HABILIDADES FINANCEIRAS E RESTRIÇÕES AO CONSUMO DOS INADIMPLENTES NO BRASIL Setembro 2016
INTRODUÇÃO Boa parte dos inadimplentes não tem conhecimento de aspectos importantes da sua situação financeira. Dívidas em atraso trazem restrições e mudanças no comportamento do consumidor Se a inadimplência sugere uma situação que, por diferentes razões, pode ter fugido ao controle do consumidor, o que dizer, então, do inadimplente que desconhece o próprio orçamento? Sem dúvida, a falta de informações sobre sua vida financeira pode ser um complicador a mais para o consumidor, dificultando o processo de organização e pagamento das contas atrasadas. A pesquisa conduzida pelo SPC Brasil e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) investiga o grau de conhecimento e habilidades financeiras dos inadimplentes, a fim de avaliar as consequências disso sobre seu orçamento, consumo e gestão das dívidas existentes. 2
CONHECIMENTO DAS CONTAS E HABILIDADES FINANCEIRAS Quatro em cada dez inadimplentes sabem pouco ou nada sobre os valores dos produtos e serviços comprados a crédito Inicialmente, a pesquisa mostra que quatro em cada dez inadimplentes (40,3%) sabem pouco ou nada a respeito de sua renda total (salários e recebimento de aluguéis, dentre outros), principalmente as mulheres (44,6%). Por outro lado, houve crescimento no percentual dos que afirmam saber muito (7,1 p.p.), passando de 52,5% em 2015 para 59,6% em 2016 com resultados mais expressivos entre os homens (65,0%), pessoas da Classe A/B (72,3%) e aqueles com 65 anos ou mais (83,3%). Também se pode observar que um terço da amostra (33,9%) afirmou saber pouco ou nada sobre as contas básicas, sobretudo na Classe C/D/E (35,0%). Apesar disso, no geral, houve alta de 8,4 pontos percentuais dentre os que sabem muito sobre as contas básicas, na comparação com o ano passado (passando de 57,7% para 66,1% em 2016). Além daqueles que não sabem ao certo qual é a própria renda, o estudo aponta que muitos consumidores inadimplentes utilizam o crédito de forma imprudente, sem ter controle dos gastos: 43,5% sabem pouco ou nada sobre os produtos ou serviços comprados no crédito que serão pagos no próximo mês, principalmente as mulheres (47,4%). Ainda assim, vale destacar que caiu 12,6 pontos percentuais os que afirmam não saber nada a respeito do tema em relação a 2015: passando de 29,3% para 16,7% em 2016. No que se refere aos valores desses mesmos produtos e serviços comprados a crédito e que serão pagos no próximo mês, 43,5% garantem saber pouco ou nada, embora tenha havido queda expressiva no percentual dos que não sabem nada: de 28,8% em 2015 para 16,7% em 2016. O grau de conhecimento sobre as prestações a serem pagas também deixa a desejar, para boa parte da amostra: 42,2% sabem pouco ou nada a respeito das parcelas de compras feitas este mês que serão pagas no mês seguinte. Apesar disso, diminuiu a proporção daqueles que não sabem nada: de 30,4% em 2015 para 16,9% em 2016. CONHECIMENTO DAS CONTAS RU (POR ITEM) GRAU DE CONHECIMENTO SEI MUITO SEI POUCO NÃO SEI NADA O valor das minhas contas básicas 66,1% 28,6% 5,3% Qual será a minha renda total (salários, recebimento de aluguéis, dentre outros rendimentos que recebo) 59,6% 31,2% 9,1% O número de parcelas das compras deste mês e que serão pagas no mês que vem Que produtos/serviços foram comprados no crédito (cartão de crédito, crediário, carnê, cartão de loja) neste mês e serão pagos no mês que vem Os valores dos produtos/serviços comprados no crédito (cartão de crédito, crediário, carnê, cartão de loja) neste mês e serão pagos no mês que vem 57,8% 25,3% 16,9% 56,5% 26,8% 16,7% 56,5% 26,8% 16,7% 3
