Palavras-chave: representação cartográfica, transporte escolar, territorialidade.

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Transcrição:

REPRESENTAÇÃO CARTOGRAFICA DO TRANSPORTE ESCOLAR RIBEIRINHO NAS ILHAS DO MUNICÍPIO DE CAMETÁ-PA. Resumo: Adriana de Jesus Viana Veiga drick.veigaa@gmail.com Andressa Leandra Pantoja Ribeiro Ray-dr@hotmail.com Edir Augusto Dias Pereira edirgeo@gmail.com Universidade Federal do Pará Este estudo tem como tema a representação cartográfica do espaço de estudantes e barqueiros do transporte escolar do município de Cametá-Pa. Nesse sentido propõe se analisar a dinâmica que envolve o transporte escolar e consequentemente as relações que se processam dentro do espaço ribeirinho. O objetivo do presente trabalho é representar o espaço de estudantes e barqueiros do transporte escolar, analisar as condições territoriais, econômicas, ecológicas, culturais e políticas que condicionam essa politica educacional e territorial, e por fim refletir sobre os problemas do transporte escolar na busca de possíveis melhorias. Para a elaboração da pesquisa utilizamos o mapeamento participativo, o sistema de coordenadas geográficas (SIG), o GPS, e um levantamento de dados sobre o transporte escolar ribeirinho, além da aplicação de questionários semiestruturados. Os mapas produzidos permitirão o re-conhecimento desses espaços resultados da mobilidade territorial do transporte escolar, além disso nos permitirá compreender as relações que se processam dentro do espaço ribeirinho e as suas implicações no processo de organização da territorialidade ribeirinha, e as ações dos atores envolvidos nesse processo. Palavras-chave: representação cartográfica, transporte escolar, territorialidade. INTRODUÇÃO O presente trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado territorialidade e educação do campo ribeirinho: mapeamento participativo do transporte escolar nas ilhas do munícipio de Cametá-PA, coordenado pelo prof. Dr. Edir Augusto Dias pereira, nesse sentido o trabalho é fruto das discursões realizadas no

grupo de estudo- SITÍO 1. No município de Cametá, no nordeste do estado do Pará, existem mais de 100 ilhas, ocupadas pela população ribeirinha, Mais de 50% da população rural do município é constituída por ribeirinhos que residem em ilhas, várzeas e barrancos. A área territorial do município é de 3.018,36 km², formada 20,3% por rios e baías, 36,4% por campos naturais, 26,2% por várzeas e ilhas e 17,1% por terra-firme. (PEREIRA,2014). Atualmente no município existem cerca de 208 escolas na zona rural e 106 estão localizadas nas áreas ribeirinhas, por suas condições territoriais essas escolas necessitam do transporte escolar. O transporte escolar é uma politica assegurada pela constituição federal, e garante acesso às instituições de ensino, nas comunidades ribeirinhas, esse serviço é tão essencial quanto à própria escola, principalmente com a implantação da politica de nucleação das escolas. Apesar de ser uma politica publica de extrema importância o transporte escolar enfrenta uma serie de problemas e irregularidades que vão desde a contratação das embarcações até o seu funcionamento. O transporte escolar é uma politica educacional e por está ligado a mobilidade e a territorialidade ribeirinha é também uma politica territorial. OBJETIVOS Reconhecendo a importância do TE para a educação e para a comunidade ribeirinha propomos este trabalho com o objetivo de representar o espaço de estudantes e barqueiros do transporte escolar, analisar as condições territoriais, econômicas, ecológicas, culturais e políticas que condicionam essa politica educacional e territorial, e por fim refletir sobre os problemas do transporte escolar buscando produzir indicadores de qualidade para o mesmo. Visando a reafirmação desses territórios e o reconhecimento dos mesmos, buscamos por fim Compreender toda a dinâmica que envolve o transporte escolar é compreender as relações que se processam dentro do espaço ribeirinho e as suas implicações no processo de organização da territorialidade ribeirinha. METODOLOGIA Diante do tema proposto, e de suas especificidades optou se por uma pesquisa de cunho qualitativo, com levantamento bibliográfico e documental sobre o transporte 1 Grupo de estudo em cultura, território e resistência da Amazônia Tocantina.

