CASOS DE SCHISTOSOMA MANSONI EM CIDADES PARAIBANAS ASSISTIDAS PELO PROGRAMA DE CONTROLE DE ESQUISTOSSOMOSE

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Transcrição:

CASOS DE SCHISTOSOMA MANSONI EM CIDADES PARAIBANAS ASSISTIDAS PELO PROGRAMA DE CONTROLE DE ESQUISTOSSOMOSE Allan Batista Silva (1); Ulanna Maria Bastos Cavalcante (2); Saul de Azevedo Souza (3); Kleyber Dantas Torre de Araújo (4); Caliandra Maria Bezerra Luna Lima(5) 1-Mestrando em Modelos de Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba UFPB, e-mail: allandobu@gmail.com 2-Doutoranda em Modelos de Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba UFPB, e-mail: ulannacavalcante@hotmail.com 3-Doutorando em Modelos de Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba UFPB, e-mail: saul_asouza@hotmail.com 4-Doutorando em Modelos de Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba UFPB, e-mail: kleyber.araujo@gmail.com 5-Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde, Universidade Federal da Paraíba UFPB, e-mail: calilunalima@gmail.com Resumo: A esquistossomose ocupa o segundo lugar entre as doenças infecto-parasitárias de maior prevalência do mundo. No Brasil se concentra o maior número de casos registrados da doença, ocorrendo em 19 das 27 unidades federativas. Apesar da redução na prevalência da esquistossomose como um todo, ainda existem localidades onde a doença persiste, impondo assim um grande desafio para o Ministério da Saúde, cujo meta é eliminar a esquistossomose como problema de saúde pública no país. Este trabalho tem como objetivo conhecer a distribuição dos casos registrados de esquistossomose em cidades paraibanas assistidas pelo PCE durante os anos de 2010 e 2014. Trata-se de um estudo ecológico do tipo exploratório descritivo, com abordagem quantitativa. Os dados foram obtidos na base de dados do SISPCE Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose, disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DATASUS. Os dados foram tabulados e submetidos a análise descritiva por meio do programa Microsoft Office Excel 2013. Durante o período estudando, 214.006 pessoas receberam o recipiente para a coleta de material para realização do exame, sendo que apenas 170.326 pessoas realizaram o exame coproscópico. Destes que realizaram o exame, 10.895 (6,4%) pessoas tiveram ovos de Schistossoma mansoni identificados no exame. Entre 2010 e 2014 as cidades paraibanas que apresentaram maior prevalência de casos registrados de esquistossomose foram: Caaporã, Conde, Alhandra e Lucena. O número de casos tratados em 2010 era quatro vezes maior do que em 2014, já o número de pessoas não tratadas por ausência em 2014 aumentou cerca de 130% dos casos em relação a 2010. Dessa forma, ressalta-se a necessidade de ações de controle e vigilância mais efetivas para o combate da esquistossomose nas cidades paraibanas, principalmente em Caaporã, Conde, Alhandra e Lucena. Assim como políticas voltadas para a promoção e educação em saúde da população para minimizar os riscos de contaminação. Palavras-chave: Esquistossoma; Schistosoma mansoni; Saúde Pública.

