Lançamento do Iivro de Ilídio Pinho 10 de setembro de 2015 Intervenção do Reitor, Prof. Doutor Manuel António Assunção A todos dirijo uma saudação muita amiga porque este é o mote para a sessão de hoje: a pretexto do lançamento de um livro é, também, muito, por amizade para com o Eng. Ilídio Pinho que nos reunimos aqui. Não, não quero desmerecer o livro, notável, que todos neste momento já devem ter e de que outros falarão mais e melhor do que eu. Mas a complexidade e o valor da figura que lhe está associada são tão grandes que nunca uma obra, por maior que seja, pode mascarar esse mérito de quem construiu e viveu a estória que o livro conta. Daí a amizade e admiração que todos, muito justamente, dedicamos à pessoa que nos congrega agora; e que a presença maciça neste grande auditório vibrantemente traduz. 1
Honra a Universidade de Aveiro e honra-me, naturalmente, a mim a escolha deste palco com a presença de tantos ilustres convidados. Sabemos todos do carinho, orgulho e dedicação que Ilídio Pinho nutre pela sua terra, Vale de Cambra, de que foi, aliás, autarca ele próprio. E da identificação que daí decorre com o distrito de Aveiro -um conceito em rápida via de extinção- e, por razões semelhantes, com a Universidade de Aveiro. Agradeço-lhe muito o gesto de querer fazer neste cenário a apresentação do seu livro: "Ilídio Pinho: uma Vida. O Empresário e a Utilidade Pública". Deixem-me dizer-lhes, no entanto, que faz todo o sentido. Porque a ligação do Sr. Eng. a esta casa é já antiga. Tendo sido membro do Conselho da Universidade, integra, actualmente, o Conselho de 2
Curadores da Fundação Universidade de Aveiro. Mas são inúmeras as colaborações connosco, as contribuições dadas, as ideias trocadas, as vezes que os nossos caminhos se cruzaram, continuam a cruzar e cruzarão. Deixem-me destacar algumas, na medida em que elas são reveladoras da estatura do homem que eu gostaria de homenagear; e que assim ajudarão à leitura do livro que aqui nos reúne. Detém hoje a UA uma Cátedra Convidada em Neurociências atribuída pela Fundação que, em memória do filho e com inequívoca preocupação pela ciência e seus benefícios, Ilídio Pinho criou. Para além, naturalmente, da generosidade do gesto, importa sublinhar a correcta antecipação que foi feita do impacto que a contratação de investigadores de topo teria. Foi a Cátedra decisiva no resultado de Excelente 3
que a nossa Unidade de Investigação em Biomedicina obteve na avaliação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia; assim como vem sendo importantíssima na atracção de verbas competitivas, através de projectos que os investigadores, a ela ligados, propuseram e lideram; ou ainda na iniciação e reforço de parcerias internacionais com instituições estrangeiras de grande prestígio. É pena que tão poucos empresários, em Portugal, sigam o comportamento inteligente e exemplar -mais um- do Eng. Ilídio Pinho que compara com as melhores práticas de sociedades que aprendemos a respeitar. A ideia da Fundação Ilídio Pinho é um paradigma do Empreendedor Permanente, que o livro profusamente retrata, e do crescente sentido de utilidade pública com que Ilídio Pinho vem ilustrando a sua vida. A criação do 4
Ciênciainvest é outro caso, onde os nossos percursos se encontraram e que quero menciona aqui. Juntando Universidades, empresas, instituições sem fins lucrativos e entidades públicas, a iniciativa foi pioneira no chamar a atenção - tentando criar as condições necessárias - para a valorização económica do conhecimento, numa altura em que a cultura dominante no meio académico e fora dele era ainda muito incipiente a esse respeito. E que dizer do Ciência na Escola? Aproveito, desde já, o ensejo para saudar os meus colegas do ensino básico e secundário que vieram até cá, exactamente associados ao melhor pretexto possível: o Ciência na Escola. Porque se trata de um programa de grande fôlego, que promove o gosto pela aprendizagem e pela ciência, e a iniciativa de estudantes e professores em 5
