Diagnóstico do Sector da Biotecnologia e das Ciências da Vida em Portugal Abril de 2005



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Diagnóstico do Sector da Biotecnologia e das Ciências da Vida em Portugal Abril de 2005 Produzido por

ÍNDICE PREÂMBULO 6 1. BREVE ENQUADRAMENTO MUNDIAL DA BIOTECNOLOGIA 7 1.1. Estados Unidos da América 8 1.2. Europa 10 1.3. Brasil 13 1.4. Outras regiões 16 1.4.1. Canadá 16 1.4.2. Ásia-Pacífico 17 1.5. Conclusões comparativas 19 2. A BIOTECNOLOGIA EM PORTUGAL 21 2.1. Caracterização geral do Sector em Portugal 21 2.2. Unidades de Investigação em Portugal 24 3. PRINCIPAIS RESULTADOS DAS AUDITORIAS TECNOLÓGICAS AO SECTOR DE BIOTECNOLOGIA 30 3.1. Breve descrição da metodologia de auditoria 30 3.2. Caracterização geral das empresas 32 3.3. Caracterização da base tecnológica 37 3.4. Capacidade de gestão da tecnologia 42 3.5. Estrutura e estratégia 47 3.6. Interacção com a envolvente 49 3.6.1. Caracterização da envolvente 50 3.6.2. Interacção com a envolvente 53 3.7. Análise SWOT 57 4. PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SECTOR EM PORTUGAL - VISÃO DAS EMPRESAS CONTACTADAS 59 5. CONCLUSÕES GERAIS 60 5.1. Realidade actual 60 5.2. Potencialidades 62 5.3. Medidas urgentes para o sector 63 5.4. Existem Bio-regiões em Portugal? 63 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65 ANEXO 1 66 2

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Distribuição do número de empresas nos EUA por área de actividade, de acordo com o directório da OECD DSTI/DOC [2]... 9 Figura 2: Montante de Fundos de capitais de risco angariados (C.R.) e das ofertas públicas de venda (OPV.) em empresas de biotecnologia dos E.U.A. [3]... 10 Figura 3: Número de empresas de biotecnologia de alguns países pertencentes à OCDE(2003) [3].... 11 Figura 4: Distribuição do número de empresas por sector na Suécia [4], Bélgica e Finlândia [2].. 11 Figura 5: Montante de Fundos de capitais de risco angariados (C.R.) e das ofertas públicas de venda (O.P.V) em empresas de biotecnologia na Europa [3].... 13 Figura 6: Distribuição de empresas no Brasil por área em 2001 [14]... 13 Figura 7: Distribuição do número de empresas por área em Minas Gerais [14].... 15 Figura 8: Número total de empresas, empresas que receberam Capital de Risco (C.R.) e número de patentes por empresa em 2001 e 2004 para o Estado de Minas Gerais, Brasil [14]... 15 Figura 9::Distribuição de empresas canadianas por área (2003) [8, 9]... 16 Figura 10: Países da região Ásia-Pacífico com desenvolvimento no sector de biotecnologia... 17 Figura 11: Investimento de capital de risco em empresas de biotecnologia da Austrália entre 2002 e 2004 [12].... 18 Figura 12: Distribuição de empresas por área na Austrália, Coreia do Sul e Índia [12]... 18 Figura 13: Número de empresas de biotecnologia (cotadas e não cotadas) na Europa, EUA, Canadá e Região Ásia-Pacífico em 2003 [16]... 19 Figura 14: Lucros, despesas em investigação e número de empregados nas empresas (cotadas) de biotecnologia do Canadá, Região Ásia-Pacífico, EUA e Europa [16].... 20 Figura 15: Evolução das empresas de Biotecnologia Tradicional em Portugal [17]... 22 Figura 16: Evolução das empresas da Indústria Farmacêutica em Portugal [17].... 23 Figura 17: Unidades de Investigação com actividades de Investigação e Desenvolvimento em Portugal. Os números nas zonas de intersecção indicam unidades que se incluem em mais do que uma área.... 24 Figura 18: Distribuição de Investigadores segundo sector de execução, para um número total de 31 146 [20].... 29 Figura 19: Modelo Conceptual de Avaliação... 31 Figura 20: Evolução do número de empresas de Nova Biotecnologia e de trabalhadores (dados da amostra)... 32 Figura 21: Distribuição de empresas por área de actividade... 33 Figura 22: Fases de desenvolvimento económico das empresas em função do sector da biotecnologia.... 34 Figura 23: Estrutura jurídica das empresas nas três fases de desenvolvimento económico... 35 Figura 24: Investimento de capital de risco (C.R.) nas empresas analisadas considerando as três fases de desenvolvimento económico.... 35 Figura 25: Estrutura do mercado alvo em função da fase de desenvolvimento da empresa... 36 Figura 26: Existência de estratégia de internacionalização das empresas.... 37 Figura 27: Vectores de classificação da base tecnológica da empresa... 38 Figura 28: Níveis atribuídos aos indicadores de capacidade tecnológica (A-Arranque; D- Desenvolvimento; C-Consolidação)... 39 3

Figura 29: Importância Interna vs. Relevância Externa... 40 Figura 30: Esquema representativo da análise do potencial de desenvolvimento da tecnologia... 41 Figura 31: Potencial de desenvolvimento das tecnologias (A-Arranque; D-Desenvolvimento; C- Consolidação)... 42 Figura 32: Indicadores da capacidade de gestão da tecnologia (A-Arranque; D-Desenvolvimento; C-Consolidação) 1(mínimo) e 5 (máximo)... 43 Figura 33: Critérios considerados para a apropriação de tecnologias (A-Arranque; D- Desenvolvimento; C-Consolidação) 1(mínimo) e 5 (máximo)... 45 Figura 34: Número de patentes por empresa, segundo a sua fase de desenvolvimento económico... 46 Figura 35: Desenvolvimento de I&D segundo a fase de desenvolvimento económico das empresas... 47 Figura 36: Estratégia de internacionalização das empresas segundo o sector de actividade.... 48 Figura 37: Existência de plano de formação contínua nas empresas segundo a fase de desenvolvimento económico... 49 Figura 38: Tipo de relação entre as empresas e os clientes e fornecedores, de acordo com a fase de desenvolvimento económico... 53 Figura 39: Interacção entre as empresas e possíveis competidores... 54 Figura 40: Associativismo das empresas de acordo com a fase de desenvolvimento económico. 54 Figura 41: Fontes de financiamento externo a I&D... 55 Figura 42: Percentagem de empresas que estabelecem relações de parceria/consórcio com o SCT... 56 Figura 43: Representação gráfica das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças das 24 empresas analisadas... 58 4