Introdução A esquistossomose é uma doença infecto-parasitária, de caráter agudo e crônico, desencadeada por cinco espécies de helmintos do gênero Schistosoma: S. mansoni, S. japonicum, S. intercalatum, S. mekongi e S. baematobium, destas apenas a Schistosoma mansoni existe no Brasil. Esta doença existe há milhares de anos, de acordo com escritos de ovos calcificados do parasita em rins de múmias egípcias. (MASSARA et al, 2016; VITORINO et al, 2012; SILVA et al, 2012) Afetando cerca de 240 milhões de indivíduos em 76 países, a esquistossomose ocupa o segundo lugar entre as doenças infecto-parasitárias de maior prevalência do mundo (GOMES E. et al, 2016). Sendo assim, considerada um grave problema de saúde pública, sobretudo nos países em desenvolvimento, devido a essa sua prevalência, gravidade das formas clínicas e evolução (BRUM et al, 2013). De acordo com Menezes, Carmo e Samico (2012, p. 214), estimou-se que em 2004, cerca de 200 milhões de pessoas residentes em áreas de risco de transmissão da esquistossomose estavam infectadas por Schistosoma mansoni, parasita encontrado em 54 países da África, Ásia e América do Sul. O Brasil é o país onde se concentra o maior número de casos registrados da doença, ocorrendo em 19 das 27 unidades federativas. Em 2010, de acordo com o Ministério da Saúde (MS), os estados que apresentaram o maior número de casos da esquistossomose foram: Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e Espírito Santo. (BARRETO et al, 2015). Apesar de sua ocorrência ser predominantemente rural, a partir da década de 90, houve registros de casos em populações do litoral do Nordeste brasileiro. Além disso, a esquistossomose é uma doença que possui como fatores de risco para sua transmissão: os fatores biológicos, demográficos, socioeconômicos, políticos e culturais. (GOMES A. et al, 2016). Considerada uma doença negligenciada, a esquistossomose há décadas vem sendo enfrentada pelos serviços de saúde do governo, especialmente pelo Programa de Controle da Esquistossomose PCE (GOMES E. et al, 2016). Desde a década de 80, o PCE realiza inquéritos coproscópicos, dá suporte aos municípios nas ações que envolvem o diagnóstico e tratamento da infeção, e identifica focos de moluscos vetores, além de outras ações com o intuito de controlar a doença em todo o país (QUITES et al, 2016). Apesar da redução na prevalência da esquistossomose como um todo, ainda existem localidades onde a doença persiste, apresentando índices superiores de 25%, impondo assim

um grande desafio para o MS, cujo meta é eliminar a esquistossomose como problema de saúde pública no país. Dessa forma, os estudos de distribuição da esquistossomose são de grande importância pois além de delimitar as regiões de risco de introdução ou expansão da doença, contribuem para o aperfeiçoamento e estruturação das ações de controle vigilância da doença por parte dos serviços de saúde. (MASSARA et al, 2016). Diante disso, este trabalho tem como objetivo conhecer a distribuição dos casos registrados de esquistossomose em cidades paraibanas assistidas pelo PCE durante os anos de 2010 e 2014. Metodologia Trata-se de um estudo ecológico do tipo exploratório descritivo, com abordagem quantitativa. Os dados foram obtidos na base de dados do SISPCE Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose e correspondem às seguintes variáveis: ano de notificação (2010, 2011, 2012, 2013 e 2014), população trabalhada, população examinada, população positiva, casos tratados, número de pessoas não tratadas por ausência e número de pessoas não tratadas por recusa. Vale lembrara que foram excluídos os municípios que não constavam dados de positividade em todos os anos selecionados. Estes dados são disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DATASUS (BRASIL, 2016), agregados por município. E foram tabulados e submetidos a análise descritiva por meio do programa Microsoft Office Excel 2013. Vale lembrar que, por se tratar de um banco de domínio público, não foi necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados e Discussão Durante o período estudando, 214.006 pessoas receberam o recipiente para a coleta de material para realização do exame, sendo que apenas 170.326 (79,58%) pessoas realizaram o exame coproscópico. Destes que realizaram o exame, 10.895 (6,4%) pessoas tiveram ovos de Schistossoma mansoni identificados no exame. Observa-se ainda que em 2014 os casos confirmados de esquistossomose aumentaram quase 20% em relação a 2010, e que com o passar dos anos o número de exames realizados foi diminuindo. A relação completa por ano pode ser observado no gráfico 1.

