INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA: ATIVIDADE FUNDAMENTAL PARA O ASSESSORAMENTO NO PROCESSO DECISÓRIO NO EXÉRCITO BRASILEIRO

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Transcrição:

CESAR AUGUSTO ROSA DE ARAÚJO INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA: ATIVIDADE FUNDAMENTAL PARA O ASSESSORAMENTO NO PROCESSO DECISÓRIO NO EXÉRCITO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra, como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel MAURO BARBOSA FERREIRA ESTEVES Rio de Janeiro 2013

C2013 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Araújo, Cesar Augusto Rosa de. Inteligência Estratégica: Atividade fundamental para o Assessoramento no Processo Decisório no Exército Brasileiro / Cel Cesar Augusto Rosa de Araújo. - Rio de Janeiro : ESG, 2013. 56 f.: Orientador: Cel Mauro Barbosa Ferreira Esteves. Trabalho de Conclusão de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013. 1. Inteligência Estratégica. 2. Processo Decisório. 3. Exército Brasileiro. I.Título.

O Senhor é meu pastor e nada me faltará. (Salmos 23:1)

AGRADECIMENTOS Ao pai eterno, pela saúde, pelo equilíbrio e serenidade proporcionados durante as minhas jornadas de trabalho e estudo. À minha esposa, Jacqueline de Oliveira Santos de Araújo, pela paciência e compreensão em todos os momentos em que estive ausente. Ao Cel Mauro Barbosa Ferreira Esteves, por suas orientações seguras e os incentivos durante a realização do trabalho. A Escola Superior de Guerra, pela oportunidade de escrever sobre a Atividade de Inteligência. Aos nossos professores pelos conhecimentos transmitidos de forma tão profissional e dedicada.

RESUMO O objetivo deste trabalho é tratar do assunto Inteligência Estratégica: Atividade fundamental para o assessoramento no Processo Decisório no Exército Brasileiro. Ressaltou-se a Produção do Conhecimento, o nível de abrangência e a relação com o Processo Decisório e o Planejamento Estratégico do Exército, destacando a sua participação na análise prospectiva. Foi possível verificar, também, que a Atividade de Inteligência, no nível estratégico, é relevante, particularmente no momento em que o Exército Brasileiro planeja transformar-se, adotando uma nova configuração como consequência da execução do Projeto de Força/EB 2030; que a difusão de Conhecimentos de Inteligência oriundos do Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE) e do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) poderá subsidiar a tomada de decisão dos chefes militares que atuam no nível estratégico do Exército Brasileiro; que a atualização do Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEx) depende da determinação das ameaças e das oportunidades para o Exército Brasileiro. O trabalho está baseado em fatos portadores futuro (FPF) que poderão projetar o EB 2030 (ProForça), e na participação do Sistema de Inteligência do Exército (SIEx) no Grupo de Estudos e Planejamento Estratégico do Exército (GEPEEx), muito importante para o processo, pois envolve diretamente o Centro de Inteligência do Exército (CIE), órgão que contribui com o Estado-Maior do Exército (EME) na realização de estudos prospectivos para atender às demandas de emprego do Exército Brasileiro para o futuro. Ao final, conclui-se que a Atividade de Inteligência Estratégica é fundamental para o processo decisório no Exército Brasileiro, necessitando de melhorias na integração e na interação entre os sistemas existentes e o SIEx. Palavras chave: Inteligência Estratégica. Processo Decisório. Exército Brasileiro.

ABSTRACT The objective of this work is to treat the subject Strategic Intelligence: Activity key to the advice in Decision Making Process in the Brazilian Army". Emphasis was placed on the Production of Knowledge, the level of coverage and the relationship with the Decision Making and Strategic Planning of the Army, highlighting their participation in the prospective analysis. It can also check that the Intelligence Activity, at the strategic level, it is relevant, particularly when the Brazilian Army plans to transform itself by adopting a new configuration as a result of execution of the Project Force / EB 2030, the diffusion of knowledge from the Intelligence System Defense Intelligence (SINDE) and the Brazilian Intelligence System (SISBIN) may help the decision-making of commanders who operate at the strategic level of the Brazilian Army, the update Army System Planning Strategic (SIPLEx) depends on the determination of the threats and opportunities in the Brazilian Army. The work is based on facts future carriers (FPF) that can project the EB 2030 (ProForça), and participation of Army System of Intelligence (SIEx) in the Army Study of Group and Planning Strategic (GEPEEx), very important to the process because it involves directly the Army Intelligence Center (CIE), the body that contributes to the General Staff of the Army (EME) in prospective studies to meet the employment demands of the Brazilian Army for the future. At the end, it is concluded that the Activity Strategic Intelligence is critical to the decision-making process in the Brazilian Army, requiring improvements in the integration and interaction between existing systems and SIEx. Keysword: Strategic Intelligence. Decision Making Process. Brazilian Army.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 09 2 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA... 12 3 O SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA (SISBIN)... 18 4 O SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE DEFESA (SINDE)... 23 5 O SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DO EXÉRCITO (SIEx)... 27 5.1 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E O PROCESSO DECISÓRIO... 27 5.1.1 Processo Decisório no Exército Brasileiro... 30 5.1.2 Cenários Prospectivos... 32 5.1.3 O Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEx)... 36 5.1.4 A Análise Estratégica... 38 5.2 A ORGANIZAÇÃO E AS ATRIBUIÇÕES DO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DO EXÉRCITO (SIEx)... 41 5.3 O CENTRO DE INTELIGÊNCIA DO EXÉRCITO (CIE)... 44 6 CONCLUSÃO... 50 REFERÊNCIAS... 54

