Senhores Vice-Reitores, Antigos Reitores e Professores de outras. Senhores Presidentes e Representantes de Autarquias

Transcrição

1 Sessão de outorga do grau de Doutor Honoris Causa, 19 de abril de 2017 Intervenção do Senhor Reitor, Prof. Doutor Manuel Assunção Senhor Professor Amadeu Soares Senhor Professor Arsélio Pato de Carvalho Senhores Reitores que me precederam Senhores Membros do Conselho Geral Senhores Vice-Reitores e Pró-Reitores Senhora Administradora Senhor Presidente da Associação Académica Senhores Vice-Reitores, Antigos Reitores e Professores de outras Universidades Senhores Presidentes e Representantes de Autarquias Monsenhor João Gaspar, em representação do Senhor Bispo de Aveiro Demais Autoridades Judiciais, Militares, Religiosas, Civis e Académicas Senhores Convidados Minhas Senhoras e Meus Senhores 1

2 Cumprimento todos os que aceitaram o convite para, com a Vossa presença, dignificarem esta cerimónia. Um doutoramento Honoris Causa representa, em primeiro lugar e acima de tudo, a consagração do mérito absoluto do homenageado; de alguém que, por virtudes próprias e raras, do seu percurso de vida, sobressai, sobremaneira, de entre os demais. Não deixa, todavia, de refletir, mimetizadas naquele que se enaltece, alguns dos valores, das escolhas e dos desígnios, dos exemplos que são caros à instituição que outorga o grau. Essa tem sido aliás prática corrente nesta casa. O caso do Professor Arsélio Pato de Carvalho que saúdo, efusivamente e com muito afeto, não é exceção. Identificamos nele muito que tem a ver connosco; e como alguém que ao mirar-se ao espelho quer vislumbrar uma imagem de que gosta, queremos acreditar que detemos também algumas das melhores características que o Prof. Pato de Carvalho indubitavelmente possui. Não vou, naturalmente, proceder ao laudatório, devido e justo, porque cabe a outro fazêlo. Permitam-me, contudo, que assinale alguns desses pontos comuns que sou capaz de destrinçar, quando se compara o nosso próprio percurso com o que o do nosso laureado encerra. A partilha de uma visão e de uma prática, alargada e diversa, da missão da Universidade: que, para além da procura de conhecimento novo e da educação e formação dos cidadãos, cultiva uma relação intensa com o território e com a sociedade que nos cerca. A preocupação pela comunicação em ciência, consciente da importância desta na qualificação das escolhas de cada um, na definição das melhores políticas públicas, na sensibilização para a importância da investigação e do conhecimento, e, acima de tudo, no despertar dos sonhos nos jovens sem os quais não há vocações assumidas, nem novas gerações de cientistas. 2

3 O empenho no ensino experimental das ciências, alicerce fundamental para um ensino mais inclusivo e com mais oportunidades de prosseguimentos de estudos. Estas preocupações pela relação com o território onde nos inserimos; pela promoção da compreensão pública da ciência lato senso; pelo aumentar da cultura científica e tecnológica em geral; pela criação de melhores bases por um ensino mais adequado, mais eficaz e mais personalizado estão bem presentes no Instituto de Educação e Cidadania edificado na Mamarrosa, terra natal de Arsélio Pato de Carvalho. Uma iniciativa pela qual temos o maior apreço e com a qual, desde a primeira hora, colaboramos; em particular, através da nossa Fábrica de Ciência Viva. É, pois, de Oliveira do Bairro, da Região de Aveiro, que falamos. Partindo bastante cedo daqui, em demanda de paragens americanas longínquas, quis o futuro Doutor regressar às suas raízes, enraizando nelas valores e dinâmicas com que muito nos identificamos. São muitos outros os pontos de contacto que podemos sublinhar. O pioneirismo, evidente na criação da licenciatura em Bioquímica e em intervenções noutras áreas e pilares fundamentais do que vieram a ser as Ciências da Saúde e da Vida no nosso país. De um modo muito apropriado e simbólico, houve oportunidade de inaugurar, um pouco antes desta cerimónia, a exposição de posters do Dia da Bioquímica que decorre aqui, hoje. Os setores de investigação onde Pato de Carvalho fez caminho excecional entrecruzamse, diretamente, com três das nossas Unidades de Investigação e com três dos nossos Departamentos: o IBIMED Instituto de Biomedicina de Aveiro, o QOPNA - Unidade de Investigação de Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares, e o CESAM Centro de Estudos Ambientais e do Mar; assim como os Departamentos de Biologia, de Química e de Ciências Médicas. Biologia Celular, Neurobiologia, Neurociências, a atrás mencionada Bioquímica, são tudo domínios que cada vez mais nos apaixonam. Destaco, ainda, a passagem do Homenageado pelo Institute for Muscle Disease, exatamente uma área de importância crescente, face ao bom alongar da vida das pessoas; 3

