ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO CICLISMO INDOOR



Documentos relacionados
Sistema de Avaliação, Motivação e Prescrição de Treinamento

AVALIAÇÃO FÍSICA O QUE PODEMOS MEDIR? PRAZOS PARA REAVALIAÇÃO.

10º Congreso Argentino y 5º Latinoamericano de Educación Física y Ciencias

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

RESUMOS SIMPLES...156

Entenda o que é o câncer de mama e os métodos de prevenção. Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)

Exercícios além da academia

O IMPACTO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NO AUMENTO DA FLEXIBILIDADE

Mais saúde, menos stress

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

O QUE É TREINAMENTO FUNCIONAL? Por Artur Monteiro e Thiago Carneiro

Relato de Experiência. Projeto Reabilta-ação Fisioterapia Oncológica. PICIN, Celis i e COPETTI, Solange M. B. ii Faculdade de Pato Branco FADEP

EXERCÍCIOS RESISTIDOS. Parte I

Adaptações Cardiovasculares da Gestante ao Exercício

Força e Resistência Muscular

TÍTULO: "SE TOCA MULHER" CONHECIMENTO DAS UNIVERSITÁRIAS SOBRE O CÂNCER DE MAMA

Disciplina: Controle Motor e Fisiologia do Movimento. Flávia Porto RELEMBRANDO...

Deseja Descobrir Como Ganhar Massa Muscular Agora?

Diminua seu tempo total de treino e queime mais gordura

Protocolo em Rampa Manual de Referência Rápida

AUMENTO DRAMÁTICO DO INTERESSE E PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL

Descobrindo o valor da


Praticando vitalidade. Sedentarismo. corra desse vilão!

Programa Corporativo Fitness Timbu

PREFEITURA MUNICIPAL DE CHOPINZINHO PR SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE GESTÃO

Avaliação da unidade Pontuação: 7,5 pontos

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

OUTUBRO. um mes PARA RELEMBRAR A IMPORTANCIA DA. prevencao. COMPARTILHE ESSA IDEIA.

TÍTULO: MAGNITUDES DE FORÇA PRODUZIDA POR SURFISTAS AMADORES CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA

Bases Metodológicas do Treinamento Desportivo

GINÁSTICA LABORAL Prof. Juliana Moreli Barreto

Ficha Informativa da Área dos Conhecimentos

Programa de Controle de Peso Corporal

A situação do câncer no Brasil 1

Alongamentos para a Parte Inferior das Costas e Quadril para Fazer em sua Mesa

O que é câncer de mama?

EXERCÍCIO FÍSICO: ESTRATÉGIA PRIORITÁRIA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE E DA QUALIDADE DE VIDA.

FORTALECENDO SABERES EDUCAÇÃO FÍSICA DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES DESAFIO DO DIA. Aula 3.1 Conteúdo: Atividade física preventiva.

VALÊNCIAS FÍSICAS. 2. VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO: Tempo que é requerido para ir de um ponto a outro o mais rapidamente possível.

UNILAB no Outubro Rosa Essa luta também é nossa. CUIDAR DA SAÚDE É UM GESTO DE AMOR À VIDA. cosbem COORDENAÇÃO DE SAÚDE E BEM-ESTAR

ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

FIBROMIALGIA EXERCÍCIO FÍSICO: ESSENCIAL AO TRATAMENTO. Maj. Carlos Eugenio Parolini médico do NAIS do 37 BPM

PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO PARA EMAGRECIMENTO. obesa envolve um plano de ação muito mais complexo, sendo prescrito de acordo com a condição

Mais em forma, mais veloz, mais forte, mais alongado: Programa de Desenvolvimento de Cárdio Precor

VIVER BEM OS RINS DO SEU FABRÍCIO AGENOR DOENÇAS RENAIS

CANCER DE MAMA FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

GUIA DE MUSCULAÇÃO PARA INICIANTES

Os Benefícios do Taekwon-do na Infância e na Adolescência

ESTUDO LONGITUDINAL SOBRE O ESTILO DE VIDA DE JOVENS DE PELOTAS/RS. NATAN FETER ¹; THAIS BURLANI NEVES²; FELIPE FOSSATI REICHERT²

Reabilitação Pós câncer de mama Assistência às mulheres mastectomizadas

Apesar de ser um tumor maligno, é uma doença curável se descoberta a tempo, o que nem sempre é possível, pois o medo do diagnóstico é muito grande,

A importância da anamn m ese s......

