Os documentos manuscritos e o estudo da língua portuguesa em Minas



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Transcrição:

Os documentos manuscritos e o estudo da língua portuguesa em Minas Profª Maria Antonieta A. de Mendonça Cohen (UFMG) e Profª Soélis Teixeira do Prado Mendes (UFOP) Aspectos paleográficos de um manuscrito setecentista mineiro. Isabela de Vasconcellos Piva (UFOP) e Fábio César Montanheiro (UFOP) O presente trabalho tem o objetivo de expor os aspectos paleográficos mais significativos do manuscrito setecentista Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S.Francisco de Villa Rica do Ouro preto (1761), documento que faz parte do extenso legado deixado pelas ordens terceiras e irmandades religiosas de Minas Gerais, fundadas no século XVIII. O microfilme desse manuscrito se encontra disponível para consulta no Museu Casa dos Contos no município de Ouro Preto MG. As edições diplomática, semidiplomática e modernizada (Cambraia, 2005) de tal documento constituem os resultados de um projeto de Iniciação Científica integrante da linha de pesquisa Edição de Manuscritos Confrariais Mineiros, do Departamento de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto. A paleografia pode ser definida como a ciência que se ocupa da leitura e da interpretação de formas gráficas antigas: as características que apresentam no interior de cada documento e, ainda, as dificuldades que acarretam, devido ao fato de que a escrita antiga se diferencia em diversos aspectos da escrita atual (Acioli, 2003). Assim, através do estudo paleográfico, torna-se possível determinar o tempo e o lugar em que foi redigido o manuscrito, com o fim de se fornecer subsídios a demais ciências que tenham a escrita como fonte de conhecimento, como a Filologia, a História, a Linguística, e etc. Para o editor de texto, a paleografia é empregada na fixação da forma genuína de um texto (Cambraia, 2005). Desse modo, este trabalho propõe, através da exposição de recortes representativos do documento, a apresentação de características paleográficas dos Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S.Francisco de Villa Rica do Ouro preto (1761), como os tipos de letras encontrados, o emprego das letras ramistas, a presença de chamadeiras, determinadas características ortográficas como a utilização de consoantes dobradas, a representação da nasalidade, os sinais de pontuação e acentuação, entre outras - e as abreviaturas encontradas por suspensão, siglas, sobrescritas, numéricas e notação tironiana (Garcia, 2009). Considerações metodológicas para a edição de um manuscrito oficial mineiro: uma incursão pelos arquivos do IHGMG. Márcia Cristina de Brito Rumeu (UFMG) Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG)

O principal objetivo desta comunicação é apresentar o processo de formação de corpora fidedignos ao estudo da língua portuguesa no espaço mineiro do século XIX com base na edição fac-similar diplomático-interpretativa de um único documento oficial. Trata-se do Auto de instalação e juramento e posse de vereadores da Vila de Santa Bárbara, redigido a 28 de janeiro de 1840, no Paço do Conselho da Vila de Santa Bárbara. A proposta é trazê-lo à comunidade acadêmica não só em virtude de se constituir uma relevante evidência da história social do município de Santa Bárbara (MG), mas também em razão de se revelar como um considerável testemunho da expressão escrita culta do português novecentista. Nesse sentido, prevê-se que, ao organizar amostras confiáveis da português escrito no espaço mineiro, em sincronias passadas, seja possível descrever e analisar a norma objetivamente realizada, cf. Cunha (1985) em sua manifestação de escrita culta consubstanciada por secretariosescreventes cujo nível de intimidade com a língua escrita supõe-se alto. Nesse sentido, pretende-se expor o processo de edição de tal documento oficial encerrado no Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), apresentando as normas de edição, bem como confeccionando observações à luz de critérios paleográficos norteadores do processo filológico em si, cf. Spina (1994 [1977]), Cambraia (2005), Spaggiari e Perugi (2004), Flexor (1991). Acredita-se, pois, em conformidade com Cambraia e Lobo (2001), que a edição fac-similar diplomático-interpretativa de textos, produzidos em território mineiro, no decorrer dos séculos XIX e XX, corresponda