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIN Agência Brasileira de Inteligência AED Avaliação Estratégica de Defesa AI Agência de Inteligência ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária C Com SEx Centro de Comunicação Social do Exército CEE Centro de Estudos Estratégicos CEEx Centro de Estudos Estratégicos do Exército CEMCFA Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas CENSIPAM Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia Cia Intlg Companhia de Inteligência CIA Agency Center of Intelligence CIE Centro de Inteligência do Exército C Mil A Comando Militar de Área CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa DEPEx Diretriz Estratégica de Planejamento do Exército DISBIN Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência EB Exército Brasileiro EME Estado-Maior do Exército END Estratégia Nacional de Defesa EPEx Escritório de Projetos do Exército ESG Escola Superior de Guerra EU União Europeia Finep Financiadora de Estudos e Projetos FT Força Terrestre GEPEEx Grupo de Estudos e Planejamento Estratégico do Exército Gp Op Intlg Grupo de Operações de Inteligência GSI/PR Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da

LEA MD OADI ODS OEA ONE ONU Org Intlg OSS OTAN PAED PDCI PINDE PROTEGER SAE SAEI SCIE SEPLAN-PR SIEx SIPLEx SINDE SISBIN SISFRON SNI UNASUL República Levantamento Estratégico de Área Ministério da Defesa Órgão de Assistência Direta e Imediata Órgão de Direção Setorial Organização dos Estados Americanos Office of National Estimates Organização das Nações Unidas Órgão de Inteligência Office of Strategic Services Organização do Tratado do Atlântico Norte Plano de Articulação e Equipamento da Defesa Programa de Desenvolvimento de Contrainteligência Plano de Inteligência de Defesa Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres Secretaria de Assuntos Estratégicos Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais Subchefia de Inteligência Estratégica Secretaria de Planejamento e Coordenação da Presidência da República Sistema de Inteligência do Exército Sistema de Planejamento do Exército Sistema de Inteligência de Defesa Sistema Brasileiro de Inteligência Sistema de Monitoramento de Fronteiras Serviço Nacional de Informações União das Nações Sul-Americanas

9 1 INTRODUÇÃO Os interesses conflitantes entre Estados, marcados pela alternância de liderança nos campos político e econômico, fazem da produção do Conhecimento de Inteligência, e da sua proteção, importantes ferramentas para assegurar o poder a uma potência hegemônica. Na era da industrialização 1 e no período denominado Guerra Fria, a Atividade de Inteligência passou a identificar ameaças de eventuais conflitos que exigiam um maior esforço dos Estados para manterem a bipolaridade. Essa manutenção ocorria por meio de seus corpos diplomáticos e pela dissuasão proporcionada pela capacidade militar de suas forças de defesa. Na era do conhecimento 2, pontualmente nos dias atuais, onde as ameaças são difusas e os conflitos são assimétricos, a Inteligência contribui para o estabelecimento de políticas e estratégias de Estado. Pereira cita que: As dimensões modernas dos Estados e das máquinas de guerra ampliam a quase todos os outros campos de poder nacional o envolvimento na montagem de estratégias. A este nível, portanto, a estratégia deixa de ser uma atividade exclusivamente militar e passa a envolver toda a sociedade, inclusive porque se faz necessário definir com clareza os interesses nacionais, bem como avaliar, em profundidade, o quadro com todos os atores internacionais (PEREIRA, 2008). É possível perceber que a necessidade de conhecer os interesses nacionais e os atores globais é básica para se desenvolver estratégias. Essas necessidades podem ser atendidas pela Atividade de Inteligência que trabalha com o acompanhamento das Conjunturas Nacional e Internacional, buscando reduzir as incertezas dos cenários que estão por se configurarem. O terrorismo, o comércio de armas convencionais, a produção de artefatos nucleares e as ações cibernéticas compõem repertórios de conhecimentos de 1 Na era da industrialização 1, as informações circulavam pelos meios de comunicação de forma mais lenta, permitindo que o decisor, em algumas oportunidades, avaliasse uma ação por dias ou meses, antes de ser executada. 2 Na era do conhecimento 2, as informações se processam em um intervalo de tempo muito reduzido, em razão dos meios, de alta tecnologia, de transmissão de dados, que permitem decidir rapidamente.

10 diversos analistas, dentro de estratégias nacionais. Analistas integrantes de estruturas de Inteligência de Estados, apoiados nos meios de Tecnologia da Informação, procuram acessar dados, com a maior velocidade possível, para que especialistas em planejamento possam formular cenários prospectivos de futuros possíveis de curto, médio e longo prazo. No Brasil, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) tem a incumbência de realizar o acompanhamento das ameaças e das oportunidades que interessam ao Estado. Quando os aspectos acompanhados são essencialmente de interesse da Expressão Militar do Poder Nacional, o Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE) participa com a missão de integrar as ações de planejamento e execução da Atividade de Inteligência de Defesa e assessorar o processo decisório, no âmbito do Ministério da Defesa (MD), nos assuntos que podem envolver a participação das Forças Armadas. As ameaças à segurança de qualquer país exigem que os Estados disponham de eficaz planejamento político-estratégico de defesa, envolvendo todo o poder nacional e utilizem processos decisórios como guia para apresentarem pronta resposta aos desafios impostos pela velocidade da informação. Por meio das Políticas, das Estratégias, dos Planos e das Doutrinas de Inteligência, as agências dos órgãos integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência e do Sistema de Inteligência de Defesa colaboram com a produção de cenários que possibilitem ao governo brasileiro planejar as ações estratégicas que levarão o Estado a atingir os seus objetivos. A Estratégia Nacional de Defesa (END) é um exemplo recente desse planejamento. Para atender a Estratégia Nacional de Defesa, as três Forças Singulares criaram planos, programas e projetos. O Exército Brasileiro elaborou sete grandes projetos, que estão inseridos em um plano para recuperação e modernização de equipamentos e tecnologias, previstos para um período inicial de 10 anos (até 2022). Houve a necessidade de realizar-se um diagnóstico, no âmbito interno, para determinar os pontos fortes e os fracos das estruturas do Exército, assim como, externamente, foram levantadas as ameaças e as oportunidades para a implementação dos projetos. A execução desse diagnóstico foi apoiado pelo Sistema de Inteligência do Exército, por intermédio do Centro de Inteligência do Exército que forneceu

