EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA VARA DO TRABALHO DE FLORIANÓPOLIS/SC ANA KARENINA, estado civil..., profissão..., residente e domiciliada na Rua..., nº..., cidade... estado..., CEP..., representada por seu advogado, procuração em anexo, com escritório profissional estabelecido à Rua..., nº..., cidade..., estado..., CEP:..., onde recebe notificações e intimações, vem com o devido respeito e acatamento perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 840 da CLT e 282 do CPC, propor RECLAMATÓRIA TRABALHISTA pelo rito ordinário com pedido de tutela antecipada em face de BANCO FATURAMENTO ASTRONÔMICO S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.º..., com endereço na Rua..., nº..., cidade..., estado..., CEP..., pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. PRELIMINAR: COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA Deixa-se de cumprir a determinação de submissão da demanda à Comissão de Conciliação Prévia de que trata o art. 625-D da CLT pois, de acordo com o entendimento do STF nos autos ADI 2139 e ADI 2160, a passagem da demanda pela referida Comissão é uma faculdade da parte. PRELIMINAR: DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO A reclamante é portadora de HIV. Assim, enquadrada sua condição como portadora de doença grave, nos termos do art. 1211-A do CPC. Requer, preliminarmente, a prioridade na tramitação da presente demanda. MÉRITO DO CONTRATO DE TRABALHO A Reclamante foi admitida no dia 19/05/2001 e dispensada sem justa causa em 29/07/2013 com aviso prévio indenizado. Exercia a função de caixa 1
executivo e sua remuneração era de R$ 3.000,00 acrescida de gratificação de um terço de seu salário. DA SUCESSÃO A reclamante foi admitida em 2001 pelo Banco Lucros Múltiplos S/A que em dezembro de 2012 foi comprado pelo Banco Faturamento Astronômico S/A. Assim, resta caracterizada a sucessão de empregadores, nos termos dos artigos 10 e 448 da CLT, pois qualquer alteração na estrutura da empresa não afeta os contratos de trabalho e os direitos adquiridos pelos empregados. Ademais, a OJ 261 da SDI 1 do TST expressamente prevê que as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para o banco sucedido, são de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais, caracterizando típica sucessão trabalhista. Requer seja reconhecida a sucessão do Banco Lucros Múltiplos S/A pelo Banco Faturamento Astronômico S/A, condenando-se o sucessor de forma integral pelos créditos da presente demanda. AVISO PRÉVIO A autora foi dispensada depois de mais de doze anos de trabalho, tendo aviso prévio indenizado de 30 dias. Assim, descumprida a regra da proporcionalidade do tempo de serviço prevista no art. 7º, XXI da CF e lei 12506/2011, pois para cada ano de trabalho o aviso prévio deve ser acrescido de 3 dias. Com efeito, o aviso prévio da autora deveria ter sido de 66 dias. Requer a condenação da reclamada ao pagamento de 36 dias a mais de aviso prévio, com a projeção no tempo de serviço para contagem de férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS com multa de 40%. Requer, ainda, seja determinada a retificação da CTPS da autora. QUEBRA DE CAIXA 2
A autora recebia mensalmente 10% a título de quebra de caixa, conforme previsão em norma convencional. Assim, resta configurada a natureza salarial da parcela, nos termos da súmula 247 do TST. Requer seja reconhecida a natureza salarial da parcela, bem como os seus reflexos em aviso prévio, 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS com multa de 40%. DO DESCONTO NO SALÁRIO A autora faltou um dia de serviço em 22 de julho de 2013, porque precisou doar sangue para seu pai, que se encontrava internado. Assim, resta configurada a ilegalidade do desconto, pois a falta da autora está classificada como justificada, permitida pelo art. 473, IV da CLT. Requer a condenação do empregador a devolução do desconto efetuado. DAS HORAS EXTRAS A Reclamante laborava das 9h às 17:15h, com 15 minutos de intervalo para alimentação e descanso, de segunda à sexta. Assim, a jornada da Reclamante ultrapassava aquela prevista pelo art. 224 da CLT, ou seja, 6 horas por dia e 30 semanais. Ademais, conforme prevê a súmula 102, VI do TST, a gratificação apenas remunera maior responsabilidade do cargo, mas não as horas extras, no caso de caixa executivo. Requer a condenação do reclamado ao o pagamento das horas extras excedentes a 6ª diária e 30ª semanal, acrescidas do adicional de 50%, conforme o art. 7º, XVI da CF, base de cálculo salário acrescido da gratificação, com os reflexos em RSR, aviso prévio, 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS com multa de 40%. DO INTERVALO INTRAJORNADA A Reclamante laborava das 9h às 17:15h, com 15 minutos de intervalo para alimentação e descanso, de segunda à sexta. 3
