Quer coisa mais triste do que um boi, ainda mais gordo, quebrar a perna por causa de briga na fazenda? ~ * ~



Documentos relacionados
04 de maio de 2012 Edição nº. 469

06 de julho de 2012 Edição nº. 476

Boletim Econômico Edição nº 86 outubro de Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

Freelapro. Título: Como o Freelancer pode transformar a sua especialidade em um produto digital ganhando assim escala e ganhando mais tempo

Traduzindo o Fluxo de Caixa em Moeda Estrangeira

Estudo de Caso. Cliente: Rafael Marques. Coach: Rodrigo Santiago. Duração do processo: 12 meses

Transcrição da Teleconferência Resultados do 4T12 Contax (CTAX4 BZ) 26 de fevereiro de Tales Freire, Bradesco:

COMO INVESTIR PARA GANHAR DINHEIRO

UM CONCEITO FUNDAMENTAL: PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANCEIRO. Prof. Alvaro Guimarães de Oliveira Rio, 07/09/2014.

COMO DETERMINAR O PREÇO DE UMA

Sou Helena Maria Ferreira de Morais Gusmão, Cliente NOS C , Contribuinte Nr e venho reclamar o seguinte:

As 10 Melhores Dicas de Como Fazer um Planejamento Financeiro Pessoal Poderoso

INTRODUÇÃO. Fui o organizador desse livro, que contém 9 capítulos além de uma introdução que foi escrita por mim.

Controle Financeiro. 7 dicas poderosas para um controle financeiro eficaz. Emerson Machado Salvalagio.

1.000 Receitas e Dicas Para Facilitar a Sua Vida

Precificação de Títulos Públicos

PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES SOBRE VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

Autor: Marcelo Maia

Dinheiro Opções Elvis Pfützenreuter

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT APROVA ENCAMINHAMENTO PARA DEFESA DA PROPOSTA DE NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO, DAS APOSENTADORIAS E DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

COMO FAZER A TRANSIÇÃO

5 Considerações finais

República Federativa do Brasil Ministério da Fazenda PRECIFICAÇÃO DE TÍTULOS PÚBLICOS

Período de Preparação Período de Competição Período de Transição

estação de monta Escolha do Leitor

O papel do CRM no sucesso comercial

COMO PARTICIPAR EM UMA RODADA DE NEGÓCIOS: Sugestões para as comunidades e associações

COMO CALCULAR A PERFORMANCE DOS FUNDOS DE INVESTIMENTOS - PARTE II

Sérgio Carvalho Matemática Financeira Simulado 02 Questões FGV

4.5 Kanban. Abertura. Definição. Conceitos. Aplicação. Comentários. Pontos fortes. Pontos fracos. Encerramento

1. Quem somos nós? A AGI Soluções nasceu em Belo Horizonte (BH), com a simples missão de entregar serviços de TI de forma rápida e com alta qualidade.

ACOMPANHAMENTO GERENCIAL SANKHYA

COMPRE DO PEQUENO NEGÓCIO

Perfil de investimentos

UM NOVO FOCO NA GESTÃO DAS CENTRAIS DE INSEMINAÇÃO

Amigos, amigos, negócios à parte!

Distribuidor de Mobilidade GUIA OUTSOURCING

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

W W W. G U I A I N V E S T. C O M. B R

A Maquina de Vendas Online É Fraude, Reclame AQUI

Projeções econômicas para o setor de seguros Ano 2000 (Trabalho concluído em 21/10/99)

Como fazer contato com pessoas importantes para sua carreira?

Você é comprometido?

Dicas para investir em Imóveis

ORIENTAÇÕES BÁSICAS PARA COMPRA DE TÍTULOS NO TESOURO DIRETO

Os desafios do Bradesco nas redes sociais

Prof. Cleber Oliveira Gestão Financeira

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

ANEXO F: Conceitos Básicos de Análise Financeira

Cooperativa de Consumidores. Manual de Consumo Do Associado Cartão de Débito Global

Mas do ponto de vista do grosso, o grande percentual de discussões acumuladas e passadas que tínhamos, já está absolutamente eliminado.

