ANÁLISE DA MORTALIDADE DE NEONATOS EM UMA UTI NEONATAL DE UM HOSPITAL DO VALE DO PARAÍBA SOUZA, Luciana Santana de¹; CARVALHO, Maria das Neves de Oliveira¹; MARTINS, Selma de Oliveira¹; LANCIA, Maria da Conceição Furtado²; CORRÊA, Ana Lourdes². Faculdade de Ciências da Saúde Enfermagem Univap Avenida Shishima Hifumi, 2911 Urbanova. São José dos Campos São Paulo luciana.aldair@gmail.com; nevescneto@hotmail.com; somcastro@hotmail.com; mcflancia@uol.com.br; anacorrea@univap.br Resumo - A mortalidade neonatal compreende os óbitos de recém nascidos (RN s) durante os primeiros 28 dias de vida, sendo subdividida em precoce e tardia. Os principais fatores que levam a mortalidade neonatal e perinatal são os ligados à saúde da mãe e a condição da assistência durante o pré-natal. O objetivo desta pesquisa foi conhecer a incidência de mortalidade de neonatos em uma Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) de um hospital do Vale do Paraíba. Trata-se de um estudo retrospectivo exploratório de campo com abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada no livro de registro da UTIN da instituição durante o ano de 2008. A incidência da mortalidade neonatal aconteceu em 16,5% dos RN s internados, com predominância em prematuros de baixo peso, sexo masculino e de parto cesárea. Concluiu-se, que apesar de existir tecnologia, pessoal treinado e capacitado ainda existe uma incidência significativa de óbito, sendo o controle realizado no pré-natal fundamental para a prevenção de morbidade e mortalidade de RN s. Palavras-chave: Prematuridade, UTI Neonatal, Mortalidade Neonatal. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde Introdução A mortalidade neonatal corresponde os óbitos de Recém Nascido (RN) durante os primeiros 28 dias de vida, sendo subdividida em precoce, a que ocorre durante os primeiros sete dias de vida, e a tardia, entre o sétimo e o vigésimo oitavo dias de vida. Os principais fatores que levam a mortalidade neonatal e perinatal são os ligados à saúde da mãe e a condição da assistência durante o pré-natal. Entre os riscos relacionados à saúde materna incluem: idade materna, intervalo interpartal, paridade, obesidade e ganho de peso durante a gestação, historia de aborto, natimorto ou morte neonatal prévia e doenças maternas. São fatores que podem apresentar: hipoxemia neonatal, baixo peso ao nascer, prematuridade, más-formações congênitas, entre outras. O Ministério da Saúde (MS) recomenda no mínimo seis consultas durante o pré-natal (MAGALHÃES; CARVALHO, 2003). A medicina perinatal tem apresentado grande avanço técnico científico nas últimas décadas, o que tem propiciado um aumento significativo na sobrevida de RN s extremamente prematuros (IMAMURA, 2000). Nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, os serviços especializados são deficientes em tecnologias mais complexas de apoio ao diagnóstico e terapêutica, colocando em risco a qualidade da assistência prestada ao recém-nascido, aumentando a preocupação com os fatores de risco perinatal e neonatal relacionados aos cuidados à saúde (SCOCHI, 2003). Para que essas taxas de mortalidade diminuam e haja a recuperação de alguma patologia que venha ocorrer neste período, sem que haja seqüelas, é necessário o encaminhamento para a UTIN (Figura 1). Com isso a assistência a um RN estabelece vigilância constante de pessoal altamente, capacitado e treinado e uma tecnologia avançada (SANTOS; OLIVEIRA; BEZERRA, 2006). Este trabalho tem por objetivo conhecer a incidência de mortalidade de recém nascidos internados no período do ano de 2008, em uma 1
UTIN de um Hospital de médio porte do Vale do Paraíba. Os resultados da pesquisa foram analisados sob a forma de números absolutos e percentuais que serão demonstrados em tabelas. Resultados Tabela 1 - Distribuição da evolução do quadro dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. N=133 Evolução da nº % internação Alta 111 83,5 Óbito 22 16,5 Figura 1 - UTIN. Fonte: Acervo pessoal Metodologia O cenário desta pesquisa foi em uma UTIN de um hospital de médio porte do Vale do Paraíba, de referência para gestação de alto risco abrangendo todos os registros de recém nascidos internados no ano de 2008. A pesquisa foi realizada após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba São José dos Campos, nº H255/CEP/2008 conforme a Resolução n.