Assim, descumprido o previsto no art. 71 da CLT, que assegura um intervalo mínimo de 1 hora, quando a duração do trabalho for superior a 6 horas. Neste mesmo sentido, cite-se a súmula 437, IV do TST, ou seja, quando habitualmente ultrapassada a jornada de seis horas, o intervalo deve ser de uma hora. Assim, requer a condenação ao pagamento de uma hora extra diária, acrescida do adicional de 50%, base de cálculo salário acrescido da gratificação. Tendo em vista a natureza salarial da parcela, requer os reflexos em RSR, aviso prévio, 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS com multa de 40%. Tudo nos termos do art. 71, 4º da CLT e súmula 437, I e III do TST. HORAS EXTRAS ART. 384, CLT A reclamante realizava horas extras diariamente, como narrado. Assim, não respeitado pela reclamada o art. 384 da CLT, ou seja, em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de 15 minutos antes do início do período extraordinário do trabalho. Requer a condenação da reclamada ao pagamento do intervalo de 15 minutos diários, como hora extraordinária com o adicional de 50% conforme o art. 7º, XVI da CF, base de cálculo salário acrescido da gratificação, bem como os reflexos em RSR, aviso prévio, 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS com multa de 40%. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA REINTEGRAÇÃO TUTELA ANTECIPADA Em 22 de julho de 2013, precisou doar sangue para seu pai, que se encontrava internado, quando então lhe foi descontado o dia de serviço. Após doar sangue, descobriu que era portadora de HIV, comunicando tal situação a seu empregador mediante apresentação dos exames. Presume-se discriminatória a dispensa sem justa causa do trabalhador portador de HIV, nos termos da súmula 443 do TST. Desta feita, requer a nulidade da dispensa, bem como a reintegração e o pagamento dos salários e consectários dos meses havidos entre a dispensa e o 4
efetivo retorno as suas atividades, nos termos do art. 4º, I da lei 9029/95. Sucessivamente, requer o pagamento em dobro dos salários do período de afastamento, nos termos do art. 4º, II da lei 9029/95. Nos termos do artigo 273, I do CPC estão presentes os requisitos para o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela: verossimilhança das alegações e a prova inequívoca porque, conforme exames anexos, a reclamante é portadora de HIV e o empregador estava ciente da condição da reclamante, e mesmo assim a dispensou sem justa causa. Quanto ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, a situação de desemprego lhe traz sérios problemas financeiros e que acabam por afetar ainda mais sua saúde, pois está aguardando o fornecimento de remédio e tratamento pelo SUS, mas não pode ficar sem comprar os medicamentos e realizar os exames para tratamento da enfermidade. Assim, requer seja deferida, em caráter liminar, a antecipação dos efeitos da tutela, determinando-se a imediata reintegração da reclamante. Posteriormente, requer seja esta confirmada em sentença. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS A reclamante foi dispensada porque portadora de HIV, o que configura dispensa discriminatória, o que afeta a dignidade da pessoa humana do trabalhador, prevista no art. 1º, III da CF. Resta comprovada, portanto, a culpa do Reclamado. O comportamento mencionado gerou um dano, de forma que, estando presente o nexo de causalidade, o Reclamado é obrigado a indenizar a Reclamante, nos moldes do art. 186 e 927 do CC. Ainda, conforme o art. 5º, X, CF, a violação da intimidade, da honra e da imagem das pessoas dá ensejo ao pedido de indenização pelo dano causado, a qual será avaliada em função da extensão do dano sofrido, de acordo com o art. 944, CC. Requer a condenação ao pagamento de indenização por danos morais, em valor a ser arbitrado por este Juízo. DA MULTA DO ART. 477, 8º, CLT 5
A Reclamante foi dispensada sem justa causa com aviso prévio indenizado em 29/07/2013. As verbas rescisórias foram pagas no dia 12 de agosto de 2013. Assim, descumprido o prazo de dez dias para pagamento das verbas rescisórias, previsto pelo art. 477, 6º, b, da CLT. Requer a condenação do empregador ao o pagamento da multa no valor de 1 salário do empregado, conforme o art. 477, 8º da CLT. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Nos termos da lei 1060/1950 e do artigo 790, 3º, CLT, tendo em vista que a Reclamante não pode demandar sem prejuízo do sustento próprio, e, ainda, está assistida por advogado de sindicato, requer a concessão do benefício da justiça gratuita, bem como a condenação do Reclamado ao pagamento de honorários advocatícios no importe de 15%, nos termos dos arts. 14 e 16, Lei 5584/70 e das Súmulas 219, I e 329 do TST e da OJ 305 da SDI-1 do TST. PEDIDOS Por todo o exposto, requer: a) reconhecimento da sucessão e condenação integral do sucessor; b) diferenças de aviso prévio e reflexos, conforme fundamentação; c) natureza salarial da quebra de caixa e reflexos; d) a devolução dos descontos efetuados a título de faltas; e) o pagamento das horas extras e os seus devidos reflexos; f) a condenação ao pagamento de horas extras referentes ao intervalo intrajornada e os seus reflexos; g) o pagamento do intervalo de 15 minutos suprimido como hora extraordinária e seus reflexos; h) nulidade da dispensa e antecipação de tutela para reintegração, conforme fundamentação e a confirmação da antecipação da tutela em sentença; i) indenização por danos morais, conforme fundamentação; j) a concessão do benefício da justiça gratuita, bem como a condenação do Reclamado ao pagamento de honorários advocatícios; k) o pagamento da multa do art. 477, 8º da CLT; l) incidência de juros de mora 6
desde o ajuizamento da ação, nos termos do artigo 883 da CLT e correção monetária, nos termos da Súmula 381 do TST. REQUERIMENTOS FINAIS A Reclamante requer a notificação da Reclamada para apresentar resposta à Reclamatória Trabalhista, sob pena de revelia e confissão, nos termos do art. 844 da CLT e súmula 74 do TST. A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial o depoimento pessoal da parte contrária, a juntada de documentos, a oitiva de testemunhas e perícia. Por fim, requer o acolhimento da preliminar de prioridade na tramitação e, no mérito, requer e a procedência integral do feito. Atribui-se à causa valor de R$ (superior a 40 salários mínimos na data do ajuizamento da ação). Termos em que, Pede deferimento. Local e data. ADVOGADO OAB/número 7