OS COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E AS REAÇÕES FRENTE À AGRESSÃO EM CRIANÇAS ESCOLARES NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO¹ Aluna: Paola Couto Picorelli Orientadora: Juliane Callegaro Borsa Introdução No latim, o termo ad-gredi é colocado no contexto de ação e movimento, onde o agressor é quem se movimenta, é quem avança na direção de alguém ou algo com determinação. O termo agressivo tem o significado, segundo o dicionário online da língua portuguesa (BUENO, 1998; FERREIRA, 1999), de ataque, ofensa ou insulto. Trata-se de um problema comum na relação entre pares, sobretudo no contexto escolar (BORSA, 2014). O ambiente escolar é um local favorável para a interação social intensa entre os pares, porém é o local onde as dificuldades de convívio social e comportamentos agressivos são notados e relatados com mais frequência (COIE & DODGE, 1998; LADD & BURGESS, 1999; LADD & PROFILET, 1996). Os comportamentos agressivos não se configuram necessariamente como sinônimos de patologias e só são considerados disfuncionais quando não são controlados e adequados ao contexto ou à situação. Em determinados casos, o comportamento agressivo é essencial como forma de sobrevivência e para a adaptação do indivíduo ao ambiente, para a busca de conquistas na vida ou para construção de um sentimento de segurança interior (TREYBLAY, 2000). Como objeto
de pesquisa, o comportamento agressivo possui as mais variadas definições, além de múltiplas variáveis envolvidas. A definição que será utilizada nesse trabalho é a de um ato ou conduta que visa a causar algum dano físico ou psicológico em alguém ou em algum grupo de pessoas (BERKOWITZ, 1993; COIE& DODGE, 1998). Objetivo O objetivo do presente estudo é conhecer a prevalência dos comportamentos agressivos em crianças entre 8 e 12 anos, que frequentem escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro. Método Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e transversal. A amostra desse estudo é composta por meninos e meninas entre 7 e 13 anos, estudantes do segundo ao quinto ano do Ensino Fundamental de escolas privadas e públicas do Rio de Janeiro e região metropolitana. Os dados foram obtidos por meio do Questionário de Comportamentos Agressivo entre Pares (Q-CARP), respondido pela criança. O Q-CARP é um questionário de autorrelato, composto por 20 itens, e que tem como objetivo analisar os comportamentos agressivos e as reações das crianças diante das agressões em crianças nas escolas. Ele é formado por duas escalas independentes, a primeira é intitulada como Escala de Comportamentos Agressivos (ECA) e avalia os comportamentos agressivos deliberados. A segunda escala, intitulada Escala de Reação à Agressão (ERA), é composta por três fatores. O primeiro fator, chamado Reação Agressiva (RA), avalia as agressões das crianças frente à provocação dos seus pares. O segundo fator, Reação Internalizada (RI), avalia as reações da criança de chorar e ficar emburrada quando agredida. Por fim, o
terceiro fator, chamado Busca de Apoio (BA), avalia o comportamento da criança de pedir ajuda ao professor quando agredida (BORSA, 2014). Para análise dos dados foram calculadas média, frequência e porcentagem, além do Teste t de Student e correlação de Pearson. Para todas as análises, foram implementados procedimentos de re-amostragem (bootstrapping; 1000 reamostragens, com intervalo de confiança 99%), com o objetivo de apresentar maior confiabilidade aos resultados. Resultados Foram coletados os dados de 432 crianças, sendo 206 meninos e 226 meninas, com idade média de 9,93 (DP = 1,27). Os resultados indicaram que não houve diferenças estatisticamente significativas entre meninos e meninas na Escala de Comportamentos Agressivos (ECA). Na Escala de Reação à Agressão (ERA), as meninas apresentaram índices maiores de Busca por Apoio (t(430) = -2,66; p < 0,05) e de Reação Internalizada (t(430) = -5,23; p < 0,05). Crianças que repetiram de ano na escola tiveram índices maiores de Comportamentos Agressivos do que as que nunca repetiram (t(239) = -2,79). Não houve diferenças estatisticamente significativas nos escores do QCARP entre crianças cujos pais são casados ou separados. A idade das crianças se correlacionou de maneira fraca com os escores da ECA (r = -0,15; p < 0,05) e com os fatores Reação Agressiva (r = -0,17; p < 0,05) e Busca por Apoio (r = 0,13; p < 0,05) da ERA. Não houve correlações estatisticamente significativas entre os escores do QCARP e a renda familiar da criança. Foi encontrada uma correlação significativa entre a ECA e os fatores Reação Agressiva (r = 0,73; p < 0,05) e Reação Internalizada (r = 0,27; p < 0,05) da ERA. Além disso, houve correlações significativas entre os fatores Reação Internalizada e Reação Agressiva (r = 0,32; p < 0,05) e entre Reação Agressiva e Busca por Apoio (r = 0,31; p < 0,05).
Conclusão Os dados apresentados são preliminares e apresentam alguns indicadores importantes sobre os comportamentos agressivos na infância. Espera-se que os resultados do presente estudo possam auxiliar no conhecimento dos comportamentos agressivos e das reações frente à agressão na amostra das crianças pesquisadas. Referências BORSA J. C. & BANDEIRA, D. R. Comportamento agressivo na infância. São Paulo: Peason. 2014. BORSA J. C. & BANDEIRA, D. R. Adaptação transcultural do Questionário de Comportamentos Agressivos e Reativos entre Pares no Brasil. Psico-USF, 19, 287-296. 2014. BERKOWITZ, L. Aggression: it causes, consequences, and control. Nova York: Mc Graw- Hill, 1993. COIE, J. D., & DODGE, K. A. Aggression and antisocial behavior. In W. Damon & N. Eisenberg (Eds.). Handbook of child psychology: Social, emotional, and personality development (Vol. 3, pp. 779 862). Toronto: Wiley, 1998. FERREIRA, A.B. H. Dicionário Aurélio eletrônico: século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. LADD, G., & BURGESS, K. Charting the relationship trajectories of aggressive, withdrawn and aggressive/withdrawn children during early grade school. Child Development, 70(4), 910-929, 1999
LADD, G. W., & PROFILET, S. M. The child behavior scale: A teacher report measure of young children s aggressive, withdrawn, and prosocial behavior. Developmental Psychology, 32(6), 1008-1023, 1996 TREMBLAY, R. E. The development of agressive behaviour during childhood: What have we learned in the past century? International Journal of Behavioral Development, 24(2), 2000