11 subsídios ao Estado-Maior do Exército, Órgão de Direção-Geral responsável pelo planejamento e coordenação dos referidos projetos. O Exército Brasileiro participa da Atividade de Inteligência no mais alto nível de assessoramento do governo, por meio do Estado-Maior do Exército e do Centro de Inteligência do Exército, que também atendem às necessidades de Conhecimento do Comandante do Exército, do Órgão de Direção-Geral e dos Órgãos de Direção Setorial. Devido à importância da Inteligência Estratégica e à obrigatória colaboração do Exército para a consecução dos objetivos nacionais, nos assuntos de Defesa, mostra-se necessário analisar a situação atual dessa atividade no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, do Sistema de Inteligência de Defesa e do Sistema de Inteligência do Exército, verificando como a sua participação contribui para o processo decisório. Ao final do presente trabalho espera-se apresentar a relevância da Atividade de Inteligência Estratégica, destacando a sua importância para o assessoramento no processo decisório no Exército Brasileiro, bem como contribuir para o aperfeiçoamento do Sistema de Inteligência do Exército.

12 2 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA Para entender-se o conceito de Inteligência Estratégica deve-se observar como os especialistas definem Inteligência no segmento civil e militar. O manual de Inteligência (BRASIL, 2004) recomenda que todo ato decisivo deve estar apoiado em dados oportunos, amplos e precisos, assim como ao Estado cabe preservar os Conhecimentos sensíveis de interesse da sociedade. Segundo Moraes (2012), entre as funções que são exclusivas do Estado, encontra-se a Atividade de Inteligência. O Governo atua em nome do Estado, utilizando a Atividade de Inteligência como parte do arcabouço que lhe dá sustentação. Para ser instrumento do Estado, a Inteligência brasileira fundamenta-se, de acordo com o manual de Inteligência (BRASIL, 2004) na preservação da soberania nacional, na defesa do Estado Democrático de Direito e na dignidade da pessoa humana. A Inteligência obedece aos preceitos legais, inseridos nos Princípios Fundamentais da Constituição Brasileira. Atende às necessidades do Estado em qualquer oportunidade e também assessora às autoridades constituídas com informações oportunas, a fim de que os objetivos nacionais sejam atingidos. A Lei nº 9.883 de 07/12/1999, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), citada no Manual Básico da Escola Superior de Guerra (ESG), define Inteligência como: [...] a Atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de Conhecimentos, dentro e fora do território nacional, de fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2013, v. 2 p. 95). É importante destacar que a produção de Conhecimentos de Inteligência atende a uma necessidade manifestada por uma autoridade. Segundo o Manual Básico da ESG, a Inteligência Estratégica é: [...] aquela cuja atividade produz conhecimentos para uso imediato ou potencial para o planejamento da ação política, aí incluída sua execução e seu controle, tudo voltado para o preparo e a aplicação do Poder Nacional (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2013, v. 2 p. 99).

13 Esse produto destina-se ao uso dos mais altos níveis da estrutura governamental do Estado. O Manual de Inteligência Doutrina Nacional de Inteligência Bases Comuns conceitua a atividade de Inteligência como: [...] exercício permanente de ações especializadas orientadas para a obtenção de dados, produção e difusão de conhecimentos, com vistas ao assessoramento de autoridades governamentais, nos respectivos níveis, para o planejamento, a execução e o acompanhamento das políticas de Estado. Engloba também, a salvaguarda de dados, conhecimentos, áreas, pessoas e meios de interesse da sociedade e do Estado (AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA, 2004). Assim pode-se dizer que a atividade de Inteligência está subdividida nos ramos de Inteligência e Contrainteligência. A primeira tem por objetivo a obtenção, a análise e a disseminação de Conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental e a salvaguarda da sociedade e do Estado (BRASIL, 2004). A contrainteligência objetiva prevenir, obstruir e neutralizar a Inteligência adversa e as ações de qualquer natureza que ameacem à salvaguarda de dados, Conhecimentos, áreas, pessoas e meios de interesse da segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 2004). No Vade-Mécum de Inteligência Militar, edição 2011, a Inteligência pode ser definida como a capacidade de compreender, interpretar e resolver situações. O termo Inteligência (do latim inteligentia ) também é uma palavra de vários significados, podendo ser entendido como a faculdade de compreender e de perceber e como a maneira de entender ou interpretar. Ainda pode ser definido como relações ou entendimentos secretos e, também, como a capacidade de resolver situações problemáticas novas mediante a reestruturação dos dados perceptivos (BRASIL, 2011, p. 4). e atividade. Segundo Kent 3 a Inteligência é dividida em três faces: produto, organização 3 Sherman Kent serviu no setor de análise do Office of Strategic Services (OSS) durante a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, trabalhou na CIA como chefe do Office of National Estimates (ONE), setor responsável por elaboração de documentos conhecidos como Estimativas. O seu livro