4 e a que, na nossa parceria com a Universidade Nova de Lisboa, iremos prestando acrescida atenção. Um outro traço fundamental, onde muito nos revemos, é o cuidado pela inter e pela pluridisciplinaridade sempre demonstrado: algo que se encontra bem inserido na nossa própria matriz organizacional e que - está patente aos olhos de todos - vem aumentando de importância à medida que a complexidade nas abordagens aos desafios societais assim o exige. As démarches que tomou em Coimbra a propósito do que chamou Faculdade de Investigação são muito consonantes com preocupações atuais de formação doutoral a que dedicamos particular esforço na UA; e podem considerar-se percussoras do movimento das Escolas Doutorais, presentemente muito consolidado. Deixem-me ainda trazer à colação um aspeto igualmente comum que me é, e a outros aqui presentes, muito caro: a preocupação pela complementaridade na formação do estudante, compreendendo que não há duas culturas, que existe apenas uma na sua integralidade. Introduzir disciplinas de Humanidades, de Artes ou de Ciências Sociais para alunos de Ciências e naturalmente vice-versa é algo que tem uma boa tradição nesta casa, na forma de opções livres ou de disciplinas isoladas; mas que precisamos todos alunos, professores, outros trabalhadores de acarinhar mais e de fazer valer enquanto elemento distintivo da UA, de afirmar como cultura institucional diferenciadora. Este doutoramento ocorre no quadro das celebrações dos 40 anos do Departamento de Biologia. Uma Unidade Orgânica onde seis de entre os professores mais seniores é obra trabalharam diretamente com o Professor Pato de Carvalho. Nada mais compreensível e apropriado, óbvio, do que ser o Diretor daquele Departamento o Padrinho de doutoramento. O Diretor Amadeu Mortágua Soares é natural de Aveiro, doutorado pela Universidade de Sheffield e Professor Catedrático da Universidade de Aveiro desde Tem mais de 4

5 400 artigos publicados em revistas com avaliação por pares; orientou acima de 100 mestres, doutores e pós-doutores; assinou mais de 90 pareceres científicos para a Comissão Europeia; e coordenou cerca de 4 dezenas de projetos financiados seja pela Comissão Europeia, por Programas Nacionais ou por outras fontes, incluindo indústrias. É um dos 30 investigadores europeus mais citados na área da Toxicologia, a que acrescem várias distinções científicas, das quais saliento, em 2004, o prémio Estímulo à Excelência do MCTES e, em 2010, o Galardão Gulbenkian/ Oceanário de Lisboa. O Professor Amadeu Soares tem ocupado múltiplos cargos, sendo justo individualizar a Direção do Departamento que vem assumindo desde 2001 e o cargo na Comissão Executiva do Laboratório Associado CESAM, mantido após Enalteço, ainda, a dedicação de Amadeu Soares à causa da Divulgação Científica, área em que se responsabilizou pelo ciclo de palestras Biologia da Noite, que cumpriu a sua 10.ª sequência e pela edição da Coleção Biologicando que somou já 16 volumes publicados; entre muitas outras atividades com expressão, por exemplo, no Canal de Televisão SIC. Está, portanto, o Senhor Professor Pato de Carvalho em boas mãos; e fica a UA e fico eu, que muito agradeço ao Prof. Amadeu Soares, a pronta aceitação desta incumbência, bem descansados! Antes de terminar queria mencionar o papel do nosso futuro Doutor na criação e desenvolvimento do BIOCANT em Cantanhede, de que a UA também é parte. Por ironia do destino e, parece, por ditames da agenda do Senhor Primeiro Ministro, decorre em paralelo um ato inaugural relativo à expansão do BIOCANT. Fica aquele ato depauperado pela riqueza de podermos contar, nós, com o Professor Arsélio aqui. Queria reiterar-lhe prezado Arsélio Pato de Carvalho a honra que nos dá em ter aceite esta atribuição. O Pe. António Vieira escreveu que Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos só duramos.. O Senhor Professor é dos que tem existido e continua a existir 5

6 todos os dias. Aproveito para saudar também, com muito carinho, a sua esposa Caetana de Carvalho - que partilha muito Alentejo comigo - e a restante família que quis vir celebrar connosco. O entusiasmo autêntico com que recebeu a notícia da atribuição do Honoris Causa fica como marca do seu grande caráter, mas também de amizade para com a UA, sentimento que amealharemos como um tesouro. Sabemos os dois e permita-me divulgar este private joke que me confidenciou que, por fim, a sua situação ficará totalmente legitimada. Sim, porque, por idiossincrasia deste país e da sua burocracia que já foi bem pior do que é hoje, o Professor Pato de Carvalho não tem nenhum Doutoramento reconhecido em Portugal! Ora, para alguém que já foi Reitor e mais tudo aquilo que sabemos, e não é pouco, não fica bem este estado de coisas. Satisfaz-nos assim, sobremaneira, recompor este erro histórico. Acabo! O filósofo espanhol Daniel Inneraraty argumentou que o futuro tem maus advogados no presente. Não se estava, certamente, a referir a si, Senhor Professor, que sempre foi e continua a ser um construtor dos tempos que vão à nossa frente! Bem-haja! 6