Estudo Comparativo entre Brasil e Portugal sobre a Avaliação Sócio Emocional de Crianças

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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

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Transcrição:

116 Estudo Comparativo entre Brasil e Portugal sobre a Avaliação Sócio Emocional de Crianças Livia Andreucci 1, Rosa Maria Gomes 1, Natália Abrantes 1, Anabela Pereira 1, Graziela Pereira 1 & Lurdes Cró 2 1 Departamento de Ciências da Educação, Universidade de Aveiro 2 Escola Superior de Educação de Coimbra; Instituto Politécnico de Coimbra O presente trabalho tem como objectivo apresentar um estudo comparativo de avaliação sócio emocional de crianças brasileiras e portuguesas em idade préescolar. A amostra foi constituída por 300 indivíduos (164 portugueses e 136 brasileiros) do ensino público e privado. As crianças foram observadas e avaliadas por Educadores de Infância que preencheram para cada uma das crianças o PKBS 2 (Pré-School and Kindergarten Behavior Scales) de Merrell, constituído por duas escalas: Aptidões Sociais (EAS) e Problemas de Comportamento (EPC). Os resultados indicaram algumas semelhanças entre os países ao nível das aptidões sociais. Contudo na amostra brasileira foram identificados mais problemas de comportamento, o qual poderá ser explicado pelos vários factores de risco existentes naquele país. Pretende-se com este complexo e comparativo estudo além de identificar e avaliar as aptidões sociais e problemas de comportamento de crianças, sugerir estratégias de intervenção para promover personalidades resilientes. Palavras-chave: Aptidão social, Problemas de comportamento, ansiedade, resiliência. 1.INTRODUÇÃO O desenvolvimento da criança tem sido estudado em diferentes dimensões, desde a fisiológica, cognitiva, afectiva e social, sendo nelas realçadas as suas características e sistemas de avaliação das mesmas. Contudo, as dificuldades de avaliação têm sido mais salientes ao nível da dimensão sócio-emocional, com particular ênfase para a avaliação da ansiedade ao nível pré-escolar (Oates, Wood & Grayson, 2005). Ao longo da história da avaliação psicológica, especificamente no estudo da avaliação da ansiedade infantil salientam-se as técnicas de observação clínica, entrevistas e instrumentos projectivos. Um dos estudos pioneiros com crianças em idade pré-escolar sobre ansiedade infantil foi realizado através de um questionário respondido por mães, a respeito dos medos específicos dos filhos, cujas idades se situavam entre os 2 e os 6 anos. Na Europa, na década de 40, o foco dos estudos centravam-se essencialmente na abordagem do medo, insegurança e nos problemas de comportamento

117 das crianças que perderam ou se separaram dos pais no período da Segunda Grande Guerra. A síntese evolutiva apresentada por Silva e Figueiredo (2005), salientou que desde a década de 50 até 2002 foram encontrados cerca de 118 instrumentos diferentes para esta finalidade. A partir de 1950 surgiram os primeiros instrumentos psicométricos para avaliação da ansiedade de crianças, como por exemplo o Sarason's General Anxiety Scale for Children, criado em Yale-EUA (Mandler; Sarason, 1952) o Children's Manifest Anxiety Scale (CMAS), criado por Castañeda, McCandless e Palermo (1956) baseado na escala original de ansiedade manifesta para adultos, Taylor Manifest Anxiety Scale (Taylor, 1955), o Test Anxiety Scale for Children (TASC), de Sarason, Davidson, Lighthall e Waite (1958) e a primeira versão do Fear Survey Schedule for Children (FSSC), elaborada por Scherer e Nakamura (1968). Nos anos 70 aparecem o State-Trait Anxiety Inventory for Children (STAI-C) de Spielberger (1973), adaptado para crianças e nos EUA, além de uma versão modificada do CMAS, o Revised-Children's Manifest Anxiety Scale (R-CMAS) (Reynolds; Richmond, 1978). Esses dois testes fazem parte do ranking das escalas mais utilizadas nos estudos até os dias actuais. A partir de 1980 até 2002 surgiram escalas diferentes que avaliam o constructo de ansiedade, de entre as mais citadas temos: Child Behavior Checklist (CBCL) de Achenbach (1991); Fear Survey Schedule for Children-Revised (FSSC-R), de Ollendick, Matson & Helsel (1985); Social Anxiety Scale for Children-Revised (SASC), de La-Greca, Dandes, Wick, Shaw & Stone (1988) com um crescimento expressivo do número de publicações utilizando-se escalas para avaliar o constructo ansiedade. Actualmente, a avaliação da ansiedade de crianças é feita por meio de questionários de auto-relato ou relato de pais/professores, checklists, entrevistas padronizadas, denominadas escalas ou testes, algumas apresentam os parâmetros psicométricos de validade e fidelidade de elevada utilidade ao nível da intervenção precoce. A investigação nesta área realizada no Brasil e em Portugal é recente e reduzida, sendo a maior parte dos instrumentos disponíveis no mercado, originários de outros países, muitas vezes adaptados não passando de simples traduções. Um estudo desenvolvido por Gomes & Pereira (2007), sobre as perspectivas dos educadores portugueses relativamente às situações indutoras de stresse na infância, reflecte a preocupação em contribuir para o avanço destes estudos.