Apenas um em cada cinco consumidores inadimplentes entrevistados (22,6%) sempre consegue fechar o mês pagando todas as contas sem ficar devendo, enquanto 53,8% o fazem na maioria das vezes (com alta de 9,4 pontos percentuais em relação a 2015) e 23,5% nunca conseguem, ou apenas na minoria das vezes. Vale observar que há uma relação positiva entre o conhecimento sobre as próprias finanças e a capacidade de pagamento: dentre aqueles que sabem muito a respeito das contas, somente 2,3% nunca conseguem fechar o mês sem ficar devendo; em contrapartida, esse percentual aumenta para 16,9% dentre os que não sabem nada sobre as próprias contas. COSTUMA FECHAR O MÊS PAGANDO TODAS AS CONTAS SEM FICAR DEVENDO X CONHECIMENTO DAS CONTAS 5,1% 2,3% 18,4% 12,7% 7,4% 27,4% 16,9% 26,6% 53,8% 58,7% 51,4% 34,8% 22,6 % 26,3 % 13,7 % 21,6 % Geral Sei muito Sei pouco Não sei nada Sempre Na maioria das vezes Na minoria das vezes Nunca 4
Considerando as prioridades na vida financeira dos inadimplentes hoje, a pesquisa mostra que a compra de alimentos e produtos de higiene e limpeza para a casa vem em primeiro lugar (43,9%), seguida pelo pagamento das contas mensais no prazo, como luz e telefone (30,6%) e do pagamento das contas que estão em atraso para limpar o nome (11,0%). Para o educador financeiro do SPC Brasil e do Portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, a pesquisa traça um perfil preocupante de boa parte dos consumidores inadimplentes: A inadimplência não ocorre da noite para o dia, este é um processo que costuma ser favorecido pelo acúmulo de várias decisões ruins. Por isso, o consumidor precisa estar ciente de seus ganhos e, ao mesmo tempo, controlar adequadamente os gastos e despesas. Só assim se torna possível evitar as compras não planejadas, desnecessárias ou impulsivas, e viver dentro do padrão de vida adequado à sua realidade. A inadimplência é um processo que costuma ser favorecido pelo acúmulo de várias decisões ruins. Por isso, o consumidor precisa estar ciente de seus ganhos e, ao mesmo tempo, controlar os gastos e despesas. Só assim é possível evitar as compras não planejadas, desnecessárias ou impulsivas, e viver dentro do padrão de vida adequado à sua realidade. Ainda segundo Vignoli, estar a par do orçamento é essencial para uma vida financeira livre dos riscos da inadimplência: O desconhecimento das contas, das parcelas a pagar e dos produtos e serviços adquiridos por meio do crédito indica que o consumidor perdeu o controle da situação; e nesse cenário, é extremamente difícil sair da inadimplência, pois a pessoa se torna incapaz de negociar melhor as dívidas, ou mesmo de identificar as áreas em que é preciso realizar ajustes e cortes de gastos. Seja qual for o motivo que levou o consumidor a tornar-se inadimplente, uma coisa é certa: deixar de acompanhar atentamente as próprias finanças só pode piorar as coisas. 5
RESTRIÇÕES AO CONSUMO APÓS A INADIMPLÊNCIA Cortes no orçamento e nas compras são as principais consequências de problemas com dívidas em atraso O estudo indica que vivenciar a inadimplência traz claros impactos em hábitos dos consumidores. Na verdade, poucos são aqueles que passam por essa situação sem modificar, de algum modo, atitudes que dizem respeito às compras e as finanças pessoais. Praticamente oito em cada dez entrevistados (79,7%), por exemplo, tiveram de fazer cortes ou ajustes no orçamento, principalmente os mais velhos (93,3%). Além disso, 77,7% afirmam que tiveram de abrir mão de muitas coisas às quais tinham acesso/ compravam, pois não dá mais para comprar tudo o que querem, enquanto 75,9% deixaram de comprar parcelado - no crédito, com cheques, cartão, carnês etc. (aumentando para 90,6% entre os desempregados). Evitar a compra de roupas e calçados é a medida mencionada por 71,4% dos inadimplentes ouvidos na pesquisa, ao passo em que 64,0% garantem ter deixado de sair com amigos/família para bares ou restaurantes aumentando para 83,3% entre os mais velhos. E finalmente, 56,6% afirmam ter deixado de comprar alimentos supérfluos dos quais gostam (iogurtes, congelados, carne, leite condensado, bebidas etc) aumentando para 58,4% entre os pertencentes das classes C/D/E. 6
