UMA LEITURA PSICANALÍTICA DA ADOLESCÊNCIA: MUDANÇA E DEFINIÇÃO



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Transcrição:

UMA LEITURA PSICANALÍTICA DA ADOLESCÊNCIA: MUDANÇA E DEFINIÇÃO DOMINGUES, Mariana Rosa Cavalli Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Católico Aulixiun - Unisalesiano - Lins/SP Brasil mrosacavalli@yahoo.com.br DOMINGUES, Taciano Luiz Coimbra Psicólogo do Centro de Referência em Assistência Social CRAS - de Lins/SP Brasil taciano_luiz@yahoo.com.br BARACAT, Juliana Psicóloga especialista em Psicanálise e Coordenadora-adjunta da CEPPA- FASU/ACEG jbbaracat@hotmail.com RESUMO Os adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham e lidam com as dificuldades de crescer no quadro complicado das famílias atuais. Eles não são mais crianças, precisam lutar com a adolescência, que é uma criatura desconhecida, enriquecida pela imaginação de: médicos, pais, televisão e dos próprios adolescentes. A adolescência é uma mudança biopsicossocial muito poderosa, atualmente ela é estudada por médicos, psicólogos, sociólogos etc. O presente trabalho se propõe a contribuir com a visão psicanalítica da adolescência, proporcionando enriquecimento e entendimento dessa fase do desenvolvimento tão importante e ao mesmo tempo tão complicada. Palavras-chave: Adolescência, Desenvolvimento, Psicanálise, Puberdade. Abstract The adolescents love, study, fight, work. They deal with the difficulties to grow up in the currently complicated families. They are not more children, need to fight with the adolescence that is an unknown creature, enriched for the doctors, parents, television and their own imagination. The adolescence is a very powerful bio-psycho-social change, currently it is studied by doctors, psychologists and sociologists. The present work wishes to contribute with a point of view of the adolescence for to psychoanalyze, offering, comprehension enrichment, of this, so important and complicated period of human development. Keywords: Adolescence, Development, Psychoanalyze, Puberty. 1.INTRODUÇÃO

A adolescência é um tema recorrente entre todos os profissionais da saúde, educação e outras áreas que de alguma forma lidam com adolescentes. Muitos teóricos têm estudado essa fase do desenvolvimento que fica entre a Infância e a vida adulta, permeada de grandes mudanças físicas, cognitivas, psicossociais e afetivas. O adolescente percebe todo o mundo a sua volta e tem a difícil tarefa de tornar-se independente de sua família, criar sua própria identidade e dar um rumo a sua vida. Calligaris (2000) chega a dizer que os adolescentes ficam ansiosos por tomarem conta de sua existência eles se lançarem para além dos portões da vida familiar. Isso tudo permeado por uma espécie de metamorfose em seu corpo. 1.1 ADOLESCÊNCIA E PSICANÁLISE Muitas são as mudanças ocorridas na puberdade, elas incluem crescimento na altura, peso e desenvolvimento de todas as características sexuais do adulto (maturação dos genitais e órgãos de reprodução) (PAPALIA, 2000). Diante destas transformações no corpo do adolescente podemos nos perguntar o que acontece com sua subjetividade? Já que neste aspecto ocorrem mudanças extraordinárias psicológicas e físicas. Para compreender quais modificações são vivenciadas pelo adolescente iremos nos voltar para a teoria psicanalítica. Este corpo teórico ficou famoso pela descoberta de Freud sobre a importância do período infantil na determinação das características psíquicas do adulto, mas também contribuiu na compreensão da adolescência (ROSSET, 2003). Segundo Freud (1924), o complexo de Édipo é o fenômeno central do período sexual da primeira infância. É no desenrolar deste complexo que se definem as escolhas de objeto sexual e o posicionamento em relação ao seu próprio sexo a partir dos modelos que estão disponíveis para identificação. Os meninos tomam o pai como modelo e as meninas percebem na mãe seu modelo; cada um deles se enamorando do progenitor do sexo oposto. Com a consciência da