14 A Inteligência como produto trata do resultado do método apropriado de produção do Conhecimento e tem como usuário o tomador de decisão em diferentes níveis. Inteligência é, portanto, Conhecimento produzido (BRASIL, 2011,p. 5). A Inteligência como organização diz respeito às estruturas funcionais que têm como missão primordial a obtenção de dados e a produção de Conhecimentos. São as organizações que atuam na busca do dado negado, na produção de Conhecimentos e na salvaguarda dessas informações, os chamados Serviços Secretos (BRASIL, 2011, p. 5). A Inteligência como atividade ou processo refere-se aos meios pelos quais certos tipos de informações são requeridas, coletadas/buscadas, analisadas e difundidas, e, ainda, os procedimentos para a obtenção de determinados dados, em especial aqueles protegidos. Esse processo possui metodologia própria (BRASIL, 2011, p. 5). A Atividade de Inteligência Militar, segundo as Instruções Provisórias (BRASIL, 1995, p. 2-3) é a atividade técnica-militar especializada, permanentemente exercida, com o objetivo de produzir Conhecimentos de interesse do comandante de qualquer nível hierárquico, e proteger Conhecimentos sensíveis, instalações e pessoal do Exército contra ações patrocinadas pelos Serviços de Inteligência oponentes e/ou adversos. A atividade é exercida em dois ramos: Inteligência e Contrainteligência. O manual de Doutrina de Operações Conjuntas (BRASIL, 2011, p. 43), apresenta, no nível de utilização, que o Conhecimento estratégico é requerido para a formulação das avaliações estratégicas dos órgãos componentes da defesa, de planos e de políticas no nível nacional ou internacional, referentes à Defesa Nacional. A propósito, apresenta ainda, o conceito de Inteligência Estratégica como a atividade técnico-militar especializada, com base em processo mental, exercida, permanentemente, com a finalidade de produzir e salvaguardar Conhecimentos requeridos para a formulação das avaliações estratégicas dos órgãos componentes da defesa, de planos e de políticas no nível nacional ou internacional, referentes à Defesa Nacional. Nas Instruções Provisórias (BRASIL, 1995, p.1-1) observa-se que o quadro internacional e a situação nacional impõem o acompanhamento regular e mais famoso é Strategic Intelligence for American World Policy editado pela Princeton, University Press. 1949.

15 permanente da conjuntura. Ou seja, a Inteligência fixa o seu esforço no universo antagônico para a produção de Conhecimentos, tendo sua atenção voltada para os óbices e as ameaças veladas, conforme descreve o Manual de Inteligência (BRASIL, 2004). No Exército, cabe ao Sistema de Inteligência do Exército (SIEx) reduzir ao máximo possível o grau de incerteza em determinado ambiente, a fim de que os comandantes ou decisores, de qualquer nível, com responsabilidade no processo decisório, possam dar a solução adequada a problemas em sua área de atuação. Os profissionais da Atividade de Inteligência devem ter sempre em mente que, de modo geral, os usuários do Sistema, além do material difundido pelos órgãos de Inteligência, subordinados ou não, têm acesso a outros dados que lhes dão o embasamento final para a melhor tomada de decisões dentro de seu nível de competência. Nas Instruções Provisórias (BRASIL, 1995, p. 3-3), encontra-se a classificação do conhecimento quanto ao nível de utilização. Define-se Conhecimento Estratégico como o conhecimento requerido para a formulação de planos e políticas a nível nacional ou internacional, referentes ao Sistema Exército. É produzido, em princípio, nos mais altos níveis do SIEx. Após as citações referenciadas, pode-se pensar que a Atividade de Inteligência está presente em todas as Expressões do Poder Nacional, pois segundo Pereira: Pensar estrategicamente é o desenvolvimento da capacidade de visão que permita enxergar o futuro ou além do horizonte, de forma realista, desejável de se espraiar por um grande número de membros da sociedade, mesmo em diferentes gradações. Dentre esses, no entanto, apenas uns poucos serão estrategistas, pois terão o verdadeiro dom de definir o que fazer para preparar os pilares das estruturas adequadas àquele porvir (PEREIRA, 2008). As informações não são privativas da Inteligência. A Atividade de Inteligência se encarrega de coletar, tratar e disseminar o seu produto, o Conhecimento, às autoridades. As informações como ativos estratégicos permitem ao tomador de decisão, baseado nas Conjunturas Nacional e Internacional, identificar fato ou situação que possa ameaçar os interesses do Estado ou tornar-se uma oportunidade para uma ação governamental, após uma análise sistêmica.

16 Nesse contexto, o conceito difundido por Kent para a Atividade de Inteligência Estratégica a define como A busca de Conhecimentos sobre os quais as relações exteriores do nosso país devem basear-se na paz e na guerra (apud MORAES, 2012, p. 4). Essa ação, exemplificada por Kent, pode ser representada pelo acompanhamento permanente do ambiente externo, nas áreas de interesse, pelo Estado, por meio dos órgãos instituídos, organizados e preparados para tal tarefa. As potenciais ameaças e oportunidades, uma vez analisadas e definidas as suas influências para os interesses da nação, serão apresentadas aos decisores no nível estratégico. Outro conceito que é utilizado para a atividade, e foi elaborado por Washington Platt 4, define a Inteligência Estratégica como O Conhecimento referente às possibilidades, vulnerabilidades e linhas de ação prováveis das nações estrangeiras (apud MORAES, 2012, p. 4). Tanto no conceito apresentado por Kent quanto por Platt, verifica-se que há necessidade de se identificar, coletar, analisar e interpretar dados e informações, nas diversas áreas do conhecimento e dos assuntos de interesse do Estado, e disseminá-los aos decisores do mais alto nível. Outro conceito que compartilha de características semelhantes ao de Inteligência Estratégica é o de Defesa Nacional, pois trata de ameaças externas à soberania e aos interesses do Estado. Após identificada a ameaça, poderá ocorrer o emprego do poder militar. Rocha (2009) afirma que os países utilizam a Inteligência Estratégica como forma de prevenir surpresas e conseguir vantagens nas áreas diplomática, econômica e militar; e de obter Conhecimentos úteis para a tomada de decisões. Rocha (2009) cita, ainda, alguns casos onde a Inteligência Estratégica é mais eficiente e tem uma estrutura maior como é caso do Estado de Israel, devido aos graves problemas geopolíticos que o país enfrenta constantemente. A Atividade de Inteligência é o suporte para a sobrevivência desse estado. Pereira (2008) indica que: 4 O General Washington Platt foi o autor do livro Strategic Intelligence Production. New York: Frederick A. Praeger, 1957.

