A Radiação do Corpo Negro e sua Influência sobre os Estados dos Átomos

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Transcrição:

Universidade de São Paulo Instituto de Física de São Carlos A Radiação do Corpo Negro e sua Influência sobre os Estados dos Átomos Nome: Mirian Denise Stringasci Disciplina: Mecânica Quântica Aplicada Professor: Philippe W. Courteille

A radiação do corpo negro e sua influência sobre os estados dos átomos Introdução O espectro de radiação térmica da matéria condensada é um desses problemas que mostram, de forma simples, a natureza quântica do mundo sub-atômico, manifestada numa escala macroscópica. A apresentação de um modelo para a descrição deste tipo de radiação por Planck, em 1900, é considerado o nascimento da Mecânica Quântica, embora ela realmente só tenha se desenvolvido cerca de 30 anos depois. De fato, como veremos a seguir, a introdução de níveis de energia discretos foi essencial para o sucesso do modelo proposto por Planck. Corpo Negro Se a temperatura de um corpo for maior que a temperatura do ambiente onde está inserida, sua taxa de emissão de radiação é maior que sua taxa de absorção. Se sua temperatura for menor que a do ambiente, sua taxa de absorção de radiação é maior que sua taxa de emissão. Se o corpo está em equilíbrio térmico com o seu meio, a taxa de emissão de radiação é igual à taxa de absorção. Corpo negro é definido como um meio ou substância que absorve toda energia incidente sobre ele, nenhuma parte da radiação incidente é refletida ou transmitida. É uma classe de corpos que emite um espectro de caráter universal, ou seja, independente do material e da forma do corpo, dependente apenas da temperatura. Um corpo negro pode ser aproximado a um pequeno orifício que conecta um objeto com uma cavidade ao seu exterior como mostrado na figura 1. Assim, quase a radiação incidente sobre o orifício, é absorvida por ele. A radiação incidente sobre o orifício é refletida seguidamente pelas paredes internas da cavidade, e dificilmente conseguirá sair pelo orifício. Figura 1. Um objeto com uma cavidade conectado ao seu exterior por um pequeno orifício, este orifício pode ser aproximado a um corpo negro. O orifício tem propriedade de um corpo negro; portanto, a radiação que está saindo por ele tem propriedades de radiação de corpo negro, mas, já que ela é

meramente uma amostra da radiação que existe dentro da cavidade, podemos dizer que a radiação dentro da cavidade tem propriedades de radiação de corpo negro. Lei de Rayleigh-Jeans: descrição clássica Dois pesquisadores, Rayleigh e Jeans, desenvolveram uma teoria na tentativa de explicar os fenômenos experimentais relativos ao corpo negro. Como exemplo mais simples de um corpo radiante, tem-se o oscilador harmônico linear de freqüência própria ν. Para este oscilador, pode-se determinar a energia radiada por segundo; sendo esta radiação equivalente à radiação emitida por um dipolo oscilante a qual é dada pela equação (1) μ = (1) onde é a energia média dos osciladores. Pela lei de eqüipartição de energia, é possível chegar a este valor de energia, dado na equação (2) = = (2) onde K B é a constante de Boltzmann e T é a temperatura. Substituindo o valor de na equação de µ ν obtém-se (3) μ = (3). Entretanto, por essa lei, o aumento da freqüência implica em aumento da energia radiante até que limν => µ ν. Esta incoerência ficou conhecida como catástrofe do ultravioleta. A comparação desta teoria clássica com os resultados experimentais pode ser visto na figura 2. Figura 2. Comparação entre a teoria clássica de Rayleigh-Jeans e experiência. Podemos ver que há concordância apenas quando a freqüência é muito baixa ou a temperatura muito alta. Lei de Planck Para resolver este problema e completar a teoria, Planck postulou que a energia emitida por cada oscilador harmônico se desse em pacotes (quantum). Com isso ele quis dizer que a energia de cada pacote era igual a número inteiro de um dado valor mínimo

