DESENHO DA FIGURA HUMANA NA AVALIAÇÃO DA AGRESSIVIDADE INFANTIL EM CRIANÇAS ESCOLARES NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
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- Otávio Capistrano Alcaide
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1 DESENHO DA FIGURA HUMANA NA AVALIAÇÃO DA AGRESSIVIDADE INFANTIL EM CRIANÇAS ESCOLARES NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Aluna: Mariana Doca Orientadora: Juliane Callegaro Borsa Introdução Há diferentes formas dos seres humanos se comunicarem, são elas marcadas pela linguagem verbal, da fala, e linguagem não-verbal expressa por expressões faciais, escrita e desenhos. Através do grafismo, uma criança é capaz de transmitir pensamentos e sentimentos, atravessando a barreira da linguagem (Klepsch & Logie, 1984). O desenho contém aspectos da personalidade de quem o executa, assim como acontece em todo trabalho artístico (Machover, 1967). Em especial é uma técnica simples e universal. O Desenho da Figura Humana (DFH) é uma técnica antiga e que vem sendo utilizada na avaliação do desenvolvimento cognitivo, das características emocionais e dos aspectos da personalidade dos indivíduos (Segabinazi & Bandeira, 2012), com ampla aceitação em vários países do mundo. No Brasil, especialmente, é um dos teste psicológico mais usados por profissionais da Psicologia, pois é econômico, de fácil e rápida aplicação (Bandeira & Arteche, 2008). Nos testes psicológicos, o termo projeção está relacionado a um enfoque dinâmico e holístico (Bellak, 1967), onde os conteúdos significativos de uma personalidade são revelados (Anzieu, 1981). Através dessa via, o psicólogo tem acesso às redes de motivações dominantes presentes no indivíduo, assim como aos seus mecanismos de defesa (Anzieu, 1981). Por se tratar de uma tarefa não-verbal, sua aplicabilidade se dá, sobretudo, em crianças, sobretudo no contexto clínico. O DFH vem se mostrando um instrumento sensível para avaliar
2 problemas emocionais, como a agressividade infantil (Van Hutton, 1994). O DFH, assim como outros testes de desenho, também minimiza a necessidade de comunicação direta com as crianças, tornando-se bastante útil nos casos em que o indivíduo não consegue verbalizar seus pensamentos e sentimentos, seja por questões emocionais ou orgânicas (Buck, 2003; Cardoso & Capitão, 2009). A agressividade é caracterizada como a conduta que visa a prejudicar ou causar, intencionalmente, algum dano a terceiros. Trata-se de um comportamento frequente na infância e comumente associado a outras dificuldades, como intolerância à frustração, ansiedade e impulsividade (Borsa, 2012). Os problemas de comportamento na infância têm sido foco dos pesquisadores, especialmente os problemas de tipo externalizante, como é o caso dos comportamentos agressivos. Investigações sobre comportamentos agressivos entre pares vêm aumentando, juntamente com a crescente demanda por instrumentos eficazes de avaliação (Anderson & Bushman, 2002; Szelbracikowski & Dessen, 2005). A presença de comportamentos agressivos na infância está associada a diversos problemas, tais como, dificuldades de aprendizagem, dificuldade de adaptação no contexto escolar e pode ser um fator preditor para problemas futuros, tais como, condutas desadaptativas, evasão escolar, comportamentos delinquentes, rejeição e dificuldade de ajustamento com pares, sintomas de depressão e de ansiedade, solidão e impulsividade (Chen, Chen, Wuang, & Liu, 2002; Ladd & Burgess, 1999). A manifestação dos comportamentos agressivos pode variar de acordo com a idade e o gênero da criança. Via de regra, meninos são percebidos como mais agressivos que as meninas e apresentam mais problemas de comportamento (Mesman, Bongers & Koot, 2001). Quanto à idade, sabe-se que esses comportamentos comumente aparecem após o período pré-escolar, evoluindo gradativamente ao longo dos anos. Além disso, crianças tendem a modificar a forma
3 de manifestação dos comportamentos agressivos na medida em que também modificam suas habilidades (Leme, 2004). A literatura vem apontando que alguns indicadores (itens) do desenho são capazes de discriminar. Koppitz (1966) e Machover (1949) foram pioneiras nos estudos do Desenho da Figura Humana. Os estudos de Koppitz indicaram a presença de dentes, olhos estrábicos, membros assimétricos, mãos grandes, braços longos e genitais indicadores de agressividade como comuns em desenhos de crianças com altos níveis de agressividade. Machover (1949), por sua vez, aponta que desenhos grandes, e ou localizados à esquerda da página, também seriam característicos de indivíduos com altos níveis de agressividade. Os estudos de Van Hutton (1994) apontam alguns indicadores de agressividade comumente identificados nos desenhos infantis, como: linha pesada, desenhos grandes, grande assimetria entre membros, presença de dentes, dedos em forma de garra, ênfase em caracteres faciais, dedos sem mãos e ombros quadrados. No Brasil, estudos vêm apresentando evidências de que o DFH é um instrumento sensível para avaliar agressividade em crianças. Na pesquisa de Bauermann (2012), que buscou a detecção de indicadores de agressividade no desenho, os seguintes itens emergiram com maior frequência no grupo de crianças agressivas: figura humana grotesca, presença de figuras de fundo, localização esquerda da página, braços juntos ao tronco, pernas unidas e presença de bolsos. É importante mencionar a relevância de avaliar precocemente a agressividade na infância, uma vez que a mesma pode contribuir para a prevenção de problemas futuros. Nesse sentido, o DFH pode contribuir de forma significativa, permitindo à criança a expressão livre e não controlada das emoções que permeiam seus comportamentos, uma de suas vantagens de acordo com Matto (2002) é o fato de ser uma das poucas técnicas na qual a informação procede da própria criança. Especificamente, o DFH pode ser útil par avaliar a agressividade por meio de um recurso lúdico e não-verbal (Bosacki, Marini, & Dane, 2006). Sua técnica é bastante positiva
