Sandra Duarte Tavares Sara de Almeida Leite. Gramática Descomplicada para Pais e Filhos, Alunos e Professores e muitos mais



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Transcrição:

Sandra Duarte Tavares Sara de Almeida Leite Gramática Descomplicada para Pais e Filhos, Alunos e Professores e muitos mais

Índice Apresentação... 9 Letras e sons Alfabeto........................................................ 13 Sons do português... 14 Vogais... 15 Consoantes.... 16 Sílabas... 17 Divisão silábica... 18 Sílaba tónica e sílaba átona... 18 Translineação... 19 Acentuação.... 20 Acento tónico e acento gráfico... 20 Sinais de acentuação gráfica... 21 O til... 22 Regras de acentuação gráfica em português... 22 Palavras Classes de palavras... 27 Classes abertas e classes fechadas... 28 Palavras variáveis e palavras invariáveis... 28 Nomes.... 29 Adjetivos... 36 Verbos... 43 Advérbios... 61 Determinantes.... 65 Pronomes... 69 Quantificadores... 72 7

Gramática Descomplicada Preposições... 74 Conjunções... 75 Interjeições... 79 Palavras que podem pertencer a várias classes... 80 Processos de formação de palavras... 83 Processos morfológicos ou regulares... 84 Processos irregulares... 92 Relações entre as palavras... 96 Relações semânticas... 97 Relações formais... 99 Campo lexical, campo semântico e família de palavras.... 101 Frases e orações Noção de frase... 105 Frase simples e frase complexa... 107 Tipos e formas de frase... 108 Tipos de frase... 108 Formas de frase... 110 Os constituintes da frase: os grupos frásicos... 111 Funções sintáticas... 115 Funções sintáticas ao nível da frase... 116 Funções sintáticas internas ao grupo verbal... 118 Funções sintáticas internas ao grupo nominal... 120 Processos de formação da frase complexa: coordenação e subordinação.. 122 Classificação das orações coordenadas... 123 Classificação das orações subordinadas... 124 Bibliografia... 133 8

Apresentação Quantas vezes não teve dificuldade em ajudar o seu filho a estudar para um teste de Português ou a resolver um exercício de gramática? Quantas vezes não ficou confuso ao tentar compreender a diferença entre um quantificador e um determinante indefinido, ou entre um complemento indireto e um oblíquo? Provavelmente muitas mas decerto não é o único! A gramática que aqui apresentamos pretende, precisamente, ser um instrumento didático que esclareça de forma rápida e eficaz todos os pais nessa situação. Escrito numa linguagem clara e acessível, este guia procura desmistificar a complexidade da terminologia linguística atual, facilitando a compreensão de conceitos, sem descurar o necessário rigor científico. O princípio subjacente ao nosso trabalho é o de que não há termo linguístico que não possa ser explicado de forma simples. Como está organizada a gramática? Em três capítulos que, em si, já mostram como o conhecimento da língua pode ser descomplicado: (1) letras e sons; (2) palavras; (3) frases e orações. Em cada capítulo são abordados conteúdos previstos nos programas curriculares das disciplinas de Português, tendo em conta o nosso objetivo primordial de criar uma ferramenta de apoio ao estudo. Além disso, acrescentámos alguns esclarecimentos relativos a dúvidas e questões que surgem nas mentes mais críticas e curiosas, na tentativa de oferecer informação adicional, além das matérias «obrigatórias» sobre o funcionamento da língua. Deixamos, pois, este livro à apreciação de todos os pais e educadores que querem participar ativamente no percurso escolar dos seus filhos, contribuindo para o seu bom desempenho nesta disciplina nuclear, que é o Português. Esperamos que o Bê-á-bá da Gramática para Pais seja um suporte e um estímulo constante à aprendizagem de todos, para que possam comprovar que a gramática não é, afinal, um bicho de sete cabeças! 9

LETRAS E SONS

Alfabeto O alfabeto é o conjunto ordenado dos sinais usados para representar os sons dos idiomas falados, pelo que existem muitos alfabetos diferentes. A língua portuguesa faz uso do alfabeto latino, composto por 26 letras, cujos nomes se apresentam entre parênteses. a A (á) b B (bê) c C (cê) d D (dê) e E (é) f F (efe) g G (gê / guê) h H (agá) i I (i) j J (jota) k K (capa ou cá) l L (ele) m M (eme) n N (ene) o O (ó) p P (pê) q Q (quê) r R (erre) s S (esse) t T (tê) u U (u) v V (vê) w W (dâblio ou duplo vê) x X (xis) y Y (ípsilon) z Z (zê) As letras k, y e w usam-se apenas em certas abreviaturas que representam unidades de medida, como km (quilómetros), em símbolos de elementos químicos, como Yb (itérbio), e em palavras de origem estrangeira que foram incorporadas na nossa língua, como marketing, software e take-away. O k e o y já fizeram parte do alfabeto português, tendo depois sido retirados. Foi o Acordo Ortográfico de 1990 que repôs no nosso alfabeto o k e o y, acompanhados do w. 13