118 No sentido de poder colmatar esta dificuldade, o presente trabalho tem por objectivo comparar as aptidões sociais e problemas de comportamento de crianças brasileiras e portuguesas em idade pré-escolar através do PKBS-2 (PKBS 2: Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2ª edição, traduzido e adaptado por Gomes, Pereira e Merrell (2009). 2.MÉTODO 2.1 Participantes Neste estudo participaram 300 crianças 56,3% do sexo feminino e 43,7% do sexo masculino, em que 54,7% frequentam jardins-de-infância portugueses e 45,3% frequentam jardins-de-infância brasileiros. Têm idades compreendidas entre os 36 e os 82 meses e frequentam a educação pré-escolar em Instituições privadas (45,3), públicas (40,3%) e Instituições Particulares de Solidariedade Social - IPSS (14,3%). Os educadores que participaram no preenchimento do questionário são todos do sexo feminino e têm em média, 29 anos de idade variando a mesma entre 21 e 49 anos de idade e desenvolvem a actividade docente em média, há 5 anos, variando o tempo de serviço entre 1 a 21 anos. 2.2 Instrumentos de avaliação O instrumento de avaliação utilizado neste estudo foi o Preschool and Kindergarten Behavior Scale PKBS-2, 2ª Edição (Merrell, 2002). É constituído por 76 itens que abordam questões comportamentais e emocionais em crianças dos 3 aos 6 anos. Foi traduzido e adaptado para a língua portuguesa por Gomes, Pereira & Merrell (2009), com permissão do autor. Este instrumento tipo Likert é composto por uma «Escala de Aptidões Sociais» (EAS), com 34 itens, que procuram avaliar os comportamentos sociais e emocionais das crianças que frequentam o jardim-de-infância e pela «Escala de Problemas de Comportamento» (EPC), com 42 itens, que avaliam os comportamentos problemáticos ao nível social e emocional. As respostas foram dadas tendo em consideração uma escala tipo Likert com 4 níveis de resposta variando entre 0 (nunca) e 3 (muitas vezes). A análise factorial considerada foi a utilizada nos estudos desenvolvidos por Merrell (2002), em que a EAS é constituída pelos factores A1 «Cooperação Social» com 12 itens, A2 «Interacção Social» com 11 itens e A3 «Autonomia Social», com 11

