A prática do Cineclubismo 1



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Transcrição:

A prática do Cineclubismo 1 José Douglas Cardoso Pereira 2 Cristiane Brito Santana Alves 3 José Luiz de Souza 4 Rafael Martinez 5 Wilians Zanchim 6 Emerson Santos Dias 7 Faculdades Maringá, Maringá, Paraná RESUMO: A prática do Cineclubismo é um vídeo-documentário que têm como objetivo discutir a importância dos cineclubes na formação de agentes culturais. A partir deste ambiente de sociabilidade com a arte cinematográfica e também com os indivíduos que compõem um cineclube, buscou-se apresentar de forma breve o que é o cineclubismo, a sua importância histórica e sociocultural para a aquisição de um olhar crítico dos filmes vistos e debatidos pelos participantes. Palavras-chave: Cineclubismo; cinema; cultura; documentário. 1 Cinema: Arte ou indústria? Antes de qualquer análise ou posicionamento, vale ressaltar que o surgimento do cinema foi um significativo avanço tecnológico, tanto que no início os irmãos Lumière acreditavam que seu trabalho com imagens animadas seria direcionado para a pesquisa científica e não para a criação de uma indústria do entretenimento. Porém o cinema não é um ou outro, segundo Edgar Morin ele consegue unir indústria e arte e a razão é simples e dialógica: não basta a produção para fazer um filme; é necessário criação, invenção, originalidade, inovação (MORIN, 2003, p.10). Entender o mecanismo industrial do cinema não é difícil, se olharmos sobre a ótica daqueles que sobrevivem do cinema é simples. Eles financiam a produção dos filmes, e esperam ter lucros, assim como qualquer funcionário que trabalhe na produção, distribuição ou exibição, trabalha-se esperando um retorno financeiro, o salário que lhe garantirá o sustento. 1 Trabalho submetido ao X Expocom Sul, na categoria Jornalismo, modalidade Documentário em Vídeo 2 Líder do grupo. Estudante do 5º Semestre de Comunicação Social- habilitação em Jornalismo/ Faculdade Maringá, e- mail: comprasdouglas@hotmail.com 3 Estudante do 5º Semestre de Comunicação Social habilitação em Jornalismo/ Faculdade Maringá 4 Estudante do 5º Semestre de Comunicação Social habilitação em Jornalismo/ Faculdade Maringá 5 Estudante do 3º Semestre de Comunicação Social habilitação em Jornalismo/ Faculdade Maringá 6 Estudante do 5º Semestre de Comunicação Social habilitação em Jornalismo/ Faculdade Maringá 7 Orientador: Emerson Santos Dias Professor da Disciplina Telejornalismo

Há muitos anos alguém perguntou a Alfred Hitchcock quando é que os cineastas escapariam às poderosas imposições comerciais que condicionam o acabamento de uma película. O famoso realizador respondeu que só no momento em que um filme não custasse mais do que uma esferográfica e uma folha de papel (BARBÁCHANO, 1979, p.19). Seria impossível separar o cinema dos aparatos técnicos e comerciais dos quais ele necessita, tanto que o segmento talvez seja o melhor representante da indústria cultural tão profundamente analisada por Adorno (2002). Basta lembrar que os termos cinema e indústria cinematográfica muitas vezes são usados como sinônimos. O grande problema do cinema produzido em escala industrial é o nivelamento do público, onde um filme é produzido para alcançar o maior número de espectadores, ou seja, ele é feito para o chamado espectador médio. Nesse contexto, o cinema diminui o nível interpretativo, ou seja, torna-se mais fácil interpretar o roteiro da produção, pois ele traz uma estrutura simples, de fácil análise. Este modo de pensar vem do sistema de produção americano, modelo este que domina praticamente toda a distribuição mundial de filmes. A questão não é o simples fato de facilitar a interpretação, mas, por não levar o espectador a refletir sobre um determinado tema, não dar a abertura que ele precisa para decidir sobre determinada ideologia contida em uma produção cinematográfica. Nesta situação é que entra a prática do cineclubismo. Com um espaço que traz filmes que necessitam de uma interpretação, reflexão e discussão ideológica mais profunda, para compreender o porquê de uma determinada produção, não apenas fazendo análise da obra acabada, mas o contexto político-social em que ela está inserida e o que representou em um dado momento. A prática da atividade em cineclubes, denominada de cineclubismo, é uma ação cultural iniciada na França na década de 1920, que ganhou tradição como movimento de resistência cultural, espaços de debates e estudos cinematográficos no mundo inteiro. Segundo o pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1979, apud DUARTE, 2002), para o qual:

