Indicador de Uso do Crédito e Propensão ao Consumo Abril 2017
58% dos consumidores não tomaram crédito em março. Quatro em cada dez que utilizaram o cartão de crédito não se lembram dos seus gastos O Indicador de Uso do Crédito, apurado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), busca medir a demanda dos consumidores por empréstimos e compras a prazo. O objetivo é aferir a disposição para a tomada de dívidas, tanto de curto como de longo prazo. Em abril de 2017, o indicador registrou a marca de 27,1 pontos, pouco acima do observado no mês anterior (24,6 pontos). Apesar da alta, a distância dos 100 pontos indica que as modalidades investigadas foram pouco utilizadas. A sondagem mostra que mais da metade (58,4%) não contrataram linhas de empréstimo, utilizaram linhas de crédito préaprovadas ou fizeram compras à prazo em março, mês anterior à pesquisa. O restante, porém, mencionou ao menos uma modalidade. O cartão de crédito foi a que mais se destacou, sendo mencionado por 36,8% dos entrevistados. Em seguida, apareceram o crediário e os cartões de loja, citados por 12,0%, e o limite de cheque especial (6,4%). A contratação de empréstimos foi mencionada por 4,1% dos entrevistados, e a contratação de financiamentos, por 3,3%. A liderança do cartão de crédito não é algo que surpreende, por se tratar de um meio de pagamento bastante usual. Entre os que fizeram uso do cartão de crédito, 40,8% dizem que o valor da fatura aumentou no último mês, enquanto 19,7% dizem que diminuiu e 33,3% dizem ter permanecido o mesmo. O valor médio reportado por esses entrevistados foi de R$ 1.140,12, desconsiderando-se aqueles expressivos 41,8% que não souberam responder quanto gastaram no cartão. Quanto aos produtos adquiridos, destacam-se os alimentos de supermercado (61,9%) e os itens de farmácia (49,3%), ambos de primeira necessidade. Itens menos essenciais, como roupas, combustível e gastos com bares e restaurantes, só aparecem em seguida. O quadro de aumento do desemprego e queda da renda certamente concorre para a priorização dos itens básicos. O consumidor que recorre ao cartão para fazer frente a esses gastos precisa levar em consideração que, nos meses seguintes, terá de arcar com as despesas básicas novamente e planejar-se para isso. O fato de muitos nem sequer se lembrarem do valor gasto no último mês indica que o controle dos gastos deixa a desejar e indica o risco de endividamento. No caso do crediário, destacaram-se as compras de Roupas e Acessórios, mencionadas por 52,1%, os Alimentos (21,9%), e os Eletrodomésticos (11,5%), estes últimos comumente ofertados via
crediário. O gasto médio nessa modalidade foi de R$ 302,7, de acordo com consumidores que recorreram a ela. Itens comprados com cartão de crédito % Alimentos (supermercado) 61,9% Farmácia/remédios 49,3% Roupas/ Calçados/Acessórios 32,0% Combustível 27,9% Bares e restaurantes 26,2% Crédito/recarga para telefone celular 14,3% Maquiagem, perfumes, cremes, loções, etc 11,2% Salão de beleza 9,2% Livros 9,2% Acessórios para automóveis 8,5% Viagens 8,2% Materiais de construção 8,2% Artigos de cama, mesa e banho 6,5% Smartphone 6,5% Eletrônicos (computadores, celular comum, câmeras digitais, tablets, etc) 6,1% O tradicional crediário e os modernos cartões de crédito podem ser aliados do consumidor na realização do orçamento doméstico. No entanto, alguns cuidados devem ser observados, mesmo que a recuperação econômica se confirme e as famílias saiam do aperto em que encontram. Entre esses cuidados, é preciso notar que as taxas de juros seguem altas. No caso do cartão de crédito, de acordo com o Banco Central, em março de 2017, a taxa média chegou a 490,3% ao ano. Mesmo quando o consumidor sai do rotativo e opta por um parcelamento, como pede a nova regra, a taxa média supera 150% ao ano. Em síntese, o cartão e as demais modalidades de crédito devem ser usadas com cautela. O consumidor não pode contar com a facilidade do rotativo ou do parcelamento das dívidas. Ao contrário, precisa ponderar sobre sua capacidade de pagamento e, se perceber que o compromisso extrapola o orçamento, recuar ou buscar melhores condições.