Apresentação. Olá! O meu nome é Paulo Rebelo e sou apostador profissional.

GASTAR MAIS COM A LOGÍSTICA PODE SIGNIFICAR, TAMBÉM, AUMENTO DE LUCRO

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT

Ana Beatriz Bronzoni

AT I. ACADEMIA DA TERCEIRA IDADE Melhor, só se inventarem o elixir da juventude. Uma revolução no conceito de promoção da saúde.

Projeto Você pede, eu registro.

1. A retomada da bolsa 01/02/2009 Você S/A Revista INSTITUCIONAL 66 à 68

DESENVOLVENDO HABILIDADES CIÊNCIAS DA NATUREZA I - EM

PRIMEIRO ENCONTRO análise da sequência de. vendas de eben pagan

INFORMAÇÃO PARA A PREVENÇÃO

Diminua seu tempo total de treino e queime mais gordura

APRESENTAÇÃO. Sua melhor opção em desenvolvimento de sites! Mais de 200 clientes em todo o Brasil. Totalmente compatível com Mobile

CENTRO HISTÓRICO EMBRAER. Entrevista: Eustáquio Pereira de Oliveira. São José dos Campos SP. Abril de 2011

Produtividade e qualidade de vida - Cresça 10x mais rápido

2 Contratos Futuros Agropecuários no Brasil

Cenário positivo. Construção e Negócios - São Paulo/SP - REVISTA - 03/05/ :49:37. Texto: Lucas Rizzi

Como erguer um piano sem fazer força

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

RESOLUÇÃO DAS QUESTÕES DE RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

11 Segredos para a Construção de Riqueza Capítulo II

Quando as mudanças realmente acontecem - hora da verdade

AV2 - MA (a) De quantos modos diferentes posso empilhá-los de modo que todos os CDs de rock fiquem juntos?

Manual de Utilização

Matemática Financeira Módulo 2

DICAS PARA CÁLCULOS MAIS RÁPIDOS ARTIGO 07

5 Dicas Testadas para Você Produzir Mais na Era da Internet

CONFIRA UMA BREVE DESCRIÇÃO DAS VANTAGENS COMPETITIVAS OBTIDAS A PARTIR DE CADA META COMPETITIVA VANTAGEM DA QUALIDADE

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após encontro com a Senadora Ingrid Betancourt

Documento Explicativo

A Lição de Lynch. O mago dos investimentos conta como ganhar nas bolsas depois de Buffet e Soros

Podemos encontrar uma figura interessante no PMBOK (Capítulo 7) sobre a necessidade de organizarmos o fluxo de caixa em um projeto.

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

Felipe Oliveira, JPMorgan:

10 Regras Para Ter Sucesso Com Negócios Digitais

Manual prático de criação publicitária. (O dia-a-dia da criação em uma agência)

Gestão da Qualidade Políticas. Elementos chaves da Qualidade 19/04/2009

Como IDENTIFICAr AS oportunidades E CoNqUISTAr o ClIENTE

Importância da normalização para as Micro e Pequenas Empresas 1. Normas só são importantes para as grandes empresas...

Aspectos Sociais de Informática. Simulação Industrial - SIND

O CAMINHO PARA REFLEXÃO

Retorno dos Investimentos 1º semestre 2011

Um projeto de curral para o manejo de bovinos de corte: reduzindo os custos e melhorando o bem estar animal e a eficiência do trabalho.

1. A Google usa cabras para cortar a grama

Ajuda ao SciEn-Produção O Artigo Científico da Pesquisa Experimental

APÊNDICE. Planejando a mudança. O kit correto

INOVAÇÃO NA ADVOCACIA A ESTRATÉGIA DO OCEANO AZUL NOS ESCRITÓRIOS JURÍDICOS

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Claudinei Tavares da Silva Celular: (44)

Preparação para seleção do Projeto de Empreendimento. Da ideia à prática

Transcrição:

Me liga o rapaz lá da fazenda: Senhor Rogério, bom dia. Olha, senhor, a gente tava dando a corrida nos lotes aqui para passar o estoque mensal dos pastos para o escritório, daí encontramos um boi quebrado. Quebrou da mão. Parece que foi briga, Sr. Rogério. Ali perto tinha umas cercas arrebentadas. Um poste quebrado também perto do cocho e ele tá todo riscado das chifradas que levou. Olha, não vai dar para deixar recuperando igual aquele outro. Ele não está conseguindo andar. Queria ver com o senhor o que quer que a gente faça, se podemos sacrificar o animal. Qual o peso do boi, Robson? Que tipo de boi é? Ao redor de 500 kg, senhor. Nelore. É dos lotes das boiadas gordas. Puxa vida. Boi gordo? Bom, paciência. Vê aí o que você precisa, mas pode abater o animal. Tá certo, senhor Rogério. É só isso. Até mais. Quer coisa mais triste do que um boi, ainda mais gordo, quebrar a perna por causa de briga na fazenda? ~ * ~ Novo texto Pensamento Fora da Fazenda, caro leitor. Leia no final do texto normal. Essa semana disse que iria falar de exportações. Mudei de ideia. Estou com mais vontade de falar de inflação. Existe alguma relação entre o preço da arroba do boi e a inflação? Quando digo relação entre os dois, na realidade quero saber o seguinte. Se o boi sobe, a inflação sobe também? Ou é a inflação que sobe... e subindo ela puxa o boi? Realmente não sei quem é que puxa quem. Não importa se veio primeiro o ovo ou a galinha. O que importa é que existe uma relação entre a inflação e a arroba do boi. Não podemos perder de vista isso. Veja, a carne bovina é um alimento que é consumido de forma muito rápida. É produzida, ou seja, o animal é abatido e a sua carne é consumida rapidamente. Menos de trinta dias, em média, desde o abate até o consumo, pode-se dizer. Isso torna a carne muito susceptível à variação da renda da população, e a variação do valor geral das coisas no supermercado. Essa variação dos preços das coisas no supermercado é, de certa forma, uma maneira utilizada para medir a inflação, entre outras coisas. Essa relação entre inflação e os preços da arroba do boi gordo estão representadas no gráfico da próxima página. Informe Publicitário Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 1

Arroba do Boi Gordo 120 110 100 90 80 70 60 50 40 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Fonte: Esalq/BVMF/Broadcast Arroba do Boi e Inflação Anual 16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% -2% -4% Coloco aqui ao lado a arroba do boi e a inflação no mesmo gráfico para você ter uma visualização do que estou falando. Essa relação é uma das mais importantes noções que você deve ter na cabeça quando pensa em preços do boi gordo no longo prazo, caro leitor. A jogada é a seguinte. Observe os extremos da inflação desses últimos anos. Coloco aqui o gráfico desde o início do atual ciclo pecuário. Repare na coincidência: os extremos da inflação e arroba, picos e vales, por assim dizer, ocorrem próximos uns aos outros. Não só isso. Aqui a coisa fica irritantemente técnica demais, mas me acompanhe. Da magnitude dos movimentos os dois também são parecidos. Quero dizer, se a inflação sobe X, o boi tende a subir ao redor de X. Se a inflação cai Y, o boi tende a cair ao redor de Y. São parecidos os movimentos. Nesse gráfico aí acima pode parecer que não é isso, mas lembre-se que a arroba é cotada em Reais/@, enquanto a inflação é em porcentagem. Vai por mim. São parecidos. No início de 2012 a inflação estava baixa. Estava em um extremo de baixa, por assim dizer junto com a arroba, mas o pior preço da arroba demorou uns meses a mais para ser cravado. Quero dizer, a coisa funcionou. Baixa na inflação, baixa na arroba. Magnitudes parecidas. O que temos atualmente é o contrário disso. A inflação está subindo. Só nos últimos três meses a inflação subiu quase 4%. É muita coisa. Como era de se esperar, a arroba do boi também subiu, mas uma coisa estranha ocorreu a arroba subiu bem menos que a inflação, e bem menos que poderíamos esperar. A tal magnitude do movimento falhou aqui, ou falhou até agora, no presente. Isso quer dizer que a inflação subiu mais forte que a arroba, e a arroba está patinando agora no final de setembro. O que estamos vendo agora é uma distorção entre o movimento inflacionário e o Indicador Esalq/BVMF. Abre-se uma oportunidade de recuperação da arroba se a inflação insistir em subir? Agora no curto prazo não sei, caro leitor. Mais para frente? Talvez sim. Vamos acompanhar, até porque a 96 contos no preço de venda é uma arroba que praticamente só cobre custo de produção de boiada no grão. Se jogarmos a inflação da operação dessa engorda desde a compra do boi magro, talvez nem isso. Não perca o foco no valor da arroba, caro leitor. Valor é diferente de preço. Para remunerar a atividade o valor da arroba deveria ser maior do que a cotação atual dos preços. Vimos isso em uma edição passada da Carta Pecuária. No fim e ao cabo, o valor intrínseco dos 15 quilos de carne produzida tem que pagar a inflação, os custos de produção e uma remuneração pelo risco da operação, embora a oscilação dos preços no dia a dia nos façam perder esse norte de vista. Inflação Anual Informe Publicitário Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 2

MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com +0,15 a R$ 95,99 à vista. Cotações em R$ por arroba. A média móvel de 5 dias fechou em R$ 96,09. O contrato de outubro/12 fechou com 1,90 a R$ 97,50. O contrato de outubro está 1,41 reais acima do preço médio de liquidação do contrato. O contrato que vence em novembro/12 fechou com 1,95 a R$ 98,55; dezembro/12 1,35 a R$ 96,75; janeiro/12 1,00 a R$ 96,70. Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços. Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com +0,99 cotado a R$ 702,75 à vista. Cotações em R$ por bezerro. A arroba do bezerro cotada ao redor de R$ 105,00, queda de três reais na semana. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal. Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,25 bezerros, sem alterações na semana. Dólar -- Dólar comercial fechou com +0,25% a R$ 2,029. Dólar futuro com vencimento no início de novembro fechou com +0,07% a R$ 2,038; dezembro fechou com +0,07% a R$ 2,047. Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 7,50% ao ano. Inflação IGP-M de setembro +0,97%. Acumulado no ano 2 +6,89%. Acumulado nos últimos 12 meses 3 (outubro-11 a setembro-12) +7,80%. Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas. Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 97,00; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 92,00 (Base 5,2%) e em Campo Grande ao redor de R$ 92,00 (Base 5,2%). A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 90,00 (Base 7,2%). Em Cuiabá está em R$ 88,00 (Base 9,3%). No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 95,00 (Base 2,1%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 91,00 (Base 6,2%). 1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF. 2 e 3 Somatória com Juros Simples. Informe Publicitário Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 3

4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria. CONCLUSÃO: Semana de estabilidade da arroba e queda na carne. O bezerro ainda permanece com sua arroba ao redor e acima de 105 reais. O teto do boi é o bezerro? Eita teto difícil de alcançar em 2012. Na próxima página fique com o texto do Walter sobre inseminação artificial caipira no espaço Pensamentos fora da Fazenda. Um abraço, Rogério Goulart Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 4

