TRANSIÇÃO DA MOBILIDADE NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO: REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TEMA *

Documentos relacionados
VI Congreso ALAP. Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad

Região Metropolitana de São Paulo Panorama socioeconômico

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA EXPANSÃO DO SANEAMENTO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

2ª Região SP Ano de 2013

REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAIS: INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS EM RELAÇÃO À AGUA

Evolution of mobility in the 10 last years and future perspectives in Sao Paulo - Brazil

55ª REUNIÃO DO FÓRUM PAULISTA DE SECRETÁRIOS E DIRIGENTES PÚBLICOS DE TRANSPORTE E TRÂNSITO DEPARTAMENTO DE FISCALIZAÇÃO DE SÃO PAULO DFS

PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. Agosto de 2017 Boletim n º 393. Taxa de desemprego recua de 18,3% para 17,9%

MIGRAÇÃO, TERRITÓRIO, URBANIZAÇÃO, CRESCIMENTO POPULACIONAL E MOBILIDADE NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO *

MOBILIDADE PENDULAR NA METRÓPOLE PAULISTA

DESLOCAMENTOS PENDULARES NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

EVOLUÇÃO DAS VIAGENS COM UTILIZAÇÃO DE METRÔ E TREM METROPOLITANO RESULTADOS DA PESQUISA DE MOBILIDADE 2012

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê CBH-AT no uso de suas atribuições legais e no âmbito de suas respectivas competências, e

Manual para preenchimento do formulário de envio de informações à Base de Dados de Gestores de Patrimônio

Cabeçote rpm (regime contínuo) 235,4 N.m. Cabeçote rpm (regime contínuo) 746 N.m

Vinte Anos de Migração no Estado de São Paulo: uma análise do período 1980/2000 *

Chuva interrompe sequência de queda no nível do Cantareira. Escrito por Admin Global [Vitor - Exibir Comunicação] Ter, 04 de Novembro de :49

Desafios da Crise Fluminense

O CENÁRIO ECONÔMICO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS E O PAPEL DAS ENTIDADES

ANÁLISE DOS LOCAIS DE RESIDÊNCIA E TRABALHO DA POPULAÇÃO OCUPADA CONSTRUÇÃO DE NOVO INDICADOR PARA OS ESTUDOS DE MOBILIDADE URBANA

6/8/14. Estratégia e Polí/cas para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro 14/05/2014. Mauro Osorio

Com uma equipe própria e uma central de monitoramento que trabalha sem parar, a Ituran garante

Análise do Financiamento do Sistema Único de Saúde: o caso da Região Metropolitana de São Paulo

º. 2 MILHÕES Horas * * ** *

º. 03 Horas 2 MILHÕES * * ** *

PROJETO TIETÊ III. Secretária Dilma Pena 22 de novembro de 2010 SECRETARIA DE SANEAMENTO E ENERGIA

Deslocamentos Pendulares nos Espaços Sub-regionais da Região Metropolitana de São Paulo *

AULA 6 GEOGRAFIA URBANA. Reestruturação urbano industrial

Migração Intrametropolitana: um estudo comparativo entre as Regiões Metropolitanas do Nordeste (Fortaleza, Recife e Salvador)

Projetos Especiais NOVABRASIL FM 2017

VI Congreso ALAP. Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad

Principais desafios para desligamento da TV Analógica e implantação da TV Digital José Alexandre Bicalho

XII Semana FIESP-CIESP de Meio Ambiente. Estratégias de Proteção da Qualidade das Águas Superficiais na RMSP

1. APRESENTAÇÃO QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS QUESTÕES COMENTADAS GABARITO FINALIZAÇÃO DA AULA...20

minutos por dia. 1º lugar entre as emissoras qualificadas. 4º lugar no ranking geral entre todas as FMs de São Paulo.

1º lugar entre as emissoras qualificadas. por dia. Média de ouvintes por minuto, no. target Ambos os sexos AB 25+ anos.