Sons do português As letras do alfabeto representam os sons da língua, mas não de forma unívoca, uma vez que: uma só letra pode representar sons diferentes (ex.: seta, astro, mesa) diversas letras podem representar o mesmo som (ex.: capa, quer, karaté) duas letras juntas podem representar um único som (ombro, vinte, zoológico) certas letras não correspondem a qualquer som (hoje, pegue, série) a uma só letra pode corresponder mais do que um som (saem, constroem, táxi) Temos, então, muito mais sons do que letras em português, e para os descrever é conveniente utilizar os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, pois estes são unívocos, isto é, cada um serve exclusivamente para representar determinado som. Assim, para as diferentes possibilidades sonoras do grafema <s>, por exemplo, utilizam-se os seguintes símbolos: saco /s/ casa /z/ pasta / / fisga /ʒ / Os fonemas (sons em teoria) representam-se entre barras: //; enquanto os fones (sons efetivamente produzidos) se representam entre colchetes: [ ]. Regra geral, não há diferença entre fonemas e fones, mas em certos casos, como por exemplo na articulação dos ditongos, os fones podem revelar-se acusticamente distintos dos respetivos fonemas, por serem mais breves, ainda que articulatoriamente se trate do mesmo segmento. Por exemplo, a palavra pau corresponde, teoricamente, à sequência de sons: /pau/ sendo esta a sua transcrição fonológica. Porém, se for pronunciada naturalmente, tendo uma só sílaba, 14

Letras e sons Sons do português a sequência de sons de pau será produzida na mesma emissão de voz, o que fará com que as duas vogais formem um ditongo (a que nos referimos abaixo). Isto significa que a segunda vogal é menos audível do que a primeira. Então, a transcrição fonética da palavra será: [paw]. vogais As vogais têm em comum o facto de serem todas articuladas com a ponta da língua localizada por detrás dos dentes incisivos inferiores e com a boca mais ou menos aberta. Para além disso, as cordas vocais vibram espontaneamente sempre que produzimos um som vocálico. Vogais orais produzidas sem intervenção da cavidade nasal: /ɑ/ /a/ /e/ /ə/ /ɛ/ banana, animal mala, pá pelo, mesa de, perigo teto, esta /i/ /ɔ/ /o/ /u/ tio, país mota, cómico como, ovo urso, costume Vogais nasais produzidas com intervenção da cavidade nasal: /ɑ / âmbar, maçã /e / pente, vender / ı / vinte, sim /o / /u / ponte, som juntar, álbum Duas vogais seguidas, pronunciadas na mesma emissão de voz, constituem um ditongo. Nos ditongos, uma das vogais é a mais forte e a outra é mais breve ou fraca. Os ditongos são por norma decrescentes, isto é, a vogal forte vem antes da vogal fraca, por exemplo em vai, teu, rio. Contudo, depois de q ou g, há por vezes ditongos crescentes, como em equestre e linguiça. À vogal fraca dá-se o nome de semivogal. As semivogais em Português são apenas duas, [j] e [w] (que correspondem, respetivamente, a um /i/ breve e a um /u/ breve) e nunca ocorrem isoladamente, mas apenas em ditongos, ou seja, acompanhadas de uma vogal mais forte. 15

Gramática Descomplicada Quando duas vogais seguidas não são pronunciadas na mesma sílaba, diz-se que existe um hiato, uma vez que existe uma quebra, uma pausa na expiração entre a articulação de uma e outra sílaba. É o que sucede nas palavras dia, lua, país, peúga. consoantes Na articulação das consoantes, pode haver uma variação muito maior do formato da boca, relativamente às vogais, pois a língua pode juntar-se aos dentes ou ao palato, por exemplo, os lábios podem tocar-se e as cordas vocais podem nem sequer vibrar. Consoantes orais produzidas sem intervenção da cavidade nasal: /p/ /t/ /k/ /b/ /d/ /g/ /f/ /s/ pasta, apito tribo, construtor casa, queixa balde, cobertor dedo, adeus agora, gato força, alcofa sensação, cessar / / /v/ /z/ /ʒ/ /l/ /λ/ /r/ /ʀ/ chuva, xadrez véu, visão asa, vazio jogo, lesma alto, lume velho, olhar areia, cor rio, corrida Consoantes nasais produzidas com intervenção da cavidade nasal: /m/ /n/ /ɲ/ museu, amor nono, noventa sonhar, banho Dígrafos são pares de letras que servem para representar um único som, como <ch>, que representa / / (ex.: concha), <nh>, que representa /ɲ/ (ex.: sonho), <lh>, que representa /λ/ (ex.: ilha) e <rr>, que representa /ʀ/ (ex.: terra). 16