[...] a experiência das pessoas com o cinema contribui para desenvolver o que se pode chamar de competência para ver, isto é, certa disposição, valorizada socialmente, para analisar, compreender e apreciar qualquer história contada em linguagem cinematográfica, e que esta competência não é adquirida apenas vendo filmes; a atmosfera cultural em que as pessoas estão imersas que inclui, além da experiência escolar, o grau de afinidade que elas mantêm com as artes e a mídia é o que lhes permite desenvolver determinadas maneiras de lidar com os produtos culturais, incluindo o cinema (DUARTE, 2002, p.13). Jesús Martín-Barbero (2006) mostra a importância do modo de recepção ao tratar da discordância entre Adorno e Walter Benjamin sobre o cinema, onde Benjamin critica Adorno por este não considerar o enriquecimento perceptivo que o cinema traz, a possibilidade do público de enxergar na tela a realidade em que vive, e a partir daí refletir esta realidade. Para isso, é preciso garimpar bons filmes e muitas vezes reapresentá-los ao público acompanhado de um viés crítico, em meio a um grupo decidido a analisar e debater o que lhe foi apresentado. Nota-se, portanto, que a importância dos cineclubes para a cultura mundial é imensurável, pois tem sido o espaço responsável pela formação de inúmeros jovens na leitura do cinema de forma crítica e ética. Foi responsável pela prática da conservação do cinema como memória cultural e da preparação de públicos, críticos e teóricos de cinema e até mesmo profissionais como diretores e produtores, escolas extra-oficiais de cinema, que colaboraram com a história de importantes estéticas tais como a nouvelle vague francesa, o neo-realismo italiano e o cinema novo brasileiro, entre tantas outras. E justamente pelas características do objeto de estudo, o cineclube, que o grupo decidiu registrar o projeto em forma de documentário, aliando jornalismo ao cinema, apoiando-se na definição de Graeme Turner que diz: o documentário é a forma mais desenvolvida de elaboração cinematográfica depois do longa-metragem narrativo e provavelmente a mais respeitada (TURNER, 1997, p.41). A respeitabilidade do documentário pode ser atribuída ao seu caráter educativo, presente na obra de John Grierson, idealizador e principal organizador da escola inglesa e do movimento do filme documentário. O documentário e por extensão, o cinema era pensado, já na década de 1930, como alternativa para ampliar o conhecimento da sociedade que se adequava aos aparatos tecnológicos da comunicação moderna. Grierson acreditava que, na sociedade moderna, o coração e a mente do cidadão comum não estavam mais disponíveis para a educação tradicional e estavam sendo conquistados pelos meios de comunicação de massa jornal, rádio, cinema e propaganda (DA-RIN, 2006, p. 68)

2 O projeto Cineclube da Faculdade Maringá Este documentário foi produzido a partir da proposta da disciplina de Estética da Comunicação, ministrada no 3º semestre, com o objetivo de apresentar um trabalho em vídeo, sobre a contribuição social de projetos que trabalhem com alguma forma de arte. Antes de decidir pelo projeto Cineclube da Faculdade Maringá, o grupo precisou avaliar, devido às discussões da disciplina de estética, o caráter industrial versus o artístico do cinema. Porém, este trabalho acadêmico se validou pelos objetivos específicos do projeto, entre eles, a preparação do grupo de participantes para ação cultural, ou seja, a formação de agentes culturais, onde se compreende o agente cultural como o sujeito que articula no interior da sociedade, as condições necessárias para a concretização de projetos culturais. Proposto em forma de projeto de extensão, o Cineclube da Faculdade Maringá de acordo com seu coordenador, o professor Paulo Petrini, é uma ação cultural desenvolvida em grupo, formado por acadêmicos e comunidade externa, cujo objetivo principal é a promoção da arte cinematográfica enquanto evento cultural visando o desenvolvimento da percepção para a leitura crítica e a estética do cinema. As sessões com exibição de filmes seguidos de discussão tiveram início em meados do mês de abril, porém, a organização das sessões, feito pelo grupo de participantes, começou a ser articulada no início do mês de março. Em reuniões semanais, o grupo juntamente com seu orientador, decidiu o formato do projeto, que inclui como exemplo, a escolha de dia e horário das sessões, os critérios para escolha das obras a serem apresentadas, formas de divulgação do projeto, entre outros Assim, de acordo com a decisão coletiva, o critério para a escolha dos filmes a serem apresentados, entre clássicos e contemporâneos, durante o ano de 2008 seguia a seguinte ordem: no primeiro domingo de cada mês, filmes brasileiros, latino-americanos ou africanos; no segundo domingo, filmes americanos; no terceiro domingo, filmes europeus ou asiáticos, o último domingo do mês era reservado para mini-cursos, oficinas e reuniões de trabalho. Nos meses com cinco semanas, o quarto domingo, era reservado para filmes que tinham a comunicação como tema principal.