Manual de Vendas PLANOS PESSOA FÍSICA E PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Item Cidade KM Região


COMUNICADO. JORGE LUIZ GONÇALVES DE ALMEIDA Presidente Nacional da Comissão Organizadora REGIONAL: SPM

Novas Tabelas de Relacionamento

INTERDEPENDÊNCIA ECONÔMICA: UM ESTUDO DE CASO PARA A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. Fernando S. Perobelli Eduardo A. Haddad Geoffrey J.D.

Subúrbio e periferia Subúrbio, Rua Elisa Fláquer, centro de Santo André. Modo de vida suburbano: casas com quintal Proximidade com campo.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CESS Comissão de Estudo de Saúde Suplementar

ALTERAÇÃO DA TENSÃO NOMINAL SECUNDÁRIA DO SISTEMA DELTA COM NEUTRO

OS DETERMINANTES DA PENDULARIDADE E SUA RELAÇÃO COM A MIGRAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ENTRE 2000 E 2010.

São Paulo TABELA DE VENDAS ADESÃO ENTIDADES ABERTAS

DESLOCAMENTO PENDULAR INTRAMETROPOLITANO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Lucia Maria M. Bógus Suzana Pasternak Rafael Serrao

Talento Jovem Programa de Bolsas de Estudos

minutos por dia. 1º lugar entre as emissoras qualificadas. Líder no público AB 25+ com média de ouvintes por minuto

6 a a ,95 5,93 18, x

Manual para preenchimento do formulário de envio de informações à Base de Dados do Varejo

1º lugar entre as emissoras qualificadas. 3º Lugar no ranking geral entre todas as. por dia. Média de ouvintes por minuto, no

LEI COMPLEMENTAR Nº 1.139, DE 16 DE JUNHO DE 2011

PESQUISA. Janeiro/2015

PESQUISA. Novembro/2015

2.6. Sistemas de Abastecimento de Água

INTERDEPENDÊNCIA ECONÔMICA: UM ESTUDO DE CASO PARA A ÁREA METROPOLITANA DE SÃO PAULO 1

PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO

37º Encontro Anual da ANPOCS. ST 07 A metrópole na sociedade contemporânea

PESQUISA. Junho/2015

BACIA DO ALTO TIETÊ UGRHI-06 FABHAT Novembro,2011. Eng. Dr. Antonio Eduardo Giansante

PESQUISA. Julho/2015

1º lugar entre as emissoras qualificadas. 4º Lugar no ranking geral entre todas as. por dia. Média de ouvintes por minuto, no

1º lugar entre as emissoras qualificadas. 3º Lugar no ranking geral entre todas as. por dia. Média de ouvintes por minuto, no

ÁREAS DE EMIGRAÇÃO NO SÉCULO XXI: CONTINUIDADE DO ÊXODO RURAL?

Exercícios Movimentos Populacionais

ReInc. Mauro Osorio 8 de novembro de 2007

Migração de retorno na Região Nordeste do Brasil. Palavras-chave: migração interna, migração de retorno, Nordeste brasileiro.

Tendências do Mercado de Trabalho na Região Metropolitana de São Paulo.

PESQUISA. Outubro/2015

Líder no público AB 25+ anos. 1º lugar entre as emissoras qualificadas. 4º Lugar no ranking geral entre todas as. por dia.

1º lugar entre as emissoras qualificadas. 3º Lugar no ranking geral entre todas as. por dia. Média de ouvintes por minuto, no

LHL LOGÍSTICA. Estamos preparados para atender você e seu cliente: No Seu LOCAL Na Sua HORA No Seu LIMITE

2 A 29 VIDAS LINHA SMART. FAIXA Smart 200* Smart 300 Smart 400 Smart 400 Smart 500 Smart 500

Manual para preenchimento do formulário de envio de informações à Base de Dados de Private

73,2 N.m

MIDIA KIT. Mais que rádio, Super Rádio.