Sílabas Todas as palavras são compostas por sílabas. Uma sílaba é um som ou grupo de sons pronunciado(s) na mesma emissão de voz. Por exemplo, nas palavras biblioteca e juventude, se estas forem pronunciadas muito devagar, teremos as sílabas bi-bli-o-te-ca e ju-ven-tu-de. Se tem dificuldade em determinar quantas sílabas tem uma palavra, experimente dizê-la o mais lentamente possível, como se estivesse a falar com alguém que compreendesse mal o português. Ou tente «cantar» a palavra, batendo palmas ao mesmo tempo. As sílabas são constituídas por: ataque: a(s) consoante(s) que precede(m) o núcleo, podendo não existir rima, constituída por: núcleo: o elemento imprescindível, constituído por uma vogal ou um ditongo; coda: a consoante que se segue ao núcleo, podendo não existir. Pode, então, haver sílabas com estruturas bem diferentes, desde as que são constituídas por uma única vogal (ex.: a-ta-que, ím-par, ontem) até às que possuem ataque ramificado (com duas consoantes), núcleo ramificado (com duas vogais) e ainda uma coda (ex.: claus-tro, freis, grous). 17

Gramática Descomplicada As rimas dos versos têm essa designação precisamente porque se baseiam na identificação total entre os sons das palavras a partir da rima da sílaba tónica (não incluindo o ataque dessa sílaba). Por exemplo: elefante / soante instantâneo / contemporâneo bélico / angélico jacaré / sempre-em-pé Maria / colhia trago / afago O número de letras ou sons que constituem a parte das palavras que rima difere, em cada caso, porque depende da localização da sílaba tónica. Adiante referimo-nos às diferenças entre as palavras quanto à sua acentuação tónica. divisão silábica As palavras podem ser classificadas quanto o seu número de sílabas: monossilábicas: compostas por uma única sílaba. Exemplos: mãe, teu, cais, chão. dissilábicas: compostas por duas sílabas. Exemplos: an-dar, fes-ta, mel-ro, le-ão. polissilábicas: constituídas por três ou mais sílabas. Exemplos: co-ra-ção, a-ti-tu-de. sílaba tónica e sílaba átona Em cada palavra com duas ou mais sílabas, há uma sílaba que pronunciamos com maior intensidade. A essa sequência dá-se o nome de sílaba tónica. Às restantes sílabas da mesma palavra chamamos sílabas átonas. Se lhe parece difícil distinguir a sílaba tónica de uma palavra, experimente chamá-la bem alto, como se fosse o nome de uma pessoa. Naturalmente, prolongará nesse chamamento a vogal da sílaba tónica. Por exemplo, pedra: «peeeeee-dra»; candeeiro: «cande-eeeeei-ro»; sozinho: «so-ziiiiiiii-nho». 18

Letras e sons Sílabas translineação A translineação consiste na divisão de uma palavra que não cabe, na totalidade, numa linha, de forma a escrever parte dela na linha seguinte. Obedece a regras que estão, na maior parte dos casos, relacionadas com a divisão silábica. Assim, se quiser mudar de linha ao escrever a palavra manhãzinha, deve primeiro dividi-la quanto ao número de sílabas. Depois, pode optar por cortá -la numa de três partes, visto que tem quatro sílabas: ma-nhãzinha; manhã-zinha; ou manhãzi-nha. No entanto, se quiser dividir uma palavra que tenha duas consoantes iguais seguidas, na translineação deverá deixar uma dessas consoantes em cada linha, por exemplo: pas-seio, ou ar-rombar. Na translineação, não se deve deixar uma só vogal separada do resto da palavra, mesmo que essa divisão esteja correta quanto ao número de sílabas. Por exemplo, no caso de Maria, não se deve escrever «Mari-» no final de uma linha e «a» no início da linha seguinte. É conveniente dividir a palavra apenas de uma maneira: Ma-ria. 19