UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS MARCELY ALMEIDA BEZERRA



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Transcrição:

1 UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS MARCELY ALMEIDA BEZERRA A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A CULTURA DO JEITINHO BRASILEIRO PREVALECE? ATÉ QUE PONTO O JEITINHO BRASILEIRO INTERFERE NA PRÁTICA DO ADMINISTRADOR? RIO DE JANEIRO 2007

2 MARCELY ALMEIDA BEZERRA A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A CULTURA DO JEITINHO BRASILEIRO PREVALECE? ATÉ QUE PONTO O JEITINHO BRASILEIRO INTERFERE NA PRÁTICA DO ADMINISTRADOR? Monografia apresentada para conclusão do curso de graduação em Administração de Empresas da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de bacharel em Administração de Empresas, no dia 11 de julho de 2007. Orientador: Professor. JOSÉ NOGUEIRA RIO DE JANEIRO 2007

3 MARCELY ALMEIDA BEZERRA A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A CULTURA DO JEITINHO BRASILEIRO PREVALECE? ATÉ QUE PONTO O JEITINHO BRASILEIRO INTERFERE NA PRÁTICA DO ADMINISTRADOR? Monografia apresentada para conclusão do curso de graduação em Administração de Empresas da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de bacharel em Administração de Empresas. Aprovado em / /2007 BANCA EXAMINADORA Prof. JOSÉ NOGUEIRA Orientador UVA Prof. LUÍZ SOARES UVA Profa. FLÁVIA MARTINEZ RIBEIRO Coordenadora do Curso de Administração de Empresas UVA

4 AGRADECIMENTOS Primeiramente, quero agradecer a Deus por mais esta restituição; ao meu amor, Marcelo, por toda a compreensão nos momentos de desespero e por toda revisão feita com extremo carinho; às minhas filhas, Anne e Cíntia, pela ausência em alguns momentos; à minha mãe, que sempre se orgulhou muito de mim e sempre me ajudou para que eu conseguisse viver esse momento; ao meu pai, que infelizmente não está aqui, mas com certeza está transbordando de orgulho; a todos que investiram em mim, na minha conquista: César Benjamin, Estela Abreu, Evanildo Bechara, Marcelo Bezerra, a uma amiga especial, Cris, companheira de árduos anos, que sempre me incentivou e me ajudou; a todos os professores e professoras que me ajudaram a construir o meu saber : Adriano de Freixo, Lincoln, Rocha, Adilson, Mauro Takao, Ricardo, Daniele, Rosângela, Cláudia, Roberto, Silvio, Aluísio,Luiz Soares, José Roberto, Fabiano, Juarez, Artur, Celso, Marcelo, Roberto Querido, Salustiano, Correia, Beatriz, Érico, Reinaldo,Paulo Ovídeo, Alceu, Pinheiro, Agamenon, José Otávio, José Francisco, Maria da Ajuda, Luigi, Windson, Jefferson, Waldemar,William.

5 Às minhas filhas, Anne e Cíntia, que representam o futuro. Que possam viver num mundo mais justo, mais humano, enfim, mais ético.

6 Na administração, uma profissão nascida no século XX, a construção da ética passa pela própria reflexão do que significa ser Administrador, de como essa profissão deve ser constituída em termos dos princípios que deverão dirigir as ações e suas conseqüências, pois a ética, no fundo, é uma reflexão sobre a nossa prática, a nossa vida. Fábio Bittencourt, Doutorando FGV/ Ebap RBA dezembro de 2005

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO 1 - ÉTICA NOS AMBIENTES ORGANIZACIONAIS 9 1.1- Conceituação 9 1.1.1 Ética 10 1.1.2 Ambiente organizacional 12 1.2 Fatores ligados à importância da ética 14 1.2.1- Fatores sociais 14 1.2.2 Fatores administrativos 15 1.3 - Conseqüências da conduta antiética 16 1.4 - Medidas para se viabilizar um ambiente ético 18 CAPÍTULO 2 O JEITINHO BRASILEIRO 22 2.1 O jeitinho na visão de alguns pensadores 24 2.2 O mapa social do jeitinho no Brasil 25 2.3- Os discursos positivo e negativo do jeitinho 26 2.4- Esse país não tem jeito 28 2.5- O jeitinho e sua identidade nacional no país do jeitinho 29 CAPÍTULO 3: ESTUDO DE CASO - A QUEDA DA ENRON 30 CONCLUSÃO 38 REFERÊNCIAS 41

8 INTRODUÇÃO Este estudo demonstrará o papel fundamental da ética nas organizações, abordando inicialmente fatores sociais e administrativos, passando pela análise das conseqüências de uma conduta antiética e pelas medidas que viabilizam um ambiente ético. Em um segundo momento, esta pesquisa tratará da expressão jeitinho brasileiro, trazendo, a este respeito, a visão de alguns pensadores, uma análise social e cultural e a identidade nacional do jeitinho. Este estudo trará, ainda, à discussão, como estudo de caso, a queda da empresa americana Enron, atuante no mercado mundial de energia. Por fim, este estudo comprovará que a cultura de preocupação com valores éticos tem sucumbido à interferência do jeitinho brasileiro, afetando a boa administração.

9 CAPÍTULO 1 - ÉTICA NOS AMBIENTES ORGANIZACIONAIS 1.1 - Conceituação Ao iniciar este trabalho, verificou-se, inicialmente, a necessidade de se conceituar seus termos norteadores, quais sejam: ética, ambiente e organização, que compõem o título acima. Muito embora estes termos já tenham sido largamente estudados e conceituados, a evolução humana e da própria ciência, como era de esperar, traz, de tempos em tempos, novos significados para estas palavras. A ética de uma organização não se reduz à ética da responsabilidade, pois os resultados nem sempre justificam a violação de princípios éticos. Não se reduz a uma ética da convicção, pois a defesa de valores legítimos pode ter conseqüências que invalidam a sua intenção. Não se pode desprezar o impacto das decisões em cada um dos públicos da empresa, o que seria uma atitude irresponsável. Desconsiderar os resultados das ações no processo de tomada de decisão não é apenas ingenuidade, é má gestão. Não basta também crer que pessoas virtuosas formam uma organização virtuosa. A empresa é mais do que pessoas que a integram. Ela é a soma de processos, tecnologias, culturas e pessoas. O modelo de ética organizacional exige articulação integrada entre resultados, valores e o modo habitual da organização agir. A ética nos negócios é uma forma de gestão e deve estar inserida na cultura e nos processos administrativos, tecnológicos e decisórios de uma organização.