PLATAFORMA OSCILATÓRIA. Faça ginástica sem esforço! Bastam 10 minutos por dia! Benefícios:

saúde Sedentarismo Os riscos do Saiba as causas e consequências de ficar parado e mexa-se!

Avaliação antropométrica de idosas participantes de grupos de atividades físicas para a terceira idade.

DIAGNÓSTICO MÉDICO DADOS EPIDEMIOLÓGICOS FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO 01/05/2015

Programa de 5 Km Iniciantes Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo

5.1 Nome da iniciativa ou Projeto. Academia Popular da Pessoa idosa. 5.2 Caracterização da Situação Anterior

A ACTIVIDADE FÍSICA F PREVENÇÃO DA IMOBILIDADE NO IDOSO EDNA FERNANDES

Check-up Performance

As Atividades físicas suas definições e benefícios.

OUTUBRO ROSA UMA CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO DA SOFIS TECNOLOGIA

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE PARECER DOS RECURSOS

AT I. ACADEMIA DA TERCEIRA IDADE Melhor, só se inventarem o elixir da juventude. Uma revolução no conceito de promoção da saúde.

PLANO DE TRABALHO IDOSO

Saúde da mulher em idade fértil e de crianças com até 5 anos de idade dados da PNDS 2006

Pode ser difícil para si compreender o seu relatório patológico. Pergunte ao seu médico todas as questões que tenha e esclareça todas as dúvidas.

Perguntas e respostas sobre imunodeficiências primárias

Programa de Ginástica Laboral

Avaliaç o antropométrica de idosas participantes de grupos de atividades físicas para a terceira idade

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

A EFICÁCIA DA FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES FÍSICO-FUNCIONAIS DE MEMBRO SUPERIOR NA MASTECTOMIA UNILATERAL TOTAL: ESTUDO DE CASO

Saiba quais são os diferentes tipos de diabetes

Ginástica Laboral como Meio de Promoção da Qualidade de Vida no Trabalho

A criança, o adolescente e a prática de atividades físicas

A tabela abaixo mostra os três níveis de acompanhamento oferecidos e como é composto cada um desses níveis, como segue:

Registro Hospitalar de Câncer de São Paulo:

Considerada como elemento essencial para a funcionalidade

SECRETARIA DE RESSOCIALIZAÇÃO. Programa de Alívio e Relaxamento do Estresse

Deficiência de Desempenho Muscular. Prof. Esp. Kemil Rocha Sousa

LESÕES DOS ISQUIOTIBIAIS

Desenvolvimento da criança e o Desporto

POR QUE SER ATIVO ALBERTO OGATA

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCHA EM CASOS DE FRATURAS DO MEMBRO INFERIOR.

Autores: Cristina Somariva Leandro Jacson Schacht. SESI Serviço Social da Indústria Cidade: Concórdia Estado: Santa Catarina 27/10/2015

PALAVRAS-CHAVE Sintoma. Neoplasias do Colo. Enfermagem. Introdução

CARTILHA BEM-ESTAR PATROCÍNIO EXECUÇÃO

Título: Modelo Bioergonomia na Unidade de Correção Postural (Total Care - AMIL)

Exemplos: Análise de Valor Agregado (Ex_vagregado.SPRJ)