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Países europeus envolvidos em algumas bio-regiões... 12 Tabela 2: Segmentos de mercado das empresas de biotecnologia no Brasil [26]... 14 Tabela 3: Distribuição de empresas de biotecnologia no Brasil por estado segmento de mercado [26].... 14 Tabela 4: Indicadores de biotecnologia para os EUA e Brasil (2001) [14].... 15 Tabela 5: Empresas de Biotecnologia Tradicional em Portugal [17].... 21 Tabela 6: Empresas na Indústria Farmacêutica em Portugal [17]... 22 Tabela 7: Empresas na Protecção Ambiental em Portugal [17].... 23 Tabela 8: Unidades de Investigação no Ensino Superior [19].... 25 Tabela 9: Unidades de Investigação do Estado [19]... 27 Tabela 10: Unidades de Investigação de IPsFLs [19].... 28 Tabela 11: Números de CAE das empresas que constituem a amostra... 33 Tabela 12: Caracterização dos indicadores de capacidade tecnológica... 38 Tabela 13: Caracterização dos indicadores da importância da tecnologia.... 40 Tabela 14: Níveis do indicador de potencial de desenvolvimento da tecnologia.... 41 Tabela 15: Caracterização dos indicadores da capacidade de gestão da tecnologia... 43 5

Preâmbulo Este estudo do sector da Biotecnologia insere-se no âmbito do projecto FIVE (Fomento da Inovação e Valorização Empresarial). O objectivo central do Programa FIVE é a criação de mecanismos que permitam estimular a articulação entre a oferta e a procura nacional de tecnologia e inovação, promovendo a apropriação de conhecimento/tecnologia pelas empresas nacionais e a criação de uma nova dinâmica de empreendedorismo baseado na valorização empresarial da tecnologia e da inovação. O diagnóstico realizado visa a identificação das reais capacidades tecnológicas das empresas (assessment), com uma forte incidência na análise de áreas passíveis de criação de spin-offs tecnológicos, em virtude da existência de competências fortes nas empresas e que estejam subexploradas. Paralelamente, pretende-se a realização de análises tecnológicas prospectivas (forecasting), com as mesmas empresas, com vista à identificação de necessidades tecnológicas e trajectórias de desenvolvimento da tecnologia, que permitam antecipar necessidades futuras. Desta forma, foram obtidos inputs, que associados à análise da oferta de tecnologia pelas universidades e centros de I&D, permitem induzir um plano de desenvolvimento e apropriação de novas tecnologias pelo tecido empresarial. Para este estudo foram contactadas 35 empresas, na sua maioria pertencentes ao Directório da Biotecnologia [1], e 26 aceitaram integrar este estudo (Anexo 1). Numa primeira fase foi enviado um questionário, sendo posteriormente realizada uma entrevista com um ou dois gestores de topo de cada empresa. Os dados obtidos por ambas as fontes de informação foram analisados de acordo com o metodologia de diagnóstico de empresas de base tecnológica, desenvolvido pela INTELI no âmbito do projecto FIVE. A análise dos resultados obtidos é descrita nos Capítulos 3 e 4 deste relatório e no Capítulo 5 são apresentadas as conclusões gerais deste estudo. Nos primeiros capítulos é apresentado um enquadramento sumário da biotecnologia a nível mundial (Capítulo 1) e a nível nacional (Capítulo 2). 6

1. Breve enquadramento mundial da biotecnologia Existem várias definições para biotecnologia, dependendo do contexto e do grau de abrangência que se pretende. Uma definição consensual do que é a biotecnologia consiste na aplicação de microrganismos ou componentes de sistemas biológicos para a obtenção de produtos ou serviços de valor acrescentado. Neste sentido, a biotecnologia está entre nós há mais de 5000 anos, desde que o ser humano descobriu as primeiras bebidas fermentadas tais como a cerveja e o vinho ou como outros produtos fermentados como o pão ou o iogurte. Também os produtos lácteos, tais como a manteiga ou o queijo, são igualmente produzidos por meio de processos que envolvem enzimas na sua produção, e todos estes produtos já têm milénios de existência. Pode então designar-se por Biotecnologia Tradicional toda a tecnologia relacionada com a produção destes produtos, baseada inicialmente em conhecimentos empíricos, embora incluindo desenvolvimentos científicos recentes. Por outro lado, a descoberta da estrutura do DNA nos anos cinquenta e a elucidação do mecanismo do código genético na década seguinte deu origem a um novo ramo da biologia, a engenharia genética, cuja aplicação deu origem à Nova Biotecnologia. O conhecimento aprofundado dos mecanismos celulares e moleculares permitiu a manipulação do genoma de organismos com vista à produção de proteínas recombinadas com as mais variadas finalidades, desde a atribuição de resistência a plantas em relação a fungos ou insectos (criando-se assim os Organismos Geneticamente Manipulados, ou OGMs), até à produção de fármacos por via biológica ou enzimática. O próprio desenvolvimento das técnicas de cultura de células e tecidos abriu perspectivas na obtenção de novos produtos biológicos de interesse. De acordo com o presente estudo, a biotecnologia tem a sua aplicação maioritariamente em cinco áreas: Agro-Alimentar: área onde desde sempre a Biotecnologia Tradicional tem sido utilizada, e onde a Nova Biotecnologia tem originado vários resultados de relevo, desde os OGM a um melhoramento dos processos de produção dos vários produtos da Biotecnologia Tradicional; Ciências da Vida: a indústria farmacêutica tem sido dominada tradicionalmente pela síntese química orgânica e pela purificação de antibióticos, mas tem tido um grande desenvolvimento com a Nova Biotecnologia devido à utilização de organismos recombinados para a produção de proteínas de aplicação terapêutica, quer em humanos quer em animais. Na área do diagnóstico, tem sido fundamental a intervenção da Nova Biotecnologia, associada ao desenvolvimento dos conhecimentos nas áreas da biologia, fisiologia e medicina, para a criação de novos métodos de identificação e análise de patologias; 7