escolar, foram levantados dados na secretaria municipal de educação, foram realizadas visitas nas escolas ribeirinhas com aplicação de questionários semiestruturados e entrevistas com barqueiros, estudantes e gestores das escolas. Para a elaboração da pesquisa utilizamos o mapeamento participativo, o sistema de coordenadas geográficas (SIG), o GPS, e por fim a produção de mapas para o re-conhecimento desses espaços da mobilidade ribeirinha, A representação espacial desses espaços está relacionada com a mobilidade territorial ribeirinha expressa em seu território- arquipélago, (BONNEMAISON, 2002 ) O TRANSPORTE ESCOLAR O Transporte escolar no Brasil, tem se constituído em uma das principais estratégias da política educacional do governo para combater a evasão escolar (CRUZ e MOURA, 2013), bem como na busca da melhoria, de certo modo, das condições materiais de ensino-aprendizagem em escolas das zonas rurais, ampliando-se com o fechamento de escolas multisseriadas e a construção de Escolas Nucleadas ou Escolas Polos (GEPERUAZ, 2010). A política de transporte escolar é uma politica educacional indissociável da dimensão territorial, assim ela se configura como uma modalidade de politica territorial, pois, entre outros fatores, envolve deslocamento no espaço de pessoas do campo de diferentes regiões do país através de veículos de transporte coletivo e público. Evidentemente, por ser uma política educacional basicamente voltada para atender especificidades do campo, sua expressão territorial se torna ainda mais significativa. Sendo direito dos estudantes e dever do Estado, o transporte escolar de estudantes do campo está assegurado por uma série de dispositivos legais e regulatórios, alguns específicos do campo (GEPERUAZ, 2010), estabelecidos nas últimas décadas do século XX. Assim, compreende-se que: O transporte escolar consiste em uma política assegurada pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no artigo 4, e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 54, com o objetivo de promover o acesso do alunado às escolas, condição básica para a garantia do direito à educação. (CRUZ E MOURA, 2013, p. 2)

Foram desenvolvidos três Programas pelo Ministério da Educação (MEC) através dos quais se institui a política do transporte escolar no Brasil: o Programa Nacional de Transporte Escolar (PNTE), o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) e o Programa Caminho da Escola. (CRUZ e MOURA, 2013, p. 3). Reali (2009) relaciona uma série de problemas envolvendo os veículos, os condutores do transporte escolar e os alunos transportados. Ainda que apenas identifique os problemas enfrentados pelo transporte escolar por vias de circulação terrestres, alguns destes também se aplicam ao transporte escolar fluvial através de embarcações, já que o governo federal estabelece que: Os alunos podem ser transportados em embarcações nas localidades onde o transporte fluvial ou marítimo (rios, lagos, lagoas, oceano) for mais eficiente. É obrigatório o uso, por todos os alunos, de bóias salva-vidas. O condutor da embarcação deverá possuir curso específico para transporte de pessoas, promovido pela Capitania dos Portos. A embarcação, motorizada ou não, deverá estar registrada na Capitania dos Portos, e a autorização para trafegar, exposta em local visível. (BRASIL, 2005: 10). Mas, para o transporte escolar fluvial nenhuma dessas normas são obedecidas. E ainda, é preciso observa outras exigências quanto a embarcação, a qual deverá possuir: cobertura para proteção contra o sol e a chuva; grades laterais para proteção contra quedas. A embarcação deverá ser de boa qualidade e não ter mais de sete anos de uso (BRASIL, 2005, p. 11). Na Amazônia, o transporte escolar fluvial apresenta irregulares no cumprimento dessas exigências (GEPERUAZ, 2010). TRANSPORTE ESCOLAR RIBEIRNHO No município de Cametá-PA o transporte escolar enfrenta uma serie de problemas, primeiramente o processo político de gestão é bastante complexo e problemático, em relação: a contratação, a regulação e ao funcionamento do transporte escolar fluvial. Este apresenta sérias irregularidades e conflitos envolvendo a política (partidária), a gestão pública municipal, direção e professores de escolas, pais de estudantes ou responsáveis, estudantes e barqueiros do transporte escolar fluvial.