119 itens. Na EPC os factores estão distribuídos por problemas de comportamento externalizantes (PC E) e problemas de comportamento internalizantes (PC I). Os primeiros (PC E) são constituídos pelos Factores B1, «Auto-centrado/Explosivo», com 11 itens, B2 «Problemas de Atenção/Actividade Excessiva», com 8 itens e B3, «Antisocial/Agressividade», com 8 itens. Os problemas de comportamento internalizantes, são constituídos pelos Factores B4 «Evitamento Social», com 7 itens e B5 «Ansiedade/Problemas Somáticos», com 8 itens. O Alfa de Cronbach global da EAS é de.95 e para cada um dos factores foi de.92 para A1,.88 para A2 e.85 para A3. Na EPC o Alfa de Cronbach global foi de.98 e para cada um dos factores foi de.94 para B1,.93 para B2,.95 para B3,.85 para B4 e.80 para B5, apresentando assim, ambas as escalas, uma elevada consistência interna. 2.3 Procedimentos A recolha da amostra decorreu durante o segundo trimestre de 2009, através de questionários de auto-preenchimento, anónimos e confidenciais. Os questionários foram preenchidos por educadores de infância, que aplicaram o PKBS-2 ao seu grupo, avaliando cada uma das crianças em cada um dos itens. Esta avaliação deveria reflectir as suas observações a respeito do comportamento da criança, nos últimos 3 meses. As questões éticas foram respeitadas, a participação foi voluntária e cada questionário era acompanhado de carta explicativa dos objectivos, das condições da pesquisa, sendo assegurada a confidencialidade e anonimato dos dados. Utilizamos para a análise dos dados o programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 16.0, para MS Windows. 3. RESULTADOS Os resultados referentes à caracterização do estudo mostram que as idades das crianças variam entre os 36 e os 82 meses (M = 57,50; DP =11,67), em que 11% destas crianças têm idades compreendidas entre os 36 e 40 meses, 24% têm entre 41 e 50 meses, 32% têm entre 51 e 60 meses, 8% têm entre 61 e 70 meses e 25% têm entre 71 e 82 meses. Outra das variáveis em análise foi o tempo de frequência no jardim-deinfância, variando entre 1 e 44 meses (M= 23,17; DP= 13,57). O Educador de Infância que aplicou o instrumento tem em média 29 anos de idade (M = 29,35; DP = 8,27), exercem a profissão há 5 anos (M = 5,42; DP = 5,76) e o

120 registo das observações a respeito do comportamento de cada criança foi produzido no espaço educativo/sala (52%) e no jardim-de-infância (48%), reportando-se aos últimos 3 meses. A análise descritiva da escala AS mostra que o valor dos itens com ponderação mais elevada são: na amostra brasileira a criança «É aceite pelas outras crianças (M=2,63; DP=0,51); É convidada para brincar pelas outras crianças (M=2,56; DP=0,57) e Actua ou brinca independentemente (M=2,56; DP=0,59)». Na amostra portuguesa a criança «Agarra em brinquedos e outros objectos (M=2,77; DP=0,46); Pede ajuda aos adultos quando necessário (M=2,77; DP=0,47) e Nas situações sociais demonstra amizade (M=2,74; DP=0,46)». A análise descritiva da escala PC indica que o valor dos itens com ponderação mais elevada são: na amostra brasileira a criança «Procura estar do seu próprio jeito (M=2,29; DP=0,66); É muito sensível às críticas ou repreensões (M=2,07; DP=0,85); Manifesta medo (M=1,81; DP=0,78) e Quando é contrariado ou está com medo mostra-se doente (M=1,80; DP=0,82)». Na amostra portuguesa a criança «Procura estar do seu próprio jeito (M=1,64; DP=0,99); Agarrase aos pais ou ao educador (M=1,41; DP=1,00); Age impulsivamente sem pensar (M=1,31; DP=1,04) e É muito sensível às críticas ou repreensões (M=1,12; DP=0,90)». Os resultados do teste paramétrico t-student do PKBS-2 evidencia que quando comparados os factores da Escala de Aptidões Sociais encontramos diferenças estatisticamente significativas entre os dois países. Relativamente à Cooperação Social (M = 30,71; DP = 5,32; t = 9,46; gl = 297; p =.000) e Autonomia Social (M = 28,41; DP = 4,31; t = 4,80; gl = 272; p =.000) os dados indicam que foram as crianças portuguesas que tiveram valores médios mais elevados. A Escala de Problemas de Comportamento revela também diferenças estatisticamente significativas entre os países em estudo. Contudo, foram as crianças brasileiras que apresentaram valores médios mais elevados, quer no factor Auto-centrado/Explosivo (M = 16,60; DP = 6,48; t = - 9,09; gl = 296; p =.000), quer no factor Ansiedade/Problemas Somáticos (M = 12,65; DP = 3, 80; t = -12,18; gl = 298; p =.000), da EPC E e da EPC I respectivamente. Ao comparar os factores da EAS também foram encontradas diferenças estatisticamente significativas ao nível do género. As meninas apresentam valores médios mais elevados ao nível da Cooperação Social (M = 29,20; DP = 5,78; t = -3,62; gl = 297; p =.000) e da Interacção Social (M = 16,60; DP = 6,48; t = -3,17; gl = 298; p =.002). Relativamente à EPC também foram encontradas diferenças estatisticamente