PESQUISA. Abril/2015

Mercado Atacadista: comportamento dos preços em novembro de 2018 mostra a alta de valores de carnes com as festas de fim de ano 1

PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO

TERMO ADITIVO À CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2009/2011

52 milhões O MEIO RÁDIO. de ouvintes 94% OUVEM MÚSICA E MPB É A SEGUNDA PREFERÊNCIA ENTRE OS OUVINTES COM 46% (ATRÁS APENAS DA MÚSICA SERTANEJA - 50%)

PESQUISA DE PREÇO DE MERCADO Nº 003/2018

Projetos de Expansão e Modernização da CPTM

} Fundado em novembro de } É composto por um conjunto de mais de 45 empresas. operadoras. } Operam nos 39 municípios da RMSP

Características, potencialidades e estratégias para a RMRJ

GEOGRAFIA. População - População Brasileira. Prof. Carlos Magno

1. Arrecadação de ICMS entre os municípios da Região Metropolitana de São Paulo

1. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) - Regiões Metropolitanas

Seminário: A Iluminação Pública por conta dos Municípios

Indicadores Demográficos

I Encontro sobre Geografia e Humanismo 06 a 08 de Outubro de 2006 Sumaré / Campinas São Paulo

GOVERNANÇA METROPOLITANA. As cidades e os desafios da Mobilidade Urbana

1. Produto Interno Bruto Municipal de 2012

O Papel dos Sistemas de Transporte no Crescimento Econômico Brasileiro

CONSULTA PÚBLICA Nº 0

Unidade Senador Canedo Professor (a): Robson Nunes Aluno (a): Série: 3ª Data: / / LISTA DE GEOGRAFIA I

MÍDIA KIT. Mais que rádio, Super Rádio.

Transcrição:

TRANSIÇÃO DA MOBILIDADE NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO: REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TEMA * Aparecido Soares da Cunha Palavras-chave: Transição da Mobilidade; Migração; Imigração; Emigração; Região Metropolitana de São Paulo; Mobilidade. * Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, NEPO/UNICAMP - Observatório das Migrações em São Paulo.

Transição da Mobilidade na Região Metropolitana de São Paulo: reflexões teóricas sobre o tema 1. A Localização da Região Metropolitana de São Paulo A Região Metropolitana de São Paulo conta com uma extensão territorial de 7.946,823 km 2 (Figura 1 e Tabela 1), o que corresponde a 3,2% do território do Estado de São Paulo e 0,1% do Brasil 2, abrigando 39 municípios. Figura 1: Área de Estudo e Localização: América do Sul, Brasil, Estado de São Paulo e Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), com os limites municipais territoriais / Políticos-Administrativos da RMSP, segundo a Divisão Subregional (Lei Complementar estadual nº 1.139, de 16/06/2011) Fonte: EMPLASA, 2011 São Paulo é o município, na RMSP, que apresenta a maior superfície territorial, com 1.501,1 km 2 seguido pelo município de Mogi das Cruzes, com 712,7 km 2. Isto se deve, em parte, ao fato de ambos serem os municípios que deram origem aos demais municípios, através de desmembramentos e ainda guardam grande extensão territorial, comparativamente aos demais municípios da região. O município de São Caetano do Sul registra a menor extensão territorial, com 15,3 km 2. De uma maneira geral, comparativamente aos demais municípios brasileiros, os 2 Segundo o IBGE (2014), o Estado de São Paulo tem uma área total de 248.222,801 km 2 e população estimada de 44.035.304 habitantes e o Brasil com 8.515.767,049 km 2 de superfície e população total estimada de 202.768.562 habitantes, com data de referência em 1º de julho de 2014. 1