A contratação das embarcações é realizada principalmente por indicação e na mudança de gestão há uma nova reorganização do transporte, ou seja, o transporte sofre uma profunda influencia da politica partidária. Além disso, são os barqueiros os responsáveis com a despesa do combustível e com a manutenção das embarcações recebendo em media R$ 700,00 reais por mês. Esse valor é insignificante em meio às despesas gastas, em meio a esses problemas o pagamento chega a atrasar em media 4 meses o que interfere diretamente na frequencia dos alunos. Dentre as reinvindicações dos mesmos as principais estão ligadas ao aumento salarial, pagamento regular e melhores condições de trabalho. O transporte escolar ribeirinho assume uma particularidade em razão das suas características geográficas e da distribuição dispersa da população no campo ribeirinho. Cametá possui uma extensa e densa rede hidrográfica (rios, furos, igarapés) e mais de 100 ilhas, nas quais se localizam a maioria das mais de 500 localidades ribeirinhas e onde reside quase 30% da população do município. A maioria das 238 escolas existentes em Cametá está em localidades rurais (estradas, ilhas e beiras de rio), sendo que apenas 20 dessas estão na cidade e também em torno de 20 nas vilas; destas escolas rurais, a maioria se localiza em ilhas e localidades ribeirinhas do município (SEMED- Cametá, 2014). A maioria das escolas rurais se localizam em ilhas e localidades ribeirinhas dos municípios. Segundo dados da SEMED, em 2014, dos 600 veículos que prestam serviços de transporte escolar fluvial para SEMED-Cametá, 540 eram barcos, transportando diariamente cerca de 20 mil estudantes (dos 38 mil estudantes da rede pública municipal). A rede hidrográfica do município envolve uma densa rede de rios, igarapés e furos que em determinado período do dia (maré baixa) e do ano (verão amazônico) se tornam difíceis de transitar. Muitas crianças precisam se deslocar por conta própria de suas casas, através de cascos a remo (canoas) e/ou através de barco a motor (chamado rabudos ) até determinada posição onde o barco do transporte escolar passa. Onde se verifica o entrelaçamento mais complexo e problemático da territorialidade com a educação do campo ribeirinho, da territorialidade ribeirinha com a territorialidade do Estado (via poder público municipal) é, com certeza, na política

territorial do transporte escolar. A territorialidade nesse contexto é entendida em termo geográfico, envolvendo tanto as relações de poder quanto os sentimentos de pertença dos grupos sociais, ou seja, suas diferentes formas de identidade territorial (SACK, 1986. SOUZA, 1995; 2009; HAESBAET, 2004; 2007; 1999). Portanto, a territorialidade do transporte escolar não tem apenas um sentido instrumental, mas também simbólico e cultural relacionado às representações do espaço e ao vivido, como compreendido pelo geógrafo Haesbaert (2007). Nesse sentido, conflitos territoriais em torno do transporte escolar envolvem uma lógica econômica: os custos ao cofre público para manter esses barcos; comunidades que pressionam o poder público, através da direção das escolas e professores responsáveis, para contratar mais barcos que o necessário para transportar os estudantes, em vista do salário que o barqueiro recebe; empresas que pressionam para receber concessão da SEMED para fazer a licitação das embarcações; atrasos e insuficiência no pagamento dos barqueiros. Entrelaçada com está há também uma lógica política: barqueiros de famílias das comunidades que não apoiaram ou votaram nos candidatos do partido no governo tendem a ser excluídos; a SEMED, em vista dos problemas, realiza a licitação direta do barcos; convênio com o governo do estado do Pará para transportar do interior estudantes que fazem ensino médio na cidade e vilas. Estas também implicam uma lógica cultural: pais que não querem que seus filhos estudem em escolas das próprias comunidades de ilhas ou próximas, mas preferem mandar seus filhos para escolas da cidade e vilas, exigindo transporte escolar da SEMED. E há também uma lógica mais ecológica ou territorial: conflito no que diz respeito às rotas que o transporte escolar deve seguir entre os gestores e técnicos da SEME-PMC e os barqueiros, que conhecem melhor os trajetos, condições e tempo de percursos pelos rios, furos, igarapés; condições de navegabilidade desses pequenos canais de circulação fluvial durante determinados períodos do dia e do ano, dificultadas pelo assoreamento dos canais. Além disso é o regime da mare quem define o tempo do trajeto do transporte; os obstáculos enfrentados também são de ordem ecológica, praias, paus, pontes são obstáculos impostos pela natureza.

A regulamentação exigida para o transporte escolar, não é cumprida pela maioria dos barcos utilizados para locomoção da criança: os barqueiros não têm cursos e a documentação exigida e os barcos não possuem as condições adequadas de segurança(coletes salva-vidas, proteção para o eixo dos motores, grades na janela); horários de embarques irregulares, pontos e pontes de embarque e desembarque de difícil acessibilidade. REPRESENTAÇÃO DO TRANSPORTE ESCOLAR Sendo o transporte escolar de grande importância, propomos o mapeamento participativo para representação do transporte escolar para que os atores envolvidos possam se organiza, reivindicando melhorias para a comunidade como um todo, além de provocar nas comunidades ribeirinhas mais principalmente nas escolas, os debates sobre as questões que permeiam essa politica. O mapeamento foi realizado em duas escolas de localidades diferentes a E.M.E.F Mª Regina Aquime na localidade Mapirai e na E.M.E.F Raimundo Ignacio Ferreira. Foram realizados debates em sala sobre o transporte escolar ofertado e posteriormente as oficinas com a produção de croquis das rotas do transporte escolar, com barqueiros, estudantes e professores da escola. Como o mapeamento que buscamos é participativo, a pesquisa também busca apresentar resultados que possam fazer com pais, professores, gestores de escolas e estudantes reflitam e compreendam as estratégias territoriais e não-territoriais (SACK, 1986; 2011) que estão envolvidas no transporte escolar, podendo assim construir estratégias de ações coletivas para superação das dificuldades e conflitos identificados. O mapeamento de forma participativo permite que os sujeitos envolvidos, sejam participantes ativos na elaboração dos mapas, que se tornam mais importantes devido a grande relação que os mesmos possuem com seu Território. De acordo com ANDRADE, CARNEIRO, 2009 no mapeamento participativo (participatory mapping, community-based mapping), o mapeamento é considerado como um instrumento para a compreensão sobre como as comunidades utilizam o espaço. As tecnologias da geoinformação podem ajudar a demonstrar uma ligação