Gráfico 1: Relação do número de pessoas que receberam o recipiente para coletar material para o exame, número de pessoas que realizam o exame coproscópico e número de pessoas que apresentaram ovos de S. mansoni no exame realizado entre 2010 e 2014. Entre 2010 e 2014 as cidades paraibanas que apresentaram maior prevalência de casos registrados de esquistossomose foram: Caaporã (460,8 em média por ano), Conde (419,8 casos em média por ano), Alhandra (378,2 em média por ano) e Lucena (344,4 em média por ano), como pode-se ver na tabela 1. A elevada prevalência de esquistossomose está relacionada ao baixo nível de renda, escolaridade e saneamento básico, pois impulsionam os indivíduos a se fixarem em locais com poucas ou nenhuma infraestrutura básica (SILVA, 2012; GOMES E. et al, 2016) De acordo a Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizado pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (IBGE, 2016), a cidade de menor índice de pobreza é São Domingos do Cariri, com uma incidência de 43,06%. Já as cidades de Alhandra (61,37%), Conde (65,95%), Caaporã (68,18%) e Lucena (68,18%), estão entre as que possuem maiores índices de pobreza do estado, perdendo apenas para cidade de Capim, que possui a maior incidência de pobreza, com 75,03%.

Tabela 1: Número de pessoas onde, no exame, foram identificados ovos de Schistossoma mansoni, por cidade. Município 2010 2011 2012 2013 2014 Média Total Alhandra 204 414 426 319 528 378,2 1.891 Caaporã 580 297 471 315 641 460,8 2.304 Conde 540 622 245 385 307 419,8 2.099 João Pessoa 63 138 54 103 28 77,2 386 Lucena 171 351 287 452 461 344,4 1.722 Pitimbu 309 323 387 157 259 287 1.435 Rio Tinto 63 94 100 78 3 67,6 338 Santa Rita 76 151 75 188 178 133,6 668 Sapé 13 1 12 21 5 10,4 52 Total 2.019 2.391 2.057 2.018 2.410 10.895 Vale lembrar que, além da finalidade de cura, o tratamento para esquistossomose tem como objetivo a redução da carga parasitária do hospedeiro, impedindo assim a evolução para as manifestações graves da doença, minimização de produção e eliminação de ovos do helminto como forma de prevenção primária da transmissão (GOMES A. et al, 2016). No gráfico 2, observa-se que houve uma redução no número de pessoas tratadas com o passar dos anos. O número de casos tratados em 2010 era quatro vezes maior do que em 2014, já o número de pessoas não tratadas por ausência em 2014 aumentou cerca de 130% dos casos em relação a 2010. Esse dado é bastante preocupante pois releva fragilidades no modelo e no planejamento das ações de controle e vigilância. Além disso, pode-se sugerir uma falha do registro de notificações dos casos identificados pois o número de casos tratados e não tratados durante os anos em estudo não sincronizam com o número de exames positivos. Quanto ao não tratamento devido à ausência, Alhandra foi a cidade paraibana que apresentou a maior média de pessoas (262,8 casos em média por ano) entre 2010 e 2014, ficando à frente das cidades do Conde e Pitimbu, que apresentaram uma média de 175,2 e 148,2 casos, respectivamente, como pode ser analisado na tabela 2. Farias et al (2011), afirmaram em seu estudo que o número de pessoas não tratadas por ausência reflete as deficiências de planejamento nas ações na fase do tratamento, como a

busca ativa desses pacientes em horários incompatíveis com a sua rotina, ou dificuldade de seu acesso aos serviços da unidade de saúde. A ausência de tratamento também pode ocorrer pela resistência da população em realizar o tratamento devido aos possíveis efeitos adversos ocasionados pela terapia medicamentosa (BARRETO et al, 2015). Gráfico 2: Relação de pessoas tratadas contra esquistossomose e relação das que recusaram ou que se ausentaram do tratamento entre 2010 e 2014. Tabela 2: Número de pessoas, por cidade, que se ausentaram do tratamento contra esquistossomose entre 2010 e 2014. Município 2010 2011 2012 2013 2014 Média Total Alhandra 20 57 669 130 438 262,8 1.314 Caaporã 39 42 481 40 0 120,4 602 Conde 196 286 33 148 213 175,2 876 João Pessoa 0 2 30 12 6 10 50 Lucena 45 126 129 35 25 72 360 Pitimbu 83 140 206 114 198 148,2 741 Rio Tinto 0 0 0 5 0 1 5 Santa Rita 0 1 1 74 1 15,4 77