municípios da RMSP podem ser considerados de pequeno porte, com uma média territorial de 204 km 2. TABELA 1 - População estimada 2014, área em km² e densidade demográfica estimada 2014, segundo os municípios da Região Metropolitana de São Paulo, 2014 Municípios População Estimada 2014 Densidade Demográfica 2014 Área (em km²) (Habitantes) Estimada (habitantes/km²) Arujá 82.651 96,114 860 Barueri 259.555 65,685 3.952 Biritiba-Mirim 30.830 317,406 97 Caieiras 94.516 96,104 983 Cajamar 70.710 131,332 538 Carapicuíba 390.073 34,546 11.291 Cotia 225.306 324,010 695 Diadema 409.613 30,796 13.301 Embu das Artes 259.053 70,389 3.680 Embu-Guaçu 66.792 155,630 429 Ferraz de Vasconcelos 182.544 29,566 6.174 Francisco Morato 166.505 49,073 3.393 Franco da Rocha 143.817 134,160 1.072 Guararema 28.016 270,816 103 Guarulhos 1.312.197 318,679 4.118 Itapecerica da Serra 165.327 150,869 1.096 Itapevi 220.250 82,659 2.665 Itaquaquecetuba 348.739 82,606 4.222 Jandira 117.457 17,453 6.730 Juquitiba 30.443 522,180 58 Mairiporã 90.627 320,697 283 Mauá 448.776 61,866 7.254 Mogi das Cruzes 419.839 712,667 589 Osasco 693.271 64,954 10.673 Pirapora do Bom Jesus 17.372 108,518 160 Poá 112.917 17,263 6.541 Ribeirão Pires 119.644 99,119 1.207 Rio Grande da Serra 47.731 36,341 1.313 Salesópolis 16.576 424,997 39 Santa Isabel 54.363 363,303 150 Santana de Parnaíba 123.825 179,934 688 Santo André 707.613 175,781 4.026 São Bernardo do Campo 811.489 409,478 1.982 São Caetano do Sul 157.205 15,331 10.254 São Lourenço da Serra 15.028 186,329 81 São Paulo 11.895.893 1.521,101 7.821 Suzano 282.441 206,201 1.370 Taboão da Serra 268.321 20,387 13.161 Vargem Grande Paulista 47.879 42,483 1.127 Total da RMSP 20.935.204 7.946,823 2.634 Fonte: IBGE, População Estimada 2014 e @Cidades 2014 para a Área, em www.ibge.gov.br. Nota: População estimada dos municípios em 1 o. de julho de 2014 Apesar da RMSP apresentar baixo percentual de área em relação ao território paulista e brasileiro, sua população corresponde a 45,7% e 9,9% desses territórios, respectivamente. É a maior aglomeração urbana do país. 2

A Região Metropolitana de São Paulo 3 é uma região de contrastes, pois tem a Capital que apresenta o maior contingente populacional municipal brasileiro, com 11.895.893 habitantes residindo nela e ao mesmo tempo encontramos o município de São Lourenço da Serra com 15.028 habitantes, sendo o menor contingente populacional desta região. Por outro lado, há ainda na RMSP, cinco cidades no rol das 39 cidades brasileiras que têm mais de 500 mil habitantes, mostrando que é uma região concentradora de população e de muito dinamismo 4. Já a intensidade como essa população é distribuída no espaço, traduzida pela densidade demográfica, mostra que 25 dos 39 municípios registram alta concentração populacional em seu território, com mais de 1.000 habitantes/km 2. Destacam-se os municípios de Diadema, Taboão da Serra, Carapicuíba, Osasco e São Caetano do Sul com mais de 10.000 habitantes/km 2, municípios com forte presença industrial e também consideradas, outrora, cidades dormitórios para as atividades desenvolvidas na Capital e realização de movimentos pendulares diários (CUNHA, 1994 e ÂNTICO, 2003). 2. A Transição da Mobilidade e a Região Metropolitana de São Paulo Analisando os dados de longo prazo, da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), sobre o desenvolvimento de sua economia, a evolução dos setores primário, secundário e terciário e a mobilidade dos trabalhadores nesses setores, bem como das mudanças ocorridas nos indicadores de mortalidade e fecundidade é possível afirmar que o processo de transição econômica, associado com o da transição demográfica da Região Metropolitana de São Paulo, juntamente com os grandes processos migratórios que ocorreram nessa mesma região, principalmente durante o século XX, nos levam a crer que o processo de transição da mobilidade na região é de fato algo que não podemos negar e fortalece as colocações teóricas iniciais postas por Zelinsky (1971) 5 e nos dá elementos para ir além da proposta inicial desse autor. 3 A Região Metropolitana de São Paulo é a quarta maior metrópole do mundo em população, ficando atrás das Regiões Metropolitanas de Tóquio, Seul e Cidade do México (ONU, 2014). 4 No Brasil há, atualmente, 39 cidades com mais de 500 mil habitantes. Destas, 20 são capitais. As cidades paulistas da RMSP com mais de 500 mil habitantes são Guarulhos, Osasco, Santo André, São Bernardo do Campo e São Paulo (IBGE, 2014). 5 O modelo de Zelinsky (1971) foi elaborado com base em observações empíricas relacionadas com a mobilidade espacial na Europa e América do Norte. 3