aos desejos do linguista-pesquisador ávido por fontes fidedignas ao estudo da estruturação da pluralidade de norma(s) do português brasileiro, cf. Callou, Barbosa e Lopes (2006). Dificuldades na edição de textos manuscritos do séc. XVIII. Christiane Benones de Oliveira (UFOP) e Soelis Teixeira do Prado Mendes (UFOP) Editam-se textos manuscritos porque, através deles, é possível dar a conhecer o uso linguístico de um estágio da língua e aspectos da sociedade de dada época. O processo contribui ainda para a preservação do suporte material que contém o texto manuscrito, na medida em que a circulação do texto editado se dá de forma mais acessível e pode dispensar a consulta ao original. Como eles tendem a apresentar dificuldades para a leitura devido às especificidades da escrita do tempo em que foram redigidas, edições realizadas por profissionais viabilizam a leitura desses documentos a diversos tipos de público, desde o leigo até o específico. Assim sendo, segundo o público-alvo, opta-se pelas modalidades de edição existentes: fac-similar, diplomática, semidiplomática ou modernizada (CAMBRAIA, 2005). Entretanto, é preciso considerar que não obstante todo o cuidado rigoroso por parte do editor (MENDES, 2008, p.162), uma edição diplomática já constitui uma interpretação subjetiva, pois deriva da leitura que um especialista faz do modelo (CAMBRAIA, 2005, p. 94).

Para o presente projeto, optou-se por realizar uma edição diplomática do documento, ou seja, transcrição rigorosamente conservadora de todos os elementos presentes no modelo, tais como sinais abreviativos, sinais de pontuação, paragrafação, translineação, separação vocabular, etc (Cambraia, 2005, p. 93). Além de fornecer informações importantes sobre a origem de um texto, o trabalho de edição permite que se estudem particularidades da escrita e da língua de uma dada época. Podemos identificar bo estado de língua da época e aspectos de oralidade na escrita, entre outras particularidades de cada manuscrito. O manuscrito analisado não possui um nome, em sua ficha catalográfica consta o termo Degenere Vitae Et Moribus, referente ao ano de 1779, e está depositado no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana/MG. Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado O ESTUDO DA CONCORDÂNCIA VARIÁVEL (NOMINAL E VERBAL) EM MANUSCRITOS SETECENTISTAS E OITOCENTISTAS DE MINAS COLONIAL, coordenado pela professora doutora Soélis Teixeira do Prado Mendes, do qual fazem parte os alunos graduandos Marcus Vinícius Pereira das Dores e Christiane Benones de Oliveira, como bolsistas pesquisadores PIBIC/ UFOP. Serão feitas observações acerca das dificuldades da leitura e transcrição de manuscritos do séc. XVIII. Em função da falta de uma ortografia unificada na época, algumas palavras poderiam ser grafadas de maneiras diferentes em um mesmo documento e, isto independia do grau de letramento do escrivão. Edição de manuscritos campanários da Freguesia de Dias: memória de uma forma de expressão. Maria do Carmo Ferreira dos Santos (UFOP) Fábio César Montanheiro (UFOP) O presente trabalho integra uma pesquisa desenvolvida no âmbito dos Estudos da Linguagem que tem por objetivo levantar manuscritos atinentes ao patrimônio campanário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceiçao de Antônio Dias, de Ouro Preto, MG, e apresentar uma edição fidedigna de documentos manuscritos, gerados por Irmandades leigas da Freguesia de Antônio Dias. Para isso, a par de pesquisa de campo, busca, na documentação depositada no Arquivo Eclesiástico da referida Paróquia, registros que aludam à temática campanária em épocas passadas. No estágio em que se encontra, editam-se manuscritos na modalidade semidiplomática (Megale et al., 2001), com vistas a alimentar o trabalho em curso. Assim sendo, propõe-se para esta sessão uma análise paleográfica (Spina, 1977; Cambraia, 2005) do Termo de deliberação sobre o direito que tem aos sinais ou dobres no sino grande os Irmãos que servirem de Juízes, Escrivães, Tesoureiros e Procuradores da Irmandade de N.S. do Rosário e Juízes de Santa Efigênia, de 1871, constante do Livro de Termos e Deliberações da Mesa da Irmandade de N.S. do Rosário do Alto da Cruz e da Correspondência recebida pela Ordem Terceira da Penitência de São Francisco para que desse esclarecimentos sobre uma determinada encomendação solene realizada em abril de 1864.