4 com crianças, pois procede de uma técnica não verbal, uma vez que a leitura e escrita alfabética não estejam desenvolvidas, e faz com que tenha uma aproximação com universo da criança. Objetivo O presente estudo tem por objetivo realizar uma análise qualitativa dos desenhos de crianças com alta e baixa pontuação no Questionário de Comportamentos Agressivos e Reativos entre Pares (Q-CARP). Pretende-se, assim, identificar nos referidos desenhos os indicadores de agressividade comumente apontados na literatura. Método Participaram do estudo seis crianças com idades de 9 a 11 anos, estudantes do ensino fundamental de escolas do Rio de Janeiro. As crianças foram convidadas a realizar o Desenho da Figura Humana (DFH), utilizando lápis preto, borracha e papel. As crianças também preencheram o Questionário de Comportamentos Agressivos e Reativos entre Pares (Q-CARP), inventário de autorrelato empiricamente baseado, destinado a avaliar os comportamentos agressivos de crianças bem como diferentes reações frente à agressão dos pares (Borsa, 2012). Para o presente estudo, foi utilizada, especificamente, a Escala de Comportamentos Agressivos (ECA), composta por cinco itens que remetem aos comportamentos agressivos físicos e verbais empreendidos pelas crianças no contexto escolar. Crianças que apresentaram alta frequência (sempre e quase sempre) para os referidos itens foram categorizadas como Grupo 1: alta agressividade. Crianças que apresentaram baixa frequência para os comportamentos agressivos (nunca ou quase nunca) foram categorizadas como Grupo 2: baixo nível de agressividade. Assim, foram selecionadas três crianças para compor o Grupo 1 e três crianças para compor o Grupo 2. Os desenhos foram analisados separadamente, de modo a identificar os indicadores (itens) presentes nos desenhos de ambos os grupos.
5 Resultados Os desenhos das crianças do Grupo 1 apresentaram indicadores não verificados nos desenhos do grupo 2, são eles: figura humana grotesca, presença de figuras de fundo, linha pesada, ênfase em caracteres faciais, ausência de membros do corpo, ombros quadrados, membros assimétricos, braços longos e genitais. Tais indicadores, encontrados neste estudo, também foram apresentados pelos autores da área Koppitz (1966), Machover (1949) e Van Hutton (1994). Os resultados encontrados são preliminares, uma vez que a pesquisa encontrase em andamento. Porém é possível verificar a presença de alguns indicadores de agressividade nos desenhos analisados e que estão em consonância com outros estudos na área. É importante mencionar a relevância de avaliar precocemente a agressividade na infância, uma vez que a mesma pode contribuir para a prevenção de problemas futuros. Nesse sentido, o DFH pode contribuir de forma significativa para o trabalho do psicólogo clínico, permitindo a adequada identificação destes comportamentos com vistas a uma melhor intervenção terapêutica. Referências BAUERMANN, M. (2012). Indicadores de agressividade através do Desenho da Figura Humana. Monografia de Especialização não publicada. Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. BORSA, J. C. (2012). Adaptação e validação transcultural do questionário de comportamentos agressivos e reativos entre pares (Q-CARP). Tese de Doutorado não publicada. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. BORSA, J. C. & BANDEIRA, D. R.(2011). Avaliação de comportamentos agressivos na infância através de instrumentos psicológicos: análise da produção científica brasileira. Avaliação Psicológica, 10(2), BORSA, J. C. & BAUERMANN, M. (2013). O Desenho da Figura Humana na avaliação da agressividade infantil. Nota técnica. CRUSCO, M.(2013). Draw-A-Person: Screening Procedure for Emotional Disturbance An investigation of the sensitivity of this method to internalising and externalising behavioural problems identified by the Rutter Parent Questionnaire at age 7 in the 1958 National Child Development Study.
6 BAUERMANN, M. (2013). A associação do desenho da figura humana com a personalidade de comportamento em crianças. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. SOUZA, A. S. (2011). Reflexões a partir da psicanálise. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, SP GROTH-MARNAT, GARY & ROBERTS, LYNNE. Human Figure Drawings and House Tree Person Drawings as Indicators of self-esteem: A Quantitative Approach. Curtin University, Perth, W.A. Australia BAUERMANN, M. & BANDEIRA, D. Indicadores de Comportamentos Agressivos através do Desenho. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS.
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