Indústria: esta designação abrange as várias áreas onde a Nova Biotecnologia encontra aplicação na indústria química, na indústria dos têxteis, na indústria de celulose, na indústria dos detergentes e na indústria energética. Recorre-se ao uso de microrganismos ou sistemas biológicos para a produção de enzimas ou outros produtos de interesse industrial ou comercial. A aplicação da Biotecnologia a estes sectores industriais é também é conhecida como Biotecnologia branca ou industrial; Protecção Ambiental: onde se utilizam microrganismos para o tratamento de águas residuais, fitoremediação de solos e efluentes; Serviços: todos as vertentes de desenvolvimento da Nova Biotecnologia necessitam de uma série de métodos padronizados que podem ser subcontratados a empresas que prestem esse tipo de serviços, como por exemplo a síntese ou sequenciação de ácidos nucleicos ou de proteínas, a clonagem de genes, mas também serviços de índole jurídica ou de consultoria, tais como a transferência de tecnologia. Na abordagem que se segue apenas se considera a Nova Biotecnologia, uma vez que é na sua aplicação industrial que reside um grande potencial. 1.1. Estados Unidos da América Os debates em torno da biotecnologia datam desde o início dos anos 70, aquando do desenvolvimento da tecnologia de DNA recombinado nos Estados Unidos da América (EUA) e da necessidade que surgiu de explorar estas tecnologias com fins comerciais. A novidade do mercado, o seu grande potencial e rápido crescimento criaram elevadas expectativas em relação ao impacto social e económico da indústria biotecnológica. Desde o aparecimento da primeira empresa de biotecnologia nos Estados Unidos em 1976, a Genentech Inc., fundada pelo investidor de capital de risco Robert Swanson (da Kleiner & Perkins venture) e pelo bioquímico Herbert Boyer (cientista da UCSF), ocorreu um grande desenvolvimento das Ciências da Vida, surgindo novos campos de aplicação, tais como a Agro- Alimentar, Protecção Ambiental e a prestação de Serviços. O número de empresas aumentou acentuadamente, verificando-se em 2001 um total de 1273, das quais 300 são empresas cotadas em bolsa. O gráfico seguinte apresenta a distribuição das empresas de biotecnologia por sectores de actividade nos EUA. 8

11% 3% 31% 55% Ciências da vida Agro-alimentar Serviços Protecção ambiental Figura 1: Distribuição do número de empresas nos EUA por área de actividade, de acordo com o directório da OECD DSTI/DOC [2]. Na década de 90, empresas situadas nos Estados Unidos passaram a contar com mecanismos de captação de recursos financeiros, tais como o capital de risco e os mercados bolsistas como o NASDAQ. Todavia, mesmo no caso dos EUA, o papel dos fundos de natureza governamental foi fundamental para a sustentação do fluxo de inovações e dos programas de desenvolvimento científico associados à criação de empresas em biotecnologia. Isso ocorreu tanto através do apoio aos institutos de investigação e universidades como por meio da criação de fundos de investimento seed. O desenvolvimento sector da Biotecnologia depende fortemente da disponibilidade de capital de risco pelo facto de se tratar de uma industria muito capital intensiva, com um elevado risco associado. Por sua vez, o desenvolvimento do sector do capital de risco depende fortemente da existência de mercados de capitais líquidos onde os investidores de capital de risco possam sair dos investimentos realizando mais valias assinaláveis. É desde os anos 90 que ocorre um aumento progressivo do investimento de capital de risco nas empresas de biotecnologia, tendo-se verificado um aumento de mais de 50% de 1999 para 2000. No entanto, maus resultados obtidos por empresas do sector conduziram à decepção de alguns investidores face às expectativas iniciais e, por consequência, a uma diminuição do número de investimentos nos anos seguintes. As ofertas públicas de venda decaíram drasticamente e somente em 2004 houve uma ligeira recuperação, ficando no entanto o valor muito aquém do obtido em 2000. 9

Milhões $ 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 OPV. C.R. 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Ano Figura 2: Montante de Fundos de capitais de risco angariados (C.R.) e das ofertas públicas de venda (OPV.) em empresas de biotecnologia dos E.U.A. [3]. Actualmente, os investidores nos EUA já estão na fase de recuperação do capital investido e continuam a investir em empresas nos estágios iniciais de desenvolvimento. Os EUA, em conjunto com a Europa, mantêm-se na linha da frente da investigação em biotecnologia e no aparecimento de novas empresas de biotecnologia. 1.2. Europa As vantagens em termos de crescimento económico e competitividade dos Estados Unidos devidas ao desenvolvimento e investimento no sector da biotecnologia conduziram a uma reacção da Europa com a opção estratégica de promover o sector na União Europeia. De facto, durante a década de 80 a biotecnologia na Europa era desenvolvida apenas em grandes empresas, ao contrário do que acontecia nos EUA, já então com um número crescente de pequenas empresas. A bolha financeira dos anos noventa deu origem a grandes disponibilidades de fundos de investimento de capital de risco, promovendo a inovação nos Estados Unidos e na Europa. Porém, os empreendedores europeus eram menos numerosos, tendo avançado mais lentamente. Foi no início dos anos 90 que surgiram as primeiras pequenas empresas de biotecnologia no Reino Unido, criadas por investigadores ligados a centros de investigação e universidades. Pouco tempo depois, numa tentativa de recuperar o tempo perdido, o governo alemão também encorajou e promoveu a criação de pequenas empresas através do programa BioRegio (1995). Actualmente, a Alemanha já ultrapassou o número de empresas de biotecnologia do Reino Unido (Figura 3). 10

Bélgica Filândia Holanda Dinamarca Suíça Israel Suécia França Reino Unido Alemanha 0 50 100 150 200 250 300 350 Nº de empresas Figura 3: Número de empresas de biotecnologia de alguns países pertencentes à OCDE(2003) [3]. Tal como nos EUA, a actividade da maioria das empresas de biotecnologia na Europa está relacionada com a área das Ciências da Vida (40-60%), no qual se verificam os maiores investimentos. Na figura 4 são apresentados os dados da distribuição do número de empresas por sector em alguns países pertencentes à União Europeia. 21% Filândia 41% 23% 15% Ciências da Vida Agro-Alimentar Serviços Biotecnologia Industrial Protecção Ambiental Suécia Bélgica 4% 21% 32% 34% 20% 55% 16% 18% Figura 4: Distribuição do número de empresas por sector na Suécia [4], Bélgica e Finlândia [2]. 11