10 1.1.1 - Ética A palavra ética é um daqueles termos sobre a qual existem numerosos textos e páginas definindo-a, assim como explicando sua fundamentação e seu campo de ação. Historicamente, quem primeiro abordou o tema foi o filósofo Sócrates, ateniense que questionava as razões de ser das condutas virtuosas da sociedade da qual ele fazia parte. Descontente por algo ser considerado moral apenas e tão-somente porque todos faziam, ele fundou a filosofia da moral, que hoje chamamos de ética. Dizia que o conteúdo do bem moral consistia na felicidade interior, dado que agindo de uma forma correta o homem seria feliz. Platão optou por uma ética de fins: se os fins são bons, então também são bons a intenção, o saber e o poder. Para Aristóteles a ética consistia na satisfação da felicidade, em que apenas a atitude perfeita do homem pode conduzí-lo à felicidade. Na antiguidade, a ética estava direta e intimamente vinculada a três questões: ao racionalismo, pois, para os antigos, a vida virtuosa significava agir em consonância com a razão, vez que a razão conhece o bem, o deseja e norteia nossa vontade; ao naturalismo, pois na concepção dos antigos, a virtude estava ligada à maneira de agir de acordo com nossa própria natureza; à impossibilidade de se separar ética de política, ou seja, entre a conduta da pessoa e os valores da sociedade, pois apenas na existência compartilhada com outras pessoas é que encontramos felicidade, justiça e liberdade.

11 Com a evolução dos tempos, chega-se à Idade Média, momento em que se vislumbrou uma ética mais próxima a Deus. Naquele tempo, os filósofos eram teólogos e aliavam ética à religião. Com isto, formava-se um compromisso do homem com Deus e não com sua sociedade. Destacaram-se nesta concepção São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, para quem a ética de um homem era medida pela maneira através da qual agia de acordo com as leis divinas. Chegando-se à Idade Moderna, as concepções da Idade Média foram desprezadas, uma vez que os pensadores não mais aceitavam a concepção teológica. É a fase do Iluminismo, onde a ética passou a ser discutida na política, no direito e em diversas formas de relações sociais. Uma série de pensadores, tais quais Montesquieu, Hegel e Nietzsche passaram a crer em uma ética voltada para uma relação do indivíduo com a sociedade e não com Deus. Nos tempos modernos, a partir de Kant, empreendeu-se o estudo da ética independentemente das idéias religiosas. Os traços fundamentais da ética kantiana são: o formalismo, o apriorismo e a autonomia. Essa ética ignora todo o conteúdo material e a lei é um imperativo categórico, que converte a ética do dever ser, que outra coisa não é senão a determinação da vontade com a sua bondade específica única da lei. Como se pode verificar, a concepção de ética tem sido bastante discutida ao longo dos tempos por variados pensadores e autores. Abraçada pela idéia geral destas concepções, encontramos, dentre outras virtudes, a responsabilidade, a honestidade e o respeito, que servem de alicerce para uma conduta ética e que são brevemente abordados a seguir:

12 A responsabilidade é o ponto de partida da ética para a sociedade, é um elemento da ética; quem não responde por seus atos falta com a ética. Implica na noção de que toda ação da organização afeta pessoas ou grupos sociais, ou seja, os públicos com os quais se relaciona. A dimensão da responsabilidade reúne o tripé econômico-socialambiental da sustentabilidade, não só da organização, mas do mundo em que vivemos. A honestidade é um fator que faz parte da ética, pois ser honesto é agir com probidade, com honra, tomando para si apenas aquilo que é seu de direito. Implica na adoção de valores de humanidade que, de algum modo, limitam a busca dos resultados estrategicamente planejados. Uma organização ética preocupa-se com os resultados, sim, mas sabe o que não deve fazer para realizá-los. Por último, o respeito, que é também um elemento da ética, embora não o principal. Mesmo dentro da honestidade existe, intrinsecamente, o respeito, isto é, não se pode ser honesto sem ser respeitoso. É a disposição firme e constante para a prática do bem. Donde-se conclui que, devido às grandes modificações tecnológicas ocorridas no mundo, passamos a viver em um conflito de valores, fazendo com que a sociedade já questione determinados valores e busque outros novos em que possa se nortear. Muito embora seja difícil determinar o fator principal que levou a sociedade a buscar a ética, os fatores sociais e administrativos foram os que mais se destacaram na busca da ética nas organizações. 1.1.2 Ambiente organizacional A idéia de organização existe deste a pré-história da humanidade, quando o homem primitivo buscou, através de grupos organizados, alcançar certos objetivos que,

13 sem auxílio, não lograria êxito, sendo certo, entretanto, que a forma organizacional era bastante rudimentar. A organização na vida moderna somente surgiu com a Revolução Industrial, no século XVIII. Este fenômeno provocou mudanças substanciais em nossa sociedade no que concerne à política, economia, tecnologia, etc. No final da Revolução Industrial o mundo já havia se transformado completamente, tendo, por conta disto, surgido uma sociedade de organizações que vivia com algumas características: a) o crescimento acelerado e desorganizado das empresas, que passaram a exigir uma administração de caráter científico que pudesse substituir o empirismo e a improvisação reinantes; b) a necessidade de maior produtividade e eficiência das empresas, para proporcionar condições de enfrentar a intensa concorrência e competição no mercado. Com isto, surge a organização como instituição, ou seja, um órgão que tem a finalidade de alcançar um certo objetivo, onde o homem tem uma preocupação com a racionalização do processo do trabalho. Assim, verifica-se que a organização é um sistema social, posto que faz parte da sociedade, e também um sistema, vez que seus procedimentos se conectam, fazendo com que os primeiros passos do processo de organização refletissem no resultado final. Assim, o ambiente organizacional é um conjunto de elementos que envolvem as organizações.