proibição do incesto e da incapacidade sexual infantil, a criança irá abandonar esse amor impossível. 1 Concomitantemente a este complexo a vida sexual infantil atinge seu ápice, o que é demonstrado na investigação dos órgãos genitais; a qual foi denominada fase fálica. As crianças na fase fálica estão com toda a atenção voltada a questão da sexualidade, das diferenças anatômicas entre os sexos e da origem da vida (COTTET, 1988). No final do complexo de Édipo, que acontece por volta dos 5 anos de idade, ocorre a formação da uma instância psíquica que é responsável pelos julgamentos éticos e morais, assim como pelos ideais de beleza, sucesso, etc. esta instância foi chamada de superego (FREUD, 1905, 1924). O superego é formado após o abandono de investimento de energia da criança aos pais que culmina numa internalização das figuras parentais. Também se desenvolverá na criança, no final do Complexo de Édipo, uma instância denominada ideal de eu. Esta instância define a posição da criança sobre sua sexualidade e sua forma de prazer definindo como ela irá escolher as maneiras de buscar satisfação em todos os sentidos, incluindo o sexual. Após a dissolução do Complexo de Édipo a criança deixa de sentir toda a excitação sexual em seu corpo e volta-se ao seu desenvolvimento social e cognitivo no chamado período de latência. Este período de calmaria do corpo é interrompido pelo advento da puberdade, na qual a excitação sexual ressurge com força total e são retomadas as resoluções edipianas (superego e ideal de ego). No texto Romances Familiares (1906) Freud considera que o progresso da sociedade está na diferença entre as gerações, pois estas mudanças de hábitos e formas de posicionamento é que fazem o engrandecimento de cada geração. Isso implica para o filho uma modificação fundamental de posição afetiva em relação aos pais, que até então, eram a autoridade única e fonte de todos os conhecimentos. 1 Nas famílias monoparentais as questões se repetem com outras configurações.

Dois fatores contribuem para que os pais percam esse lugar central na vida das crianças: o fato da criança conhecer outros adultos que também são pais e a própria rivalidade sexual. Há, portanto, um afastamento do adolescente de seus pais. É neste período que ocorrem fantasias, por exemplo, de ter sido adotado por seus pais e ser, na realidade, filho de uma família muito rica e abastada. Essa fantasia tem como fundo o desejo de abandonar os pais, que decresceram em sua estima. Há uma espécie de agressão aos pais nestas fantasias, mas também um saudosismo do tempo em que consideravam seus pais perfeitos. Freud (1906) afirma que esta questão de libertar-se dos pais mostra-se bastante dramática ao adolescente, principalmente para àqueles que foram bastante investidos de carinho, especialmente pela mãe. Também não seria apropriado o desinvestimento por parte de quem cuida da criança, pois isso geraria a sensação de abandono. Sem exageros ou descaso, a função, aqui em questão, é provocar a capacidade de se envolver afetivamente a partir dos contatos físicos e do envolvimento emocional. Ou seja, possibilitar a capacidade de amar e posteriormente satisfazer-se sexualmente. Assim, no adolescente a vida sexual ressurge com toda força e dispõe do espaço da fantasia para se realizar. Nesta esfera as inclinações infantis voltam a emergir em todos os seres humanos, agora reforçadas pela premência somática. Contemporaneamente à subjugação ao repúdio dessas fantasias claramente incestuosas consuma-se uma das realizações mais significativas, porém mais dolorosas, do período da puberdade: o desligamento da autoridade dos pais, unicamente através do qual se cria a oposição, tão importante para o progresso da cultura, entre a nova e a velha geração. (FREUD, 1906, p. 1227). Alguns jovens podem apresentar muita dificuldade em modificar sua posição infantil em relação aos pais e parecem querer ficar colados a eles. Esses adolescentes não conseguem realizar uma separação de seus pais, pois não suportam de abrir mão da ternura parental. Porém para alguém se envolver