Itinerário do caminho para as Minas: um estudo da colocação pronominal em documento setecentista. Helga Lívia Aparecida Silva de Melo (UFMG) O texto usado como corpus desta pesquisa faz parte de um projeto maior, em que são preparados para edição testemunhos do manuscrito denominado Mapa Geográfico, cujo único testemunho datado é de 1732. Trata-se do projeto O Itinerário Geográfico do caminho para as minas: edição de testemunhos do século XVIII, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Maria Antonieta Cohen. O itinerário, também denominado Mapa descritivo do caminho para as Minas partindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro, descreve os caminhos da famosa Estrada Real. O documento original encontra-se no arquivo de manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, em Portugal. Os caminhos descritos no documento formam o conjunto de percursos que os bandeirantes fizeram, no período colonial, dentro do espaço que vem a ser o estado de Minas Gerais, partindo do Rio de Janeiro ou de São Paulo, até as minas de ouro e diamantes. Não se trata de um documento literário; o texto é descritivo dos caminhos, vilas, rios, montes e serras que compõem o percurso. Trata-se de um texto importante para o conhecimento da língua portuguesa da época em que foi escrito, provavelmente meados do século XVIII, sendo essa inferência devida ao fato do único testemunho datado a que temos acesso ser uma das cópias impressas antigas, de 1732. O fato de ser um documento referente ao Brasil setecentista, ainda que em português lusitano, atribui-lhe um interesse especial, linguístico e histórico, já que a língua dessa época no país é ainda incipientemente estudada e fortemente vinculada a fatores históricos (COHEN, 2010). Assim, o Mapa Geográfico pode apresentar vários fenômenos linguísticos relevantes para a caracterização da língua da época. Neste recorte, optamos por trabalhar com a colocação dos pronomes clíticos, por ser um dos pontos que mais gera discussão entre sintaticistas na linguística histórica. O objetivo é apresentar uma contribuição para o conhecimento do sistema de colocação pronominal no português do século XVIII, quantificando as ocorrências de pronomes clíticos no documento e caracterizando as próclises e ênclises quanto ao tipo de construção verbal em que figuram. Busca-se verificar, numa análise diacrônica, como esses fatores podem ter influenciado o sistema de colocação pronominal que veio a prevalecer no português brasileiro, em especial na variedade falada e escrita em Minas Gerais. Os documentos manuscritos e o estudo da língua portuguesa em Minas Gerais. Elaine Chaves (UFMG) Identificar e desenvolver abreviaturas constitui uma prática corrente na tarefa de elaborar edições semidiplomáticas. É recorrente encontrar-se notações do tipo: desenvolver as abreviaturas de acordo com as formas por extenso da palavra em

questão presentes no modelo (CAMBRAIA, 2005, p. 119). No entanto, esta prática vem sendo reavaliada em diversos trabalhos, como Chaves (2006), Cohen (2010), Duchawny e Coelho (2014), Chaves e Ramos (a sair). A questão que se coloca é ao se desenvolver abreviaturas estamos interferindo na observação, na interpretação de fenômenos e na identificação de itens lexicais? O objetivo deste trabalho é advogar em favor de uma resposta positiva a esta questão. Para tanto, ressaltaremos a importância das edições de textos manuscritos para o tratamento de fenômenos linguísticos típicos da escrita como é o caso das abreviaturas. O objeto de estudo serão as abreviaturas da forma Vossa Mercê, consideradas em seu percurso histórico. Foram utilizados pressupostos da Teoria da variação e Mudança, da Linguística Histórica e da Filologia para a interpretação dos resultados. As abreviaturas foram retiradas de cartas pessoais escritas em Mariana e Ouro Preto (sede e distritos), nas primeira e segunda metades do século XIX e primeira metade do século XX. Tais cartas foram selecionadas considerando que (i) todas deveriam estar assinadas; (ii) seus remetentes e destinatário pudessem ser identificados; (iii) deveriam