17 [...] a impossibilidade de apontar inimigos, embora se saiba que, por conflitos de interesses, confrontos entre estados podem ocorrer a qualquer tempo. O mesmo pode ser dito em relação a aliados, porquanto a coincidência ou independência de interesses pode deixar de existir com o passar do tempo. A despeito disso, mostra-se importante o conhecimento daqueles com quem se poderá lidar, seja como aliados ou opositores. Para tanto, além de se contar com análises de Inteligência profissionalmente estruturada, é de toda relevância sustentar encontros diretos entre os membros das forças armadas nacionais com os dos outros países, inclusive durante a realização de exercícios conjuntos. Na observação de Pereira (2008) sobre a identificação de aliados ou opositores, esse procedimento ocorre por intermédio de um serviço de Inteligência profissional, que atua no nível estratégico. Assim, conclui-se que a Atividade de Inteligência, no nível estratégico, pode estar voltada, prioritariamente, para o Campo Externo como apresentaram alguns autores, mas sem descuidar-se dos aspectos que constam da pauta da Conjuntura Nacional e que interessam as outras Expressões do Poder Nacional, além da militar.

18 3 O SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA (SISBIN) O Sistema Brasileiro de Inteligência foi criado pela Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, com o objetivo de substituir o Serviço Nacional de Informações (SNI). Desde 1999, o SISBIN tem por objetivo integrar as ações de planejamento e de execução da atividade de Inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional. O Sistema é responsável pelo processo de obtenção, análise de dados e informações e pela produção e difusão de Conhecimentos necessários ao assessoramento no processo decisório do Poder Executivo, nos assuntos relacionados à segurança da sociedade e do Estado, bem como pela salvaguarda de assuntos sigilosos de interesse nacional. O trabalho desenvolvido pelo SISBIN é realizado mesmo sem a aprovação, até o presente momento, da Política Nacional de Inteligência e do Plano Nacional de Inteligência. Sem o amparo dos principais documentos norteadores, a ligação e a coordenação entre os integrantes do Sistema ficam prejudicadas, assim como a troca de dados e de Conhecimentos entre seus componentes. Somando-se a essas dificuldades, pode-se destacar a situação da ABIN ter sido herdeira do SNI, que tinha uma proximidade muita grande dos governos militares, nas décadas de 70 e 80, pois a chefia do Serviço era exercida por um militar. Naquele período, o SNI realizou o acompanhamento da Conjuntura Nacional, priorizando o campo interno e assessorando os governantes no processo decisório referente ao emprego do poder militar no combate aos movimentos revolucionários. Alguns integrantes do extinto SNI migraram para a ABIN e atualmente colaboram com o SISBIN. Essa situação pode ter contribuído para o afastamento entre órgãos de Inteligência do governo federal, integrantes do SISBIN, e a ABIN. Pode-se colocar, ainda, como dificuldade para comunicação a situação que nas Forças Armadas, cada força singular possui a sua doutrina de Inteligência. De maneira semelhante, a ABIN, o Departamento de Polícia Federal e as polícias (civis e militares dos Estados) possuem, também, suas próprias doutrinas e procedimentos. A utilização da doutrina aprovada para o SISBIN pode permitir o

19 emprego de técnicas e procedimentos uniformes para o desenvolvimento da Atividade de Inteligência, no nível Estratégico. Para a manutenção da segurança da sociedade e do Estado, o SISBIN tem como missões: realizar a atividade de obtenção e análise de dados e informações; e produção e difusão de Conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. Cabe ainda, ao Sistema, prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e as ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e Conhecimentos. O Sistema é composto, atualmente, pelos seguintes órgãos: - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, órgão de coordenação das atividades de Inteligência no nível Federal; - Agência Brasileira de Inteligência, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, como órgão central do Sistema; - Pelos Ministérios: - da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça; - da Defesa, por meio da Subchefia de Inteligência Estratégica do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia CENSIPAM, do Estado-Maior da Armada, do Centro de Inteligência da Marinha, do Centro de Inteligência do Exército e do Centro de Inteligência da Aeronáutica; - das Relações Exteriores, por meio da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais da Subsecretaria-Geral da América do Sul; - da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal do Brasil e do Banco Central do Brasil; - do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria-Executiva; - da Saúde, por meio do Gabinete do Ministro de Estado e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA;

20 - da Previdência Social, por meio da Secretaria-Executiva; - da Ciência e Tecnologia, por meio do Gabinete do Ministro de Estado; - do Meio Ambiente, por meio da Secretaria-Executiva; - da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil; e - Controladoria-Geral da União, por meio da Secretaria-Executiva. Os órgãos que compõem o Sistema Brasileiro de Inteligência devem, no âmbito de suas competências: - produzir Conhecimentos, em atendimento às prescrições dos Planos e Programas de Inteligência, decorrentes da Política Nacional de Inteligência; - planejar e executar ações relativas à obtenção e integração de dados e informações; - intercambiar informações necessárias à produção de Conhecimentos relacionados às Atividades de Inteligência e Contrainteligência; - fornecer ao órgão central do Sistema, para fins de integração, informações e Conhecimentos específicos relacionados à defesa das instituições e dos interesses nacionais; e - estabelecer os respectivos mecanismos e procedimentos particulares necessários às comunicações e ao intercâmbio de informações e Conhecimentos no âmbito do Sistema, observando medidas e procedimentos de segurança e sigilo, sob coordenação da ABIN, com base na legislação pertinente em vigor. A ABIN pode manter, em caráter permanente, representantes dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência (DISBIN), principalmente durante as operações interagências. Um exemplo é a realização das Operações ÁGATA 5. O DISBIN tem por atribuição coordenar a articulação do fluxo de dados e informações oportunas e de interesse da Atividade de Inteligência de Estado, com a finalidade de subsidiar o Presidente da República em seu processo decisório. Atualmente, todos os contatos do Diretor Geral da ABIN com os outros órgãos de Inteligência integrantes do SISBIN são realizados por intermédio do Chefe 5 Operação Conjunta das Forças Armadas Brasileiras em coordenação com outros órgãos federais e estaduais na faixa de fronteira do Brasil para combater delitos transfronteiriços e ambientais.