No início do século XXI há uma retomada importante, na RMSP, da imigração internacional, a mesma que deu grande impulso ao desenvolvimento econômico dessa região na primeira metade do século passado. Tendo a RMSP como destino e, passados os movimentos migratórios rural-rural, da fase primária, rural-urbano, da fase secundária e urbano-urbano, da fase terciária, hoje esta (i)migração está atrelada a dois processos bem distintos e significativos: o primeiro deles ligado á forte imigração de não documentados, principalmente da América Latina e Ásia, e a segunda referente à imigração intensa de trabalhadores altamente qualificados, onde a força de atração está ligada aos investimentos de capitais estrangeiros, ao setor terciário da economia e a uma nova dinâmica econômica globalizada na qual a RMSP está completamente integrada. Os impactos dessa nova ordem na migração são discutidos e analisados com o objetivo de entender as conseqüências e os novos processos dos movimentos migratórios nacionais que têm como origem ou destino a RMSP, procurando ampliar do conhecimento teórico sobre a transição da mobilidade. A principal hipótese de Zelinsky (1971, p. 221) é que há regularidades bem definidas e padronizadas no crescimento da mobilidade espacial através do espaço-tempo ao longo da história da humanidade e liga este fenômeno ao processo de modernização. Conforme apontado por Zelinsky: Há mudanças ordenadas importantes na forma e na intensidade da mobilidade espacial a vários níveis da transição, mudanças essas na função, freqüência, duração, periodicidade, distância, percurso, categorias de migrantes, classes de origem e de destino. (ZELINSKY, p. 222) Zelinsky (1971, p 226) apontou que a mobilidade espacial, através da migração e circulação, obedecia historicamente um comportamento padrão, que era observada em várias sociedades ao redor do mundo e para tanto elaborou um quadro histórico em que apresenta cinco fases ou etapas distintas da transição da mobilidade espacial, como segue: 1) Sociedade tradicional pré-moderna; 2) sociedade em fase inicial de transição; 4

3) Sociedade em fase final de transição; 4) Sociedade avançada; 5) Sociedade super-avançada do futuro; maneira: Para a Região Metropolitana de São Paulo cada fase pode ser dividida da seguinte 1) A Sociedade tradicional pré-moderna, onde havia baixo nível de mobilidade, dificuldades de transporte, de acesso à região e muita limitação na circulação foi um processo que se prolongou até metade do século XIX; 2) A sociedade em fase inicial de transição começa na segunda metade do século XIX, com a acentuada imigração de estrangeiros, que vai arrefecer com a crise de 1930. Nesta mesma década, estimulada por políticas governamentais, começa a intensificar a migração interna em grandes volumes, do campo para as cidades da metrópole paulista e principalmente de nordestinos para essa mesma região (MARTINE, 1994). Já na década de 1970 a migração começa a diminuir de intensidade e de volume (CUNHA, 1994). Nesse período final aparece uma diversidade de fluxos intrametropolitanos e passa a intensificar a modalidade migratória do tipo urbano-urbano; 3) Na Sociedade em fase final de transição da RMSP, marcada pelo início da década de 1980, diminui o fluxo de origem rural para a metrópole, mas esse movimento não cessa. Também se observa o aumento da migração de retorno de nordestinos e de fluxos de emigrantes metropolitanos para área rural nordestina. A ocupação da metrópole se espraia e a redistribuição espacial da população vai em direção à periferia (CUNHA, 1994). A Região Metropolitana de São Paulo começa a receber menos imigrantes em função das mudanças sócio-econômicas e aumento dos espaços da migração no território (BAENINGER, 1999); 4) Na etapa da Sociedade avançada observa-se um aumento superior da mobilidade intrametropolitana e da circulação de pessoas, com movimentos pendulares para o trabalho e estudo (CUNHA, 1995), (ÂNTICO, 2005) e (BRITO; SOUZA, 2005). Esta fase começa a se 5