BIKE PERSONAL TRAINER O TREINO DE CICLISMO DEPOIS DOS 50 ANOS

Simulador de Caminhada

ESCOLIOSE Lombar: Sintomas e dores nas costas

RELATÓRIO PARA A. SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA DISCIPLINA: FISIOLOGIA HUMANA EXERCÍCIO FÍSICO PARA POPULAÇÕES ESPECIAIS

CURSO DE PSICOLOGIA. Trabalho de Conclusão de Curso Resumos

CAPITULO III METODOLOGIA

Transcrição:

Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte 2007, 6 (3): 67-72 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO CICLISMO INDOOR NA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES QUE TIVERAM CÂNCER DE MAMA Jenny Ahlin Maria Angélica Abreu Rodrigo Vilarinho Fabrício Madureira Universidade Metropolitana de Santos - Brasil Resumo: Este estudo de campo teve como objetivo a análise da influência do ciclismo indoor na composição corporal, resistência muscular e cardiorrespiratória e flexibilidade, em mulheres que tiveram câncer de mama. A pesquisa foi desenvolvida com um grupo voluntário de mulheres que tiveram a doença, cadastradas em um instituto para câncer de mama da cidade de Santos. Para analisar essas variáveis, foram realizados testes antes, durante e ao término do programa de treinamento. Existem muitos estudos relacionando a atividade física ao câncer de mama, entretanto, a maioria trata de exercícios específicos para membros superiores. Além disso, pouco se sabe sobre a relação entre o ciclismo indoor e essa doença, haja vista que se trata de uma modalidade recente no universo do fitness de academia. Palavras-chave: ciclismo indoor; câncer de mama; resistência. ANALYSIS OF THE INFLUENCE OF PRACTICING ING INDOOR CYCLING IN THE BODY COMPOSITION OF WOMEN THAT SUFFERED BREAST CANCER Abstract: The objective of this study was to analyze the influence of indoor cycling in the corporal composition, muscular and cardio respiratory resistance and flexibility, in women that suffered breast cancer. The research was developed in a voluntary group of women that suffered cancer, registered in a Breast Cancer Institute, in the city of Santos. To analyze those variables, assessments were done before, during and after the training program. There are many studies relating physical activity and breast cancer, however, most of them is about specific exercises for the upper limbs. Palavras chave: indoor cycling; breast cancer; resistance. INTRODUÇÃO A Sociedade Brasileira de Mastologia, SBC (2006), define o câncer como uma doença provocada por uma lesão do DNA cromossômico, herdada ou adquirida, resultando na perda de regulação da multiplicação de células, provocando o surgimento de tumores com a possibilidade de metástase. O câncer de mama é o câncer mais temido pelas mulheres devido a sua alta freqüência e, sobretudo, ao impacto psicológico que provoca esta patologia, que envolve negativamente a percepção da sexualidade e da auto-imagem mais do que qualquer outro tipo de neoplasia que atinge a mulher (SANTOS, 1998). Considerado uma pandemia, é a segunda neoplasia mais 67