14 1.2 Fatores ligados à importância da ética 1.2.1 Fatores sociais Existe hoje no mundo uma sede por ética e não é à toa que este tema se torna cada vez mais discutido em palestras, workshops, ou mesmo internamente nas empresas. O mundo começa a perceber a extrema relevância de um comportamento ético, de uma conduta condizente com os valores da honestidade, da integridade e do caráter. São muitos os fatores que deixaram (e ainda deixam) as sociedades estarrecidas, tornando-as sedentas por ética. Dentre outros, destacam-se: o caos vivido na primeira metade do século XX, em decorrência de duas guerras mundiais; enriquecimento fenomenal do primeiro mundo e, na contramão, o empobrecimento dos países do terceiro mundo; fome generalizada nos continentes africano, asiático e americano, em especial na América Latina; crescimento da violência doméstica e terrorista ao redor do mundo; proliferação da AIDS; corrupção governamental desenfreada. Seguramente outros fatores poderiam ser agregados à lista acima, mas é certo que os mencionados contribuíram para que o mundo clamasse (e continue a clamar) por uma ética na política, nos negócios, na família, etc.

15 Assim, conclui-se que as organizações não são meras máquinas de fazer dinheiro; ao contrário, elas têm um papel social a cumprir e a ética deve embasar todas as suas ações, internas e externas. O dinheiro é apenas parte de um todo. 1.2.2 Fatores administrativos Não se pode negar que as mudanças ocorridas na administração desde a década de oitenta tenham mudado o mundo organizacional para sempre. O dinamismo é a tônica, exigindo que empresas não mais fiquem inertes à espera de soluções e mudanças que batam às suas portas. A conjuntura econômica mundial demanda que as empresas é que devem realizar mudanças administrativas em seus âmbitos de atuação, antecipando-se aos concorrentes. O mundo tem se tornado um enorme e complexo sistema, com os mercados se expandindo de forma dinâmica. Como não poderia deixar de ser, mesmo as pessoas estão em constantes mudanças, em especial aquelas ativas economicamente. O mundo administrativo/corporativo de hoje está cada vez mais exigente e podemos destacar algumas de suas mais freqüentes demandas: relação de confiança entre funcionários de níveis hierárquicos praticamente iguais; boa qualidade de vida dos funcionários; credibilidade da informação, vez que é a matéria prima no mundo de hoje; credibilidade perante a sociedade; boa imagem perante o mercado consumidor.

16 Não obstante, este mesmo modelo administrativo tem se tornado um ambiente propenso para a desonestidade, a omissão, intrigas, condutas inadequadas, mentiras, etc., na medida em que o enxugamento das estruturas organizacionais reduziu os espaços para promoções, abrindo caminho para a disputa acirrada por cargos, o desespero e a desonestidade, comumente usados nos dias de hoje para se alcançar um objetivo. O que se percebe hoje é um ambiente organizacional e social sedento por ética, pois empresários e clientes têm se tornado cada vez mais seletivos na captação de novos clientes e na busca por melhores cargos, utilizando a ética como critério de decisão. 1.3- Conseqüências da conduta antiética Dúvidas não há que de ter quanto aos prejuízos causados pela falta de ética nos ambientes organizacionais, independentemente do nível hierárquico em que se encontram seus membros. Uma boa imagem empresarial vai muito mais além de um belo edifício comercial, uma refinada propaganda televisiva ou mesmo um nome marcante. A imagem da empresa é transmitida por seus membros através de suas condutas externas e internas. Não é à toa que empresas que tratam bem seus funcionários, que primam pela excelência de seus produtos, que zelam pela comunidade onde se situam, que contribuem com seus impostos e que respeitam e ouvem seus clientes, invariavelmente são bem vistas pelo público em geral. As organizações ao redor do mundo enfrentam, nos dias de hoje, uma concorrência assustadora, com critérios de avaliação de várias ordens. Já se foi o tempo

17 em que um cliente queria apenas adquirir um produto de boa qualidade e que satisfizesse suas necessidades; hoje, este mesmo cliente quer ter a certeza de estar adquirindo um produto que tenha cumprido rigorosamente com as regras de um processo de produção confiável e eficiente. Neste contexto, podemos destacar vários fatores que justificam esta postura do consumidor atual: ao contrário de antigamente, quando os mercados eram mais enxutos, a qualidade que hoje um cliente exige já não é tão difícil assim de ser obtida, face à concorrência acirrada; empresas que primam por atitudes eticamente corretas possuem mais solidez e, com isso, estão em condições de proporcionar uma assistência mais duradoura; o consumidor de hoje tem consciência do potencial econômico que detém nas mãos; o consumidor feliz se multiplica, na medida em que o seu bem-estar, proporcionado pela aquisição de um bom produto, invariavelmente implica em recomendações a amigos e familiares. Com isto, resta claro que as empresas perdem significativas fatias de mercado ao optarem por condutas antiéticas; a memória do público consumidor de hoje já não é tão curta quando a de outrora. Mesmo em situações difíceis, deve a empresa optar por uma postura ética e transparente, sob pena de sofrer conseqüências irreversíveis.

18 Um caso clássico e de passado recente foi o do anticoncepcional Microvilar: ainda na fase de testes de embalagens, o laboratório farmacêutico equivocadamente lançou no mercado o produto sem o princípio ativo; mesmo após ter sido avisado a respeito, passaram-se algumas semanas até que o laboratório tomasse uma medida para alertar os possíveis compradores. Esta demora suscitou a interferência do Poder Público, o que tornou público não só o erro, mas também a conduta inadequada da empresa no trato com os consumidores, além de ter proporcionado significativos prejuízos à empresa. Adicionalmente, vale registrar que o contexto de postura ética nas empresas passa, também, por um processo seletivo de contratação de funcionários, pois são eles que constituirão uma imagem da empresa para o público e não se pode negar que imagem, nos dias de hoje, é condição sine qua non para o sucesso, em qualquer esfera no mundo corporativo. A preocupação com a imagem da empresa tem influência direta com a produtividade. Empregados antiéticos são como ervas daninhas: desmotivam os demais, geram insatisfações mesmo quando em ambientes favoráveis, atrapalham o funcionamento da empresa com suas atitudes e concepções questionáveis e dificultam o fluxo de informação nos setores de uma empresa. 1.4- Medidas para se viabilizar um ambiente ético Nossas organizações, lamentavelmente, têm sido o cenário de exemplos inadequados de conduta gerencial alicerçados na crença de que o desrespeito a colegas e subordinados e a "queimação" de concorrentes são alguns dos caminhos que levam, mais rapidamente, ao sucesso. Porém, hoje se sabe que o primeiro passo efetivo para o