Em 2002 foi publicada uma estratégia da União Europeia para o desenvolvimento do sector das Ciências da Vida e da biotecnologia [5]. Neste plano, a cumprir até 2010, são reforçadas as iniciativas que têm sido tomadas para o desenvolvimento da biotecnologia na Europa, como por exemplo a criação de bio-regiões. De facto, nos finais dos anos 90 a necessidade de coordenação dos agentes envolvidos no desenvolvimento da biotecnologia originou a criação destas bioregiões, promovendo a transferência do conhecimento e investigação para o mercado. Actualmente existem várias bio-regiões espalhadas pela Europa, com uma estrutura que envolve grandes biofarmacêuticas, empresas médias e em fase de arranque (start-up), empresas de distribuição e de serviços, empresas ou centros governamentais de transferência de tecnologia, universidades, institutos de investigação e hospitais, onde existe uma interligação bem definida e com objectivos comuns, criando um ciclo virtuoso de atracção de investimento e criação de empresas. Tabela 1: Países europeus envolvidos em algumas bio-regiões. Bioregiões europeias Países envolvidos Biovalley Lyon-Rhone Alps Life Science Network ScanBalt Bioregion Medicon Valley Academy Biotech Region Munich Stockholm-Uppsala Turku Bio Valley Cambridge Biotech Cluster BioRegio Regensburg França (Alsácia), Suiça (Basel), Alemanha (Freiburg) França Dinamarca, Estónia, Finlândia, Islândia, Letónia, Lituânia, Noruega, Polónia, Suécia, Alemanha (norte) e Rússia (NO) Suécia e Dinamarca Alemanha (Munique) Suécia Finlândia Reino Unido Alemanha Algumas destas bio-regiões são coordenadas por agências que actuam como centros de contacto, funcionando como pontos de partida excelentes para quem pretenda informações aprofundadas da região ou contactos entre a indústria e a academia. No País Basco o governo regional lançou um programa no segundo semestre de 2001 (BioBask), no qual disponibilizou 52 milhões de Euros para financiar investigação, educação e a criação de novas empresas, incluindo uma incubadora de empresas de biotecnologia e um novo centro de investigação. Actualmente o sector privado e os centros de investigação estão já a despertar o interesse dos investidores europeus, e uma das primeiras empresas constituídas aquando do lançamento do referido programa está a revelar-se um caso de sucesso. [25] 12

O investimento de capitais de risco em empresas de biotecnologia tem sido constante desde o ano 2000, mas poucas têm sido as empresas de biotecnologia europeias que desde o ano 2001 passaram a ter cotação na bolsa (Figura 5). 3500 3000 Milhões USD 2500 2000 1500 1000 OPV C.R. 500 0 2000 2001 2002 2003 Ano Figura 5: Montante de Fundos de capitais de risco angariados (C.R.) e das ofertas públicas de venda (O.P.V) em empresas de biotecnologia na Europa [3]. O sector da biotecnologia na Europa tem um atraso de aproximadamente 10 relativamente aos EUA. As 1700 empresas privadas europeias (dados de 2003) são muito pequenas, precisando de se consolidar de modo a poder competir com as 1100 empresas privadas de biotecnologia americanas [3]. 1.3. Brasil Em 2001 o Brasil posicionava-se entre os 10 países com maior número de empresas no sector da biotecnologia. Com efeito, identificaram-se 314 empresas neste país, com uma facturação aproximada de 4 mil milhões de dólares e cerca de 27,8 mil trabalhadores [14]. 32% 20% 4% 12% 32% Agro-alimentar Ciências da Vida Protecção Ambiemtal Serviços Outros Figura 6: Distribuição de empresas no Brasil por área em 2001 [14]. Apesar da actividade da maioria das empresas de biotecnologia no Brasil estar relacionada com o área das Ciências da Vida, quando é feita uma análise por estados é evidente uma diferença 13

quanto à área mais desenvolvida: São Paulo apresenta um maior número de empresas na área de Serviços, enquanto que Minas Gerais se encontra mais orientada para as Ciências da Vida. Tabela 2: Segmentos de mercado das empresas de biotecnologia no Brasil [26]. Segmentos de Mercado Saúde Humana Saúde Humana, Animal e Vegetal Saúde Animal Agronegócio Meio Ambiente Instrumental Complementar Química Fina/Enzimas Em Sinergia Fornecedores MNCs, Públicas, Fármacos, Genéricos Definição Diagnósticos, fármacos, fitofármacos, vacinas, soros, biodiversidade Identificação genética, análise de transgénicos Veterinária, reprodução animal, vacinas, probióticos, aquacultura Melhoramento de plantas, transgénicos, produtos florestais, plantas ornamentais e medicinais, flores, bioinseticidas, biofertilizantes, inoculantes Biorremediação, tratamento de resíduos, análises Software, Internet, bioinformática, e-commerce, P&D Química fina, enzimas Biomaterais, biomedicina, consultoria em biotecnologia Equipamentos, consumíveis, suprimentos Empresas Multinacionais, públicas e outras Tabela 3: Distribuição de empresas de biotecnologia no Brasil por estado segmento de mercado [26]. Segmentos de Total por São Paulo Minas Rio de Paraná Distrito Restantes Mercado Segmento Gerias Janeiro Federal Estados Saúde Humana 74 20 33 12 4 0 5 Saúde Humana, Animal e Vegetal 14 5 6 0 0 2 1 Saúde Animal 14 3 6 0 1 0 4 Agronegócio 37 13 8 3 5 5 3 Meio Ambiente 14 2 9 2 0 1 0 Instrumental Complementar Química Fina/Enzimas 11 5 2 0 1 1 2 18 5 1 0 1 0 11 Em Sinergia 15 2 9 1 0 0 3 Fornecedores 51 39 8 1 1 0 2 MNCs, Públicas, Fármacos, Genéricos 66 35 7 9 3 1 11 Total 314 42 29 9 5 3 12 Como as empresas de biotecnologia investem muito em I&D, têm necessidades elevadas de capital elevada, o que torna por vezes difícil o arranque de novas empresas por falta de disponibilidade de recursos financeiros. No Brasil, apesar de toda a movimentação financeira que existe para o apoio de empresas nascentes de base tecnológica, a maioria dos investimentos ainda se aplica em sectores não tecnológicos. Podemos observar que no Brasil o número de 14

empresas que recebeu apoio financeiro ainda é bastante pequeno (apenas 3% teve apoio de capital de risco para o seu arranque em 2001), quando comparado com os Estados Unidos, onde a percentagem chegou aos 30% (Tabela 4). Tabela 4: Indicadores de biotecnologia para os EUA e Brasil (2001) [14]. EUA Brasil Número de empresas 1.457 304 Facturação (10 9 USD) 28,5 3,9 Número de empregados 191.000 27.825 Investimento I&D (10 9 USD) 15,7 N/D Investimento de Capital de Risco 31 % 3% Apesar de não existirem dados pormenorizados sobre investimento em I&D para o Brasil, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Montes Claros para o estado de Minas Gerais observou-se que, em 2002, 42% das empresas de biotecnologia investiram mais de 10% da sua facturação em I&D, 30% investiram entre 4 a 10%, e apenas cerca de 27% investiu menos de 2%. Em relação aos EUA o investimento em I&D chega a 55% do valor da facturação das empresas [14]. 18% 2% 9% 71% Agro-alimentar Ciências da vida Protecção ambiental Serviços Figura 7: Distribuição do número de empresas por área em Minas Gerais [14]. 90 1.4 Nº de empresas 80 70 60 50 40 30 20 10 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 Nº de patentes por empresa 0 2001 2004 Ano 0 Total empresas Empresas que receberam C.R. Patentes por empresa Figura 8: Número total de empresas, empresas que receberam Capital de Risco (C.R.) e número de patentes por empresa em 2001 e 2004 para o Estado de Minas Gerais, Brasil [14]. 15