3 A produção do documentário O vídeo-documentário foi produzido durante os meses de abril e maio de 2008. Durante o mês de abril, a equipe acompanhou as reuniões do grupo sem fazer captura de imagens, para compreender melhor o funcionamento do cineclube da Faculdade Maringá e quais recursos existiam no local para produzir as imagens. Durante os três primeiros domingos do mês de maio de 2008, foram capturadas as imagens e os depoimentos dos entrevistados. Na edição do vídeo-documentário a idéia foi mostrar o cinema considerado comercial, e o outro, o cinema dos filmes de arte, que são exibidos em circuitos de cineclubismo. O grupo realizou entrevistas com o professor Paulo Petrini, coordenador do Cineclube da Faculdade Maringá, e com a professora Fátima Neves, coordenadora do Cineclube da Universidade Estadual de Maringá UEM, para colher a opinião deles sobre a função e o papel do cineclube na socialização da produção cinematográfica. Para ter uma amostra de filmes comerciais e filmes tipicamente exibidos em cineclubes, foram selecionados dois lotes: um com filmes comerciais, que tiveram sucesso de público, disponíveis em locadoras locais; e o outro lote, alguns dos filmes exibidos no cineclube da Faculdade Maringá. Na decupagem dos filmes comerciais, as cenas escolhidas são as que mais caracterizam o uso de modernas tecnologias, tanto em vídeo como em áudio, recursos que tornam esse tipo de filme extremamente atrativo e de fácil consumo para uma cultura massificada. São tiros explosões, carros voadores, tudo muito ágil, ideal para o consumo em salas comerciais de shopping centers. Na escolha de cenas dos filmes exibidos no cineclube foi feita uma pequena amostra de diálogos e da linguagem cinematográfica utilizada nessa classe de filmes, como podemos visualizar no roteiro abaixo.

VÍDEO. Fade... 01- Cena do filme The good, the bad, and the ugle 02- M. off filme Piratas do Caribe 03-M.off-filme Kill Bill 04-Filme Clube da luta 05- M.off do filme De volta para o futuro 06- filme Era uma vez no oeste 07-M.off do filme O planeta dos macacos 08- filme Cinema, aspirinas e urubus 09-filme Pra frente Brasil FADE IN/OUT ÁUDIO (Som de pássaros) (trilha mais tiro) (trilha mais explosão) (BG trilha mais efeitos sonoros) (OFF 01 DOUGLAS) O cinema comercial é caracterizado por ter como único fim o lucro. Este tipo de obra é criada e preparada exclusivamente para a venda. (BG trilha Gritos) (OFF 02 DOUGLAS) No Brasil, cerca de setenta e cinco por cento dos filmes que assistimos são produzidos nos Estados Unidos. (BG trilha) (OFF 03 DOUGLAS) O cineclubismo surgiu para questionar o sistema da indústria cultural que começava alavancar. Para dizer que um filme deve extrapolar a função de divertir e que deveria ser um veículo promotor da cultura, informação e conscientização. (BG trilha) 10- filme Cinema, aspirinas e urubus GC- Paulo Petrini-Cood. Fac. Mga 11-filme Na flor da pele 12-filme Amor a flor da pele 13- filme Amor a flor da pele 14-filme Amor a flor da pele 14-Filme Cinema Paradiso (SONORA 01 - PETRINI) O cineclube é um espaço cultural que tem como objetivo exibir filmes considerados importantes e que deixam o circuito... tem como objetivo revisitar o cinema constantemente exibindo clássicos, exibindo também filmes contemporâneos e tem como características o fomento para discussão sobre cinema, visando ampliar um pouco a visão crítica de quem participa. É um espaço livre no sentido tanto da escolha da obra, porque muitas vezes alguns cineclubes adotam a escolha coletiva, a escolha definida coletivamente, e também um espaço de manifestação livre de quem assiste filme nesse espaço. (BG trilha)