estar datadas e com a localidade expressa. Caso não estivessem, só poderiam ser utilizadas aquelas cartas que pudessem ter data e local estimados; e (iv) só seriam consideradas as cartas que não foram objeto de correção em período posterior a sua escrita. Foi feita transcrição semidiplomática de todas as cartas que compõe o corpus, seguindo-se, basicamente, as normas para transcrição utilizadas pelo PHPB, publicadas em Mattos e Silva (2002). Com base nos critérios metodológicos para o recolhimento e tratamento da amostra e na observação de variantes típicas da escrita, ficou evidente a necessidade de se olhar mais atentamente para as abreviaturas no processo de edição e análise linguística. O estudo da concordância verbal no texto da Grammatica da Lingua Portuguesa de João de Barros (1540). Érica Faustina da Silva Marins (UFOP) Meu objetivo nesta comunicação é fazer uma breve apresentação do meu projeto de mestrado, que consistirá em extrair do texto da gramática de João de Barros os usos da concordância verbal. A inquietação em fazer um estudo aprofundado sobre as regras de concordância verbal no texto dessa gramática nasceu a partir da leitura da referida obra, realizada semanalmente com o GEGRAM - Grupo de estudo de gramáticas: antiga e contemporânea, liderado pelas professoras Dra. Soélis Teixeira do Prado Mendes (UFOP) e Dra. Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen (UFMG), registrado no CNPQ - do qual faço parte. A escolha da gramática de João de Barros, em detrimento de outra obra da época, a de Fernão de Oliveira (primeira de nosso idioma), foi motivada pelo meu interesse em entender a relação, já citada, entre as gramáticas das nascentes línguas românicas com o modelo greco-latino, e a gramática de Barros foi, em Portugal, a primeira a seguir esse modelo, inaugurado pelo gramático espanhol Nebrija (Leite, 2007:146). A Gramática de João de Barros, publicada na primeira metade do século XVI, foi uma das primeiras a tentar uma des-

crição gramatical da nossa língua. A obra é dividida em quatro partes: ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe ou construção. Nesta quarta parte, após apresentar princípios de concordância e regência, o autor também inclui mais dois capítulos: um que trata das figuras de linguagem e outro que retoma, de forma mais minuciosa que na primeira parte, a questão da ortografia. É também nesta quarta parte que reside, especificamente, um dos pontos de interesse de pesquisa: a concordância verbal. Ocorre que, durante a leitura da obra, me pareceu que existem mais regras de concordância na escrita do texto do que a prescrita pelo gramático, já que sobre esse assunto ele apresenta uma só regra: o verbo concorda com o nominativo. No entanto minha suposição, com base numa leitura preliminar, é a de que no texto há mais regras sobre essa concordância do que aquela que o gramático prescreveu. O Mapa geográfico do século XVIII: edição e análise de abreviaturas. Olívia Nogueira de Almeida (UFMG) Os manuscritos são documentos básicos para trabalhos de pesquisas em diversas áreas, principalmente na filologia e linguística histórica. Durante o processo de consulta aos manuscritos, é muito comum os pesquisadores enfrentarem dificuldades de leitura, devido aos materiais básicos de leitura papel e tinta, e também a problemas ligados à grafia, caligrafia, vocabulário e, principalmente, às abreviaturas. Este trabalho se dedica a analisar as abreviaturas no âmbito da edição crítica de textos. Para isso, selecionamos a versão manuscrita, guardada na Biblioteca Pública de Évora, em Portugal, do documento do século XVIII intitulado Mapa geográfico, que descreve o caminho de ouro e pedras preciosas no Brasil, a partir dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. O principal objetivo em estudá-lo deve-se à curiosidade em conhecer e analisar, nesse texto escrito em português, o uso das abreviaturas, bem como o seu valor linguístico. As perguntas que nos norteiam referem-se à necessidade (ou não) de as abreviaturas serem desenvolvidas durante a transcrição de textos antigos, ou posteriormente. Para esse fim, apresentamos a proposta de um glossário de abreviaturas do Mapa geográfico e buscamos discutir as abreviaturas no documento e sua importância. O nome nas gramáticas de João de Barros (1540) e de Reis Lobato (1770): um estudo comparativo. Marcus Vinícius Pereira das Dores (UFOP) e Soélis Teixeira do Prado Mendes (UFOP) Pretende-se com este trabalho fazer um cotejo entre duas gramáticas antigas da língua portuguesa Gramatica da Língua Portuguesa (BARROS, 1540) e A Arte da Grammatica