É no entanto de referir que, apesar de Portugal ter relações privilegiadas com o Brasil, que poderiam contribuir para o desenvolvimento de determinadas áreas da biotecnologia, ainda não foram estabelecidas parcerias estratégicas suportadas por iniciativas governamentais conjuntas de modo a estimular esse desenvolvimento. 1.4. Outras regiões O sector da biotecnologia tem vindo a aumentar continuamente as suas receitas, onde os Estados Unidos detêm cerca de 81% das receitas da indústria global, enquanto a Europa é responsável por penas 16% das receitas em 2003. No entanto, outras regiões começam a ter algum relevo no sector da biotecnologia, tais como o Canadá e a região da Ásia-Pacífico. 1.4.1. Canadá Com mais de 400 empresas (2003), o Canadá apresenta uma das maiores indústrias de biotecnologia a nível mundial. A indústria de biotecnologia deste país é essencialmente constituída por pequenas e médias empresas (PMEs), que foram criadas desde 1996 devido à existência de investimento de capital de risco na fase de arranque e de desenvolvimento das empresas [8]. Das 470 empresas de biotecnologia (389 não cotadas em bolsa), 312 têm pouco mais de 20 empregados [9]. A existência de muitas empresas novas e pequenas, altamente dependentes da disponibilidade de capital de risco, fez com que o sector fosse bastante afectado pela diminuição dos investimentos norte-americanos na área das ciências da vida, que de certa forma se espalhou ao Canadá. No entanto, esta falta de disponibilidade de capital veio a ser colmatada pelo auxílio governamental. Tal como na Europa, também no Canadá foi reconhecido um forte potencial económico às bio-regiões, fazendo com que muitos governos regionais se juntassem ao governo federal para criar fundos de investimento, incubadoras e centros de investigação. O desenvolvimento das principais bio-regiões localiza-se preferencialmente em locais onde existe uma rede de apoio significativa incluindo universidades e hospitais, tais como Montreal, Toronto e Vancouver [7]. As empresas de biotecnologia canadianas estão sobretudo concentradas na área das Ciências da Vida tendo-se verificado um aumento de 37% para 69% entre 1997 e 2003 (Figura 9) [8, 9]. Agro-alimentar 12% 12% 3% 4% 69% Ciências da vida Protecção Ambiental Serviços Biotecnologia Industrial Figura 9: Distribuição de empresas canadianas por área (2003) [8, 9]. 16

1.4.2. Ásia-Pacífico A contribuição da região Ásia-Pacífico para a indústria global da biotecnologia é ainda reduzida. Com efeito, este sector encontra-se em fase de arranque quando comparado com as regiões dos Estados Unidos e Europa. No entanto, é de considerar a enorme potencialidade do sector, uma vez que se encontra num período de grande crescimento, como é evidenciado pelo elevado número de novas empresas e centros de investigação que surgiram recentemente tendo como base um substancial suporte financeiro [10]. Figura 10: Países da região Ásia-Pacífico com desenvolvimento no sector de biotecnologia. De acordo com o relatório da Ernst & Young de 2002 para a biotecnologia mundial, a região Ásia- Pacífico encontra-se em pleno desenvolvimento. Trata-se, no entanto, de uma região pouco homogénea, sendo os países mais desenvolvidos a Austrália em conjunto com outros cinco países emergentes, onde se incluem a Índia e a China [11]. A Austrália, o país líder em biotecnologia na região da Ásia-Pacífico, encontra-se igualmente bem posicionada a nível mundial, ocupando a sexta posição no ranking deste sector e sendo responsável por 60% das receitas daquela região. Foram vários os factores que a posicionaram como o país mais desenvolvido nesta região: Investigação e Desenvolvimento (I&D) forte e bem fundamentada, legislação estruturada para a protecção da propriedade intelectual, recursos humanos altamente qualificados e governos federais e estatais bastante empenhados na atracção de investimento para o apoio da biotecnologia [7]. 17

14 12 10 8 6 4 2003 2004 2 0 Investimentos (milhões USD) Nº investimentos Nº empresas Figura 11: Investimento de capital de risco em empresas de biotecnologia da Austrália entre 2002 e 2004 [12]. Tal como para os EUA e Europa, na região Ásia-pacífico a área das Ciências da Vida é a mais beneficiada pela Nova Biotecnologia (Figura 16). A Austrália, mais precisamente a região de Vitória, está em vias de se tornar numa das cinco principais bio-regiões da biotecnologia mundial, conjuntamente com San Diego, Cambridge, São Francisco e Boston [13]. Austrália Coreia 21% 15% 57% 58% 12% 9% 22% 6% Índia 15% 37% 9% 15% 24% Agro-alimentar Ciências da vida Protecção Ambiental Serviços Biotecnologia Industrial Figura 12: Distribuição de empresas por área na Austrália, Coreia do Sul e Índia [12]. Em relação aos países emergentes, a sua principal força reside nas pessoas que adquiriram experiência na indústria biofarmacêutica no estrangeiro e que ao regressarem ao país natal aplicam o conhecimento adquirido. Como explica David Kryl, director científico da SciTrax (empresa de transferência de tecnologia em Londres) e membro da Organização para o 18

Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas, a vantagem da Ásia em relação à Europa é o regresso de recursos humanos que, para além de ideias, trazem igualmente dinheiro. A cultura de negócio que invade a região Ásia-Pacífico, que contrasta com a cultura académica da biotecnologia Europeia, incitou um grande número de empresários a aproveitar a oportunidade oferecida pelos baixos salários e custo do produto naquela região. No entanto, o que está realmente a levar ao desenvolvimento da biotecnologia nestes países é o seu enorme mercado interno. Prevê-se que em 2010 o mercado potencial das indústrias de biotecnologia irá ultrapassar as fronteiras nacionais em toda a região Ásia-Pacífico, devido ao acordo alcançado pela Associação das Nações do Sudeste Asiático com a China, no sentido de criar a maior zona mundial de mercado livre [11]. 1.5. Conclusões comparativas Em 2003, a indústria de biotecnologia mundial estava representada por cerca de 4500 empresas concentrada em quatro mercados principais Estados Unidos, Europa, Canadá e Ásia-Pacífico. Os Estados Unidos lideram a indústria, enquanto o Canadá aparece em segundo lugar em relação ao número de empresas de biotecnologia, com mais de 400 em 2003 (Figura 13). A Europa continua em larga expansão, actualmente com o maior número de produtos aprovados e de investimento de capital de risco observados até à data. A região da Ásia-Pacífico apresenta um mercado emergente que se encontra em crescimento, sendo os países intervenientes a Austrália, Índia, China e Singapura [15]. Europa 1765 96 EUA Ásia-Pacífico 1159 314 547 120 Privadas Públicas Canadá 389 81 0 500 1000 1500 2000 Nº de Empresas Figura 13: Número de empresas de biotecnologia (cotadas e não cotadas) na Europa, EUA, Canadá e Região Ásia-Pacífico em 2003 [16]. O sector da biotecnologia na região Ásia-Pacífico apresenta um crescimento superior ao da Europa, o que a torna um sério competidor no que se refere à indústria de biotecnologia Americana [11]. Este crescimento tem origem em diferentes linhas de apoio: estímulos governamentais, regresso de pessoal qualificado e perspectiva de derivar num enorme mercado. No entanto, a escassez de capital de risco e obstáculos ao nível da regulamentação na região Ásia-Pacífico podem atrasar o desenvolvimento do sector e permitir, desta forma, a consolidação 19