Jenny Ahlin, Maria Angélica Abreu, Rodrigo Vilarinho e Fabrício Madureira incidente entre as mulheres no mundo, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (2006). Essa patologia vem atingindo progressivamente um número maior de mulheres, em faixas etárias mais baixas, e com taxa de mortalidade também crescente no país (SCLOWITZ et al, 2005). Sabe-se que o câncer de mama atinge as mulheres 100 vezes mais do que os homens, tornando o sexo como um fator importante. Com relação à idade, mulheres entre 35 e 65 anos têm 6 vezes mais chances de contrair a doença do que em faixa etária mais baixa. Aos 60 anos, 17 mulheres a cada 1000 também correm este risco (SILVA, O. E. et al, 2000). Segundo Silva (apud INCA, 2005), a história familiar é um importante fator de risco para o câncer de mama, especialmente se mãe e irmã foram acometidas na pré-menopausa, o que as colocaria como tendo uma história familiar de primeiro grau, e, então, cerca de duas vezes mais risco de desenvolver câncer de mama; 10% dos casos de câncer de mama acham-se ligados a uma história familiar deste câncer. Além disso, as mulheres que já tiveram a doença em uma das mamas possuem maiores probabilidades de desenvolver câncer na outra. Para McArdle et al (2003), as principais conseqüências desta doença e do tratamento com sessões de quimioterapia e radioterapia são a perda do estado funcional e a fadiga crônica, devido à perda de peso, diminuição da força muscular e da resistência cardiovascular. A cirurgia do câncer de mama juntamente com os tratamentos coadjuvantes são procedimentos agressivos acarretando conseqüências físicas e emocionais desfavoráveis à vida da mulher, como: dor incisional, edema do braço homolateral, dor no ombro e disfunção, alterando o esquema corporal (FERRO et al, 2003). A atividade física vem sendo procurada não somente por pessoas que buscam a estética, mas também a saúde e o bem estar pessoal e social, uma vez que ela tem como objetivo melhorar as capacidades funcionais, como a capacidade aeróbia, cardiovascular, aumentar a força e flexibilidade, além da manutenção de uma constituição corporal saudável. Isso tudo traz ao praticante força e coragem para superação dos seus próprios limites, pois quando trabalhamos sentimentos como o da conquista (HARTMANN, 2007), podemos aplicar este aprendizado em diversos aspectos da vida; ganhando assim, não só um corpo belo e saudável, mas também uma mente com as mesmas características. E o que é melhor: rodeado por um grupo de amigos. Para Xavier (2005), Ahlin et al (2005) e Abreu et al (2007), o ciclismo indoor é uma atividade que tem como principal objetivo proporcionar um elevado gasto calórico e promover fortalecimento de membros inferiores, responsáveis pela locomoção diária do indivíduo, além do aumento da capacidade cardiorrespiratória, e da flexibilidade. Segundo Abreu et al (2007), o ciclismo indoor é uma atividade em grupo, que proporciona uma grande variedade de resistência e velocidade. São propostos diferentes percursos, tornando a atividade ainda mais atrativa, aliada às músicas motivantes, que determinam, através das batidas, a cadência do movimento, fazendo como se fosse uma coreografia, envolvendo e chamando o praticante para seguir o caminho proposto pelo professor, a cada sessão de treinamento. Segundo Goldberg (2000) e Barry (2000), durante uma aula de ciclismo indoor, pessoas de diferentes níveis de condicionamento físico podem participar em conjunto, pois a velocidade e resistência são individuais. Existem situações de esforço considerável, variando entre 55 e 92% da Freqüência Cardíaca Máxima, alternadas com recuperação ativa, objetivando principalmente o condicionamento físico, a aptidão física e o bem-estar, tudo regido pela música, monitoramento da freqüência cardíaca e acompanhamento de um profissional de Educação Física capacitado. OBJETIVO Analisar a influência da prática da modalidade ciclismo indoor na composição corporal de mulheres que tiveram câncer de mama 68