21 do Gabinete de Segurança Institucional que em algumas ocasiões participa das reuniões do DISBIN. Também foi instituído o Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de Inteligência, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional composto pelos órgãos: - Subchefia de Inteligência Estratégica do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia CENSIPAM, Centro de Inteligência da Marinha, Centro de Inteligência do Exército, Centro de Inteligência da Aeronáutica, todos do Ministério da Defesa; e - Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais da Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos, do Ministério das Relações Exteriores. Na condição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, a ABIN tem a responsabilidade de estabelecer as necessidades de Conhecimentos específicos, a serem produzidos pelos órgãos que constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência, e consolidá-las no Plano Nacional de Inteligência; coordenar a obtenção de dados e informações e a produção de Conhecimentos sobre temas de competência de mais de um membro do Sistema Brasileiro de Inteligência, promovendo a necessária interação entre os envolvidos; acompanhar a produção de Conhecimentos, por meio de solicitação aos membros do Sistema Brasileiro de Inteligência, para assegurar o atendimento da finalidade legal do Sistema; e analisar os dados, informações e Conhecimentos recebidos, com vistas a verificar o atendimento das necessidades de Conhecimentos estabelecidas no Plano Nacional de Inteligência; e integrar as informações e os Conhecimentos fornecidos pelos membros do Sistema Brasileiro de Inteligência. Observando o que o Manual Básico da ESG, Volume II (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2013), descreve como concepções para a Atividade de Inteligência Estratégica e comparando com o que está previsto como missão para o SISBIN, percebe-se que o Sistema atua por intermédio da ABIN, dentro de uma realidade cada vez mais complexa, procurando atender as necessidades de Conhecimentos dos processos decisórios dos órgãos do Estado. Apresenta ainda, subsídios oportunos, amplos e seguros para a ação governamental e a proteção dos recursos, das instituições e dos interesses nacionais, sendo um instrumento específico do Estado para a aplicação do Poder Nacional.

22 O Estado brasileiro necessita de uma estrutura de Inteligência que possa alertá-lo, por meio da produção de Conhecimentos estratégicos, sobre oportunidades, antagonismos e ameaças reais ou potenciais a interesses do País e da sociedade, visando à manutenção dos Objetivos Nacionais. A atividade de Inteligência Estratégica fica caracterizada nesse caso pela estrutura a ser utilizada, pelo Conhecimento que poderá ser produzido e pela atividade a ser desenvolvida, utilizando-se o Sistema de Inteligência para apoio ao planejamento governamental. Fica evidenciado que o SISBIN, com a sua composição atual e as missões bem definidas, poderá atender às necessidades de Conhecimentos determinadas pelo Estado. Para isso, é fundamental que se tenha uma Política Nacional de Inteligência e um Plano Nacional de Inteligência aprovadas no Brasil. Para minimizar a lacuna deixada pela inexistência de uma política e de um plano para a Inteligência, a partir de 2011, o GSI/PR criou o Mosaico de Segurança Institucional que é uma ferramenta desenvolvida pelo Sistema Brasileiro de Inteligência. O Mosaico reúne os principais cenários brasileiros nas áreas como segurança pública, saúde, comunidade, transporte e energia, tendo a capacidade de poder uniformizar a segurança institucional e obter informações individualizadas dos estados brasileiros. Para fazer uma análise dos problemas mais frequentes, a cada trimestre são monitorados cerca de 700 cenários no País. Atualmente está sob a responsabilidade da Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais (SAEI). A aprovação da Política e do Plano Nacional de Inteligência, possivelmente, permitirá uma maior integração e colaboração entre o SISBIN e os seus componentes, facilitando as ações de planejamento e execução da Atividade de Inteligência no Brasil para que possa atender as demandas de Conhecimento com amplitude, controle, interação, oportunidade e segurança. O SISBIN colabora com o SINDE e o SIEx na produção de Conhecimentos de Inteligência, no nível estratégico. Atualmente, essa contribuição ocorre com dificuldades, tendo em vista a existência de doutrinas que foram elaboradas e são utilizadas por cada órgão participante do sistema.

23 4 O SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE DEFESA (SINDE) Em 2002, o Sistema de Inteligência de Defesa foi instituído pela Portaria nº 295/MD, de 3 de junho de 2002 (OSTENSIVA). Atualmente, o SINDE integra o SISBIN como um subsistema, devendo fornecer dados e Conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses nacionais para a ABIN. Para isso, o Sistema deve considerar as Diretrizes da Política de Defesa Nacional que fazem referência à necessidade de aperfeiçoar a capacidade de Comando, Controle e Inteligência de todos os Órgãos envolvidos na Defesa Nacional. Além disso, deve proporcionar-lhes condições que facilitem o processo decisório, otimizando a estrutura existente no Ministério da Defesa, voltada para o desempenho e a coordenação da Atividade de Inteligência de Defesa, facilitando as ligações com o SISBIN. O Sistema de Inteligência de Defesa é responsável pelas ações de planejamento e execução da Atividade de Inteligência de Defesa, prestando o assessoramento ao processo decisório no âmbito do MD. A Atividade de Inteligência de Defesa está voltada para o acompanhamento dos assuntos de interesse da Defesa e engloba os ramos de Inteligência e Contrainteligência. O SINDE tem como órgão central a Subchefia de Inteligência Estratégica SCIE que está subordinada à Chefia de Assuntos Estratégicos do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Essa Subchefia tem a missão de estabelecer o repertório de conhecimentos necessários a serem produzidos pelos órgãos integrantes do SINDE e consolidá-los no Plano de Inteligência de Defesa PINDE. Deve ainda, produzir os Conhecimentos necessários ao processo decisório no mais alto nível do MD; representar o SINDE perante a ABIN, para efeito do controle externo da Atividade de Inteligência por parte do Poder Legislativo; e promover, em coordenação com os demais órgãos integrantes, o desenvolvimento da doutrina de Inteligência, de recursos humanos e de tecnologia de interesse do Sistema. Cabe ainda, a Subchefia de Inteligência Estratégica conduzir a Atividade de Inteligência Estratégica de Defesa, realizando o acompanhamento sistematizado da evolução dos cenários nacional e internacional, com base no exame corrente de