da posição Europeia, pois a Europa apresenta uma indústria de capital de risco mais estabelecida e, além disso, as empresas europeias têm um acesso mais fácil aos mercados de capitais [11]. Para o total mundial de empresas (cotadas) do sector, os lucros totalizaram em 2003 cerca de 46 mil milhões de dólares (40 mil milhões em 2002). Mais de 75% destes lucros provêm de empresas Norte Americanas, enquanto que a Europa contribuiu com 16%, o Canadá com 4% e a região da Ásia-Pacífico com apenas 3%. 40 160 35 140 USD (mil milhões) 30 25 20 15 10 120 100 80 60 40 Nº de Colaboradores 5 20 0 Canadá Ásia-Pacífico Europa EUA Lucros Despesas de I&D Nº Colaboradores 0 Figura 14: Lucros, despesas em investigação e número de empregados nas empresas (cotadas) de biotecnologia do Canadá, Região Ásia-Pacífico, EUA e Europa [16]. O reconhecimento do potencial crescimento do sector da biotecnologia por parte de muitos governos estimulou a sua expansão, através de um aumento de fundos governamentais para a indústria. Se por um lado a separação geográfica do sector tornou essencial o estabelecimento de colaborações além-fronteiras, por outro lado, o aumento da competitividade global da indústria da biotecnologia conduziu os investidores a procurarem quer os melhores negócios quer as tecnologias mais promissoras, independentemente da sua localização [15]. 20

2. A Biotecnologia em Portugal 2.1. Caracterização geral do Sector em Portugal A Biotecnologia Tradicional em Portugal está associada a um grande número de empresas pertencentes ao sector Agro-Alimentar, como é ilustrado na tabela seguinte: Tabela 5: Empresas de Biotecnologia Tradicional em Portugal [17]. CAE Descrição do CAE Número de Empresas Valores médios Número de VAB empregados 15510 Indústrias do leite e derivados 35 153 6 360 972 15811 Panificação 194 25 329 398 15891 Fabricação de fermentos, leveduras e adjuvantes para panificação e pastelaria 3 52 2 802 110 1591 Fabricação de bebidas alcoólicas destiladas 11 11 631 893 15920 Fabricação de álcool etílico de fermentação 3 29 532 128 1593 Indústria do vinho 134 34 1 360 808 Estas empresas caracterizam-se por serem de média a pequena dimensão, com excepção das indústrias do leite e derivados. Estas últimas apresentam um Valor Acrescentado Bruto (VAB) médio elevado em comparação com todas as restantes, enquanto à indústria de panificação corresponde o VAB médio mais reduzido. Recorrendo a dados do Banco de Portugal [17], constata-se que esta tipologia de empresas se tem mantido em número aproximadamente constante, com excepção para as indústrias panificadoras, que exibiram um grande crescimento até 1998 seguido de uma queda abrupta, e da indústria do vinho, que tem tido um crescimento tendencialmente constante (Figura 15). 21

160 600 Nº de empresas 140 120 100 80 60 40 20 500 400 300 200 100 Nº de empresas panificadoras 0 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Ano Indústria do vinho Fabricação de bebidas alcoólicas destiladas Fabricação de álcool etílico de fermentação Indústrias do leite e derivado s Fabricação de fermentos, leveduras e adjuvantes para panificação e pastelaria Fabricação de malte e cerveja Panificação Figura 15: Evolução das empresas de Biotecnologia Tradicional em Portugal [17]. Estas indústrias encontram-se normalmente localizadas perto da origem da matéria-prima, tendo as indústrias do leite e derivados preponderância nos distritos da Guarda (7 empresas), Castelo Branco (5) e Ponta Delgada (5), enquanto as indústrias do vinho se encontram principalmente no norte (28 empresas no distrito do Porto, 12 em Viseu e 11 em Vila Real). Na indústria farmacêutica, independentemente de se utilizarem processos biotecnológicos ou não, as empresas portuguesas têm baseado a sua actividade no fabrico de produtos farmacêuticos de base e de preparações farmacêuticas, entre as quais a produção de medicamentos, como se ilustra na tabela seguinte: Tabela 6: Empresas na Indústria Farmacêutica em Portugal [17]. CAE Descrição do CAE Número de Empresas Valores médios Número de VAB empregados 24410 Fabricação de produtos farmacêuticos de base 5 179 7 780 545 2442 Fabricação de preparações farmacêuticas 28 152 9 200 841 24421 Fabricação de medicamentos 26 150 9 600 912 Esta indústria é caracterizada por um número reduzido de empresas, em que a produção de princípios activos está concentrada em apenas cinco empresas. Os princípios activos são tipicamente produzidos por via química, embora mais recentemente sejam produzidos por microrganismos (nomeadamente antibióticos) e posteriormente extraídos e sujeitos a um 22

processamento químico de derivatização. Esta indústria é caracterizada por VABs médios bastante elevados. 60 50 40 30 20 10 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 Nº de Empresas 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Ano Fabricação de produtos farmacêuticos de base Fabricação de preparações farmacêuticas Fabricação de medicamentos Figura 16: Evolução das empresas da Indústria Farmacêutica em Portugal [17]. Geograficamente, estas empresas encontram-se concentradas no distrito de Lisboa (27 empresas num total de 33). O sector da Protecção Ambiental pode associar-se ao CAE 90 (Saneamento, higiene pública e actividades similares), que foi introduzido no ano 2000 e exibe também um pequeno número de empresas. Estas empresas surgiram provavelmente devido à crescente preocupação com o tratamento de águas residuais e protecção do ambiente e já se encontram empresas com alguma dimensão a trabalhar nesta área, nomeadamente na gestão de resíduos e limpeza pública em geral (Tabela 7). Tabela 7: Empresas na Protecção Ambiental em Portugal [17]. CAE Descrição do CAE Número de Empresas Valores médios Número de VAB empregados 90001 Recolha e tratamento de águas residuais 5 53 3 557 130 90002 Gestão de resíduos e limpeza pública em geral 24 150 3 619 473 90003 Gestão de outros resíduos e actividades 6 29 1 696 627 Estas empresas encontram-se predominantemente no distrito de Lisboa, mas existem empresas de CAE 90002 em praticamente todos os distritos, reflectindo uma necessidade local de tratamento dos resíduos urbanos. Dada a recente introdução (2000) desta nova categoria de CAE, a evolução das empresas baseada na evolução do CAE é necessariamente pouco informativa. 23