torno do conceito de projecto. Mas que não quis ficar por aí -e já seria muitíssimo- antes procura incentivar a aplicação das ideias, estudar a possibilidade da sua transformação em valor e, caso as coisas efectivamente tenham pernas para andar, chegar à fase de desenvolvimento de novos produtos comercializáveis, seja através do licenciamento seja através da constituição de empresas. Esta conjugação dos temas promoção da cultura científica e empreendedorismo merece, como muitos sabem, amplo acolhimento e prática na UA, que a eles dedica políticas e instrumentos próprios como sejam a Fábrica de Ciência e a Incubadora de Empresas; bem como entusiasmo, tempo e energia de múltiplos actores. Porque são dois temas essenciais para Portugal: para uma cidadania mais consciente e responsável, na qualificação das políticas públicas, no enaltecer o 6
potencial do conhecimento para a criação de valor; e no desenvolvimento da confiança em si próprio e do ousar sonhar que são fundamentais ao espírito empreendedor. Fez bem o Ministério da Educação e Ciência em dedicar a esta "menina dos olhos" do Sr. Eng. o novo impulso que os milhares de intervenientes merecem. Parece-me, naturalmente, apropriado o acompanhamento que a Secretaria de Estado da Inovação está a fazer ao assunto. E escusado será dizer que a UA reconhece ao Ciência na Escola um interesse estrutural para o país; projeto este ao qual, de modo empenhado, prestaremos continuadamente todo o nosso apoio. Mas regresso ao livro. "A memória é a consciência inserida no tempo" escreveu Fernando Pessoa. Algo que ilustra bem o percurso evolutivo de Ilídio Pinho, 7
muito determinado pelas suas próprias escolhas, e que a obra agora exposta bem documenta. Muitas coisas foram escritas e ditas sobre a importância da memória para a história dos povos e para a identidade dos países. Julgo que neste campo das memórias dos nossos mais proeminentes empresários, industriais e, desejavelmente, empreendedores, como Ilídio Pinho gosta de singularizar, é muito pobre o nosso acervo. Seria absolutamente pertinente corrigir esta trajectória quanto antes, aproveitando a possibilidade de dispor do máximo de testemunhos em nome próprio. O que quero sublinhar é que o país precisa de uma Biblioteca dos casos industriais e de empreendedorismo de sucesso, relatados de preferência na primeira pessoa. Justificam-se mais biografias, ensaios, dissertações de mestrado ou teses de doutoramento, outras abordagens, sobre esta temática. Para além do seu 8
mérito absoluto -e quando o lerem vão concordar comigo sem a mínima dúvida-, espero que este livro possa trazer esse bónus adicional de entusiasmar pares do empreendedor agora biografado, mas também editores e livreiros, académicos e estudiosos para que a tal Biblioteca se vá constituindo. Eu confesso, aliás, que essa foi uma das razões que me levou a uma adesão imediata à ideia do livro. Tive o privilégio de acompanhar de bastante perto a feitura e o parto demorado -muito para lá dos nove meses, não é verdade Sr. Eng.?- da obra. Por isso tenho o imperativo de consciência de destacar o trabalho do Professor José Manuel Mendonça, principalmente, mas também de outros colaboradores próximos do Eng. Ilídio Pinho. O livro foi sendo construído e escrito num interessante mano-a-mano 9
entre autor e biografado que, por isso mesmo, o não foram propriamente - digo, de um modo estanque -, nunca assumindo a separação de papéis habitual nestes casos. Vale a pena ouvir a explicação do processo e desfrutar do resultado. Não vou usar nenhuma citação sua, estimado amigo, para fechar estas palavras porque para conhecerem essas, e são muitas, têm mesmo que ler o livro. Prefiro referir o dramaturgo Eugene O'Neill: "As pessoas que têm êxito e não se esforçam na direcção de um maior fracasso são as classes médias de espírito. O deteremse no êxito é a prova da sua insignificância de meiatigela. Quão mesquinhos devem ser os seus sonhos". O Sr. Eng. não é desses, nunca se sentou à sombra dos louros, nunca deixou de arriscar e de sonhar. Bem haja e muito obrigado pelo livro! 10