15-filme Cinema Paradiso GC- Fátima Neves - Coord. Cine UEM Cam 02 16-filme Cinema Paradiso Cam 02 17-filme Cinema Paradiso (SONORA FÁTIMA) Eu faço muitas reflexões diante de um filme. Um historiador da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin, dizia que o cinema ajudava o ser humano a aprofundar a sua percepção de mundo, ajudava enriquecer inclusive a análise crítica que a gente tem. Porque veja, eu também defendo a idéia que nenhum telespectador é passivo, todo telespectador é ativo e ele faz com aquilo reflexões, com seu arsenal interno, da sua psique, suas referencias teóricas, das suas expectativas que ele tem com o cinema. Então, acho que vir para um cineclube, além de a gente encontrar pessoas que gostam do que a gente gosta, e fazer uma coisa alternativa ao dia a dia, conhecer filmes que normalmente a gente não conheceria numa videolocadora, pode até estar lá na prateleira, mas a gente não pega. Então, eu acho que o videoclube tem essa função, a de socializar determinadas obras que normalmente nós não pegaríamos. 18-filme Cinema Paradiso 19-filme O sétimo selo 20-filme O sétimo selo Cam o1 21-filme Cinema aspirinas e urubus 22-filme Na flor da pele Foto Francois Truftaut Foto Glauber Rocha 23- filme Amor a flor da pele Cam 02 23-filme Cinema, aspirinas e urubus (SONORA 02 - PETRINI) Durante muito tempo só tinha acesso a esses filmes quem frequentava cinematecas; somente em grandes centros concentram-se cinematecas. Então, o cineclube ainda é o lugar onde esses filmes são exibidos, com sentido de historicidade, da construção da linguagem, é também reservado a um público muito restrito. Ver um filme identificando os elementos que compõem o filme, objetivo e uso de certos recursos. O cineclube nos dá essas possibilidades além do acesso à uma linguagem nova. (fala do ator: penei, penei, penei, mais cheguei lá. Na capital quando a fome... deixa; ai eu abaixava a cabeça) (SONORA 03 PETRINI) O cineclubismo foi uma prática importante na formação do público para o cinema que vinha se aperfeiçoando em sua linguagem, e foi marcante também por ter sido o espaço onde grandes cineastas se formaram entre eles podemos citar Francois Truftaut, um dos mentores da Nouvelle Vague. No Brasil podemos citar Glauber Rocha, mentor do Cinema Novo, e muitos críticos de arte. Muitos críticos do cinema se formaram na prática do cineclubismo. Então, o cineclube é uma prática internacional, possibilitando aos presentes, aos freqüentadores, um contato mais crítico com a arte cinematográfica. É também um espaço onde se oferecem subsídios para entender melhor a obra de arte cinematográfica. 23-filme Cinema, aspirinas e urubus FADE FADE OUT (fala da personagem: Feliz, mas triste... acontece uma coisa errada)

(deixar o barulho da chave quando o projetor e desligado) 24-Bast Cineclubismo 25-Bast cineclubismo 25-Bast Cineclubimo 26-Bast cineclubismo 27-Bast cineclubismo 28Filme Cinema Paradiso 29 Bastidores GC- Ficha Técnica (SONORA 04 - PETRINI) O cineclube da Faculdade Maringá nasceu como um complemento da disciplina Introdução ao Cinema, que é oferecida no sétimo semestre de Jornalismo. A idéia foi apresentar o cineclubismo para os acadêmicos que terão essa disciplina e também de outros cursos, e por ser uma ação cultural, o projeto mostra como esses eventos podem ser organizados. Então, ele funciona com dois objetivos: primeiramente e no que diz respeito ao cinema, e o segundo diz respeito à organização da ação, que o projeto tendo a participação de acadêmicos, eles acompanham a organização das sessões.

4- Considerações finais A documentação do projeto Cineclube da Faculdade Maringá em forma de vídeodocumentário, possibilitou não só a apresentação do projeto em si, mas a discussão da importância da prática do cineclubismo em seu contexto geral. Para os acadêmicos envolvidos na produção deste documentário, a realização deste trabalho significou uma rica aquisição de conhecimentos sobre a linguagem cinematográfica, além da fascinante experiência de poder enxergar inúmeros pontos de vista sobre uma mesma obra, poder debater essas visões, dedicar tempo para discutir sobre cultura, em uma sociedade onde o individualismo e a falta de tempo constitui algumas de suas principais características. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. BARBÁCHANO, Carlos. O cinema, arte e indústria. Coleção: Biblioteca Salvat de grandes temas. Rio de Janeiro: Salvat editora do Brasil, 1979. DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro : Azougue Editorial, 2006 DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações:comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006. MORIN, Edgar.A comunicação pelo meio (teoria complexa da comunicação). Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 20, p.7-12, abril de 2003. TURNER, Graeme. Cinema como prática social; tradução de Mauro Silva. São Paulo: Summus, 1997.