O Estado neoliberal e os direitos humanos: A ofensiva contra os direitos sociais e fortalecimento do sistema penal punitivo

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Transcrição:

O Estado neoliberal e os direitos humanos: A ofensiva contra os direitos sociais e fortalecimento do sistema penal punitivo

Parte I DA CRISE DO ESTADO PROVIDÊNCIA AO NEOLIBERALISMO

Crise do Estado Providência Crise do Capital nos Anos 1970: crise clássica de superprodução Esgotamento do padrão de consumo Crise fiscal do Estado Insuficiências da medidas keynesianas anticíclicas Ofensiva monetarista Globalização econômica e financeira

Contexto histórico de ascensão do neoliberalismo Vitória de partidos conservadores na Inglaterra, nos EUA e na Alemanha Adesão dos partidos trabalhistas e socialistas às práticas neoliberais na Itália, na Espanha, na França, em Portugal e na Grécia Crise e desintegração da URSS Refluxo dos movimentos trabalhistas e sindicais

Teoria e prática do neoliberalismo Teoria: Estado mínimo e fim do BigGovernment Liberdade individual e abertura de oportunidades A força inexorável da globalização Prática: Estado mínimo para as classes subalternas e máximo para as classes dominantes e adensamento do Big Government carcerário Liberdade para os mercados Globalização excludente

Globalização e neoliberalismo As funções do Estado para os neoliberais e adeptos da panacéia da globalização: Eliminação do sistema de proteção social Responsabilidade fiscal e controle dos gastos públicos Redução de impostos e taxas Flexibilização e desregulamentação do mercado de trabalho Abertura comercial e flexibilização cambial

Taxa de desemprego na União Européia-2009

Parte II A OFENSIVA NEOLIBERAL CONTRA OS TRABALHADORES E CONTRA OS DIREITOS E POLÍTICAS SOCIAIS

Neoliberalismo e acumulação flexível O padrão produtivo taylorista e fordista crescentemente foi substituído ou alterado pelas formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas, das quais a chamada acumulação flexível e o modelo japonês ou toyotismo são os exemplos O modelo de regulação social-democrático, que foi o suporte do estado de bem-estar social foi solapado pela desregulação neoliberal, amplamente privatizante e anti-social

Características da acumulação flexível A produção passa a ser vinculada à demanda A produção busca ser mais variada e heterogênea Fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com variedade e polivalência de funções Tem como princípio o justin timee funciona sob o método kanban A produção é horizontalizada, no sentido de que o processo produtivo é transferido a terceiros O despotismoé mesclado como o envolvimento cooptativo, do qual os programas de qualidade total são o principal exemplo Desconcetraçãodo espaço físico produtivo através de estratégias como a flexibilização e a terceirização

Consequências para o mundo do trabalho Redução do proletariado fabril estável Incremento do novo proletariado, do subproletariadofabril e de serviços Precarização do trabalho: são os terceirizados, subcontratados, part-time, emprego temporário, etc. Aumento significativo do trabalho feminino, que tem sido preferencialmente absorvido pelo capital no universo do trabalho precarizado e desregulamentado Incremento dos assalariados médios e de serviços Exclusão dos jovens e dos idosos do mercado de trabalho nos países centrais Inclusão precoce e criminosa de mão de obra infantil no mercado de trabalho Aumento dos níveis de exploração Desemprego estrutural

Estado mínimo, flexibilidade e empregabilidade Os neoliberais apresentam duas ordens de argumentos para constatar a necessidade de mudanças nas relações de trabalho: 1) Os sistemas nacionais de relações de trabalho estariam caducos, pejados de legislação rígida que não permitiria ao capital a mobilidade necessária para fazer frente ao aumento da competitividade global (Cardoso, 2003, 88). 2) Há desemprego (continuado) porque a força de trabalho não está adequadamente qualificada para a nova realidade produtiva; e há desemprego (crescente) porque a lei impede que o ajuste ao choque de competitividade resultante da implementação do modelo [neoliberal] se faça ou via transferência de trabalhadores entre setores produtivos, ou via redução de salários (idem).

Parte III DO ESTADO SOCIAL AO ESTADO PENAL

Neoliberalismo e ascensão do estado penal Encarceramento massivo Condenações mais severas Leis com condenações obrigatórias mínimas Perpetuidade automática no terceiro crime ( three strikes and you re out ) Estigmatização penal Restrições à liberdade condicional Leis que autorizam construção de prisões de segurança máxima Aplicação da legislação criminal adulta aos menores de 16 anos Políticas de tolerância zero

Taxas de desemprego nos EUA e G-4

1. A ampliação dos gastos com segurança Gastos públicos com segurança, por área, nos EUA em bilhões de U$

2. Desemprego e encarceramento

Encarceramento massivo

Comparação com outras nações 1 Estados Unidos da América 760 3 Rússia 626 26 África do Sul 334 53 Brasil 227 57 Irã 222 59 México 207 76 Espanha 162 86 Reino Unido: Escócia 153 104 Austrália 129 115 China 119 117 Canadá 116 130 Portugal 104 132 Holanda 100 136 França 96 144 Itália 92 145 Alemanha 88

Proliferação das prisões americanas

Total da população em tutela penal (EUA, 1980/2005, em mil)

3. Ressurgimento e prosperidade do cárcere privado

Números de lugares nas prisões privada Ano Ocupação 1983 0 1988 4.630 1993 32.255 1998 132.572 2001 276.655

4. A política de ação afirmativa carcerária

5. Rigor das penas

6. Cultura do Medo e Controle Social: Taxa de criminalidade violenta nos EUA (índice por mil habitantes)

Cultura do Medo e Controle Social: Há mais crime do que havia no ano passado nos EUA?

7. A tolerância zero Perpetuidade automática no terceiro crime ( three strikes and you re out ) Estigmatização penal Restrições à liberdade condicional Severidade penal Redução da menoridade penal

Taxa de encarceramento no Brasil