19 sucesso e o alcance da qualidade total é a adoção de uma conduta ética por parte de todos os componentes humanos das organizações. A postura ética congrega alguns benefícios: 1. Criação de um ambiente interno de harmonia, equilíbrio e motivação para os clientes internos nas empresas. 2. Estabelecimento de um relacionamento respeitável e de alto grau de confiabilidade junto aos clientes externos. 3. Ampliação das possibilidades de alianças e parcerias internas e externas. 4. Reconhecimento público da qualidade baseada na confiança transmitida pela marca embasada na ética nos negócios. 5. Ampliação dos mercados, da lucratividade e da longevidade da empresa. 6. Respeito dos clientes externos, internos e competidores. Muito embora a definição de conduta ética dependa da convicção de cada indivíduo, não se pode negar que existam princípios básicos. Com base nisto, existem medidas que podem (e devem) ser tomadas pelas organizações com o intuito de garantir comportamentos éticos: a) Prevenção segundo Jacomino 1, para se saber se uma empresa é ou não ética, não basta observar seu comportamento na hora da crise. Ao contrário, é preciso verificar a maneira como ela se planeja e cria soluções para evitar deslizes e escorregadelas. b) Superiores devem dar exemplo a forma de trabalho são determinados pelos administradores de uma empresa; se assim o fazem através de mentiras e desonestidades, 1 JACOMINO, Dalen. Você é um profissional ético? VOCÊ S.A, Rio de Janeiro, n.25, p.28-37, jul.2000.

20 seus subordinados assim farão. Por isso, uma conduta irrepreensível dos administradores propaga a ética nas empresas. c) Promover discussões sobre a ética - a ética, como já visto, não é somente um costume; ela é lógica, emoção e desejo. Um dos fatores que viabiliza uma conduta ética é justamente o conhecimento; assim, devem sempre existir espaços para estas discussões. d) Adotar conjunto de regras claras este é outro meio de levar ao conhecimento dos funcionários o grau de importância que a ética tem em um determinado ambiente corporativo, em sua maioria de vezes materializado pelo que se chama de Código de Ética. e) Dispor de organograma para decisões em conjunto uma atitude já bastante sedimentada no mundo corporativo de hoje é a da tomada de decisões em conjunto, de forma democrática. Ademais, esta medida elimina os riscos inerentes às decisões que são tomadas por apenas um funcionário. f) Abrir espaço para denúncias outra medida bastante comum no ambiente corporativo de hoje; estabelece-se um canal de comunicação entre a diretoria e o baixo escalão. É uma medida de grande retorno para a empresa, na medida em que quaisquer atitudes questionáveis de funcionários podem facilmente chegar ao conhecimento dos diretores, sem a interferência de níveis hierárquicos intermediários. g) Transparência e severidade na reação é uma das mais importantes medidas a ser tomada. Abafar casos equivale a correr riscos imperdoáveis, que inclui a desagradável surpresa de o incidente chegar ao conhecimento da imprensa, possibilidade de ações judiciais e outros desdobramentos que podem expor a omissão da empresa. Não ter medo de reconhecer os erros cometidos é uma atitude ética.

21 Estas medidas seguramente auxiliarão a empresa a construir um ambiente de trabalho saudável, sólido e ético, e exterioriza a preocupação da empresa não apenas com sua função comercial, mas, sobretudo, com sua função social.

22 CAPÍTULO 2 O JEITINHO BRASILEIRO Uma análise feita pelo sociólogo Alberto Carlos Melo de Almeida 2 mostra que, independente do nível social ou educacional, 65% dos brasileiros já usaram de esperteza para obter vantagem pessoal; o jeitinho está incorporado ao cotidiano. João Ubaldo Ribeiro, em sua crônica Precisa-se de matéria-prima para construir um país 3, fez uma crítica ácida ao povo brasileiro, que, segundo ele, valoriza a moeda da esperteza tanto ou mais que o dólar. Depois de dar inúmeros exemplos de falta de solidariedade, como no trânsito, onde os carros jamais dão preferência aos pedestres, e de desrespeito pelo coletivo, como o caso das pessoas que atiram lixo nas ruas e depois reclamam do Governo por não limpar os esgotos, conclui: os grandes responsáveis pela situação do Brasil não são os governos anteriores, mas sim aquele que nos olha no espelho. Há pessoas corretas no funcionalismo, aquelas que respeitam o erário público, a importante atividade do agente público, o normal desenvolvimento da máquina administrativa quando se relaciona com o cidadão. Existe, porém, a carteirada, desvio de comportamento funcional que de vez em quando é realizado por algumas autoridades públicas, com algumas exceções. Ela consiste em obter ou tentar obter proveito pessoal, material ou de outra natureza, para si ou para terceiro, valendo-se o funcionário público do cargo ou função que exerce ou ocupa. O exemplo mais comum é a expressão "sabe com quem você está falando?", geralmente acompanhada da apresentação da carteira 2 Corrupção: com Jeitinho Parece que Vai, coordenada pelo sociólogo Alberto Carlos Melo de Almeida - Correio Braziliense, 7/5/2004, p. 15 (com adaptações). 3 Em 14 de novembro de 2005 no Jornal do Meio Ambiente

23 funcional, aberta na cara da vítima, como um instrumento de ameaça implícita. Se o carteirado não cede, fica mais do que compreendido por ele que o carteirante poderá valer-se do seu poder para prejudicá-lo ou lhe criar algum problema. Esse comportamento, irmão do jeitinho brasileiro e da mania de levar vantagem em tudo, ainda que possa parecer inofensivo e insignificante diante das inúmeras condutas corruptas levadas ao conhecimento do público no momento atual, é deletério e antidemocrático. Em mais um texto de grande impacto, Roberto DaMatta 4 aborda o papel das emoções em nossa sociedade, dentro de um contexto jurídico, mais precisamente a diminuição da responsabilidade criminal. Isto logo após a barbárie cometida no Rio de Janeiro contra o cidadão João Hélio, de 6 anos, que ganhou as primeiras páginas dos jornais do país e rodou o mundo televisivo. Em reação ao afã do momento e da emoção provocados por mais esta recente tragédia (e como não ter emoção em um momento como este?), ouviu-se a sandice verbalizada por alguns políticos e acadêmicos do meio jurídico: as leis não podem ser feitas com emoções. Criou-se, com isto, mais uma nova modalidade do jeitinho: a de minimizar a necessidade de reações imediatas. Segundo o autor, tudo parece indicar que as emoções, em nosso país, estão de uma vez por todas associadas ao lado baixo da condição humana e da sociedade. No seu livro O jeitinho brasileiro, Lívia Barbosa 5 desvenda os mistérios do surgimento do famoso jeitinho brasileiro, que surge como uma instituição, um 4 Roberto da Matta Roberto Da Matta lava a alma dos emotivos malvados O Globo 28/2/2007 5 BARBOSA, Lívia. O Jeitinho Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992.