INSEMINAÇÃO COM TEMPO FIXO (IATF Caipira) Por Walter Magalhães Jr. Como administradores de empresas estamos sempre dispostos a ouvir e avaliar ideias, estudar novas alternativas de trabalho, nos evolver, enfim, em programas específicos, desenvolvidos com a finalidade de promover algum tipo de incremento na produção e na produtividade do setor em que atuamos. Há alguns anos atrás, como já utilizávamos a inseminação artificial, fomos expostos a um novo programa, que anunciava a sincronização de estro das reses e a realização de toda a operação de inseminação, em um momento único e pré-determinado. Na época, este processo, denominado de Inseminação Artificial com Tempo Fixo, também conhecido pela sigla IATF, vinha sendo muito comentado no meio rural. Sabíamos que, conceitualmente, o programa era muitíssimo bem estruturado. Sob o ponto de vista científico era consistente e apresentava todos os requisitos técnicos para alcançar os resultados prometidos. Ao levantarmos as experiências de pessoas que realizaram o programa, tivemos conhecimento, entre outras tantas histórias, de produtores que implantaram 200 vacas, em um só lote, e tiveram que passar o dia todo num trabalho árduo de inseminação dos animais. No final do dia estavam exaustos. O resultado final, como não poderia deixar de ser, acabou ficando muito aquém daqueles preconizados. Como resultado da busca de informação a respeito do assunto, concluímos que, apesar de ser algo extremamente interessante e inovador, principalmente pela possibilidade de promover um incontestável encurtamento da estação de monta e uma inegável concentração no nascimento dos bezerros, tinha, a nosso ver, dois problemas para serem resolvidos. O primeiro deles estava relacionado com a promessa de sucesso do programa. Preconizava-se, em termos de resultados médios, um percentual de vacas prenhas situado em trono de 50,0% a 60,0% das reses expostas. O mais comum seria algo próximo dos 54,0%. Para o aumento de custos que a alternativa promoveria, um percentual de prenhes situado nestes patamares seria baixo, ainda, quando comparados com os ganhos oferecidos. O segundo problema envolvia o volume de fêmeas que o programa anunciava como sendo possível de serem colocadas em serviço ao mesmo tempo. Divulgava-se a possibilidade de formação de lotes de 250 fêmeas ou mais. Para tanto, seria necessário que se mantivesse um número suficiente de inseminadores que, num processo de troca entre eles, possibilitasse a ocorrência de um intervalo de descanso. Na condução da inseminação artificial, sempre adotamos o princípio da responsabilidade única. Entendemos que os resultados são muitos mais favoráveis, quando um só elemento está envolvido diretamente em todas as fases do processo e se responsabilizando pelo sucesso do mesmo. Se, durante toda a execução da atividade, temos de quem cobrar possíveis variações nos retornos de cio e nos índices parciais de prenhes alcançados, a chance de êxito do programa será consideravelmente maior. Assim, para que pudéssemos lançar mão dessa alternativa de produção e aproveitar todos os seus benefícios, resolvemos promover alguns ajustes no mesmo. Fizemos isso com a finalidade de poder implantá-lo, de tal forma, que atendesse as nossas restrições operacionais. Iríamos realizar o protocolo apregoado, mas com a finalidade única e exclusiva de promover a sincronização dos cios. A primeira decisão tomada foi relativa ao número de animais no lote a ser sincronizado. Determinamos que o número de animais nunca deveria ser superior a 50 cabeças. Esse número de vacas permitiria o desenvolvimento do trabalho de inseminação, principalmente, num ritmo aceitável, sem submeter o inseminador a um estado de fadiga. Mantendo o nível de envolvimento do inseminador num grau de esforço aceitável, evitaríamos a possibilidade de comprometimento do ritmo de trabalho e, consequentemente, da qualidade do mesmo. Como temos inseminador experiente e preparado na propriedade, decidimos também que, a despeito da possibilidade das vacas estarem sincronizadas, continuaríamos a fazer o acompanhamento do cio no campo. O rodeio das vacas teria início já na tarde do oitavo dia do protocolo, dia em que é retirado o dispositivo e feita a aplicação dos medicamentos finais. Queríamos nos certificar de que não correríamos o risco de perder alguma vaca que pudesse manifestar o cio durante este intervalo de dois dias, entre o oitavo e o décimo dia, quando, então, de acordo com o protocolo da IATF, todos os animais deveriam ser inseminados. Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 5

