ENSINO E ORALIDADE: ENCONTROS E DESENCONTROS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE LETRAS

Transcrição:

ENSINO E ORALIDADE: ENCONTROS E DESENCONTROS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Anderson Rany Cardoso da Silva (UEPB) 1 Professor (a) orientador (a): Francicleide Liberato Instiuição: Universidade Estadual da Paraíba E- mail: andersomrany123@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO: O presente artigo expõe alguns aspectos no que se diz respeito às práticas pedagógicas em sala de aula no tocante da oralidade, uma vez que, na concepção marcuschiana esse tema ainda é provido de encontros e desencontros na escola, sendo que a fala deveria ser uma atividade que comungasse com a escrita no dia a dia da maioria das pessoas como também dos estudantes. Além disso, a responsabilidade pelo desenvolvimento da competência oral dos alunos deve ser um aspecto relevante no ambiente escolar e enfatizado nos Livros Didáticos de Português (LDP s), porém a concepção e análise da língua falada ainda sofre um preconceito pedagógico. Existe a constatação que poucos livros preocupam-se em citar e explicar a noção de língua oral, eles em sua maioria, preocupam-se apenas em trazer a concepção de língua escrita, deixando de lado a oralidade. Diante disso, o presente artigo surgiu dos seguintes questionamentos: por qual motivo os LDPs não tratam com tanta frequência aspectos orais, mesmo sabendo que esses são de fundamental importância para o desenvolvimento dos nossos alunos e qual o tratamento que a língua oral recebe deles. Logo, nosso principal objetivo é o de analisar como se dá o tratamento da oralidade nos LDPs. Em torno disso, temos consciência da importância de possibilitar o trabalho reflexivo em sala de aula e assim tentarmos oferecer subsídios para uma possível mudança nas práticas pedagógicas que não 1 Discente do quarto período de Letras-licenciatura plena em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual da Paraíba e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). E-mail: Andersomrany123@hotmail.com

levam a esse trabalho. Com base nessa problemática e no objetivo anteriormente descrito, analisamos a primeira unidade As Máquinas - do livro didático Novo Tempo organizado por Maria Helena Correa e Bernadette Simas Nascimento Pontarelli - do quinto ano do ensino fundamental I, especificamente as atividades orais dos capítulos 1, 2 e 3. Como alicerce teórico embasamos-nos em Marcuschi (2001) e Antunes (2003). COMPREENDENDO O TRABALHO DO LIVRO DIDÁTICO Segundo Marcuschi (2001), os livros didáticos de português trabalham regras, informações textuais e induzem o aluno a produzir textos: A maioria dos LDP trabalham regras (no estudo gramatical); identificam informações textuais (nos exercícios de compreensão) e produzem textos escritos (na atividade de redação). Há outras atividades, mas elas são incidentais no contexto geral do ensino de língua, o que não significa que não tomem um bom espaço (pelo menos gráfico). (MARCUSCHI, 2001. p. 19-20) Como podemos observar no pressuposto marcuschiano, não podemos ficar presos em nossas aulas de língua portuguesa apenas ao trabalho de regras gramaticais, identificação de informações textuais e produção de textos e sim, conjugar essas com outras atividades, relacionando-as com a fala de maneira que nosso discente entenda que escrita e oralidade caminham juntas. Diante disso, temos o reconhecimento que isso é necessário dentro de sala, contudo, na maioria das vezes, insuficiente para o desenvolvimento cognitivo dos nossos alunos, uma vez que o trabalho com oralidade também deve entrar como protagonista, quando se diz respeito ao reconhecimento dos usos e funcionalidades da língua, pois um aspecto central no estudo da fala é a variação (MARCUSCHI, 2001. p. 22). Dessa forma, é esta variedade linguística que faz com que, o estudante reconheça que a língua não segue um padrão uniforme e que ela é social e pode variar de acordo com a maneira de cada qual falar. Diante disso, nos é cabível