24 instrumento para auxiliar no difícil dia-a-dia brasileiro. A autora encara o jeitinho como um procedimento inevitável em todos os níveis de relações. Uma prática social legitimada por todas as classes, algo que se situa entre o favor e a corrupção. Curiosamente, o jeitinho somente encontra sentido de uso ante um acontecimento imprevisto aos objetivos da pessoa, que deseja resolver seu problema em curtíssimo prazo. Em nossa sociedade burocratizada, recorrer ao jeitinho é lugar-comum. Curiosamente, o jeito parte de pressupostos opostos àqueles que baseiam a burocracia. Nesta, a máquina é impessoal, anônima e racional, enquanto que para o uso do jeitinho, é preciso lançar mão de emoções, como simpatia, modo de falar e etc. O jeitinho que não vem acompanhado de simpatia e de boa fala está fadado ao fracasso em poucos segundos. 2.1 - O jeitinho na visão de alguns pensadores Em que pese o amplo uso do jeitinho em nossa sociedade, pouco se estudou o tema até aqui. Ainda assim, o tema tem sido objeto de ensaios por parte de algumas mentes brilhantes nacionais, dentre eles Roberto Campos e Guerreiro Ramos, os quais, de forma bastante resumida, comentaremos a seguir. Não bastasse seu notório saber no campo da Economia, o lendário Roberto Campos também espalhou seus conhecimentos na esfera socióloga, ao assinar o texto A técnica e o riso, escrito em 1966. Neste, o renomado autor indica três fatores principais que se ligam às raízes do jeitinho: a) origem histórica, muito comum nos países latinos e nem tanto nos anglosaxões; b) atitude no que concerne às relações entre a lei e o fato social; enquanto que

25 para os países anglo-saxões a lei nada mais é do que um espelho do costume, nos países latinos as leis são normativas, o que leva a uma relação desmedida entre a norma e o comportamento e, por via de conseqüência, uma tensão institucional; c) atitude religiosa; enquanto que nos países latinos prevalece o catolicismo, culminando com a rigidez e a intolerância, nos países anglo-saxões, predomina o protestantismo, que possui uma moral complacente que permite a modificação de normas éticas quando a situação assim o exige. O ensaio de Guerreiro Ramos 6 sobre o jeitinho foi um dos primeiros a ser publicado no Brasil. Entende Ramos que o jeitinho é tão comum nos países latinoamericanos por força do formalismo: é a discrepância entre as instituições sociais, políticas e jurídicas e nossas práticas sociais; é a diferença entre o que está na lei e o que realmente ocorre. Não obstante, afirma o referido autor que o jeitinho tende a desaparecer no futuro nos países latinos, face à crescente impessoalidade nas relações sociais que vivenciamos nos dias de hoje. 2.2- O mapa social do jeitinho no Brasil Um dos aspectos mais interessantes a respeito do jeitinho é seu cunho universal. Em nossa sociedade, dificilmente localizaríamos uma cidadão que já não tenha feito uso desta mania nacional. De tão usado, o jeitinho tem até mesmo sinônimos: quebra-galho, ginga, jogo de cintura, etc. 6 RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e Estratégia do Desenvolvimento Elementos de uma Sociologia da Administração. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas.

26 Verdade seja dita: todos nós, que seja em uma única oportunidade, já usamos o jeitinho em alguma situação. Corriqueiramente, podemos conceituar jeitinho como a forma especial de se resolver algum problema ou alguma situação. Curiosamente, o jeitinho somente encontra sentido de uso ante um acontecimento imprevisto aos objetivos da pessoa, que deseja resolver seu problema em curtíssimo prazo. Em nossa sociedade exageradamente burocratizada, recorrer ao jeitinho é lugarcomum. Curiosamente, o jeito parte de pressupostos opostos àqueles que baseiam a burocracia. Nesta, a máquina é impessoal, anônima e racional, enquanto que para o uso do jeitinho, é preciso lançar mão de emoções, como simpatia, modo de falar e etc. O jeitinho que não vem acompanhado de simpatia de boa fala está fadado ao fracasso em poucos segundos. 2.3- Os discursos positivo e negativo do jeitinho Como o próprio título acima indica, o jeitinho pode ser considerado positivo na concepção daqueles que o aprova e que o valorizam; na mão contrária, é tido como negativo pelos que desaprovam tal conduta. No discurso positivo, o jeitinho serve tanto como resposta criativa a uma situação emergencial como também uma maneira de burlar a lei ou procedimento a fim de alcançar algum objetivo. Para aqueles que defendem o uso do jeitinho, ele faz parte do caráter do brasileiro; é a síntese do nosso lado cordial, simpático, alegre, etc. Mais que isso, é uma

27 qualidade do povo brasileiro e uma maneira de fugir à vida rígida e certinha, de modo que o jeito ajuda a encarar as eventualidades do dia-a-dia, evitando, assim, a monotonia. Assim, para Lívia Barbosa 7 podemos afirmar que o jeitinho positivo se baseia não em direitos e deveres, mas na necessidade de quem precisa, e, para que logre, o jeitinho precisar encontrar a reciprocidade daquele que tem o controle da situação. Resumidamente, podemos também dizer que o jeitinho prega mudanças de ordem moral, mas, curiosamente, poucas vezes vê-se o jeitinho associado à corrupção; enquanto que a corrupção é percebida como um elemento institucional, no jeitinho o foco é colocado unicamente nas relações inter-pessoais, haja vista que envolve simpatia, boa vontade, charme, modo de pedir e outros elementos que não se relacionam com as improbidades institucionais e quebra de normas legais que vemos em nosso cotidiano. Com relação ao discurso negativo, Barbosa 8 entende que este apresenta uma complexidade bem maior que o negativo. Afinal, ele não é apenas popular, mas também teórico, residindo às diferenças entre eles no tipo de explicação oferecida para a sociedade, no vernáculo usado e no tipo de material em torno do qual a discussão se desenvolve. Ainda de acordo com a referida autora, regra geral o discurso negativo teórico baseia-se na reflexão crítica sobre nossas instituições sociais, a nossa realidade econômica e o que entendemos do Brasil como nação. Tem um cunho de denúncia; denúncia de nossos homens públicos, da corrupção, da impunidade, etc. A idéia que prevalece é a de que nada aqui funciona, que as coisas não são levadas a sério e que 7 BARBOSA, op. cit. 8 BARBOSA, op. cit.