próxima e contínua entre a comunidade e sua terra, ilustrando as dimensões residenciais, espirituais, econômicas e de relação homem-terra, como sua história, taxonomias culturais de flora e fauna e outros fenômenos e processos naturais, nomes de lugares, mitos e lendas, entre outros aspectos. Assim, a informação espacial representa um recurso de construção de conhecimento importante para apoiar os objetivos mais amplos do gerenciamento baseado na comunidade. Nessa perspectiva o mapeamento realizado permite que os barqueiros visualizem seus trajetos e assim possam organizar a distribuição das rotas de forma eficaz, e com a produção dos mapas será permitido que a comunidade em geral busque melhorias no transporte escolar de acordo com as necessidades de cada localidade ribeirinha. O mapeamento de forma participativa,, refere-se amplamente a qualquer método utilizado para obter e registrar dados espaciais em parceria com os atores sociais(andrade E CARNEIRO,2009), nesse caso estudantes e barqueiros do transporte escolar, Sendo assim, o mapeamento não inclui apenas um conjunto de ferramentas de visualização de dados, mas um processo participativo que envolve os desenvolvedores/ usuários dos mapas, desde a coleta e sistematização de informação até a confecção destes mapas para auxiliar o processo decisório. O mapeamento participativo surge como alternativa para a aproximação entre produção e uso dos mapas, reduzindo os vieses de seleção e simplificação dos objetos espaciais, assumidos ao longo do processo de sua criação20. Assim, o mapeamento participativo, pode ser considerado como o processo de espacialização e registro do conhecimento de um dado grupo ou comunidade acerca de uma determinada paisagem ou localidade. O resultado de um mapeamento participativo não necessariamente gera mapas segundo as normas da cartografia. Relatos, ilustrações, trajetos, roteiros esquematizados podem ser objetos iniciais ou finais destes mapeamentos (ANDRADE E CARNEIRO, 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS O transporte escolar ribeirinho em todas as suas instâncias tem suas especificidades, analisando essa politica percebe se a grande importância que o mesmo tem para a educação ao mesmo tempo em que influência na frequência e no processo de

ensino aprendizado dos estudantes. O transporte escolar merece a atenção da gestão publica e se faz necessário um maior investimento no serviço. Assim representar o transporte escolar significa compreender a dinâmica territorial da população ribeirinha, significa compreender o transporte escolar em suas dimensões territoriais, politicas e econômica. O mapeamento participativo é um método que permite a junção entre as tecnologias e os conhecimentos geográficos adquiridos pelas populações ribeirinhas. A representação do transporte escolar das escolas ribeirinhas do município de Cametá nos permitirá criar indicadores de qualidade para o transporte escolar, além de provocar nesses atores sociais a busca de melhores soluções para essa politica educacional, dentre elas a construção de uma cooperativa que vise solucionar o atraso no pagamento dos barqueiros, a construção de embarcações especificas para o transporte escolar e adaptadas às condições ecológicas das ilhas do município de Cametá, os mapas produzidos permitirão visualizar as distancias percorridas do transporte escolar, os obstáculos, e sua dimensão territorial. Nesse sentido verifica se a grande necessidade do transporte escolar nas ilhas do município de Cametá-PA. BIBLIOGRAFIA ACSELRAD, Henri e COLI, Luis Régis. Disputas territoriais e disputas cartográficas. In: ACSELRAD, Henri (org.). Cartografias sociais e território. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2008. p.13-44. BARROS, Oscar Ferreira; HAGE, Salomão Mufarrej e TENÓRIO, Edel Moraes. Políticas de Nucleação e Transporte Escolar: construindo indicadores de qualidade da educação básica nas escolas do campo da Amazônia. In: Caderno de Resumos do III Encontro Nacional de Pesquisa em Educação do Campo. Brasília, 6 a 4 de agosto de 2010. BRASIL. Cartilha do transporte escolar. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, 2005.

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