subsídios para tomada de decisão. O grande avanço vislumbra-se na questão da gestão de risco, o que somente será viabilizado através da junção de esforços de diferentes instituições (Mapa, Embrapa, universidades e empresas privadas), que está sendo encaminhada por meio da Rede Nacional para Análise de Riscos Químicos em Alimentos. Trata-se de um esforço necessário para que o País posicione- -se de forma profissional nas negociações internacionais, o que faz jus a um dos setores mais exitosos da agropecuária brasileira. 1 Pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves. E-mails: vivian.feddern@embrapa.br, gerson.scheuermann@embrapa.br As Referências deste artigo podem ser obtidas no site da Avicultura Industrial por meio do link: www.aviculturaindustrial.com.br/?residuos0413 nº 04 2013 Avicultura Industrial 29