Análise da influência da prática do ciclismo indoor na composição corporal de mulheres que tiveram câncer de mama METODO TODOLOGIA A amostra inicial foi composta por 14 mulheres, com média (desvio padrão) de idade 56,25 (8,4) anos; peso 66,3 (10,5) kg e estatura 160,6 (4,6) cm. Todas as mulheres envolvidas neste estudo tiveram ao menos um caso de câncer de mama, entre os anos de 2002 e 2006, das quais 8 delas foram submetidas à cirurgia de quadrante da mama, 5 delas necessitaram retirar toda a mama (mastectomia), uma voluntária sofreu os dois tipos de procedimentos cirúrgicos, tendo também que retirar o músculo peitoral em outra complicação. Das 14 mulheres, 12 delas tiveram comprometimento dos linfonodos axilares, sendo estes retirados. Além disso, outra voluntária teve sua doença detectada em outubro de 2006 e ainda realizou 3 sessões de quimioterapia durante o período de treinamento. A condição ímpar para participação do experimento foi à autorização prévia do oncologista de cada voluntária. O estudo teve duração de 3 meses (16 semanas), acontecendo 2 vezes por semana (às segundas e quartas-feiras), totalizando 23 sessões de treinamento em ciclismo indoor, de aproximadamente 50 minutos cada. Estas aulas ocorreram em sala climatizada, a uma temperatura ambiente de aproximadamente 22ºC, em bicicletas estacionárias da marca SCHWINN, com equipamento de som e foram ministradas por 3 professores especialistas em ciclismo indoor e 3 estagiários. Neste estudo, não foi utilizada a sobrecarga com sustentação do peso corporal (pedalar em pé), devido às limitações específicas encontradas pelo comprometimento do braço do lado da mama operada, quando há retirada dos linfonodos axilares, relacionadas à fraqueza de membros superiores da maioria das voluntárias, optando-se pela realização da atividade apenas na posição sentada. De acordo com a periodização previamente elaborada, foi feito um trabalho no qual elas pedalaram nas intensidades leve, moderada e forte (WILDER e BRENNAN apud BRENNAN, 1990), onde a freqüência cardíaca deveria se manter entre 65 e 85% da freqüência cardíaca máxima, monitorada através de frequencímetros das marcas POLAR e OREGON, palpação e percepção de esforço através da escala de Borg (2000). Os microciclos do programa foram constituídos de períodos de 3 a 5 minutos de aquecimento e treinamento intervalado com cargas progressivas de intensidade e intervalos de recuperação dinâmicos. O período de volta a calma era de aproximadamente 4 minutos, caracterizado por estratégias de relaxamento, alongamento ativo e giro na bicicleta com baixas cargas. Para avaliação das variáveis investigadas, a fim de analisar a influência do programa sobre a amostra em questão, foram realizados os seguintes testes: antropometria: circunferência de quadril, cintura, braço, coxa e perna; dobras cutâneas - tríceps, supra-ilíaca e coxa, através do protocolo de 3 dobras (JACKSON e POLLOCK, 1978). Para as medidas de circunferências e risco cintura quadril, o instrumento de medida foi uma fita metálica flexível (porém não elástica), com resolução de 1 mm. Esta relação foi obtida por meio da medição da relação entre a medida da circunferência da cintura (abdominal), em centímetros, medida esta efetuada logo abaixo da cicatriz umbilical e medição da circunferência do quadril, efetuada no local de maior diâmetro da região glútea. Foram utilizados materiais (fita e compasso) da marca Sanny. O peso e a estatura foram mensurados através de uma balança mecânica da marca Filizola. Todas estas avaliações foram feitas no Laboratório de Avaliação Física e Performance Motora da Faculdade de Educação Física de Santos (UNIMES / FEFIS), situado no mesmo local da pesquisa, nos períodos pré, durante e pós-treinamento. Após as avaliações iniciais, durante as primeiras 4 semanas, o treinamento consistiu em intensidades baixas e progressivas, promovendo melhora gradativa de força e resistência aeróbia, para aumento da eficiência do metabolismo de gorduras (GOLDBERG, 2001) e manutenção de ritmo (estâmina), com a freqüência cardíaca (FC) entre 60 e 75% da máxima. Da 5ª a 8ª semana, deu-se início ao aumento gradativo da intensidade e da sobrecarga de trabalho, para desenvolvimento de maior resistência muscular. As primeiras reavaliações aconteceram ao final da 8ª semana. 69