121 significativas entre o género. No entanto são os meninos que apresentam valores médios mais elevados, quer no factor Auto-centrado/Explosivo (M = 13,84; DP = 8,13; t = 2,62; gl = 296; p =.009), quer no factor Problemas de Atenção/Actividade Excessiva (M = 11,56; DP = 6,06; t = 4,37; gl = 297; p =.000) e no factor Anti-social/Agressividade (M = 7,82; DP = 5,84; t = 3,74; gl = 298; p =.000), da EPC E. 4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO Os resultados deste estudo exploratório demonstram que no que concerne às aptidões sociais das crianças portuguesas, quando comparadas com as brasileiras, as primeiras apresentam melhores índices nas aptidões sociais. No que concerne ao género, as raparigas apresentam melhores índices que os rapazes a nível de cooperação social e interacção social. Quanto aos problemas comportamentais, poderemos verificar que são as crianças brasileiras as que apresentam resultados mais elevados, indicadores de maiores problemas naquela amostra, sendo ainda os rapazes a apresentarem maiores índices nesse item que as raparigas. Ambos os resultados apresentados deverão ser interpretados com algumas reservas, visto ser um estudo preliminar, onde não puderam ser controladas as variáveis parasitas, bem como o facto de as amostras brasileiras terem sido recolhidas numa comunidade de ONG, sociocultural e economicamente desfavorecida, não sendo representativo da realidade brasileira. Tais resultados vêm de encontro a estudos anteriores realizados por Andreucci et al. (2009a) identificadores que são o género masculino os que têm mais problemas e com maior necessidade de intervenção ao nível da promoção da resiliência. Ao comparar os dois países constatamos que as crianças portuguesas frequentadoras da educação pré-escolar apresentam comportamentos sociais e emocionais mais ajustados, enquanto as crianças brasileiras que frequentam o mesmo nível de ensino, revelam ter comportamentos problemáticos ao nível social e emocional. Tais resultados podem ser explicados pelos contextos socioculturais onde as amostras foram recolhidas: as crianças portuguesas vivem em zonas urbanas, expostas a menos factores de risco, têm famílias melhor estruturadas quer do ponto de vista social, emocional e económico e passam por menos necessidades. As crianças brasileiras, por seu lado, vivem na zona periférica de uma cidade do interior do estado de São Paulo e são quotidianamente expostas a factores de risco e às adversidades. Frequentam um Centro de Atendimento Comunitário mantido por uma ONG no período da manhã e vão