intensificar em meados da década de 1990. Praticamente o movimento do campo para a metrópole inexiste, exceto parte dos fluxos advindos da Região Nordeste do Brasil. A imigração de estrangeiros passa a ter mais significado, principalmente de latino-americanos (PERES, 2009), chineses e coreanos. Profissionais estrangeiros altamente qualificados também imigram para a metrópole e passam a ocupar importantes posições em empresas transnacionais. Nesta fase nem só de motivações econômicas vivem as migrações no ambiente da metrópole. Outros fatores que conduzem a migração passam a ter importância, tais como a qualidade de vida, fuga da violência, vida em família e saúde 5) A Sociedade super-avançada do futuro começa no início do século XXI, com mudanças e consolidação da globalização e total integração da metrópole ao mercado internacional. Vê-se aumento das migrações internacionais, conduzidas pelo capital globalizado e pelo mercado, mas o saldo é uma migração liquida positiva favorável à metrópole paulista. Há muita imigração estrangeira de menos qualificados nesses fluxos, que se sujeitam ao subemprego na metrópole (PIORE, 1979). As pessoas não precisam mais ficar presencialmente nas empresas todos os dias e o local de moradia pode ficar a mais de 300 quilômetros do local de trabalho, pois ocorreu uma melhoria acentuada nas comunicações e nos transportes apesar de não ser, nestes casos, tão necessário o movimento pendular cotidiano para o trabalho. Há um aumento do trabalho do tipo home-office, sem prejuízo dos ganhos de capital e renda. O ensino a distância passa a ganhar espaço, inclusive o ensino superior. A migração intra-urbana metropolitana ganha evidência e a migração interestadual diminui em importância e volume, com forte tendência dessa modalidade migratória, nesta década, ocorrer apenas na base de trocas migratórias e saldos migratórios praticamente zerados. O contexto intraestadual, para a Região Metropolitana de São Paulo, ganha importância e determina o quanto de população a região vai perder nas trocas migratórias. A mobilidade pendular cresce tanto dentro da metrópole, entre os seus municípios, quanto para fora da metrópole, principalmente para as regiões vizinhas polarizadoras (CUNHA; STOCO; DOTA, 2013). 6