Jenny Ahlin, Maria Angélica Abreu, Rodrigo Vilarinho e Fabrício Madureira Na seqüência, da 9ª até a última semana de treinamento, priorizou-se uma intensidade ainda maior, com incremento da resistência de força e melhora da potência, com maiores tempos de recuperação, favorecendo o desenvolvimento de um pedalar mais consistente e estável (GOLDBERG, 2001), com cargas mais elevadas por um maior período, potencializando o desenvolvimento muscular e cardiovascular. A FC permaneceu, em média, entre 75 e 85% da freqüência máxima. Os trabalhos de intensidade foram progressivos ao longo de cada semana, com picos máximos de cargas e tempo às quartas-feiras, devido a um tempo maior para recuperação. Na 16ª semana, foram realizadas as últimas reavaliações. RESULTADOS E DISCUSSÃO A atividade física para estes pacientes é a reabilitação para um nível de função que permita a realização normal do trabalho e das atividades diárias. Sendo assim, McArdle et al (2003), apresenta como as principais metas do tratamento geral do fisiologista do exercício clínico para pacientes com síndrome de descondicionamento, de imobilidade ou de desuso: o aprimoramento do movimento ativo para os segmentos e as articulações, sem restrição; a prevenção da perda de flexibilidade, através da movimentação ativa e dos movimentos passivos; estímulo da circulação periférica e central; aumento da função ventilatória pelo uso de exercícios respiratórios sistemáticos; prevenção da perda de controle motor e de força e resistência musculares; redução do ritmo de perda óssea; diminuição da perda de peso corporal magro. Nas tabelas 1, 2 e 3 são apresentados os resultados Tabela 1: Descrição das variáveis: massa corporal, estatura e índice de massa corporal nos três momentos de avaliação. Avaliação MC (kg) Estatura (cm) IMC (kg m -2 ) 1ª 66,33 (10,55) 160,62 (4,62) 25,71 (3,96) 2ª 66,41 (11,17) 159,64 (4,62) 26,10 (4,56) 3ª 65,78 (10,82) 159,43 (4,40) 25,93 (4,44) Os dados são apresentados na forma de média (desvio padrão). Os resultados não apresentaram alterações significativas na massa corporal, estatura e índice de massa corporal entre as três avaliações. Tabela 2: Descrição das variáveis: relação cintura quadril e índice de conicidade nos três momentos de avaliação. Avaliação RCQ I conicidade 1ª 0,82 (0,06) 1,18 (0,09) 2ª 0,85 (0,14) 1,16 (0,05) 3ª 0,79 (0,05) 1,13 (0,06) Os dados são apresentados na forma de média (desvio padrão). Não houve diferença estatisticamente significativa na relação cintura-quadril e no índice de conicidade nos três momentos diferentes do treinamento. 70