falar sobre a diferença entre língua e linguagem, pois a primeira designa as tantas formas de manifestação da comunicação humana e a segunda é uma faculdade humana, algo inato do ser. Marcuschi ainda diz que os livros didáticos de português tomam a língua como um simples instrumento de comunicação não problemático e sabemos que essa posição se torna equivocada a partir do momento em que a língua se insere como heterogênea, histórica, interativa, sistemática e cognoscível, envolvendo assim aspectos diversos em seu método de aplicabilidade. ORALIDADE: sala de aula versus Livro Didático de Português Quanto à oralidade na sala de aula, segundo Marcuschi (2001, p. 21) o papel central da escola: ensinar a escrita. Em torno disso, podemos dizer que os aspectos orais ainda estão escanteados no que se diz respeito a aplicação de práticas pedagógicas de alguns docentes em sala, já que não tratamos de ensinar a falar e sim, apenas ensinar escrever e a ler de maneira adequada. Ainda sob a ótica de Marcuschi (2001, p. 19) constata-se uma nítida consciência do gênero diálogo como única fonte clara para a presença de estratégias de fala, logo, apontamos que não é somente o diálogo, uma vez que não são apenas eles que nos fazem refletir sobre a oralidade, como também exercícios que privilegiam atividades de oralização, audição de fitas com falas das mais diversas regiões brasileiras e debates a respeito da formação do preconceito e da discriminação linguística. Ainda sobre a oralidade em sala de aula, Antunes (2003, p. 111) nos assegura que em termos muito gerais, as aulas de português seriam aulas de falar, ouvir, ler e escrever textos em língua portuguesa. Diante disso, temos o dever de não focalizar nossas práticas docentes em apenas um desses, como fazem muitos professores que se restringem a apenas escrever e ler, deixando de lado aspectos fundamentais para o desenvolvimento social do aluno que é o falar e o ouvir. Mesmo sabendo que os LDPs tratam isso com pouca frequência, temos que recorrer a outras fontes de ensino e aprendizagem. Antunes comprova isso dizendo que a

atividade de ouvir constitui parte da competência comunicativa dos falantes, uma vez que ela implica um exercício de ativa interpretação, tal como acontece com o leitor em relação à escrita (ANTUNES, 2003, p. 112). É válido ressaltarmos que embora a fala e a escrita tenham suas particularidades, elas não possuem grandes diferenças, pois são práticas sociais determinantes para o processo de ensino/aprendizagem do aluno quanto um ser social e comunicável, fazendo com que ele reconheça suas diversas variações (variação sociolinguística, variação dialetal, variação de registro e níveis de fala, variação de gêneros textuais realizados na fala, variação de situações sociocomunicativas, variação de estratégias e processos de compreensão na interação, entre outros.) e saiba que independentemente do modo de falar das pessoas, isso necessariamente não pode ser considerado como errado. Isso é provado na seguinte passagem: Tanto a fala quanto a escrita podem variar, podem estar mais planejadas ou menos planejadas, podem estar mais, ou menos, cuidadas em relação à norma-padrão, podem ser mais ou menos formais, pois ambas são igualmente dependentes de seus contextos de uso. (ANTUNES, 2003. p. 100). Em torno dessas explanações, iniciaremos um trabalho de análise de algumas questões que são intituladas de atividades orais as quais foram encontradas nos capítulos 1, 2 e 3 da primeira unidade do livro didático da quinto ano do ensino fundamental I, Novo Tempo de Correa e Pontarolli. ENSINO E ORALIDADE NA PERSPECTIVA DO LIVRO NOVO TEMPO Mediante o que foi dito anteriormente, discorreremos sobre como é tratada a oralidade nos LDPs e quais competências são cobradas dos alunos, para que os mesmos solucionem exercícios e cheguem a respostas, sejam elas reflexivas ou não. Outro ponto será evidenciar como ocorre o trabalho com os aspectos orais no mesmo e ainda detalhar como a atividade é direcionada para os alunos, se ela é trabalhada ou não de forma adequada, para que seja propiciada a formação de leitores críticos reflexivos.

É importante ressaltarmos que todos os capítulos do livro didático Novo Tempo possuem atividades que trabalham com a oralidade, todavia voltamos nossa análise à primeira unidade, especificamente, aos capítulos 1, 2 e 3 e nestes direcionamos nosso olhar para os aspectos de (in) adequação referentes ao trabalho com este aspecto da língua. Nossa primeira questão foi retirada do capítulo 1 na página 13. Nesta atividade verificamos que, de acordo com os pressupostos teóricos defendidos pelos autores aqui enfatizados, a oralidade é trabalhada, de forma relativamente adequada, uma vez que trabalha de modo mecânico a repetição de um texto o qual não leva o aluno a refletir sobre a questão e sim, memoriza-la, contudo ela se preocupa com alguns aspectos orais, como a dicção (forma como alguém articula e pronuncia as palavras), entonação, ritmo e altura da voz, elementos estes que o ajudará em momentos de comunicação social. Diante disso, a questão não está sendo trabalhada de forma adequada, pois antes de tudo precisamos nos atentar para o fato de que o nosso alunado já tem conhecimento ou não sobre esses termos técnicos da fala, como dicção e entonação. Ao contrário desta, a seguir veremos outra questão que se preocupa com a oralidade e que promove a formação de um leitor crítico em torno do tema tecnologia.