º 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Trata-se de um estudo retrospectivo exploratório de campo com abordagem quantitativa. Para a coleta de dados usou-se um formulário contendo questões abertas e fechadas, fundamentadas em artigos publicados que apontam dados que podem influenciar na morbidade e mortalidade neonatal. A pesquisa foi realizada no livro de registro da UTIN da instituição, coletando dados de 207 RN s internados no ano de 2008. Optou-se por excluir 74 RN s que não constavam dados completos no livro, estudou-se somente as variáveis de 133 RN's tais como: idade gestacional (IG), sexo, tipos de parto, peso, diagnóstico e evolução do recém nascido por óbito ou alta hospitalar. Os dados foram coletados nos meses de março e abril de 2009. Encontrou-se dificuldade para coleta de dados, por não ter acesso aos prontuários para completar as informações do livro de registro. Nos dados coletados na UTIN da instituição pesquisada no ano de 2008, obteve-se um total de 133 RN s internados. Dentre eles 111 (83,5%) RN s evoluíram para alta e 22 (16,5%) RN s evoluíram para óbito, como demonstrado na Tabela 1. Tabela 2 - Distribuição do sexo dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. N=133 Sexo nº % Masculino 68 51,1 Feminino 65 48,9 Conforme mostrado na Tabela 2, identificou-se que 68 (51,1%) RN s eram do sexo masculino e 65 (48,9%) RN s do sexo feminino. Tabela 3 - Distribuição dos óbitos, segundo o peso ao nascer dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. n=22 Peso (gramas) nº % < 1500 19 86,4 1500 a 2499 01 4,5 >2500 02 9,1 2
Foram identificados 22 óbitos segundo o peso em gramas dos RN s internados: sendo 19 (86,4%) com peso abaixo de 1500g, 01 (4,5%) com peso entre 1500g e 2499g e 02 (9,1%) com peso acima de 2500g. Conforme indicado na Tabela 3. Tabela 4 - Distribuição dos óbitos, segundo as doenças dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. n=22 Diagnósticos nº % Prematuridade 20 91,0 Hipertensão pulmonar 01 4,5 Anóxia 01 4,5 Dos RN s que foram a óbito, 20 (91,0%) tiveram diagnóstico de prematuridade, 01 (4,5%) por hipertensão pulmonar e 1 (4,5%) por anóxia, conforme demonstrado na Tabela 4. Referente aos partos realizados, pode-se observar que: 85 (64%) partos foram cesarianas e 48 (36,0%) partos foram normais, segundo dados da Tabela 6. Tabela 7 - Distribuição dos óbitos, segundo a idade gestacional dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. n=22 Idade nº % Gestacional <37 semanas 20 91,0 37 a 41 semanas 02 9,0 Com base no resultado da Tabela 7, identificou-se que 20 (91,0%) dos óbitos ocorridos foram de RN s com idade gestacional menor que 37 semanas e 02 (9,0%) foram com idade gestacional entre 37 e 41 semanas. Discussão Tabela 5 - Distribuição dos óbitos, segundo o sexo dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. n=22 Sexo nº % Masculino 14 63,6 Feminino 08 36,4 Segundo o sexo dos RN s internados: 14 (63,6%) óbitos do sexo masculino e 08 (36,4%) do sexo feminino. Conforme mostrado na Tabela 5. Tabela 6 - Distribuição dos partos que foram submetidos às mães dos RN s internados na UTIN. Jacareí, 2008. N=133 Partos nº % Cesariana 85 64,0 Normal 48 36,0 Entende-se que seja necessário salientar nesta pesquisa aos fatores relacionados com a metodologia. Neste estudo encontrou-se dificuldade na utilização dos sistemas de informações de RN s vivos e de óbitos para identificar as determinantes da mortalidade neonatal. Os dados coletados restringiram-se somente ao livro de registro da UTIN. Optou-se, então em realizar a coleta de dados somente nas variações contidas no livro de registro, portanto não foi possível verificar a residência, grau de instrução e idade materna, que poderiam ser considerados dados importantes para a realização da pesquisa em relação à mortalidade neonatal. As causas determinantes de óbitos com RN s são associadas a nível cultural e socioeconômico da família, assim como o processo imediato de atendimento durante a gestação, o parto, pós-parto e aos cuidados imediatos aos RN s (BARROS; MARIN; ABRÃO, 2002). Do total de 133 RN s da instituição estudada, 16,5% evoluíram para óbito. A comparação dos resultados observados neste estudo concorda com os de outros trabalhos, que utilizam a mesma abordagem metodológica nos artigos revisados nesta mesma variável. O RN apresenta maior risco de morte nos períodos neonatal e pós-neonatal (BECERRA et al., 1993). 3