Análise da influência da prática do ciclismo indoor na composição corporal de mulheres que tiveram câncer de mama Tabela 3: Descrição das variáveis: somatório de dobras cutâneas (SDC), percentual de gordura corporal (PGC), massa gorda (MG) e massa isenta de gordura (MIG) nos três momentos do treinamento. Avaliação SDC (mm) PGC (%) MG (kg) MIG (kg) 1ª 92,08 (21,96) 35,00 (5,68) 23,62 (7,23) 42,71 (4,75) 2ª 84,86 (20,83)* 32,99 (5,88)* 22,36 (7,15)* 44,05 (4,97) 3ª 85,21 (22,00)* 33,04 (6,17)* 22,28 (7,57)* 43,50 (3,92) Os dados são apresentados na forma de média (desvio padrão). * indica diferença estatisticamente significativa para P 0,05. Houve uma redução da 1ª para a 2ª e 3ª avaliação na SDC de 7,72 e 7,50% respectivamente. O PGC diminuiu cerca de 5% da 1ª para as seguintes avaliações. Para MG também apresentou alterações significativas entre os três momentos diferentes. No entanto, para a MIG o protocolo de treinamento não se mostrou eficiente para promover alterações importantes. CONCLUSÃO Através dos resultados apresentados, podemos concluir que o programa de atividade física proposto teve uma influência positiva sobre o percentual de gordura corporal, somatório das dobras cutâneas e massa gorda das mulheres avaliadas. No entanto, para as variáveis: massa isenta de gordura, relação cintura-quadril, índice de conicidade, massa corporal e IMC, não foram observadas alterações significativas. REFERÊNCIAS ABREU, M.A., AHLIN, J., ROGEL, T., SOUZA JR, T.P. Estimativa de gasto calórico durante 3 horas de ciclismo indoor para indivíduos com níveis de habilidade distintos. FIEP BULLETIN - Journal of the International Federation of Physical Education, 2007, v.77, Special Edition, pp. 169, Foz do Iguaçú. AHLIN, J.; MOREIRA, L.; GUEDES, D.; MADUREIRA, F.. Correlação entre freqüência cardíaca e percepção de esforço aplicada no ciclismo indoor em indivíduos não praticantes da modalidade. Anais. JOPEF 2005. v. 01. p. 173. BARRY, E., HASTINGS, B., MILLS, P., McDOWELL, L., McSWEENEY, M., RENATA, S. Manual do Professor de RPM. Les Mills International, Auckland, Nova Zelândia, 2000. FERRO, A.D.M., GONTIJO, A.D.M, BOTTARO, M., VIANA, J. Os efeitos e do tratamento fisioterapêutico na biomecânica morfofuncional no pós-operatório do câncer de mama. Tese (Especialização) Latu-Sensu em Fisiologia do Exercício e Avaliação-Morfofuncional, Universidade Gama Filho, 2004. GOLDBERG, J. JOHNNY G. SPINNING ING - Manual do Professor. Mad Dog Athletics Inc., 2001. 71

Jenny Ahlin, Maria Angélica Abreu, Rodrigo Vilarinho e Fabrício Madureira Instituto Nacional do Câncer INCA. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/> HARTMANN, C., FERNANDES, P., LÜDORF, S., DANTAS, E. Efeitos de um Programa de Spinning sobre o nível de condicionamento físico em adultos jovens. FIEP BULLETIN - Journal of the International Federation of Physical Education. 2007, v.77, pp. 65. MCARDLE, W., KATCH, F., KATCH, V. Fisiologia do Exercício - Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003 SANTOS, R. P.; KOCH, H; FRASSOM, A; SCHENATO, A; MELO, G.S. - Diagnóstico precoce do câncer de mama: o papel do carcinoma ductal in situ. Rev. bras. mastologia, 1998, v.8 n.2 pp. 81-84. SBC - SOCIEDADE BRASILEIRA DE CANCEROLOGIA. DEPARTAMENTO DE CANCEROLOGIA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA. Sessão: De Mama. Disponível em: <http://www.sbcancer.org.br/>. Acesso em: 10 ago. 2006 SCLOWITZ, M.L. Condutas na prevenção secundária do câncer de mama e fatores associados. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas, 2005. SILVA, N. C. B., MARQUES, S. L., FRANCO, M. A. P. Conhecimento de mulheres sobre câncer de mama e câncer de colo do útero. Paidéia. Cadernos de Psicologia e Educação: v. 15(32), p. 409-416, 2005. SILVA, O E., ZURRIDA, S. Câncer de Mama. Breast Cancer: A Guide for fellows. Editora Atlântica, 2000. WILDER, R.; BRENNAN, D. Physiological Responses to Deep Water Running in Athletes. Sports Medicine Science, 1993, v. 16, n. 6, pp. 374 380. XAVIER, G. N. A.; GIUSTINA, M. C. D; CARMINATTI, L. J. Promovendo o Uso da Bicicleta para uma Vida mais Saudável. Revista CINERGIS, 2000, v.1, n.2, pp. 51-58. Contatos Universidade Metropolitana de Santos Fone: (13) 3222 8081 Endereço: Av. Conselheiro Nébias, 536 Santos SP Cep.: 11045 002 E-mail: jennyahlin@uol.com.br Tramitação Recebido em: 08/08/2007 Aceito em: 03/09/2007 72