28 mudanças estruturais e institucionais são o caminho para se mudar o país. A proposta é de uma reformulação na ordem política, institucional e jurídica. Já no discurso negativo popular, a idéia de mudança está vinculada mais ao indivíduo. Quando existe uma proposta de mudança, ela pretende a reforma moral dos agentes empíricos, enquanto que no discurso teórico, a proposta é pela reformulação no tipo de sociedade. Segundo a referenciada autora, existe no Brasil a perspectiva de acreditar na mudança pelo decreto; esta tradição, que busca regular todas as relações sociais através de decretos e leis, estabelece um contrate marcante com outras nações, em especial os povos germânicos, onde a lei dá apenas o princípio básico, permitindo grande margem de liberdade para a solução de situações baseados no bom senso. No Brasil, a fé na palavra escrita tem como conseqüência se ter como resolvido aquilo que é transformado em lei. Em verdade, a mera confecção de uma lei nada resolve se não se criar instrumentos que viabilizem sua efetiva implementação. Uma lei criada, mas não implementada na prática se transforma em uma norma ineficaz. Mais que isso, ao se permitir que outras tantas leis encontrem o mesmo fim (a sua não implementação), sinaliza-se para a sociedade brasileira a idéia de que elas, as leis, ao final, acabam por existir para nada, viabilizando a crença de que as leis podem ser desprezadas, desrespeitadas. Existe historicamente em nossa nação uma postura de zombaria, de desdém, em relação às leis. 2.4- Esse país não tem jeito Contrariamente ao discurso dos que defendem o jeitinho, esse país não tem jeito é o tipo de discurso que qualquer cidadão brasileiro aciona quando sente frustradas suas

29 expectativas em relação ao futuro do Brasil, ao governo ou mesmo ao próprio meio do qual ele faz parte, e baseia-se nas experiências vividas ou presenciadas ao longo da vida. O referido discurso traz em seu contexto que o jeitinho é nada mais que um engodo, esperteza pequena. Ainda, denota uma grande descrença no país, no povo, nas instituições, no governo, em quase tudo 9. 2.5- O jeitinho e sua identidade nacional no país do jeitinho O jeitinho pode ser considerado um elemento de identidade social. Na esfera da antropologia, identidade social é a auto-atribuição de uma determinada imagem, maneira de ser ou característica que serve de base para a compreensão do mundo e de outros grupos sociais. Como esta identidade social não é nata, mas adquirida, afirma a autora que esta identidade é uma construção cultural, mas que não significa que o jeitinho simbolize toda a sociedade brasileira em todas as suas expressões, nem tampouco expressa o comportamento típico do brasileiro e, muito menos, significa que essa maneira de ação seja privilégio do nosso povo. 9 BARBOSA, op. cit.

30 CAPÍTULO 3 - ESTUDO DE CASO: A QUEDA DA ENRON Tendo analisado o conteúdo do filme Enron Os mais espertos da sala, verificou-se que esta empresa era considerada uma gigante no mercado de energia. Fundada em 1985, a Enron reinou por muito tempo como uma das mais sólidas e promissoras empresas dos EUA, chegando, inclusive, a ser a sétima empresa daquele país, em qualquer ramo de atividade. Por seis vezes foi eleita a empresa mais inovadora dos EUA. Ainda segundo o filme, o caso Enron representa um dos maiores fracassos empresariais da atualidade e demonstra a crise do sistema econômico global. Muito embora represente um caso ocorrido nos Estados Unidos, os fatores motivadores da crise vivenciada pela Enron não se distanciam da realidade brasileira. Dona de lucros respeitadíssimos e vultuosos, Enron era a empresa para a qual milhares de americanos sonhavam trabalhar. Seu fundo de pensão para empregados era a garantia de uma aposentadoria tranqüila. Tamanha era a solidez da empresa que seus funcionários assumiam financiamento de casa própria na certeza de que, trabalhando para Enron, não teriam problemas com desempregos. A vida de milhares de empregados foi planejada com base na vida longa da empresa, mas o que estava por vir chocou a todos. Em 16 anos, seu patrimônio passou de 16 bilhões para 65 bilhões de dólares. Enron reinventou o mercado de energia nos EUA ao disponibilizar ações da empresa na bolsa de valores. Tão rápida quanto a sua ascendência foi a sua queda Enron faliu em 24 dias. Então considerada uma potência empresarial, divulgou, em 2 de dezembro de 2001, seu

31 pedido de concordata e, dez dias após, o Congresso Americano começou a analisar a falência do grupo, o qual possuía uma dívida aproximada de 22 bilhões de dólares. Administrada por gente competente, porém inescrupulosa, tinha acesso até na Casa Branca e não foi coincidência que Enron foi a maior financiadora de recursos para a campanha de George Bush a presidência dos EUA no início dos anos 90. Verificada a falência da empresa, uma das maiores descobertas do processo falimentar foi a forma como os administradores financeiros da Enron maquiavam os números da empresa, através de um programa denominado Finança Estruturada. Esta maquiagem, que durou anos, ocultava fraudes e levava os acionistas não apenas a acreditar na solidez da empresa, mas também a investir cada vez mais em suas ações. Esta maquiagem elevava o nível de segurança em investimentos da empresa e ocultava os prejuízos. Associada a esta maquiagem, existia uma filosofia agressiva de captação de recursos, e a empresa investia milhões para convencer os americanos a comprar suas ações. Outra descoberta, esta mais triste e com resultados catastróficos, foi que, com a falência, os trabalhadores, que por anos a fio investiram nas ações da empresa, correram aos bancos para sacar seu dinheiro, apenas para descobrirem que não havia qualquer quantia disponível. Estima-se que 20 bilhões de dólares desapareceram dos fundos de pensões. A maquiagem dos números era do conhecimento de um pequeno grupo de pessoas, incluindo o presidente, alguns diretores, traders e advogados do escritório de auditoria Arthur Andersen. Em conluio, sabiam que o desmoronamento da empresa