da Língua Portuguesa (LOBATO, 1770) no que tange aos estudos acerca dos nomes e às subcategorias dessa classe (substantivo e adjetivo). De um lado, a gramática de João de Barros, que possui estruturas do modelo latino e, ao mesmo tempo, diferenças entre o português e o latim. Buescu (1971) sustenta que a latinização de Barros, é pois, segundo parece, mais formal do que essencial, preocupando-se ele mais em demonstrar diferenças do que em apontar identidades (p.44); de outro lado, a gramática de Reis Lobato que considera mais as necessidades educacionais da época ensinar a língua materna e a história de Portugal, formando sujeitos capazes assumir os ofícios públicos, falar e escrever a língua portuguesa sem erros. No século XVI, João de Barros, conhecido como o mais latino dos gramáticos da língua portuguesa, dedica parte de sua gramática para essa classe de palavras. Ao discorrer sobre o nome, detalha algumas características marcantes: a qualidade (comum ou próprio, substantivo ou adjetivo, relativo ou antecedente); a espécie (primitivo ou derivado, este, por sua vez, desdobra-se em oito: patronímicos, possessivos, diminutivos, aumentativos, comparativos, denominativos, verbais, adverbiais); a figura (simples ou composto); o gênero (masculino, feminino, neutro, comum a dois, comum a três, duvidoso, confuso); o número (singular ou plural); as irregularidades de alguns nomes e, por fim, a declinação dos nomes. Passados pouco mais de dois séculos, Reis Lobato propõe uma nova gramática que, segundo Zanon e Faccina (2004), ficou conhecida como a primeira gramática da língua portuguesa adotada no ensino. Já conforme Vasconcelos (1926), essa obra serviu como mecanismo de dominação linguística e educacional do Marquês de Pombal na qual o foco não seria mais o latim, e sim a língua vernácula. Logo na introdução, Lobato apresenta alguns equívocos da obra de João de Barros justamente para fundamentar uma das necessidades da sua obra. Contudo, em relação ao nome, ele não se distancia muito do que foi descrito por João Barros apenas apresenta uma nova classe de nome substantivo, o substantivo coletivo, e dá maior ênfase às declinações. O interesse por esta temática surgiu a partir discussões realizadas no grupo de pesquisa: O Estudo da Gramáticas antiga e contemporânea, coordenado pelas professoras Dra. Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen e Dra. Soélis Teixeira do Prado Mendes. Este estudo possui um caráter extenso e, por isso, nesta comunicação, propõe-se evidenciar apenas algumas diferenças e semelhanças entre as duas obras. O uso de artigo definido diante de antropônimos em documentos manuscritos das localidades de Abre Campo e Matipó no período compreendido entre 1875 a 1900. Andréia Almeida Mendes (FACIG)

A variação sintática da presença ou ausência de artigo definido diante de antropônimos foi analisada em documentos manuscritos das cidades de Abre Campo e Matipó em atas, escrituras e testamentos. Para tanto, foram examinadas atas, escrituras e testamentos das referidas cidades em três intervalos de tempo datando de 1875 a 1950 com o intuito de comprovar se esse padrão diferenciado com relação ao uso ou não de artigo definido diante de nomes próprios sempre existiu ou se algum fator influenciou, ao longo dos anos, esse uso diferenciado. Adotaram-se os pressupostos teóricos de Bynon (1977) e Labov (1994), segundo os quais a Linguística Histórica deve investigar e descrever como as mudanças ocorrem ou como o sistema linguístico preserva uma estrutura. Conforme Bynon (1977, p.1), a Linguística