As empresas que investem na Nova Biotecnologia em Portugal caracterizam-se por serem recentes, constituídas na década de 90 com capital quase sempre exclusivamente nacional proveniente de pequenos investidores, e devido a esta situação, o seu impacto na economia portuguesa ainda é muito reduzido. 2.2. Unidades de Investigação em Portugal Segundo a base de dados do Observatório da Ciência e do Ensino Superior [19], existem 1153 Unidades de Investigação em Portugal com actividades de Investigação e Desenvolvimento, das quais 139 se incluem na área das Ciências Biológicas, 423 na área das Ciências da Saúde e 39 na área da Engenharia Bioquímica, sendo estas as áreas relacionadas com a biotecnologia. Algumas destas unidades de investigação incluem-se em mais do que uma área conforme é ilustrado no seguinte construir o diagrama. Ciências Biológicas 46 Ciências da Saúde 68 359 14 11 4 10 Engenharia Bioquímica Figura 17: Unidades de Investigação com actividades de Investigação e Desenvolvimento em Portugal. Os números nas zonas de intersecção indicam unidades que se incluem em mais do que uma área. As Unidades de Investigação mencionadas encontram-se em três tipologias de instituições: Ensino Superior (228 unidades), Estado (253) e Instituições Privadas sem Fins Lucrativos (IPsFL, 31). instituições e empresas identificadas As Unidades de Investigação do Ensino Superior encontram-se distribuídas segundo a Tabela 8. 24

Tabela 8: Unidades de Investigação no Ensino Superior [19]. Instituição (Distrito) Secção Nº Unid. CB* CS* EB* Instituto Jean Piaget (Setúbal) 2 1 1 Instituto Politécnico da Guarda Escola Superior de Educação 1 1 Instituto Politécnico de Beja Escola Superior Agrária 1 1 Escola Superior de Educação 1 1 Instituto Politécnico de Bragança Escola Superior Agrária 1 1 Escola Superior de Enfermagem 1 1 Instituto Politécnico Castelo Branco Escola Superior Agrária 1 1 Instituto Politécnico de Coimbra Escola Superior Agrária 1 1 Instituto Politécnico de Leiria Escola Superior de Enfermagem 1 1 1 Escola Superior de Tecnologia do Mar 1 1 Instituto Politécnico de Lisboa Escola Superior de Enfermagem Maria 1 1 Fernanda Resende Instituto Politécnico de Portalegre Escola Superior de Educação 1 1 Instituto Politécnico de Santarém Escola Superior Agrária 1 1 Escola Superior de Desporto Rio Maior 1 1 Instituto Politécnico de Setúbal Escola Superior de Saúde 1 1 Instituto Politécnico de Viana do Escola Superior Agrária Ponte de Lima 1 1 1 Castelo Escola Superior de Tecnologia e Gestão 1 1 1 Instituto Superior de Ciências da Saúde (Porto, Setúbal) 3 3 Instituto de Ciências do Intelecto e do Físico, para o Bem-Estar e a Segurança (Porto) Instituto Sup. Psicologia Aplicada (Lisboa) 1 1 Unidade de Investigação em Eco-Etologia 1 1 Universidade dos Açores 5 5 1 2 Universidade do Algarve 7 6 1 1 Universidade de Aveiro 8 7 2 1 Universidade da Beira Interior (Castelo Branco) 4 1 3 2 Universidade Católica Port. (Porto) 2 2 2 1 Universidade de Évora 5 5 3 1 Univ. Fernando Pessoa (Porto) 1 1 1 1 Universidade (Lisboa) Universidade de Lisboa Independente Universidade Nova de Lisboa 1 1 1 Faculdade de Ciências 12 10 4 2 Faculdade de Farmácia 5 1 5 Faculdade de Medicina 27 2 27 Faculdade de Medicina Dentária 1 1 1 Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana 1 1 Escola Nacional de Saúde Pública 1 1 1 1 Faculdade de Ciências e Tecnologia 8 7 2 4 Faculdade de Ciências Médicas 21 1 21 Faculdade de Ciências Sociais e Humanas 2 1 1 Instituto de Higiene e Medicina Tropical 4 2 4 1 Instituto de Tecnologia Química e Biológica 1 1 1 1 25

Instituição (Distrito) Secção Nº Unid. CB* CS* EB* Universidade Técnica de Lisboa Universidade do Porto Universidade de Coimbra Faculdade de Motricidade Humana 10 5 7 Instituto Superior de Agronomia 5 4 1 1 Instituto Superior Técnico 2 1 2 Centro de Materiais CEMUP 1 1 1 Faculdade de Ciências 1 1 Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação 4 2 4 1 1 Faculdade de Farmácia 2 1 2 Faculdade de Medicina 15 1 15 Faculdade de Medicina Dentária 5 5 Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar 6 4 6 Faculdade de Ciências e Tecnologia 4 3 2 2 Faculdade de Farmácia 2 1 2 Faculdade de Medicina 17 4 17 Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física 1 1 1 Universidade da Madeira 3 2 2 1 Universidade do Minho (Braga) 3 1 2 2 Universidade de Trás-os-Montes Alto Douro (Vila Real) * - CB: Ciências Biológicas; CS: Ciências da Saúde; EB: Engenharia Biológica 4 2 3 1 É de realçar que cerca de 90% das Unidades de Investigação pertencentes ao ensino superior estão associadas a Universidades, dos quais 81% se situam nos distritos de Lisboa (50%), Porto (19%) e Coimbra (12%), revelando uma forte polarização da investigação nestes três distritos. Também é de notar que a grande parte das instituições se dedica essencialmente às Ciências da Saúde ou às Ciências Biológicas, como já seria de esperar a partir da distribuição apresentada no diagrama da Figura 17. As Unidades de Investigação pertencentes ao Estado distribuem-se de acordo com a Tabela 9. 26