32 ocorreria inevitavelmente, mas estavam seguros de que, quando isto acontecesse, já teriam todos feito fortunas. Em meados da década de 90, deu-se a privatização da energia elétrica no estado da Califórnia e a Enron não pensou duas vezes em capitalizar. Regularmente, promovia apagões em várias cidades do estado, acarretando milhões em prejuízos para empresas e cidadãos. Com isso, os preços de suas ações subiam vertiginosamente e a Enron faturava milhões. O fim de 2000 e início de 2001 marcou o início da queda da Enron, assegura o filme. As tramas da empresa não puderam mais ser ocultadas e, com isso, o valor de suas ações despencou. No segundo semestre de 2001, um de seus mais importantes diretores, Jeff Skillings, pediu demissão. Em janeiro de 2002, outro alto funcionário, Cliff Baxter, se matou ao verificar que o mar de denúncias que envolvia seu nome o levaria inevitavelmente à prisão pelo resto da vida. Seu presidente, Kenneth Lay foi condenado por diversos crimes. Durante uma investigação no escritório Arthur Andersen, verificouse a destruição de milhares de documentos sigilosos que tratavam da maquiagem dos números da Enron, o que causou enorme abalo à reputação do escritório, que culminou com a perda de importantes contas e o fechamento de diversas de suas filiais ao redor do mundo. As investigações concluíram que aproximadamente 1 bilhão de dólares foram desviados da Enron por 5 altos funcionários, deixando órfãos milhares de credores e funcionários, vitimados pela impossibilidade de retirarem seus bônus do fundo de pensão no qual durante anos investiram suas economias. Ademais, concluíram que há de existir

33 uma prática transparente entre administradores de corporações, seus investidores e empregados, capazes de refletir a real situação financeira de uma empresa. Em maio de 2006, deu-se por concluído nos Estados Unidos o julgamento dos executivos Jeffrey Skilling e Kenneth Lay, que, após quatro anos, foram considerados culpados de vários crimes relacionados ao colapso financeiro da empresa. Enquanto Skilling atualmente cumpre uma pena superior a 24 anos em prisão no Estado de Minnesota, Lay morreu em julho de 2006, vítima de um ataque cardíaco fulminante. Por fim, concluiu o filme que a condenação de Skilling e Lay foi emblemática por se tratar do desfecho de um caso que revolucionou a maneira como as empresas se relacionam com os seus acionistas. Depoimentos retirados do filme Enron os mais espertos da sala Com o agravamento da crise na empresa, que não mais conseguia ocultar ou maquiar suas dificuldades, comecei a ouvir rumores acerca da situação da empresa, que se espalharam entre o fim de 2000 e o início de 2001. Tornou-se comum a nós, padres da Igreja Memorial Palmer, recebermos funcionários da Enron abalados e deprimidos com a situação financeira da empresa, pelos crescentes boatos e pela falta de transparência dos executivos. À medida que começaram a surgir dúvidas acerca da situação da empresa, aliadas a comportamentos erráticos dos executivos, o valor das ações da Enron começou a despencar no mercado. Ainda hoje somos procurados por ex-funcionários da Enron que não conseguiram absorver os prejuízos provocados pela falência da empresa. Em 2001, com a falência, 20 mil funcionários perderam seus empregos e aproximadamente 1,2

34 bilhão de dólares de fundo de pensão deixaram de ser disponibilizados aos funcionários (informação verbal) 10. Na esteira da queda das ações, durante o verão americano de 2001, especulações davam conta de que Kenneth Lay poderia vir a ser convidado a participar da administração do governo George W. Bush, por sua conhecida amizade com o clã Bush de muitos anos. Não obstante, não apenas o convite a Kenneth Lay não se materializou, como em 2 de dezembro de 2001 a Enron declarou falência. Somente neste dia é que os funcionários da empresa receberam a notícia que mudaria suas vidas para sempre, numa prova inequívoca da falta de transparência dos executivos da empresa para com os funcionários. Aos funcionários foi dado apenas 30 minutos para recolher seus objetos pessoais e abandonar as dependências do edifício da Enron (informação verbal) 11. Em 14 de agosto de 2001, pouco antes da decretação de falência, Jeff Skilling, um dos mais importantes diretores da Enron, renunciou ao seu cargo, pegando-me e a todos de surpresa e dando um sinal de alerta aos funcionários, à comunidade e ao governo. A renúncia fez com que eu e os demais funcionários nos sentíssemos traídos, uma vez que Skilling exercia forte influência sob nós. Com isto, passei a trabalhar mais diretamente com Andy Fastow, executivo responsável pela contabilidade da empresa, e me deparei com números contábeis claramente manipulados, o que me levou a descobrir as parcerias escusas que Andy estabeleceu em nome da Enron, com o fim de maquiar a situação financeira da empresa. Parecia impossível que a empresa de consultoria Arthur 10 Depoimento dado pelo Rev. James Netter, da Igreja Memorial Palmer. 11 Depoimento dado por Max Eberts, ex-relações Públicas da Enron Energy Services.