3. Considerações Finais Conforme a excelente lógica da teoria de Zelinsky (1971), observaram-se grandes mudanças na dinâmica da migração e da mobilidade ao longo do tempo e do espaço na Região Metropolitana de São Paulo, ao mesmo tempo em que se processavam significativas mudanças na dinâmica demográfica em relação à fecundidade e mortalidade, obedecendo a uma transição demográfica. Também ocorreram transformações em relação ao desenvolvimento econômico da Região Metropolitana de São Paulo, com crescimento e modernização, obedecendo a padrões internacionais de desenvolvimento. Nota-se uma perfeita aderência dos pressupostos e hipótese de Zelinsky (1971) aos fatos observados e apontados para a RMSP, levando a crer na força da teoria ora exposta. Viu-se que conforme a evolução das fases de transição, ocorriam mudanças na mobilidade, nos volumes, nas direções dos fluxos, na predominância do tipo de migração e na circulação ou não de pessoas. Todas as fases estão ligadas fortemente a algum aspecto do desenvolvimento econômico da região e às forças que naturalmente atuam sobre as migrações e a pendularidade, que muitas vezes é de caráter puramente estrutural e que condicionam os movimentos (SINGER, 1980). Pode-se afirmar que a RMSP realmente passa por um processo de transição da mobilidade, com forte aderência ao modelo proposto por Zelinsky, mas isto não garante que a teoria poderá ser aplicada a outras localidades e isto se deve à mudança na velocidade das mudanças e transformações que ocorrem nos dias de hoje, quase de forma simultânea pelo mundo. Há um encurtamento cada vez maior entre os acontecimentos e um bom exemplo disto é o próprio processo da transição demográfica que aconteceu num período muito mais curto no Brasil em função dos avanços tecnológicos que precederam a transição. 7

4. Referências Bibliográficas ÂNTICO, Cláudia. Deslocamentos Pendulares na Região Metropolitana de São Paulo, En São Paulo em Perspectiva. v.19/ nº.4/ Movimentos Migratórios Nas Metrópoles. Fundação SEADE. Out-Dez 2005, p. 110-120. BAENINGER, Rosana. Região, Metrópole e Interior: Espaços Ganhadores e Espaços Perdedores nas Migrações Recentes. Brasil, 1980-1996. Tese de Doutorado. IFCH/UNICAMP, 1999. BRITO, Fausto e SOUZA, Joseane de. Expansão Urbana nas Grandes Metrópoles: o significado das migrações intrametropolitanas e da mobilidade pendular na reprodução da pobreza. En São Paulo em Perspectiva. v.19/ nº.4/ Movimentos Migratórios Nas Metrópoles. Fundação SEADE. Out-Dez 2005, p. 48-63. CUNHA, J.M.P. Mobilidade populacional e expansão urbana: o caso da Região Metropolitana de São Paulo. Tese (Doutorado em Ciências Sociais), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas-Unicamp, Campinas, 1994. CUNHA, J.M.P. da. A mobilidade pendular: uma contrapartida da migração intrametropolitana. En: Encontro Nacional da ANPUR, 6. Anais Brasília: Anpur, 1995. p. 518-526. CUNHA, J. M. P.; STOCO, S.; DOTA, E. M. O fenômeno da mobilidade pendular na Macrometrópole do Estado de São Paulo: uma visão a partir das quatro Regiões Metropolitanas oficiais. Projeto mobilidade pendular na Macrometrópole NEPO/UNICAMP EMPLASA. 2013. EMPLASA. Rede urbana e regionalização do Estado de São Paulo. São Paulo, 2011. IBGE, População Estimada 2014, informação recuperada do site do IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2014/, e Extensão Territorial http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=35&search=sao-paulo, em 10/09/14. MARTINE, G. A Redistribuição Espacial da População Brasileira Durante a Década de 80. Textos para Discussão 329. IPEA, Brasília, 1994. ONU, http://www.un.org/en/development/desa/population/, Population of urban agglomerations, Population Division, em 10/01/14. 8

PERES, R. G. Mulheres na fronteira: A migração de bolivianas para Corumbá - MS. (Tese de Doutorado). Departamento de Demografia - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas (Unicamp), Campinas, 2009. 207 p. PIORE, M.J.: Birds of Passage: Migrant Labor Industrial Societies. Cambridge University Press. 1979, New York. SINGER, P. Migrações internas: considerações teóricas sobre seu estudo. In: MOURA, H. A. de (Coord.). Migração interna: textos selecionados. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil - BNB, Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste, 1980. t. 1, p. 211-244. (Estudos econômicos e sociais, 4). ZELINSKY, Wilbur. The Hypothesis of the Mobility Transition, Geographical Review, American Geographical Society, Apr. 1971, Vol. 61, N. 2, pp. 219-249. 9