Total 383 654 1549 558 881 4025 Quanto a recusa, observou-se uma redução considerável em todas as cidades entre os anos de 2010 e 2014. Mas nos anos de 2010 e 2011, as cidades do Conde e Lucena, apresentaram um grande número de pessoas que recusaram o tratamento para esquistossomose, como pode ser visto na tabela 3. Tabela 3: Número de pessoas, por cidade, que recusaram o tratamento contra esquistossomose entre 2010 e 2014. Município 2010 2011 2012 2013 2014 Média Total Alhandra 7 38 17 0 7 13,8 69 Caaporã 9 2 0 0 0 2,2 11 Conde 38 38 0 0 2 15,6 78 Lucena 64 68 30 3 0 33 165 Pitimbu 11 14 1 0 0 5,2 26 Santa Rita 0 1 0 0 0 0,2 1 Total 129 161 48 3 9 350 A eliminação da endemia deve envolver um esforço entre vários setores do serviço público e a combinação do aumento de cobertura de diagnóstico e tratamento, saneamento, abastecimento de água e educação em saúde. No entanto a esquistossomose é negligenciada, na maioria das vezes, por se apresentar em sua forma crônica e assintomática, o que causa uma certa lacuna na difusão do conhecimento sobre o assunto para a população. (MASSARA et al, 2016). Este estudo teve como limitações a falta do preenchimento de algumas informações e possíveis inconsistências dos dados, o que evidencia a necessidade de pessoas capacitadas no registro dos casos identificados. Conclusões Os dados ressaltam a importância de ações de controle e vigilância mais efetivas para o combate da esquistossomose nas cidades paraibanas, principalmente em Caaporã, Conde, Alhandra e Lucena. Assim como políticas voltadas para a promoção e educação em saúde da

população para minimizar os riscos de contaminação. Referências Bibliográficas BARRETO, A.V.S. et al. Análise da positividade da esquistossomose mansoni em Regionais de Saúde endêmicas em Pernambuco, 2005 a 2010. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v.24, n.01, p. 87-96, 2015. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s2237-96222015000100087&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 de Abril de 2017. BRASIL, Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DATASUS. Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinan/pce/cnv/pcepb.def> Acesso em: 20 Abril de 2017. BRUM, J.W.A. et al. Parasitoses oportunistas em pacientes com o vírus da imunodeficiência humana. Revista Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v.11, n.3, p.280-288, 2013. FARIAS, L. M. M. et al. Os limites e possibilidades do Sistema de Informação da Esquistossomose (SISPCE) para a vigilância e ações de controle. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 10, p. 2055-2062, 2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-311x2011001000018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 de Abril de 2017 GOMES, A. C. L. et al. Prevalência e carga parasitária da esquistossomose mansônica antes e depois do tratamento coletivo em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 25, n. 2, p. 243-250, 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s2237-96222016000200243&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 de Abril de 2017. GOMES, E. C. S. et al. Transmissão urbana da esquistossomose: novo cenário epidemiológico na Zona da Mata de Pernambuco. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo v. 19, n. 4, p. 822-834, 2016. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1415-790x2016000400822&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 de Abril de 2017. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Incidência de Pobreza. Comparação entre os municípios: Paraiba.. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/comparamun/compara.php?lang=&coduf=25&idtema=19&codv= v01&search=paraiba caapora sintese-das-informacoes-2003> Acesso em: 19 de Abril de 2017.

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