amorosamente com outra pessoa terá de perder um pouco o amor pelos pais. Mesmo aqueles que não ficam retidos, fixados no amor parental incestuoso, são influenciados por essa vivência. A afeição pelos pais é o mais importante vestígio revivido na adolescência que aponta o caminho para a escolha do objeto, nas palavras de Freud: Outros rudimentos com essa mesma origem (afeição pelos pais) permitem ao homem, sempre apoiado em sua infância, desenvolver mais de uma série sexual e criar condições muito diversificadas para as escolha objetal. (FREUD, 1906, p. 1228). Percebe-se, portanto, que nem tudo está decidido na dissolução do Complexo de Édipo e que os aspectos subjetivos neste período retornam em outra cena, num corpo biologicamente maduro e numa estrutura psíquica que deverá ser capaz de abrir-se ao outro sexo e separar-se dos pais. Há uma mudança do objeto de amor e um possível ajustamento do desejo genital sobre o objeto de amor. A posição adotada na resolução do Complexo de Édipo no que diz respeito a sua sexualidade e ligação com os pais será reavaliada. Há uma tentativa de ratificação, que se mostra como uma tentativa de manutenção do que foi estabelecido, no qual o sujeito reafirma a identificação com o progenitor do mesmo sexo e identifica as características do progenitor do sexo oposto como aquelas que devem apresentar a pessoa com quem irá se relacionar amorosamente (FREUD, 1906). Também existem pontos que devem ser retificados da solução edípica, pois neste momento o adolescente enfrenta diversas mudanças e nem tudo que foi estabelecido no Édipo infantil permanecerá. Neste momento, o modelo parental estabelecido no Édipo não é mais o único, ele dá origem a uma série, e o adolescente passa a se arriscar mundo a fora em busca de amor e satisfação para além da família. A renúncia da figura parental e da satisfação própria, vivida no Complexo de Édipo poderá ser compensada por outro objeto, agora não interditado pela proibição do incesto (COTTET, 1988).

Podemos compreender, portanto, que o adolescente vai ao mesmo tempo poder amar alguém que não faz parte de sua família, mas que deva apresentar características que o aproximem dela. E a complicação toda é que este objeto amoroso, esta pessoa que será escolhida para se envolver, ao mesmo tempo está livre da proibição do incesto, mas deve possuir semelhanças com a figura parental proibida - está estabelecido o paradoxo da adolescência. Tal como teve de optar entre o amor dos pais e a masturbação ele se vê entre o objeto parental e as pulsões sexuais num tempo contemporâneo. Assim pode se preocupar em demasia em atender as expectativas dos pais ou fazer justamente o oposto ao que aprenderam na família. O fato é que o ponto de partida é o referencial parental. A tarefa mais árdua para o adolescente é a elaboração da escolha de objeto e a retificação do Édipo, pois teme destruir a mãe, perdendo-a para sempre. Na realidade o que ocorre é que o adolescente acaba perdendo um pouco do amor de seus pais, porém se mantém como sujeito. 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS A separação do adolescente em relação aos pais inclui abandonar a idéia que a felicidade está em fazer seus pais satisfeitos, e saber que ele pode buscar sua própria satisfação independente dos pais. Os adolescentes passam por muitos processos para conseguirem ficarem felizes longe dos pais e do olhar de aprovação deles, pois necessitam perceber que eles desejam algo para além deles. Esta ligação com os pais é muito forte e por isso, muitas vezes, o adolescente tenta se livrar dela de forma rebelde e rude. Agir dessa forma aponta para uma imaturidade de seus sentimentos e de sua maneira de se relacionar. Concluímos que o adolescente tem que trilhar um caminho de crescimento que inclui enxergar o mundo com seus próprios olhos, mas este olhar é influenciado pelo relacionamento parental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLIGARIS, C. A Adolescência. São Paulo: Publifolha,2000. COTTET, S. Puberdade Catástrofe. Salvador: Publicação freudiana,1988. FREUD, S. A dissolução do complexo de Édipo (1924). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1997. As transformações da Puberdade (1905). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1997. Romances Familiares (1906). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1997. ROSSET, M. S. Pais & filhos: uma relação delicada. Curitiba: Sol, 2003. PAPALIA, E. D; OLDS, W. S. Desenvolvimento Humano. 7 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.