Para nossa surpresa, a decisão foi absolutamente acertada. Todos os lotes colocados em serviço apresentaram um volume significativo de fêmeas manifestando cio nesse curto intervalo de tempo. No período compreendido entre o oitavo dia à tarde até o décimo dia de manhã, o volume de cio atingiu um percentual importante de 84,0%. Estes animais foram todos inseminados, normalmente, nas condições estabelecidas pela inseminação artificial simples. O restante das fêmeas, compreendido por 16,0% do lote, as quais não manifestaram cio ou, talvez, tenham apresentado um cio silencioso ou não detectado, foram inseminadas no décimo dia à tarde, juntamente com aquelas que manifestaram cio no rodeio da manhã. Por sugestão de um técnico de uma empresa de coleta de sêmem, estas fêmeas, supostamente em anestro, receberam, ainda, uma dose adicional de sêmem na manhã do décimo primeiro dia. Assim, até a manhã do décimo primeiro dia, nosso programa adaptado de IATF já havia inseminado todas as fêmeas que compunham o lote de cinquenta vacas. No mesmo dia à tarde foi retirado o dispositivo do próximo lote de 50 vacas, fêmeas estas que já se encontravam em estado de preparação, desde o terceiro dia do preparo do lote que acabava de ser finalizado. Afinal, este era o ritmo de trabalho imposto, a cada três dias iniciávamos o preparo de um novo lote de 50 reses. À medida que o tempo ia passando, o trabalho e os lotes, como era de se esperar, iam se avolumando. Novos lotes de 50 fêmeas iam entrando em serviço. Isto foi feito, sequencialmente, até que se completou o total de vacas inseridas no programa. Os rodeios também foram se intensificando, tendo em vista a quantidade, cada dia maior, de reses a serem observadas. O serviço de apalpação, realizado por um veterinário, teve seu início quando as fêmeas de uma só dose completaram 30 dias da data da inseminação. A partir dessa primeira apalpação, as outras que vieram a seguir se repetiram em um intervalo constante de 30 dias. Para tanto, era elaborada, continuamente, uma relação das vacas que se encontram em condições de serem tocadas. O resultado final dessa IATF adaptada foi surpreendente. Do total de vacas que entraram em serviço, 84,4% receberam uma única dose de sêmem. Somente 15,6% apresentaram retorno de cio. Dessas reses com uma só dose, 70,7% foram diagnosticadas como prenhas. Das que receberam a segunda dose, 78,6% tiveram diagnóstico positivo. Desta forma, o programa resultou em um índice de prenhes de 71,9%. Outro resultado importante, e digno de nota, relacionado com a IATF adaptada, diz respeito às condições de retorno das reses ao cio. Esta situação teve importância significativa no resultado final, quando a analisada sob o prisma do momento específico em que ocorreram. Se tomarmos o oitavo dia, a data em que foi retirado o dispositivo e aplicado os medicamentos finais, como o momento zero do programa, as vacas inseminadas no primeiro e segundo dias após o oitavo dia (portanto, no nono e décimo dias após dia zero ), totalizaram 84,9% das vacas colocadas em serviço. Dessas reses, 60,1% foram diagnosticadas como prenhas. Do décimo segundo ao vigésimo dias após o dia zero, 5,2% das vacas apresentaram retorno de cio. Estas fêmeas foram reinseminadas e resultaram em um índice de prenhes de 82,6%. As reses retornadas neste período contribuíram com 4,2% do total de vacas prenhas de todo o programa. Este resultado foi particularmente importante, tendo em vista o fato que, normalmente, os técnicos não dão tanta atenção aos retornos de cio ocorridos nesse intervalo, por não acreditarem que eles possam ser cios férteis. Do vigésimo primeiro ao vigésimo sexto dias após o dia zero, o retorno foi relativamente desprezível. Isto ocorreu, provavelmente, em razão de algum fato relacionado com as possíveis correções que o tratamento hormonal pode ter promovido nas reses. Esta correção deve ter levado as reses a regularizarem o estro. Somente 0,4% das vacas repetiram cio neste intervalo, com um índice de prenhes de 100,0%. Este intervalo contribuiu com somente 0,4% do total de prenhes. Do vigésimo sétimo ao trigésimo oitavo dias após o dia zero, período esse compreendido pelo intervalo normal do ciclo, situado entre o décimo sétimo e o vigésimo oitavo dias do estro anterior, o retorno foi de 7,3% das fêmeas. Das vacas retornadas neste intervalo e reinseminadas, 78,8% foram diagnosticadas como prenhas. Isso resultou em uma contribuição de 5,8% para o total de prenhes do programa. O último intervalo de retorno avaliado, também apresentou resultado tecnicamente insignificante. Compreendido pelas reses que apresentaram retorno de cio em momento igual ou superior ao trigésimo nono dia após o dia zero, este intervalo tem uma importância particular no desenvolvimento do programa. Nele poderiam estar contabilizados os animais potencialmente problemáticos da propriedade, quando avaliados sob o ponto de vista reprodutivo. Apenas 2,2% das reses retornaram e foram reinseminadas neste período. A prenhes dessas fêmeas atingiu um percentual de 60,0%, contribuindo com apenas 1,3% do total de vacas prenhas do programa. Qualquer programa de produção dentro de uma fazenda, que vise transformar vacas vazias em vacas prenhas, através da inseminação artificial, deve levar em consideração as condições particulares em que o trabalho deve ser desenvolvido. Como o objetivo principal é emprenhar vacas, devemos evitar, de todas as formas, que decisões sejam tomadas, com base em exigências conceituais que não se comprovem na prática. Os custos desses programas são, geralmente, muito altos, quando considerados, principalmente, o volume de reses envolvidas. Qualquer iniciativa de trabalho nesta direção tem a capacidade de elevar os custos de produção, rapidamente, à casa dos cinco dígitos. Isto faz com que se exija muita responsabilidade dos elementos envolvidos em sua execução, com a finalidade de diminuir, ao máximo, as possibilidades de erros, os quais podem conduzir o projeto ao insucesso. Dessa forma, é importante que se avalie criteriosamente cada etapa do seu desenvolvimento, com a finalidade de retirar da alternativa, o máximo que ela possa proporcionar. Neste caso específico, descobrimos duas coisas importantes relacionadas com o programa de IATF. Primeiro, que cios fortes e férteis ocorrem neste intervalo de dois dias após a retirada do dispositivo, quando, geralmente, no protocolo normal, nenhum tipo de trabalho é realizado. Segundo que, ao contrário do que tecnicamente se supõe, a importância do intervalo existente entre o décimo segundo e o vigésimo dias após o dia zero é tão relevante quanto aquela compreendida pelo retorno normal cio que, nor- Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 6