24 assuntos e de atividades em andamento ou recentemente concluídos, que poderão apresentar reflexos no nível estratégico. Essa atividade está voltada para a produção dos Conhecimentos, tomando como base os campos do Poder Nacional, necessários à formulação e à condução, no mais alto nível, do planejamento estratégico de defesa. No caso da Inteligência Operacional de Defesa, quem conduz a Atividade de Inteligência é a Subchefia de Inteligência Operacional. Essa ação é necessária ao planejamento e à condução de campanhas e operações de grande envergadura, visando atingir objetivos estratégicos de defesa em teatros 6 ou áreas de operações. O SINDE é composto por um Conselho Consultivo que se reúne para apreciar normas, planos e procedimentos a serem adotados pelo Sistema e analisa os assuntos específicos que, pela sua importância para a Defesa, devam convergir para um posicionamento único. O Sistema é integrado pelos Órgãos de Inteligência de mais alto nível do MD e das Forças Armadas e seu funcionamento baseia-se em ligações sistêmicas, não existindo vínculos de subordinação entre seus elementos. Os demais órgãos integrantes do SINDE, o Centro de Inteligência da Marinha (CIM), o Centro de Inteligência do Exército (CIE) e o Centro de Inteligência da Aeronáutica (CIAer), têm a incumbência de produzir e difundir, ao Órgão Central, os Conhecimentos específicos definidos pelo Plano de Inteligência de Defesa; e de intercambiar entre si os Conhecimentos disponíveis. Para que os Conhecimentos produzidos pela Inteligência Estratégica de Defesa sejam difundidos às autoridades do mais alto nível (CEMCFA, Comandantes das Forças Singulares, Ministro da Defesa e Presidente da República) são confeccionados e difundidos documentos básicos e específicos de Inteligência, tais como: Levantamentos Estratégicos de Área (LEA), Conjunturas, Avaliações da Conjuntura, Apreciações, Estimativas, Avaliações Estratégicas Setoriais e Avaliações Estratégicas de Defesa (AED) que expressam a opinião de diversos 6 Teatro de Operações é a porção do espaço geográfico de guerra (mar, terra e ar) que possa a ser envolvida e que seja necessária à condução de operações militares de vulto, incluído o apoio logístico.

25 analistas sobre fatos ou situações, passados ou presentes, ou que provavelmente aconteceram no futuro, referente às Conjunturas Nacional e Internacional. A Avaliação Estratégica de Defesa, por exemplo, é composta pela Conjuntura Nacional, onde são abordados os fatos significativos da conjuntura e os objetivos de Inteligência de Defesa (necessidades básicas, óbices e ameaças à soberania e ao patrimônio); e pela Conjuntura Internacional (considerações gerais e área de interesse, fatos significativos da conjuntura, aspectos relevantes para os interesses brasileiros, oportunidades e ameaças aos interesses brasileiros e conflitos atuais e potenciais). O PINDE regula a produção dos Conhecimentos de interesse da Defesa, as necessidades de conhecer destinadas à elaboração e à atualização das AED, e o funcionamento de todo o Sistema de Inteligência de Defesa. Os Objetivos de Inteligência de Defesa estabelecidos pelo Sistema se referem a temas/áreas estratégicas que abrangem os campos do Poder Nacional. Eles são de interesse da Defesa e indicam o direcionamento dos esforços dos órgãos integrantes do SINDE, sem expressar obrigatoriedade. Atualmente, as áreas geográficas de interesse para os decisores estratégicos, no campo interno e externo, compreendem - o Brasil, a América do Sul, o Atlântico Sul, a América do Norte, o Caribe, a África, a Europa, a Ásia e o Oriente Médio e os organismos internacionais (OEA-ONU-OTAN-CPLP-EU-UNASUL 7 ). Destacam-se, ainda, os principais temas e áreas que são acompanhados - Amazônia,, América do Sul, Caribe, Estados Unidos da América, Oriente Médio, Forças Armadas, fronteiras, blocos econômicos, segurança pública, organismos internacionais. crime organizado transnacional e o terrorismo internacional. Os documentos de Inteligência produzidos pelo MD são de interesse do Exército Brasileiro. Em função do acompanhamento que se faz das áreas e dos 7 A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) é uma organização intergovernamental formada pelos 12 países da América do Sul. Foi criada durante a Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo, em Brasília, em 2008. Na ocasião foi aprovado o tratado constitutivo da organização, o qual já foi ratificado por dez países (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), possibilitando que entrasse em vigor. Seu objetivo é construir um espaço de articulação cultural, social, econômico e político comum aos países da região. Dentre as prioridades estão a eliminação das desigualdades socioeconômicas, inclusão social e a participação cidadã e fortalecimento da democracia.

26 temas selecionados, esses documentos podem contribuir para o assessoramento no Processo Decisório da Força, complementando a reunião 8 de Conhecimentos de Inteligência produzidos pelo SIEx. 8 Reunião: considerada a segunda fase do Método para a Produção do Conhecimento de Inteligência. É a fase da produção do Conhecimento na qual o analista de Inteligência procura reunir Conhecimentos e dados que respondam ou completem os aspectos essenciais a conhecer.