Tabela 9: Unidades de Investigação do Estado [19]. Instituição Distrito Nº Unid. CB* CS* EB* Câmara Municipal de Setúbal Setúbal 1 1 Governo Regional da Madeira R. A. Madeira 4 1 Governo Regional dos Açores R. A. Açores 2 2 Ministério da Economia Lisboa 3 1 2 2 Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas Aveiro 1 1 Coimbra 1 1 Lisboa 5 2 1 3 Santarém 1 1 1 Viseu 1 1 Ministério da Ciência e da Tecnologia Lisboa 2 2 1 Ministério da Cultura Lisboa 2 2 Ministério da Defesa Nacional Lisboa 1 1 Ministério da Justiça Coimbra 1 1 1 Lisboa 1 1 1 Porto 1 1 Ministério da Reforma do Estado e da Administração Pública Lisboa 1 1 Ministério da Saúde Aveiro 5 5 Braga 5 5 Bragança 1 1 Coimbra 32 32 Faro 3 3 Lisboa 75 75 Portalegre 2 2 Porto 65 65 1 R. A. Açores 1 1 R. A. Madeira 1 1 Santarém 1 1 Setúbal 23 23 Viana do 2 2 Castelo Vila Real 1 1 Viseu 2 2 Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território Lisboa 1 1 Ministério do Equipamento Social Lisboa 1 1 Ministério do Trabalho e da Solidariedade Lisboa 3 3 Porto 1 1 * - CB: Ciências Biológicas; CS: Ciências da Saúde; EB: Engenharia Biológica Relativamente às Unidades de Investigação associadas ao Estado, nota-se que a maioria está relacionada com o Ministério da Saúde (87%), destacando-se os distritos de Lisboa, Porto e Coimbra. O Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, o segundo Ministério em 27

termos de número de Unidades, abarca apenas 3,6% do número total, com preponderância do distrito de Lisboa. Como seria de esperar, devido ao peso do Ministério da Saúde, a grande maioria das Unidades de Investigação concentra-se na área das Ciências da Saúde. Finalmente, as Unidades de Investigação pertencentes a IPsFLs encontram-se distribuídas no território português de acordo com a Tabela 8. Tabela 10: Unidades de Investigação de IPsFLs [19]. Distrito Nº Unid. CB* CS* EB* Braga 1 1 Coimbra 7 3 5 1 Évora 1 1 1 Lisboa 11 3 9 2 Porto 8 5 7 Região Autónoma da Madeira 1 1 1 Região Autónoma dos Açores 1 1 Setúbal 1 1 * - CB: Ciências Biológicas; CS: Ciências da Saúde; EB: Engenharia Biológica O padrão manifestado anteriormente continua a revelar-se nas Instituições Privadas sem Fins Lucrativos (IPsFLs): a densidade maior de Unidades de Investigação concentra-se mais uma vez nos distritos de Lisboa (35%), Porto (26%) e Coimbra (23%), onde as áreas predominantes voltam a ser as Ciências da Saúde e as Ciências Biológicas. Desta análise pode concluir-se que a investigação em Portugal na área das Ciências da Saúde, Ciências Biológicas e Engenharia Bioquímica, se encontra muito concentrada em três distritos: Lisboa, Porto e Coimbra, de onde será de esperar que surjam mais iniciativas empresariais na área da Nova Biotecnologia, uma vez que estas estruturas é que podem albergar os futuros empresários. Por outro lado, as estatísticas efectuadas mais recentemente para contabilizar o total de investigadores em Portugal datam de 2001 [20], e mostram uma evolução crescente de cerca de 27% entre 1997 e 1999, seguido de um abrandamento no crescimento para 10% de 1999 a 2001, ano em que o total de investigadores se cifrava em 31 146. A distribuição de investigadores segundo o sector onde executam as actividades de I&D é ilustrada pelo gráfico ilustrado na Figura 18. 28

15% 17% 13% 55% Empresas Estado Ensino Superior IPsFL Figura 18: Distribuição de Investigadores segundo sector de execução, para um número total de 31 146 [20]. É de salientar que Portugal detém uma das percentagens mais reduzidas (0,34%) de investigadores em relação ao total da população activa em toda a União Europeia, onde a Finlândia lidera com uma fracção de 1,34% da população activa [20]. 29

3. PRINCIPAIS RESULTADOS DAS AUDITORIAS TECNOLÓGICAS AO SECTOR DE BIOTECNOLOGIA 3.1. Breve descrição da metodologia de auditoria Com base na metodologia de auditoria de inovação desenvolvida para o Projecto FIVE foram realizadas auditorias a 24 empresas. O modelo conceptual subjacente à metodologia baseia-se numa leitura do funcionamento da empresa relativamente à gestão dos activos tecnológicos e da inovação no seio da organização e no quadro das suas relações com a envolvente. A presente metodologia considera que as empresas possuem um conjunto de capacidades que lhes permitem gerir de forma mais ou menos eficaz a sua base tecnológica. Assim, as capacidades de gestão de tecnologia de uma empresa são entendidas como um conjunto complexo de competências e conhecimento acumulado, desenvolvidos através de processos de aprendizagem organizacional, que permitem às empresas a coordenação das suas actividades e a utilização dos seus activos tecnológicos. Estas capacidades são postas ao serviço da empresa, para que, de uma forma dinâmica, esta possa gerir o conjunto dos activos tecnológicos que possui (a sua base tecnológica), no sentido de promover uma atitude inovadora e de gerar mais-valias para a organização. Nesta sequência, a avaliação da base tecnológica da empresa torna-se determinante, para se aferir as suas necessidades e capacidades tecnológicas e quais as perspectivas de evolução futura. A análise da base tecnológica da empresa é o elemento central de toda a metodologia de análise, uma vez que é com base nesta avaliação que se determinam as competências da empresa (procurando as possíveis soluções de valorização empresarial da tecnologia), bem como as suas necessidades (que, por exemplo, possam dar indicações quanto a possíveis apoios a processos de spin-offs académicos). Por outro lado, a gestão tecnológica está necessariamente relacionada com a estrutura organizacional da empresa, pelo que se torna premente averiguar a arquitectura subjacente à gestão, concretizada na dimensão estrutura e estratégia. Por fim, o processo de interacção com a envolvente, uma vez que a empresa é um sistema aberto, a estruturação dos processos e as trajectórias de inovação dependem, não só de factores internos, mas também da sua articulação com o meio circundante. Esta articulação opera-se quer ao nível do ambiente geral, que é constituído pelos aspectos da envolvente que influenciam o comportamento da empresa mas que não são controláveis por esta aspectos sociais, políticos, legais, económicos, científicos, tecnológicos -, quer ao nível do ambiente específico, integrado por agentes que desenvolvem relações de troca com a empresa, nomeadamente clientes e fornecedores, e que a influenciam e são influenciados por ela. A Figura 19 apresenta uma 30