malmente, ocorre próximo dos 21 dias. Desde os primeiros momentos em que nos envolvemos na discussão dos programas de Inseminação Artificial com Tempo Fixo (IATF) sempre tivemos a impressão de que, nos moldes em que fora idealizado ou vinha sendo difundido, dificilmente se ajustaria em uma propriedade, onde a técnica de inseminação artificial tradicional já vinha sendo empregada. Com toda estrutura necessária já montada, nada justificaria a condição de inseminar todas as fêmeas do programa em um horário pré-estabelecido, sem o menor controle ou certeza de que elas estariam realmente no momento ideal para que o serviço fosse realizado. A alternativa por si só é conceitualmente fantástica. A ideia de se conseguir a sincronização dos cios mediante a aplicação de medicamentos que estimulem e ajustem a ovulação das reses traz benefícios imensuráveis para uma propriedade pecuária. Daí a iniciativa que tivemos de estudar melhor o processo de trabalho e adotá-la com certa acomodação metodológica no protocolo, que decidimos denominar de IATF-Caipira. Os resultados finais foram, indiscutivelmente, encorajadores. Walter Magalhães Jr é Administrador de Empresas e Pecuarista em Dourados - MS... A Carta Pecuária é uma contribuição semanal no debate sobre as ferramentas de análise de mercado e negociação da pecuária brasileira. O texto aborda especialmente discussões sobre o segmento de engorda de bovinos e suas possíveis formas de negociação: mercado físico e também mercado futuro. Nessas análises são utilizadas diversas ferramentas técnicas de mercado, tais como gráficos, e também há o extensivo acompanhamento da dinâmica da oferta vs. demanda de animais acabados (machos e fêmeas) para os frigoríficos. O intuito é divulgar, democratizar e ampliar os conhecimentos dos envolvidos na cadeia pecuária brasileira. Sinta-se livre para ler, opinar e, se achar interessante, divulgar para seus amigos. Comentários, considerações e sugestões? Gostaria de indicar alguém para receber esse texto? Escreva para cartapecuaria@gmail.com Gostaria de anunciar seu produto ou marca nessas páginas? Entre em contato pelo cartapecuaria@gmail.com Carta Pecuária www.cartapecuaria.com.br cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 486 Página 7