História deve investigar e descrever como as mudanças ocorrem ou como o sistema linguístico preserva uma estrutura; assim, é possível extrair dos documentos a estrutura gramatical de cada período, podendo, a partir disso, postular e comparar gramáticas sincrônicas. Para Labov (1994), um olhar no passado pode ser fonte de indícios para explicações do presente; essa utilização do presente para explicar o passado é denominada pelo autor de princípio uniformitário, no qual as forças que atuaram no passado para produzir o documento histórico são as mesmas que podem ser vistas em ação hoje (LABOV, 1975 apud TARALLO, 1990, p. 62); o que permite, assim, a inferência dos processos que operaram no passado pela observação dos processos em curso. Segundo Cohen (1995), pode-se justificar o movimento denominado de vai-evem, que possibilita a iluminação do presente através do passado e a iluminação do passado através do presente, apesar de a língua escrita apresentar um maior grau de formalização/normatização do que as línguas faladas, conforme o texto e a época em que foi produzida. Destes textos pretéritos, extraíram-se 2.705 dados que foram quantificados com o objetivo de se analisar o uso ou não de artigo definido em cada uma das duas localidades pesquisadas. Este estudo permitiu verificar que a ausência de artigo definido diante de antropônimos era a variante predominante nos textos escritos da língua pretérita das duas localidades: 74,7% em Abre Campo e 66,6% em Matipó; mas, ao mesmo tempo, percebeu-se uma tendência de se usar mais artigo definido em Matipó (33,4%) do que em Abre Campo (25,3%). Reflexões metodológicas acerca da expressão escrita do português nos séculos XIX e XX: a edição de manuscritos mineiros. Márcia Cristina de Brito Rumeu (UFMG) Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG) O objetivo deste trabalho é descrever o processo de constituição de corpora confiáveis ao estudo da língua portuguesa em terras mineiras no decorrer do séculos XIX e XX a partir da confecção de edições fac-similares diplomático-interpretativas de documentos pessoais e oficiais, à luz das orientações teórico-metodológicas de Spina (1994 [1977]), Cambraia (2005), Spaggiari e Perugi (2004). Nesse sentido, busca-se apresentar o processo de edição não só de cartas familiares, de amizade, amorosas produzidas por mineiros nos séculos XIX e XX e encerradas no Acervo dos Escritores

Mineiros (AEM/FALE/UFMG) e no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), mas também das atas inaugurativas do Instituto Histórico e Geográfico pelos intelectuais mineiros a partir de 1904. A proposta é a de organizar e editar amostras confiáveis da expressão escrita culta mineira em sincronias passadas com o objetivo principal de caracterizar a norma culta objetivamente realizada, cf. Cunha (1985), tendo em vista o fato de as cartas mais íntimas (familiares e amorosas) evidenciaremse como mais transparentes, ou seja, mais livres da pressão normativista da normapadrão em relação à explicitação de traços linguísticos da oralidade, como também observado por Rumeu (2013) em relação às missivas trocadas no seio familiar de cariocas cultos nas realidades oitocentista e novecentista do português brasileiro. Em contrapartida, nas atas do Instituto Histórico e Geográfico, prevê-se a expressão da norma culta mineira cujo contexto de escritura é o de elevado grau de formalismo, aproximando-se, pois, dos altos níveis de formalidade que também subsidiaram os contextos de produção das Constituições do Império (1824) e da República (1892) do Brasil, que, por sua vez, se mostraram relevantes fontes de expressão das normas lusitana e brasileira do português, respectivamente, cf. discutido por Pagotto (1999). Acredita-se, pois, em conformidade com Cambraia e Lobo (2001), que a edição facsimilar diplomático-interpretativa de textos, confeccionados mais especificamente por mineiros, no decorrer dos séculos XIX e XX, corresponda aos desejos do linguistapesquisador ávido por fontes fidedignas ao estudo da estruturação da pluralidade de norma(s) do português brasileiro.