Um em cada quatro consumidores possui cartão de crédito; 17% têm empréstimos ativos O quadro de acesso ao crédito mostra que 43,5% dos entrevistados possuem cartão de crédito. Os cartões de loja/crediário foram mencionados por 25,0%. Com relação aos financiamentos e empréstimos, 18,3% e 17,1% afirmam, respectivamente, possuir essas modalidades com parcelas ainda em aberto. O cheque especial, por sua vez, fica à disposição de 17,9% dos respondentes, independentemente de estar sendo usado ou não. Entre aqueles que possuem empréstimos e/ou financiamentos, a metade (50,7%) diz que tem conseguido pagar suas parcelas em dia, mas a outra metade tem relatado dificuldades para pagar, dizendo que houve atrasos (29,7%) ou que ainda há parcelas com pagamentos pendentes (19,6%). Modalidades de Crédito Possui Utilizou em março Cartão de Crédito 43,5% 36,8% Cartão de loja 25,0% 12,0% Cheque especial 17,9% 6,4% Empréstimo 17,1% 4,1% Financiamento 18,3% 3,3% Embora ainda não alcance a metade dos consumidores, é considerável o contingente de portadores de cartões de crédito Hoje, os cartões são oferecidos em lojas de departamento, bancos ou mesmo por fintechs, o que contribui para sua presença e importância no comércio. O número de consumidores com empréstimos é menor, mas também chama a atenção, especialmente quando se nota que praticamente a metade tem apresentado dificuldades para quitar as parcelas. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, alerta que, antes de tomar um empréstimo ou financiamento, o consumidor deve ponderar sobre a real necessidade de fazer. Tomar um empréstimo pode ser interessante para trocar uma dívida mais cara, ou seja, com juros maior, por uma dívida mais barata, com juros menores. Mas antes de tomar a decisão, o consumidor deve certificar-se de que não consegue liquidar a dívida a partir do próprio orçamento, diz.
Para 43,9%, a contratação de empréstimos ou financiamentos é algo considerado difícil. O número pode ter influência do mal momento econômico, que restringe a oferta de crédito por parte dos bancos e financeiras. A dificuldade pode ser, com efeito, um inconveniente quando o consumidor não tem outra escolha senão buscar recursos de terceiros. A sondagem ainda mostra que, para 17,8%, a contratação de crédito não é fácil nem difícil e para 13,4%, é fácil. De acordo com a pesquisa, ao tentar fazer uma compra parcelada, 19,7% tiveram o crédito negado, sendo que 9,1% dos consumidores por estar negativado e 3,6% por não terem saldo suficiente, além de 7,0% que não conseguiram por outros motivos. No limite do orçamento: quatro em cada dez consumidores dizem não ter sobra de recursos e 62% planejam cortar gastos O Indicador de Propensão ao Consumo busca medir se o intento dos consumidores é aumentar, diminuir ou manter os seus gastos. Em abril de 2017, a sondagem mostrou que 61,8% planejavam reduzir seus gastos, enquanto 31,8% planejavam manter e apenas 2,9% planejavam aumentar. Entre os que pretendem cortar os gastos, a maioria relativa (24,3%) diz estar sempre tentando economizar, o que indica uma boa atitude financeira. Há também 19,6% que dizem que os preços estão elevados e 15,2% que dizem estar endividados. Ainda entre os que planejam cortar, 14,4% dizem que estão desempregados e 10,3% dizem que pretendem fazer uma reserva financeira. Propensão ao Consumo 58,5% 62,8% 61,8% 30,9% 27,6% 31,8% 5,5% 6,8% 2,9% fev/21 mar/21 abr/21 Aumentar o nível de gastos Manter o mesmo nível de gastos Diminuir o nível de gastos
Excluindo itens de supermercado, na lista dos produtos que os consumidores planejam comprar no mês de maio, os itens de Farmácia aparecem em primeiro lugar, citados por pouco menos de um terço dos entrevistados (19,6%). Em seguida, aparecem as Roupas, Calçados e Acessórios (17,9%), Recarga de celular (14,8%), e Perfumes e cosméticos (10,5%). Por outro lado, parte significativa dos entrevistados (35,5%) afirmou que não pretende comprar nenhum item em maio. Itens que pretende comprar em maio % Farmácia/remédios 19,6% Roupas/ Calçados/Acessórios 17,9% Crédito/recarga para telefone celular 14,8% Perfumes, cremes, loções, maquiagem, etc 10,5% Artigos de cama, mesa e banho 6,6% Eletrodomésticos 6,5% Eletrônicos 6,0% Móveis 5,8% Salão de beleza 5,8% Materiais de construção 5,6% Smartphone 5,3% Livros 4,8% Viagens 4,5% Outros (NET) 3,8% Casa/apartamento 3,0% Carro 2,1% Brinquedos 2,1% Refletindo sobre sua realidade financeira, a maior parte (43,3%) diz estar no zero a zero, sem sobra nem falta de dinheiro. 34,5% dizem estar em situação ainda pior, no vermelho, sem conseguir pagar todas as contas. Somente 15,0% dizem estar com sobra de dinheiro. A quantidade de consumidores no limite de seu orçamento pode ser reflexo da crise econômica. Mas também não se pode desconsiderar a falta de planejamento financeiro, que leva ao
acúmulo de dívidas e a todas as consequências que decorrem do aperto, como o stress e até o desentendimento familiar. Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o tempo que o consumidor devota cuidando de suas finanças pode determinar se, no final do mês, ele estará em aperto ou em dificuldades. Metodologia A pesquisa abrangeu 12 capitais das cinco regiões brasileira, a saber: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. Os dados foram coletados via web e presencialmente no mês de fevereiro. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.