27 5 SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DO EXÉRCITO (SIEx) O SIEx é o conjunto de órgãos e pessoas do Exército Brasileiro (EB) que, nos diversos níveis hierárquicos, estão envolvidos na normatização e na execução da Atividade de Inteligência, visando permitir um trabalho coordenado e integrado. O Estado-Maior do Exército integra o SIEx, por intermédio da sua 2ª Subchefia, que é a responsável por normatizar, supervisionar e acompanhar a Atividade de Inteligência. Além disso, o EME concebe e difunde a doutrina e emite diretrizes sobre a Atividade. 5.1 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E O PROCESSO DECISÓRIO A Atividade de Inteligência é uma ferramenta de uso comum e relevante para aqueles que trabalham, diariamente, com a tomada de decisão. Quando o assessoramento ocorre no nível estratégico, em muitas ocasiões se trabalha com cenários prospectivos de futuros possíveis, que estão sendo monitorados por especialistas de diversas áreas do conhecimento. Isso permite que o usuário receba um produto 9 mais elaborado e com maior probabilidade de ocorrência, sem representar uma certeza absoluta. Nesse caso, a Atividade de Inteligência, no nível estratégico, mostra-se importante no processo decisório, pois permite monitorar possíveis eventos futuros que tiveram origem nos pontos fracos e fortes, do ambiente interno, e nas ameaças e oportunidades, do ambiente externo do problema ou sistema definido. Percebe-se que tão importante quanto conhecer os conceitos de Inteligência Estratégica é saber identificar a relação existente entre essa atividade e o processo decisório. Para isso, serão apresentadas ideias baseadas nas Instruções Provisórias (IP 30-2) (Produção do Conhecimento), que ratificam a necessidade da manutenção desse relacionamento. 9 Sherman Kent relaciona Inteligência com produto: A Inteligência como produto trata do resultado do método apropriado de produção do Conhecimento e tem como usuário o tomador de decisão em diferentes níveis. Inteligência é, portanto, Conhecimento produzido

28 A utilização do Conhecimento de Inteligência produzido em Situação de Normalidade Constitucional nos permite afirmar que a Força Terrestre (FT), elemento operacional do Exército Brasileiro, não será empregada em operações de combate, de forma repentina e descoordenada. Caso ocorresse a situação não desejada, o SIEx e a Atividade de Inteligência teriam deixado de cumprir com a sua atribuição de impedir que o Exército seja surpreendido por um fato inusitado. Assim, verifica-se que a Atividade de Inteligência deve trabalhar sempre com proatividade e a mentalidade eminentemente prospectiva. O Exército pode ser empregado a qualquer momento, dentro do território nacional, utilizando a força no ponto focal do problema apresentado, e para isto, a FT mantém-se permanentemente adestrada. Para o seu preparo, coerente com a concepção geral de emprego, a FT necessita conhecer fatos e situações explicitados em Conhecimentos de Inteligência, voltados para o combate ou para o enfrentamento das forças adversas. A produção do Conhecimento se baseia no acompanhamento permanente das Expressões Política, Econômica, Psicossocial, Militar e Cientifico e Tecnológica. Em situação de normalidade, as formas de obtenção de dados, a produção de Conhecimentos e a salvaguarda dos Conhecimentos sensíveis de posse do Exército Brasileiro são realizadas, de forma orientada, segundo normas, método, técnicas e processos padronizados pelo SIEx para a organização e funcionamento do Sistema. As propostas de ações (linha de ação) colocadas em sequência, dentro de uma organização, podem ser definidas como processo decisório. Esse processo também pode ser conceituado como um sistema lógico de procedimentos executados com a finalidade de permitir a escolha adequada de uma linha de ação, entre várias possibilidades que conduzam ao atingimento de seus objetivos. Para a adoção de um processo decisório, que dê sustentação lógica e adequada às ações, pressupõe-se que ocorrerá a definição clara dos objetivos a serem atingidos pela organização, o estabelecimento de uma metodologia de planejamento e de uma estrutura organizacional adequada à sua execução. Pressupõe-se, também, a existência de um intenso fluxo de Conhecimentos, pertinentes aos objetivos definidos e às ações de planejamento que materializam a tomada de decisão.

29 Estes Conhecimentos têm as mais diversas naturezas e provêm das mais variadas origens. Quando se trata de processo decisório do Poder Executivo de Estados modernos, por exemplo, a Atividade de Inteligência Estratégica passa a ser uma importante forma de assessoramento ao decisor. Nesses Estados, são atribuídos à Atividade de Inteligência mandatos e poderes para produzir Conhecimentos orientados pelos interesses do Estado e voltados para os objetivos que direcionam a ação governamental. A finalidade da Atividade de Inteligência Estratégica nos Estados Modernos é produzir com independência, Conhecimentos Estratégicos em proveito da segurança do Estado, agregando dados protegidos em suas análises e prevenindo-o contra as ações adversas promovidas por serviços de Inteligência estrangeiros. As atividades desenvolvidas pelo Exército Brasileiro são decorrentes da missão prevista na Constituição Federal para as Forças Armadas, e em outros preceitos legais. Baseado na sua participação histórica, no quadro político-institucional brasileiro, juntamente com as demais forças singulares, e na sua missão constitucional atual, verifica-se que, ao Exército, são atribuídas responsabilidades de três naturezas: (1) Natureza Institucional: Caracterizada pela participação do Exército Brasileiro, como órgão integrante do Poder Executivo Federal, na formulação e acompanhamento da Política Nacional (no campo interno e externo), sob a ótica da defesa terrestre da Pátria, da garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem. (2) Natureza Organizacional: Corresponde à responsabilidade voltada para o preparo e a evolução do Exército Brasileiro, coerente com o objetivo-síntese constante da Política Militar Terrestre, assim definido: - Capacitar o Exército, em forma permanentemente ajustada à Estatura Político-Estratégica da Nação, para atuar eficazmente no cumprimento de suas missões constitucionais. (3) Natureza Operacional: Diz respeito às ações de preparo e de emprego da Força Terrestre, direcionadas para a aplicação do poder militar terrestre no quadro das hipóteses de conflito admitidas. Apesar de serem apresentadas divididas, essas responsabilidades revelam, na verdade, escalonamento da missão em diversos níveis. Isso concorre para que a