BuscaLegis.ccj.ufsc.br Família e o mundo jurídico: repercussão do Código Civil de 2002 nas relações familiares. Rebeca Ferreira Brasil Bacharela em Direito pela Universidade de Fortaleza -Unifor Os direitos e deveres referentes à família pouco mudaram quando são comparados com a realidade, ou seja, com os usos e costumes da sociedade hodierna. Porém, o legislador, incutido pelo sentimento de socialização do direito, atualizou a própria letra da lei da forma mais precisa e condizente com os verdadeiros anseios e interesses da sociedade, prevendo expressamente muitos avanços e conquistas nesta área do direito. A nova legislação estabelece que o casamento é a comunhão plena de vida, com direitos iguais para os cônjuges, obedecendo à regra constitucional segundo a qual os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. Seguindo esse princípio, por exemplo, o marido poderá adotar o sobrenome da mulher - o que era possível só com autorização judicial. Antes, apenas a mulher poderia adotar o sobrenome do homem ou manter o nome de solteira. O Código Civil de 1916 dispunha que o objetivo do casamento era constituir família. Atualmente, o novo código considera o casamento apenas como uma das formas de constituição da família. Esse dispositivo legal vem apenas ratificar o que, na prática, está no senso comum. Da mesma forma, ampliou-se a
definição de família, abrangendo, atualmente, as unidades familiares formadas por casamento, por união estável. Também é considerada família a comunidade de qualquer genitor e descendentes. Assim, foi abolida a velha idéia de família legítima, que era formada pelo casamento formal. O novo código também estabelece que todos as custas do casamento são gratuitas para as pessoas que se declararem pobres. E como o Código Civil de 1916 não fazia referência ao casamento religioso, o novo código expressamente o declara, seguindo as diretrizes da Lei de Registros Públicos. O casamento religioso, para que tenha efeito civil, deve ser registrado em até 90 (noventa) dias e não mais em 30 (trinta) dias. Diante da importância da instituição família para qualquer sociedade houve uma alteração no Código Civil com o escopo de proteger a formação de novas famílias. Pela nova legislação, o adultério continua sendo causa de dissolução do casamento, mas não acarreta impedimentos ao adúltero, como impossibilitar que este se case com o amante. Assim, o novo código permite que pessoas casadas, mas separadas de fato, estabeleçam união estável, inclusive com o amante. O princípio da igualdade, no novo código, incidiu também nos filhos ao abolir a polêmica distinção entre filhos legítimos e ilegítimos, adotada pelo código anterior. Agora, os filhos adotados e os concebidos fora do casamento têm direitos idênticos aos dos filhos do casamento. O novo código civil também prevê que os filhos concebidos por reprodução assistida têm sua paternidade reconhecida e os mesmos direitos que os outros filhos, bem como, estabelece a presunção de paternidade em favor dos filhos havidos por inseminação artificial mesmo que dissolvido o casamento ou falecido o marido. Sempre com o intuito de proporcionar segurança sócio-jurídica à sociedade brasileira, o legislador procurou tornar qualquer fase de transição bem definida temporalmente e o mais breve possível. Por exemplo, o prazo para o divórcio é de 2 (dois) anos após a separação de fato ou 1 (um) ano depois da separação judicial.
Amparado por esse mesmo princípio da segurança sócio-jurídica, na nova legislação, para uma pessoa ser fiadora ou avalista é necessária a autorização do cônjuge. Antes não era necessária a autorização para ser avalista. Essa medida é assecuratória, pois, é injusto, no caso de atacarem o patrimônio do fiador ou do avalista para saldar alguma dívida do devedor, os bens do outro cônjuge, que não consentiu com essa relação jurídica, serem atingidos, prejudicando seus direitos patrimoniais. Novas normas foram previstas no novo Código Civil, como: O fim da proibição do divórcio antes do término da partilha dos bens; Quem pede o divórcio sem comprovar a culpa do outro não perde o direito à pensão alimentícia, etc. Além disso, tabus e preconceitos foram extirpados do ordenamento jurídico, como a anulação do casamento por causa da não virgindade ou ser a filha deserdada por tal motivo. Desvinculado do sentimento machista, o Código Civil desconsiderou o homem como o único chefe da família. A família é dirigida pelo casal, com iguais poderes para o homem e para mulher. Se marido e mulher divergirem, não havendo mais a prevalência da vontade do pai, a solução será transferida ao Judiciário. A família incorporou o real sentido que o Estado dever ter sobre as pessoas. Como base para seu surgimento, crescimento, desenvolvimento e maturação, a família deve guiar e orientar seus descendentes, porém, da mesma forma que o Poder Público, sem nunca ocultar a vontade individual de cada membro, ou seja, a essência do ser humano. Por isso, castigar imoderadamente o filho, deixa-lo em abandono, praticar atos contrários à moral e aos bons costumes imputarão em perda do poder familiar pelo respectivo responsável por sua guarda.
No que diz respeito aos tipos de regimes patrimoniais adotados pelos cônjuges ao contraírem núpcias, um novo tipo de regime foi incluído no novo Código Civil: participação final nos aquestos. Nele, os bens comprados durante o casamento pertencem a quem os comprou, sendo divididos na separação. Esse novo regime dá autonomia a cada cônjuge que poderá administrar seu patrimônio autonomamente. Porém, a grande novidade é a possibilidade de mudança de regime de bens durante o casamento, o que não era permitido pela anterior legislação, que o considerava imutável. Ratificando o que prevê a Lei do Divórcio de 1977, o novo código, na separação consensual, permite que os cônjuges determinem livremente o modo pelo qual a guarda dos filhos será exercida. Entretanto, uma divergência há entre os dois dispositivos legais. A Lei do divórcio atribui a guarda ao cônjuge que não tenha causado a separação e, sendo ambos responsáveis, determina que os filhos menores, não havendo acordo entre os pais, ficariam em poder da mãe. Enquanto que no novo Código Civil, na falta de acordo entre os cônjuges, na separação ou no divórcio, a guarda será atribuída a quem revelar melhores condições para exerce-la. O juiz pode também atribuir a guarda dos filhos à outra pessoa. Ressalta-se que as melhores condições não são apenas econômicas, o juiz levará em conta os interesses do menor. Pelo novo Código Civil, parentes, cônjuges ou conviventes podem pedir pensão alimentícia quando dela necessitarem, havendo, até mesmo, a possibilidade de alimentos sejam fornecidos ao cônjuge culpado pela dissolução do casamento, quando dele necessitar. Outra mudança importante diz respeito ao bem de família. Pelo novo código, este bem poderá ser instituído por terceiro e agora também há um limite de valor, qual seja, não poderá ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido existente ao tempo de sua instituição. Além disso, pode se acoplar ao bem de família uma quantia em dinheiro.
BIBLIOGRAFIA ANGHER, Anne Joyce, et all, Novo Código Civil, Editora Rideel, São Paulo, 1º edição, 2003 CARDOSO, Helio Apoliano, ABC do direito de familia no novo codigo civil Editora: Livraria Gabriel, Fortaleza, 2003 FIUZA, Ricardo, Novo Código Civil Comentado, Editora Saraiva, São Paulo, 1º Edição, 2002 Lei nº10.406 de 10 de janeiro de 2002- Código Civil REALE, Miguel. O Projeto do Novo Código Civil, editora Saraiva, 2 a edição reformulada e atualizada, 1999. BRASIL, Rebeca Ferreira. Família e o mundo jurídico: repercussão do Código Civil de 2002 nas relações familiares. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/textos/x/84/22/842/ Acesso em: 1.ago.2006.