122 à escola no período da tarde. Tais resultados na amostra brasileira vêm de encontro aos resultados já obtidos anteriormente por Andreucci et al. (2009a e 2009b), que demonstram a necessidade de intervenção junto das crianças brasileiras dessa comunidade, especificamente ao nível de programas de aprendizagem social e emocional para saberem lidar com as adversidades, controlar os seus níveis de ansiedade, auto-conceito, auto-estima, resiliência e situações indutoras de stresse, a fim de terem uma melhor qualidade de vida e bem-estar, geradores de sucesso pessoal e escolar. Deverão ser igualmente tidas em considerações, estratégias de intervenção psicopedagógicas diferenciadas entre rapazes e raparigas no que concerne às aptidões sociais e aos problemas comportamentais. CONTACTO PARA CORRESPONDÊNCIA Lívia Christina Andreucci Universidade de Aveiro, Campus de Santiago, 3810-193 Aveiro landreucci@ua.pt REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Achenbach, T. (1991). Manual for the Child Behaviour Checklist/ 4-18 and 1991. Profile. Burlington, VT: University of Vermont, Department of Psychiatry. Andreucci, L.; Pereira, A.; Cró, M.; Rocha, A.; Ferreira, C.; Loureiro, L.; Oliveira, P. & Pereira, T. (2009a). Promoção da Resiliência em crianças: Programa Strong Start.. In Bonito, J. (Coord.), Educação para a Saúde no Século XXI: Teorias, Modelos e Práticas. Actas do II Congresso Nacional para a Educação da Saúde (pp. 607-615). Évora: Universidade de Évora. Andreucci, L.; Pereira, A.; Cró, M. & Rocha, A. (2009b). Resiliência: Estudo Comparativo entre Portugal e Brasil. In Actas do I Congresso Luso-Brasileiro de Psicologia da Saúde (pp869-882). Faro: Universidade do Algarve. Castañeda, A.; McCandless, B. & Palermo, D. (1956). The Children's from of Manifest Anxiety Scale (CMAS). Child Development. 27(3):317-26. Gomes, R.M.; Pereira, A.; Merrell, K. (2009). Avaliação Sócio - Emocional: Estudo exploratório do PKBS-2 de Merrell aplicado a crianças portuguesas em idade pré escolar. In Silva, Bento D.; Almeida, Leandro S.; Barca, Alfonso & Peralbo, Manuel (org.). Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. pp 2759-2767. Braga: Universidade do Minho.

123 Gomes, R.M. & Pereira, A. (2007). Perspectivas dos Educadores sobre as Situações Indutoras de Stresse: estudo exploratório em contextos educativos para a infância. In Revista Psicologia e Educação. VI(2) Dez:61-72. Universidade da Beira Interior: Covilhã. La-Greca, A.; Dandes, S.; Wick, P.; Shaw, H. & Stone, W. (1988). Development of the Social Anxiety Scale for Children: reliability and concurrent validity. J Clin Child Psychology. 17(1):84-91. Mandler, G. & Sarason, S.B. (1952). A study of anxiety and learning. J Abnorm Social Psychology. 47(2):166-73 Merrell, K.W. (2002). Preschool and Kindergarten Behavior Scales. Second Edition. Austin. TX:PRO-ED. Oates, J.; Wood, C. & Grayson, A. (2005). Psychological development and early childhood. The Open University. Blackwell Publishing: Milton Keynes. Ollendick, I.H.; Matson, J.L. & Helsel, W.J. (1985). Reliability and Validity of Revised Fear Survey Schedule for Children (FSSC-R). Behav Res Therapy. 23:465-7. Reynolds, C. & Richmond, B. (1978). What I think and feel: a revised measure of Children's Manifest Anxiety. J Abnormal Child Psychology. 25(1):15-20. Sarason, S.; Davidson, K.; Lighthall, F. & Waite, R.A. (1958). Test Anxiety Scale for Children. Child Dev. 29(1):105-13. Scherer, M. & Nakamura, C. (1968). A Fear Survey Schedule for Children (FSS-FC): a factor analytic comparison with manifest anxiety (CMAS). Behav Res Therapy. 6(2):173-82. Silva, W. & Figueiredo, V. (2005). Ansiedade infantil e instrumentos de avaliação: uma revisão sistemática. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. vol.27, n.4 [cited 2010-01-05], pp. 329-335. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1516-44462005000400014&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1516-4446. doi: 10.1590/S1516-44462005000400014. Spielberger, C. (1973). Manual for the State - Trait Anxiety Inventory for Children. Palo alto, CA: Consulting Psychologist Press. Taylor, J.A. (1955). The Taylor Manifest Anxiety Scale and Intelligence. J Abnorm Psychol. 51(2):347.