Observou-se dados relevantes de óbitos de RN s do sexo masculino em relação ao sexo feminino, tendo um percentual de 27,2% de diferença entre eles. Os resultados obtidos seguem as características já conhecidas, em estudos anteriores, isto é, uma mortalidade maior no sexo masculino, tanto na natimortalidade quanto na mortalidade neonatal precoce. O amadurecimento pulmonar fetal ocorre mais precocemente no sexo feminino, sendo este um dos principais motivos do índice de mortalidade serem mais baixo nos RN s do sexo feminino. Como o amadurecimento pulmonar do RN do sexo masculino é mais lento, há, portanto maior incidência de problemas respiratórios destes RN s, levando a óbito no período neonatal (ARAÚJO; BOZZETTI; TANAKA, 2000). Os óbitos neonatais que tiveram maior incidência foram com idade gestacional abaixo de 37 semanas e baixo peso ao nascer. Após o parto prematuro, o RN quando encaminhado para a UTIN, sua permanência hospitalar se torna prolongada, passando por vários procedimentos e intercorrências peculiares a este período. O baixo peso ao nascer e a prematuridade são os fatores de risco descritos na literatura que apresentam a maior força de associação com a mortalidade infantil. Durante este tempo o RN corre risco de vida, sendo este período responsável por alta taxa de mortalidade (CUNHA; DUARTE, 1998). O maior percentual de nascimento foi de parto cesárea. Este tipo de parto somente é indicado quando há risco materno-fetal. Cabe, portanto à equipe de saúde orientar a gestante todas as possíveis complicações e mudanças de planos que podem porventura surgir até o nascimento. Atualmente, os índices de cesáreas no país vêm crescendo, representando, atualmente, 43% dos partos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). Conforme observação realizada durante a pesquisa, percebeu-se a importância do pré-natal durante o período de gestação, e o registro destes dados. Várias causas de óbito podem ser prevenidas reduzindo o número de mortalidade do RN e complicações para a mãe, a partir de acompanhamento durante gestação e parto (CALDEIRA A.P. et al., 2005). Conclusão Os dados pesquisados revelaram que os óbitos ocorreram em 16,5% nos RN s internados na UTIN no ano de 2008, tendo uma predominância em prematuros de baixo peso, do sexo masculino e nascidos de parto cesárea. Conclui-se que, apesar da tecnologia avançada e pessoal altamente capacitado na UTIN, ainda existe uma incidência significativa de óbito, lembrando que a instituição pesquisada é de referência para gestante de alto risco que atende a população do Vale do Paraíba. Os resultados deste trabalho mostraram que a assistência à gestante no pré-natal é muito importante para detectar precocemente as patologias que evoluem para o óbito dos RN s. Referências ARAÚJO, B.F; BOZZETTI, M.C; TANAKA, A.C.A. Mortalidade neonatal precoce no município de Caxias do Sul: um estudo de coorte; Jornal de Pediatria, v. 76, n.3, 2000. Disponível em: http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-03-200/port.pdf. Acesso em: 14 julho 2009. BARROS, S.M.O.; MARIN, H.F.; ABRÃO; A.C.F.V. Enfermagem obstétrica e ginecológica: guia para a prática assistencial. São Paulo: Roca, 2002. BECERRA, J.E., et al., Low birth weight and infant mortality in Puerto Rico. American Journal of Public Health, v. 83, p. 1572-1576. 1993. Disponível em: http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcg i?artid=1694889. Acesso: 28 junho 2009. CALDEIRA, A.P. et al., Evolução da mortalidade infantil por causas evitáveis. Rev. Saúde Pública, v. 39, n. 1, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v39n1/09.pdf. Acesso: 02 julho 2009. CUNHA, S.P.; DUARTE, G. Gestação de alto risco. Rio de Janeiro: Medsi, 1998. 565p. IMAMURA, P.E.A. Manual de Neonatologia: Humanização do atendimento neonatal. 2. ed. São Paulo: Revinter, 2000. 12-13p. MAGALHÃES, M.C.; CARVALHO, M.S. Atenção hospitalar perinatal e mortalidade neonatal no município de Juiz de Fora, Minas Gerais. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., v. 3, n. 3, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v3n3/17928.pdf. Acesso: 15 setembro 2008. MINISTÉRIO DA SAÚDE. IDB2000: Indicadores de dados básicos para a saúde. Brasília (DF); 2007. 4
SANTOS, F.L.B.; OLIVEIRA, M.I.V.; BEZERRA, M.G.A. Prematuridade entre recém-nascidos de mães com amniorrexe prematura. Esc Anna Nery R Enferm, v. 10 n. 3, 2006. Disponível em: http://www.portalbvsenf.eerp.usp.br/pdf/ean/v10n3/ v10n3a11.pdf. Acesso: 15 setembro 2008. SCOCHI, C.G.S. et al., Incentivando o vínculo mãe-filho em situação de prematuridade: as intervenções de enfermagem no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 11, n. 4, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-11692003000400018&script=sci_arttext. Acesso: 15 setembro 2008. 5