35 Andersen tivesse aprovado tais números, e isto me levou a escrever uma carta anônima de alerta a Kenneth Lay (informação verbal) 12. Durante anos a fio, investi seriamente nas ações da Enron, chegando a acumular um montante de US$ 348,000, mas com a falência, não obtive mais do que US$ 1,200 com a venda delas. As contas dos fundos de pensão de milhares de funcionários foram congeladas, mas todos os executivos, cientes da iminente falência, conseguiram retirar seus milhões de dólares antes do barco afundar (informação verbal) 13. Diante deste resultado final, surge a questão: Como se daria, na realidade brasileira, o desenrolar de uma caso igual ao da Enron? Será que o jeitinho brasileiro não levaria a um outro desfecho? Não é preciso um grande esforço de reflexão para se concluir que um caso tal qual o da Enron certamente encontraria, através do jeitinho brasileiro, um outro caminho, uma outra conclusão. Nossa sociedade vive um momento de descrença generalizada: descrença no sistema político, no sistema legal, nas instituições, nos governantes e no futuro. Vive descrente na infeliz certeza da impunidade, na certeza de que isso aí não vai dar em nada, como sempre. Nossa realidade mostra que muito se investiga e estas investigações revelam um cenário típico de um câncer generalizado, onde se percebe que a corrupção tem tentáculos em todas as camadas sociais. Percebe-se cada vez mais a prevalência da Lei de Gérson (tornada famosa através do jargão você tem que levar vantagem em tudo, dito pelo famoso jogador de futebol em um comercial televisivo de cigarros, décadas atrás), em detrimento da noção do que é certo e do que é errado. O 12 Depoimento dado por Sheron Watkins, Vice-Presidente da Enron Corporation. 13 Depoimento dado por um ex-funcionário da Portland General, uma das empresas do Grupo Enron.

36 comportamento dos homens nem sempre é conforme seus próprios juízos sobre o valor de seus atos. Tem-se a impressão de que a noção de certo e errado cada vez mais é relativizada em nossa sociedade, onde, para muitos, os fins justificam os meios. Enquanto que nos Estados Unidos viu-se um clamor de todos os prejudicados, reivindicando seus direitos, em nossa sociedade a passividade impera. Fazem parte do nosso cotidiano variados casos de corrupção e violência urbana, mas a indignação do povo não se sustenta por muito tempo. Não obstante, enquanto que no caso da Enron as investigações levaram à merecida condenação e prisão de grande parte dos envolvidos, não se vislumbra infelizmente tal desfecho em nosso país. Nosso jeitinho entraria em cena: uma Enron à brasileira seguramente estaria operando até hoje, com os acusados em liberdade aguardando a conclusão de processos judiciais, que, por sua vez, se arrastariam por anos graças aos infindáveis recursos e influências corporativistas. Em uma Enron à brasileira, as fortunas obtidas graças ao desvio de dinheiro público, ao superfaturamento de obras, às fraudes de licitação, à compra de decisões judiciais, etc., não só não seriam recuperadas como aqueles que se apropriaram delas jamais cumpririam sentença na prisão. Em uma Enron à brasileira, doações milionárias a uma campanha presidencial serviriam como garantia de um futuro ainda mais próspero, sendo impensada a possibilidade de decretação de falência. Em suma, o jeitinho cuidaria para que uma Enron à brasileira não encontrasse o mesmo fim que o da sua irmã americana. Tudo isto possível graças à falta de vontade política, ao corporativismo, às leis que privilegiam as elites, à certeza da impunidade.

37 Uma Enron à brasileira estaria fadada a um providencial esquecimento, pois nossa memória é curta, ao passo que a Enron que existiu jamais será esquecida.

38 CONCLUSÃO A preocupação com valores éticos tem encontrado cada vez mais espaço nas mentes dos empresários brasileiros. Restou claro neste estudo que não apenas o cidadão brasileiro tem se tornado mais exigente na busca de atitudes éticas por parte do empresariado, como também os próprios empresários se deram conta de que posturas e ações éticas vinculadas às suas empresas rendem uma imagem positiva perante os cidadãos. Porém, para a implantação da ética nas organizações, é necessário mais do que um movimento dos cidadãos e empresários, é essencial a mudança da cultura da sociedade. Precisamos deixar de nos conformarmos com as situações anti-éticas e nos mobilizarmos para exigirmos mudanças. Temos alguns exemplos de mobilizações da sociedade em que o resultado foi satisfatório para a implantação da ética. É necessário reivindicar mais os nossos direitos e não achar uma maneira de passar pela situação de uma forma mais confortável. Existem determinadas situações que já se incorporaram ao nosso cotidiano, ao invés de terem sido banidas através da mobilização da sociedade. Ao ser estudado, observamos que o jeitinho brasileiro permanece incrustado na cultura nacional, em todas as camadas sociais, o que torna a preocupação do empresariado brasileiro com valores éticos uma tarefa árdua e longa. Esta mania nacional definitivamente interfere na prática do Administrador, ao desrespeitar métodos e procedimentos éticos; com isso, abre-se o caminho para a desonestidade, omissão, intrigas, condutas inadequadas, mentiras, etc. As pessoas que agem com falta de ética sabem que não sofrerão nenhuma conseqüência por suas condutas inadequadas, e isso facilita os procedimentos e as condutas inadequadas. A aplicação do jeitinho brasileiro, ainda que aparentemente inofensiva e insignificante diante das inúmeras condutas

39 corruptas levadas ao conhecimento do público no momento atual, é anti-ética, dúvidas não há que se ter quanto a isto. Através dessa pesquisa, observamos que a ética precisa estar interiorizada nos indivíduos, afinal, ela é uma condição de sobrevivência e de convivência social, impõe limites e deve estar comprometida com a dignidade do ser humano e com a justiça social, mas, para isso, é necessário uma mudança na cultura da sociedade para sua implementação. O principal ponto da ética é a discussão sobre a relação entre os seres humanos, ou seja, sua forma de agir e os seus costumes. Cada sociedade cria seus valores a partir de seus interesses na sociedade e cada cultura cria seus valores e define as relações dos seres humanos. Há uma palavra que pode abrir a porta para um futuro que os brasileiros mal podem adivinhar: ÉTICA. Segundo Baruch Espinosa, governar é capacitar as pessoas a desenvolver-se, a fazer pleno uso de sua racionalidade. O Administrador de hoje é consciente da fundamental importância da ética em um ambiente organizacional como critério de decisão, sem a qual podem advir resultados negativos transformados em prejuízos sociais, pessoais e financeiros, afetando de forma muitas vezes irrecuperável a imagem da empresa que administra. Afinal, permitir a presença de posturas e compromissos anti-éticos equivale a abrir espaço para enlaces burocráticos, rígida hierarquia, autoritarismo de chefia, falta de comprometimento com o cliente, isolamento perante as demais empresas, falta de credibilidade perante consumidores, etc. Donde se conclui que estas ferrugens maculam o dinamismo corporativo e, como o atual mercado se submete às fortes influências nacionais e internacionais, as empresas que não acompanham esta tendência estão fadadas ao atraso