de energia, isto é, ε=nε 0, sendo n um número inteiro, n=1,2,3,... Matematicamente isto significa substituir a soma contínua na equação de Rayleigh-Jeans por uma soma discreta. Tendo e energia média dada por (4) = Substituindo este valor de na equação da lei de Rayleigh-Jeans, e ε 0 =hν, obtém-se a equação de Planck para a radiação emitida pelo corpo negro (5) = (4). Pode-se traçar o gráfico de para diversos valores de temperatura, como mostrado na figura 3. (5). Figura 3. Gráfico da densidade espectral de acordo com a lei de Planck para diferentes valores da temperatura. A área sob as curvas dá a densidade total de energia, uma grandeza que aumenta com a temperatura. O máximo de cada curva indica qual a freqüência predominante. energias. Essa função é limitada matematicamente em ambos os extremos: - para hν/k B T >>1: =, que é o limite de Wien para altas - para hν/k B T <<1: = que é o limite de Rayleigh-Jeans, útil na região espectral das microondas (l > 1mm), e que está de acordo com o modelo clássico. Lei de Wien Em função do comprimento de onda λ, a função de Planck pode ser reescrita como (6) = Uma das propriedades da função de Planck é que o comprimento de onda referente ao seu ponto de máximo é inversamente proporcional à temperatura para a qual ela é calculada. Essa é a lei do deslocamento de Wien. Em outras palavras, o valor do comprimento de onda, para qual a radiância emitida por um corpo negro é máxima, é (6).

inversamente proporcional à sua temperatura. Diferenciando a função de Planck com relação ao comprimento de onda e igualando a zero, obtém-se (7) = [] (7). Portanto, quanto maior a temperatura de um corpo, menor será o comprimento de onda para o qual o corpo emite radiação máxima. Dessa forma, qualquer corpo luminoso que se resfria progressivamente deixa de emitir luz visível (por exemplo, um arame incandescente). Lei de Stefan- Boltzmann A radiância total emitida por um corpo negro pode ser obtida integrando-se a função de Planck em todo o domínio de freqüência, como em (8) = = (8) onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann (= (5,6696 ± 0,0025) x 10-8 Wm -2 K -4 ). Esta é a Lei de Stefan-Boltzmann. Efeito da Radiação do corpo Negro sob Transições Atômicas Assumindo dois estados de energia distintos, N 1 e o estado mais elevado N 2, estes são relacionados com suas taxas de transições P 12 e P 21, respectivamente por (9). = (+1) = (9) sendo o número médio de fótons em particular. Além disso, para se ter um equilíbrio térmico, obtem-se (10). =exp ( ). (10). E, substituindo na energia do oscilador harmônico, obtémse (11) Então, = ()=h( ( (/) +1/2). (11) Átomos de Rydberg é uma denominação genérica para indicar qualquer átomo que possua um elétron num estado quântico elevado, ou seja, são sistemas excitados em que o elétron é promovido a um nível com número quântico principal n muito grande. Em um átomo de Rydberg, a correção de seu tempo de vida com influências do corpo negro pode ser calculada com a base no cálculo de Gallagher (12) = +. (12) Onde =. (13) Sendo T o tempo de vida a uma determinada temperatura T não nula, é o tempo de vida sem influência do corpo negro, é referente ao efeito de radiação do corpo negro no átomo e é tabelado. Observação importante: Todas as leis físicas obtidas neste trabalho se basearam na existência de equilíbrio termodinâmico. A atmosfera obviamente não se encontra em tal equilíbrio, pois o campo de radiação não é constante e nem a sua temperatura é constante em todos os pontos!

Referências - Física Quântica - Robert Eisberg e Robert Resnick, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1979. - Thermal Physics - Charles Kittel e Herbert Kroemer, W.H. Freeman and Company, San Francisco, 1980. - http://vsites.unb.br/iq/kleber/cursosvirtuais/qq/aula-4/aula-4.htm, acessado em 14/06/11. - http://www.fisica.ufs.br/egsantana/cuantica/negro/radiacion/radiacion.htm, acessado em 14/06/11. - http://omnis.if.ufrj.br/~marta/cederj/quanta/mq-unid2-textocompl-1.pdf, acessado em 14/06/11. - http://www.dca.iag.usp.br/www/material/akemi/fisicaii/apostila_cap_02.pdf, acessado em 14/06/11. - http://www.ifsc.usp.br/~teses/t25092006nascimento.pdf, acessado em 20/06/11. - Tese de mestrado de Kilvia M. Farias Magalhães, Instituto de Física de São Paulo, Universidade de São Paulo (1999). -Jacques Vanier, The quantum physics of atomic frequency standards, volume 1.