De acordo com o educador financeiro do SPC Brasil e do Portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, os resultados revelam que problemas com dívidas em atraso impõe restrições consideráveis ao consumo, obrigando os consumidores a rever seu orçamento e se adaptarem à nova condição: Caso não haja a possibilidade de adotar medidas para aumentar a renda, os inadimplentes se veem obrigados a abandonar hábitos de compra, trocar marcas tradicionais por outras mais acessíveis, deixar de adquirir determinados itens em favor de outros que são prioritários, enfim: costuma ser um período de mudanças impactantes no padrão de vida, mas isso é fundamental para obter sobras financeiras no orçamento e, assim, poder pagar as dívidas pendentes. Vale mesmo refletir sobre isso, de forma construtiva, entendendo o que levou ao desequilíbrio financeiro e passando a agir com mais prudência, a fim de encontrar a saída do endividamento. Os resultados revelam que problemas com dívidas em atraso impõe restrições consideráveis ao consumo, obrigando os consumidores a rever seu orçamento e se adaptarem à nova condição. Mas isso é fundamental para obter sobras financeiras no orçamento e, assim, poder pagar as dívidas pendentes SITUAÇÕES PELAS QUAIS PASSOU OU PASSA POR PROBLEMAS COM AS DÍVIDAS EM ATRASO Teve que fazer cortes ou ajustes no seu orçamento 79,7% Teve que abrir mão de muitas coisas que tinha acesso/ comprava, pois não dá mais para comprar tudo o que quer 77,7% Deixou de comprar parcelado (no crédito, com cheques, cartão, carnês etc) 75,9% Evita comprar roupas e calçados 71,4% Deixou de sair com amigos/família para bares ou restaurantes 64,0% Deixou de comprar alimentos supérfluos que gosta (iogurtes, congelados, carne, leite condensado, bebidas etc) 56,6% 7
CONCLUSÃO 33,9% sabem pouco ou nada sobre o valor das contas básicas. 40,3% sabem pouco ou nada sobre sua renda total. 43,5% sabem pouco ou nada sobre os produtos ou serviços comprados no crédito este mês e que serão pagos no próximo mês. 43,5% sabem pouco ou nada sobre os valores dos produtos e serviços comprados a crédito este mês e que serão pagos no próximo mês. 42,2% sabem pouco ou nada a respeito das parcelas de compras no crédito deste mês e que serão pagas no mês seguinte. 22,6% sempre conseguem fechar o mês pagando todas as contas sem ficar devendo, enquanto 53,8% o fazem na maioria das vezes e 23,5% nunca conseguem, ou apenas na minoria das vezes. Prioridades na vida financeira dos inadimplentes: compra de alimentos e produtos de higiene e limpeza para a casa (43,9%); pagamento das contas mensais, como luz e telefone (30,6%); pagamento das contas que estão em atraso para limpar o nome (11,0%). Vivenciar a inadimplência faz com que parcela significativa dos entrevistados com contas em atraso alterem hábitos de consumo: 79,7% tiveram de fazer cortes ou ajustes no orçamento. 77,7% tiveram de abrir mão de muitas coisas às quais tinham acesso/compravam, pois não dá mais para comprar tudo o que querem. 75,9% deixaram de comprar parcelado - no crédito, com cheques, cartão, carnês etc. 71,4% evitam a compra de roupas e calçados. 64,0% deixaram de sair com amigos/família para bares ou restaurantes. 56,6% deixaram de comprar alimentos supérfluos dos quais gostam (iogurtes, congelados, carne, leite condensado, bebidas etc). 8
METODOLOGIA Público-alvo: Consumidores com dívidas em atraso há mais de 90 dias, de todas as regiões brasileiras, homens e mulheres, com idade igual ou maior a 18 anos, de todas as classes econômicas. Método de coleta: pesquisa realizada pessoalmente em ponto de fluxo. Tamanho amostral da Pesquisa: 602 casos, gerando margem de erro no geral de 4.0 p.p para um intervalo de confiança a 95%. Data de coleta dos dados: 17 de junho a 13 de julho de 2016. 9