Nossa segunda questão também como a anterior foi retirada da mesma unidade, porém do capítulo 2 página 25. Ela consegue trabalhar de forma adequada a questão da oralidade em sala de aula, uma vez que propõe a troca de ideias entre os colegas de classe sobre um determinado assunto, nesse caso, sobre a influência da tecnologia, dos robôs na sociedade, em que eles colaboram ou não para facilitar a vida do ser humano. Além disso, promove em sala o desenvolvimento da oratória e da criticidade do aluno, uma vez que ele vai ter voz naquele ambiente para discutir com os outros, sem falar que essa discussão poderá ajudá-lo em futuros exercícios que poderão ser propostos por outros professores. Por meio dessa troca de ideias e interação verbal entre os alunos, Marcuschi (2001, p. 28) enfatiza que a análise da interação verbal oral pode ser tida, portanto, como uma contribuição para a compreensão do que se entende (...). Logo, comprovamos que essa prática de troca de ideias em sala de aula é benéfica para o exercício docente. Em torno dessa linha de raciocínio da troca de ideias e discussão, veremos outra

questão que proporciona isso, porém conciliando oralidade com a escrita. Assim como as outras atividades analisadas, essa também teve as mesmas fontes das anteriores, porém localizada no terceiro capítulo - página 39. Nela podemos constatar, a mistura da oralidade com a escrita, pois além de promover o debate entre ideias distintas dos discentes sobre qual programa televiso eles gostam ou não, ainda propõe a montagem de um painel que mostrará qual material foi discutido em sala de aula. Em termo desse direcionamento, Marcuschi (2001, p.23) diz que a fala tem de ser vista integradamente e na relação com a escrita. Logo, é o que podemos ver no exercício, a integração entre fala e escrita. Diante da análise dos exercícios do referente livro didático, como também dos pressupostos teóricos comentados anteriormente, podemos dizer que o LDP consegue trabalhar a oralidade em algumas questões, porém em outras ela ainda é tratada com descuido pelos organizadores de livros desta natureza. CONCLUSÃO Assim como foi falado anteriormente, nosso trabalho se iniciou com as seguintes questões: por qual motivo os LDPs não tratam com tanta frequência aspectos orais, mesmo

sabendo que esses são de fundamental importância para o desenvolvimento dos nossos alunos e qual o tratamento que a língua oral recebe deles. Então, levantamos a suspeita que seria insuficiente a forma como é trabalhada a oralidade. Com a análise de dados por nós coletadas, sendo essa proveniente de um livro da rede pública de ensino do quinto ano do ensino fundamental I, percebemos que a oralidade, algumas vezes, assume papel de figurante quando o assunto é prática pedagógica que desenvolva criticamente e racionalmente os nossos alunos. Nos exercícios analisados, o que conseguimos ver foram apenas questões que cobram a repetição de leituras dos alunos, como foi o caso da primeira questão, porém ainda conseguimos encontrar exercícios que se preocupam em desenvolver a capacidade crítica e reflexiva dos estudantes, como também aqueles que conciliam o oral com o escrito. O trabalho com oralidade é, portanto, ainda minimamente presente, não apenas pela incapacidade dos nossos profissionais docentes de procurar algo que trabalhe a língua e seus funcionamentos, como também do livro didático o qual temos como ferramenta de trabalho que não busca reformulações adequadas que atendam as necessidades dos professores e alunos, porém, não podemos generalizar esse aspecto, uma vez que algumas questões analisadas anteriormente ainda conseguem conciliar oralidade com a formação de leitores reflexivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANTUNES, Irandé. Repensando o objeto de ensino de uma aula de português. In:.(org.) Aula de português: encontro e interação. São Paulo: parábola editorial, 2003. P. 107 122. CORREA, Maria Helena; BERNADETTE, Simas Nascimento Pontarelli. As máquinas. IN:. Coleção novo tempo. São Paulo: editora Scipione, 2001. P. 09-47. MASCUSCHI, Luiz Antônio. Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco falada. In: DIONÍSIO, Angela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora. O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. P. 19-32.